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domingo, dezembro 31, 2017

O QUE O GOOGLE REVELA DO BRASIL


Quando se fala na influência sociais das redes na formação das opiniões não deixo de ser um pouco (pouco?) cético. Pelo menos, no Brasil, penso que, por muito tempo ainda, a TV Globo, embora não sendo o Grande Irmão, que os radicais costumam pintar, ainda será muito mais influente que as redes sociais. É claro que, com certos descontos, no que diz ao mercado. Quando se trata de consumo, de fato, as redes sociais estão se tornando, cada vez mais, relevantes.
No entanto, basta verificar quais os assuntos que os brasileiros mais pesquisaram no Google, em 2017, para se ter o tamanho da influência das redes sociais. Nos cinco primeiros lugares nas buscas aparecem: 1) Big Brother Brasil; 2) Tabela do Brasileirão; 3) Enem; 4) Marcelo Rezende; e 5) O Chamado. Alguma surpresa para o fato de que a televisão seja a fonte dos interesses maiores? Bem, então, vejam os por quês mais perguntados pelos brasileiros: 1) Por que o Brasil não está na Copa das Confederações?; 2) Por que o Zeca vai ser preso? 3) Por que Evaristo saiu do jornal Hoje?; 4) Por que Claúdia Leitte saiu do The Voice?; e 5) Por que Pedro Bial saiu do BBB?. Não precisamos discutir a relevância destes assuntos, mas, é possível que olhando o que os brasileiros desejam saber a coisa melhore.
Quando se vai ver a busca pelo “O que é”, então, vemos que o brasileiro tem, efetivamente, interesses espantosos. Assim os cinco significados mais buscados são: 1) O que é pangolim?; 2) O que é sararah?; 3) O que é TBT?; 4) O que é um ábaco? e 5) O que é sororidade?. Se examinarmos as buscas veremos que um refere-se ao reino animal, dois à linguagem digital, um, sobre o ábaco, que é surpreendente, diz respeito à história e/ou à matemática e só o último tem alguma coisa a haver com política e/ou movimentos sociais.

Longe de mim desejar fazer ilações apenas de alguns indícios, mas, quando se observa que as cinco personalidades mais citadas foram, por ordem, William Wack, José Mayer, Leo Stronda, Fábio Assunção e Pabllo Vittar, então, fico, sinceramente, em dúvida se o nível de educação do Brasil não é superavaliado. E, aproveitando a deixa, espero que a educação do Brasil melhore, na medida em que, se ficar do jeito que está, ou piorar, vamos sair do nível da fofoca para a criação de uma fábrica de monstros em série. De qualquer forma o Google diz muito sobre nós mesmos. 

quinta-feira, dezembro 28, 2017

NADA SERÁ COMO ANTES EM 2018


Bem, todo fim de ano, queiramos ou não, é tempo de renovação. Senão, de fato, ao menos de esperanças. A partição do tempo em períodos, no caso ocidental de meses e anos, tem o dom também de, periodicamente, nos trazer a sensação de que haverá mudanças. E, comprovamos que elas sempre existem, para o bem ou para o mal. Embora, com o passar dos anos, como vamos ficando mais velhos, possa até parecer que, no palco da vida, não existe nada original, de vez que as coisas se repetem, no entanto, não se repetem da mesma forma. Há sempre algo de novo, por mais que desejemos pensar com os padrões antigos. E há alguns visionários, como Ray Kurzweil, um inventor e futurista, que aposta que o passo acelerado da inovação tecnológica continuará multiplicando-se. Para ele, “Nós não vamos experimentar 100 anos de progresso no século 21 – será algo como 20.000 anos (no passo de hoje),” diz. Se as tecnologias criadas nos últimos anos são a fusão de milênios de trabalho, ciência e progresso humano, então, mesmo com o parto difícil da prosperidade brasileira, e de muitos outros países atrasados, temos que acreditar no futuro. Apesar de tudo, há vida inteligente na terra. Há quem, certamente, evolua.
Exemplos disto são, nem tanto para nós, pobres brasileiros, os mercados mundiais em ascensão. Espera-se, por exemplo, que, em 2018, as principais tendências de negócios sejam em tipos de tecnologias novas como os drones, cuja estimativa é de que decolem e, pasmem, pelo menos nos Estados Unidos, passem a fazer o serviço de Delivery, ou seja, as pizzas passarão a ser entregues via drones. Também o site de tecnologia TechCrunch aponta que o mercado de RA (Realidade Aumentada) e RV (Realidade Virtual) deve crescer e movimentar 108 bilhões de dólares até 2021. Representações virtuais possibilitam imersão em filmes, games, simulações para treinamento e começam a gerar hologramas. Não é à-toa que o Pokémon GO, o game de Realidade Aumentada da Nintendo, tornou-se um fenômeno mundial. Bem, para quem não tem água, energia e esgoto, pensar em Internet das Coisas parece um sonho irreal, mas, a integração dos sistemas tecnológicos, que é uma decorrência dela, fatalmente nos alcançará. Assim como já começamos a comprar ingressos no Cine Aráujo, do Porto Velho Shopping,  graças à automação que deve aumentar ainda mais, mesmo nos socavões do mundo. E o que dizer da Inteligência Artificial? Que está nos cercando, de forma inevitável. Como não se pode viver longe da Internet é preciso lembrar que

