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terça-feira, agosto 21, 2007

OS MEIOS SÃO OS FINS

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO EM CRISE
Os dados mais recentes do IVC-Instituto Verificador de Circulação demonstram que existe uma crise entre jornalões e revistas, especialmente os de maior circulação e tradicionais como os dos irmãos Marinho ("O Globo"), dos Frias ("Folha"), dos Mesquita (Estadão), dos Civita ("Veja") e, por extensão, nos outros grupos importantes do país todo. De um lado é um fenômeno mundial, mas, por outro lado, há o fato também de que, além da falta de escolaridade e de hábito de leitura, esses veículos enfrentam a agilidade e, muitas vezes, a competência de agências e sites de notícias que esvaziam as novidades e, como se sabe, em nossa época novidade é tudo. Basta dar um giro pelas televisões e pela Internet para se verificar que só o novo atrai. Seja um Alemão da vida, seja uma nova geringonça eletrônica ou a descoberta de um rato com dente.
Também não tem nem mesmo surtido efeito as formas com que lá no exterior as empresas procuram enfrentar o problema. As promoções e ofertas mirabolantes de assinaturas do tipo "assine por um ano e ganhe DVD, celular, relógio, etc" não tem tido bons resultados. Há quem diga que se oferecessem bom jornalismo talvez a circulação aumentasse. È possível, porém, na verdade, hoje a segmentação é tanta, as exigências tamanhas, os custos tão altos que se as empresas já não se sustentam com o modelo atual se fossem buscar fazer o que é necessário talvez falissem antes. É verdade que há um exagero em relação à cobertura política, se bem que não se distingue bem qual a diferença entre política e policial, mas o fenômeno-não se pode deixar de acentuar- diz respeito diretamente ao faturamento. Como politizaram as verbas públicas e os grandes impérios de mídia estão recebendo menos publicidade direta do governo e muito mais de forma indireta o fato real é o de que, sempre que não são contemplados como entendem que devem ser, utilizam a arma do ataque pesado ao governo.
No fundo uma reação do tipo você me espreme aqui então lhe espremo lá. E isto é feito de forma sorrateira. Tão sorrateira que a "Meio & Mensagem" on-line, afirma que os gastos dos órgãos da administração direta caíram 64%: de R$ 771 milhões para R$ 278 milhões. O problema maior, talvez, resida, justamente, aí: o que era visível passou a ser feito de modo invisível. Não é que o governo Lula da Silva gaste menos com publicidade-o que se verifica quando se somam os valores globais- é que, de fato, gasta muito mais, porém, controlado a partir do Palácio grande parte das despesas é feita por campanhas das empresas e autarquias. Também o governo tomou iniciativas como as de intervir no mercado publicitário, sob alegações de saúde, restringindo as propagandas de bebidas e cigarros que atingiram, e podem atingir ainda mais, os meios de comunicação. Há analistas que não vêem isto como um acaso. Entendem que “nunca antes neste país” se procurou ter um controle tão grande sobre o jornalismo, principalmente, político que é feito por diversos meios, sejam financeiros ou judiciais. O fato é que assim como a política o jornalismo tem perdido visivelmente qualidade.

