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segunda-feira, setembro 22, 2008

A CULTURA É ESSENCIAL AO DESENVOLVIMENTO


Cultura e Desenvolvimento
Com a aprovação da Agenda 21 da Cultura, em 2004, e o movimento Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), que reúne cidades e governos locais de todo mundo comprometidos com os direitos humanos, a diversidade cultural, a sustentabilidade, a democracia participativa e a paz, a cultura passou a ser indissociável de uma tema da moda que, sem dúvida, terá ainda uma longa vida que é o desenvolvimento sustentável.
Comprova tal fato que Jordi Pascual i Ruiz, diretor do comitê da cultura do CGLU, defende que a cultura seja incluída entre os vetores que compõem um ciclo virtuoso do desenvolvimento junto com o econômico, o social, visto principalmente como a eqüidade, e o ambiental. Neste sentido, hoje, não se pode pensar num país ou numa cidade sem também levar em conta a criação de uma política cultural e mecanismos de sua viabilização.
Mesmo os economistas, em especial os que lidam com projetos desenvolvimentistas ou de sua promoção, na atualidade, já reconhecem que não é possível desvincular a significativa correlação entre a educação, o tamanho e a qualidade do potencial criativo de uma cidade com sua competitividade econômica. Chega a ser miopia que administradores de cidades não compreendam o quanto é importante estimular e financiar a cultura como eixo para assegurar o sucesso e a vantagem competitiva de sua área. Fazer, portanto, um plano cultural para seu município equivale a optar por ter ou não ter futuro.
Belém do Pará, que com a Estação das Docas, com a criação de uma orquestra sinfônica, a valorização de seus talentos literários e musicais, bem como a criação de uma feira de livros e um vasto calendário cultural surge como um exemplo recente de que incentivo ao desenvolvimento via cultura a partir de estímulos públicos, porém, também, vale lembrar, na mesma linha, os exemplos cearenses, o primeiro de iniciativa privada, do Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga, e o das políticas públicas cujo maior exemplo é Fortaleza que, valorizando uma cidade cenográfica de uma novela da Globo, estimulou cineastas, videomakers e artistas locais para a criação de obras áudio-visuais que, até hoje, rendem arte e dividendos para aquele estado nordestino.
È preciso notar que os espetáculos culturais, ou mesmo o ensino e as atividades, sempre implicam na utilização de pessoas, bem como atraem público gerando outros tipos de atividades que se revelam comericais, ou seja, a cultura, mesmo quando não rende diretamente, provoca efeitos indiretos que valorizam seu estímulo como um componente essencial para a qualidade de vida sem a qual é impossível existir um verdadeiro desenvolvimento.

Ilustração: http://www.overmundo.com.br/_overblog/img/1176702326_cultura_popular.jpg

terça-feira, setembro 09, 2008

OS PRISMAS


A MAÇA DA CULTURA IMATERIAL
Uma questão que sempre foi fascinante, para mim, é a do que seja patrimônio artístico ou cultural. Deparei com este tipo de problema muito cedo por conta do fato de que, em Fortaleza, cidade onde nasci, há um arraigado “cearencismo”, ou seja, os intelectuais da terra procuram preservar seus valores e tradições que, na época, eram mesmo prédios e coisas, como a literatura de cordel ou os desafios de repentistas. Confesso que, no início do rock, as guitarras eram horripilantes invasores estrangeiros e até mesmo os Beatles, nu m certo momento, até por conta das idéias políticas, me parecia uma distorção de valores e uma alienação da juventude. Depois me rendi, porém, não sem antes perturbar muito a cabeça de amigos meus, e nem tão amigos assim, com a obstinação nacionalista e o humor ácido dos conservadores. Parece que, de alguma forma, sempre fui jurássico.
Lembro-me que lamentei profundamente o desaparecimento de uma espetacular residência da Avenida Santos Dumont, chamar de residência era um palavrão, na verdade, um palácio que ocupava um quarteirão inteiro. Nem me lembro mais de quem foi ou porque fez, nem mesmo seu valor histórico- se é que tinha-porém, para o meu olhar juvenil, aquilo era uma riqueza que deveria ser preservada a qualquer custo. Não tinha a mesma importância para as autoridades e os empreiteiros tanto que, um dia, inesperadamente, foi tombado, tombado mesmo, posto no chão sem dó nem piedade. Aquilo me pareceu um crime inominável e os protestos foram episódicos e a cidade continuou a crescer como se nada tivesse acontecido. Ali tive minha primeira grande lição de preservação de patrimônio: só se preserva quando existe alguém para lutar por algo. Somente, em Rondônia, muito tempo depois, com a Madeira-Mamoré, aprendi também que o oposto é verdadeiro: muitas vezes somente se destrói quando existe alguém para lutar por algo. Isto é o que faz complicada a questão da preservação de qualquer patrimônio. No fundo- e isto esclareceu com clareza e consciência a professora Silvana Rubino, da UNICAMP, na sua palestra no curso de Gestão Cultural que o Observatório Cultural do Itaú realiza em Porto Velho, o patrimônio é uma questão de classificação e não pode ser tudo ou, de fato, se torna impossível haver uma política de preservação. Se tudo é importante, então nada é possível de ser defendido como de interesse geral e de preservação. Isto é sumamente importante quando se pensa na definição dada pelo Iphan de patrimônio imaterial que é a seguinte:


[...] Entende-se por Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, a forma de ver e pensar o mundo, as cerimônias (festejos e rituais religiosos), as danças, as músicas, as lendas e contos, a história, as brincadeiras e modos de fazer (comidas, artesanato, etc.) – junto com os instrumentos, objetos e lugares que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e as pessoas reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural e que são transmitidos de geração em geração. O instrumento legal que assegura a preservação do Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil é o registro. [...]


Fantástico. O bom disto é que pode ser qualquer coisa. O mal também. De qualquer forma é uma definição frutífera. Cabe nela o frevo, o samba, as panelas e até o Santo Daime. Fazer o quê? A vida não tem limites.