sexta-feira, agosto 17, 2007

CANSADO JAMAIS

São muitas as pessoas, inclusive da melhor qualidade e formação, que insistem em dizer que não se deve discutir política, religião ou futebol. Os dois últimos temas, de fato, são escolhas pessoais (mas nem assim menos discutíveis) e se pode até mesmo passar uma vida inteira sem discutir e adotar posições, todavia o mesmo não se dá com a política. Ser cidadão é participar da vida pública. É contribuir para melhorar as nossas instituições. E não há como melhorá-las sem uma discussão sobre seus princípios, sobre as práticas sociais, sobre o Estado e seu controle. A pessoa, por mais culta que seja, que abre mão da política, inclusive muitos dizendo que não gostam dela, na verdade, abre o espaço para que os ignorantes e os mal intencionados a controlem. Isto é muito sensível, por exemplo, na pregação absurda do voto nulo que tomou conta da Internet nas últimas eleições.
É verdade que a Internet é um meio de comunicação maravilhoso. E, igual a todas as coisas, pode ser usada para o bem ou para o mal. Também se constitui, no momento atual, uma forma cada vez mais importante de expressão de opinião. É suficiente para comprovar sua crescente importância a quantidade de mensagens sobre política, na maior parte fazendo críticas aos políticos, aos partidos e o pântano de moral e ética que atravessamos no momento. Há também os conformistas e os equivocados que nos propõem cruzar os braços como protesto (afinal o que todos querem é apenas se dar bem) e os que se dizem cansados da política. Enquanto há vida há política e não é possível se cansar dela. Efetivamente fazem confusão com o péssimo desempenho das pessoas que nos representam muito mal com a necessidade da qual não se escapa de ter boas instituições que impeçam, justamente, que ocupem a vida pública pessoas que não possuem merecimento para tal. Não se muda as coisas com cansaço, mas com ação. Cansado? Jamais. Ativamente político sempre.
E não se pode deixar de fazer política porque ser homem, exercer a política faz parte da vida do homem, ser social por excelência, que dela não tem como abdicar, exceto se exilado ou morto. A mais conhecida, e reconhecida, definição de homem é a de que “O homem é um animal político” que se atribui a Aristóteles. Ou seja, ser homem é por natureza participar do destino da sua sociedade e não há como participar sem tomar posições, sem ser contra ou favor das ações que são feitas pelos políticos e pelo Estado. Neste sentido, não existe meio termo. A não participação também é um ato político. É, no fundo, um consentimento pelo silêncio, pela falta de coragem ou fé na participação, mas, quem não participa, também deixa seu destino entregue nas mãos dos que atuam na política, nas dos que são ativos. Por isto quando não concordo, como é o caso da prorrogação da Contribuição Provisória de Movimentação Financeira-CPMF escrevo, falo, chio e grito contra. É um imposto ruim, ilegal e economicamente nocivo. Podem até prorrogar esta imoralidade, mas, contra o meu mais veemente protesto. Ser cidadão é lutar por seus direitos, protestar, gritar, vaiar...

domingo, agosto 05, 2007

OS CRITÉRIOS TÉCNICOS

Não deixa de ser cômico quando o governo tenta tapar o sol com uma peneira. Outra coisa não foi o fato de, depois do presidente Lula da Silva afirmar que não tem medo de vaias e de ruas, o Cerimonial da Presidência da República aprontar uma solenidade, no Palácio do Planalto, para promover um ato de apoio ao próprio governo. E, com o cuidado, mesmo tendo na lista de convidados prefeitos e governadores aliados e da oposição, de escolher, a dedo, dois petistas para criticar a “elite” e dizer que o povo “aplaude” o presidente. É uma tentativa de minimizar o impacto político de que “nunca antes neste país” um presidente foi tão vaiado.
Embora negue problemas com as vaias Lula afirmou que a oposição e a mídia não iriam emparedá-lo e prendê-lo no Planalto. Mas, o certo é que seus assessores e conselheiros mostram-se cautelosos em marcar novos eventos em cidades com mais de 150 mil habitantes. A solenidade no Palácio é a maior prova. Lula livrou-se da tarefa de visitar 12 capitais nas quais iria anunciar obras do PAC do Saneamento, mas, onde, certamente, o esperavam 12 novas vaias. Interessante foi o esforço, quase heróico, dos petistas escalados em afagar o ego do presidente. O prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, e a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, recorreram a expressões típicas do presidente como “As elites não colocam em prática uma campanha para reverter a miséria”, disse Carepa, ou “Todos sabem que falamos em nome do nosso povo, e o nosso povo te aplaude”, disse Sobrinho, que, sem boa memória, esqueceu que Lula não pára em Porto Velho por, neste município, ter experimentado uma das primeiras grandes vaias de sua vida pública. O prefeito convidou o presidente a visitar Porto Velho afirmando que “O senhor jamais receberá uma vaia no nosso município, pois não somos traíras”, disse, quase aos gritos. Lula, é claro, não se deixou seduzir. Sabe bem que mais vaias virão e que, ali mesmo, seria vaiado, se não fossem as conveniências.
No seu discurso preferiu dizer que os maiores problemas sociais do Brasil estão nas periferias das grandes cidades, “o centro nervoso da sociedade”, em “que as pessoas disputam lugar com ratos e baratas”. E criticou a imprensa dizendo que "É importante que a nossa gloriosa imprensa registre que nós utilizamos, eu diria, um paradigma técnico, que eu não sei se em outro momento foi feito, pode ser que em algum estado tenha sido feito, em alguma cidade, mas o critério de distribuição dos recursos foi eminentemente técnico e comprometido com os principais problemas de cada cidade”. Se esqueceu, apenas, de mencionar quais foram os critérios técnicos que o fizeram dar enormes aumentos aos DAS e a nomear um político no lugar de um técnico em Furnas. Sintoma de que seu tecnicismo é muito, muito relativo.
(Publicado simultaneamente no Site Gente de Opinião (http://www.gentedeopiniao.com.br/).

AS VAIAS REVELADORAS

Embora mantenha a convicção de que Lula da Silva não tem o preparo necessário para ser presidente não comungo do desejo, nem da pretensão, de retirá-lo do poder a qualquer preço. É verdade que contesto sua eleição. Uma eleição marcada pela deslavada manipulação da imprensa, dos recursos públicos, com o decisivo crescimento do Bolsa Família, gerando os pingentes governamentais, verdadeira reedição do coronelismo oficial. Porém, se não houve, o recurso às vias legais para caracterizar o uso (e abuso) do poder econômico, não me parece lícito sua utilização agora. O que desejo deixar bem claro é que sou contra o radicalismo. Não se pode construir dividindo a nação.
No entanto, desnorteado pelas vaias consecutivas, o presidente operário tenta caracterizar quem reclama contra os escândalos de seu governo, sua inoperância, sua inação de “direitistas” ou de “golpistas” chegando ao cúmulo de, em Cuiabá, afirmar que se trata de um movimento pequeno, mesquinho e comparou a política a um casamento que não deu certo. E, numa total incoerência, comparou os manifestantes que o vaiaram aos que apoiaram o Golpe Militar de 1964. Para Lula, as pessoas que o vaiam estão incomodadas com a democracia. “Esta gente que pensa assim fez a Marcha com Deus pela Liberdade que resultou no golpe, levou João Goulart a renunciar e levou Getúlio Vargas ao suicídio”. Bem, a falta de conhecimento histórico, de capacidade de discernimento poderia inocentar o presidente, mas, há contra ele seu indiscutível conhecimento político e sua malícia que não tornam a afirmação senão um crime contra a própria Constituição na medida em que classifica como golpistas os que não aprovam seu governo. Aqui vale lembrar Ruy Barbosa que escreveu: “Odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas; oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de ignorância; e, quando esta se traduz pela abolição geral das grandes instituições docentes, isto é, pela hostilidade radical à inteligência do país nos focos mais altos da sua cultura, a estúpida selvageria dessa fórmula administrativa impressiona-me como o bramir de um oceano de barbárie ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade.”
Lula da Silva é incapaz de conviver com a divergência e a elite, ou seja, com a democracia e o melhor do país, com a nata que, entre outros, inclui intelectuais, artistas, políticos, magistrados, militares, advogados, lideranças, cientistas, enfim os que pensam. Gosta mesmo é do puro aulicismo, dos pelegos que batem palmas sem pensar nem discutir. Como, os que pensam e não se venderam por trinta moedas, hoje, são contra ele, pela sua completa falta de gerência, quer caracterizar quem não concorda com seu governo como anti-povo. Não é isto. Quem está contra Lula é a vanguarda do país. São os que se mobilizam para restabelecer a confiança popular nas instituições da República. E não aceitam que, em nome do culto à personalidade, o país continue caminhando para o atraso. As vaias são uma prova de que existe vida inteligente no Brasil.
(Publicada simultaneamente no Rondonotícias (www.rondonoticias.com.br).