os assistentes pessoais Echo e Google Assistant oferecem uma eficiente e informativa interação. O Echo, assistente da Amazon, é um dos itens mais vendido na Amazon.com. Segundo a Morgan Stanley, mais de 11 milhões de pessoas já contam com o assistente, e segundo a VoiceLabs, 24.5 milhões de assistentes pessoais estariam sendo vendidos até o fim de 2017. E o Watson? O sistema da IBM, para empresas, conta com a inteligência artificial mais avançada já criada. É uma prova que computador pode compreender e responder à linguagem humana, o que já mudou a forma como interagimos com as máquinas. E, se pensa mesmo que nada não muda, não ouviu falar da máquina, criada pela empresa Hanson Robotics, o simpático robô,  que chegou a falar que possuía alma,  agora Sophia é um cidadão saudita. A condecoração ocorreu no evento de tecnologia Future Investment Initiative, em Riad, capital da Arábia Saudita. Não fazemos ideia do que uma "cidadania para robôs" representa, mas, não se pode deixar de ficar  impressionado, ao saber que a máquina recebeu a nomeação e fez um discurso de agradecimento. Como acreditar que, em 2018, as coisas serão as mesmas?

segunda-feira, dezembro 11, 2017

ENSINANDO O POUCO QUE SEI DE MÍDIA SOCIAL


Mídias sociais são um novidade muito recente. São, segundo os especialistas, um grupo de aplicações para Internet que permitem a criação e troca de conteúdo de forma fácil e barata e a criação e a colaboração compartilhada. Também se afirma que as mídias são apenas mais uma forma de criar redes sociais, inclusive na internet.  De modo que elas podem ter diferentes formatos como blogs, compartilhamento de fotos, videologs, scrapbooks, e-mail, mensagens instantâneas, compartilhamento de músicas, crowdsourcing, VoIP, entre tantos outros. E, cada vez mais, se afirmam como ótimos canais de marketing digital. Aí é que a porca torce o rabo.
Toda hora aparece algum guru nas redes sociais se autoproclamando capaz de fazer com que qualquer leigo se transforme num grande influenciador, numa pessoa capaz de gerar grande conteúdo e uma imensa legião de seguidores, quando não de transformar qualquer empresa ou marca num sucesso, ou como costuma se dizer, viralizar, ou seja, ganhar grande repercussão, ser top trend, ou seja, um conteúdo dos mais vistos e compartilhados. As promessas, neste sentido, são ótimas, porém, o que entregam, não se enganem, geralmente, é muito pouco. Há muito mais “chutadores” do que especialistas reais na área.  E, vou logo dizendo, sou só um curioso, um fuçador, mas, não gosto de que me enganem, nem que enganem as pessoas.

Em geral esses falsos gurus afirmam que a questão é de “atrair o interesse das pessoas” ou de “gerar valor” e prometem grande visibilidade e exposição rapidamente. Já fiz experiência com alguns e ganhei alguma experiência. Uma coisa que posso dizer, com consciência, é que alguns até conseguiram viralizar um conteúdo ou outro, mas, com a mesma rapidez que aparecem, como estrelas cadentes, caem. Uma das poucas coisas que sei sobre mídia social é que se a firma, a marca ou a pessoa não oferecer valor de forma permanente o que se pode ganhar se perde ainda mais rapidamente. Mídia social não é um lugar para se promover vez por outra. É preciso atenção permanente e foco no público que se quer atingir, o que não é nada fácil de delimitar, saber quem é e qual o motivo que o leva a acompanhar seu site ou blog. O que sei é que será sempre uma troca desigual, pois, você terá que oferecer sempre valor e somente pedir algo uma vez ou outra. Por isto mesmo, como foram criadas para ser uma janela da vida social de uma pessoa, não servem para ser, como muitos fazem, um local para se poluir com a marca ou tentar impressionar pelo número de vídeos. Lembro aqui uma grande consultora que conheço, Áurea Castilho, que afirma que “Não há nada pior que você fazer propaganda de si mesmo”. Assim é preciso, necessário, indispensável entender que a questão não é fazer publicidade e sim fornecer valor, de fato, para as pessoas. As mídias sociais geram um tipo novo de comportamento e ensinam que é uma armadilha pensar que se deve centrar em publicidade sem fornecer bons serviços, sem gerar valor. Quem fornece o que as pessoas ou as empresas desejam conseguem mais clientes, vendas e fidelidade do que os que, insistem, em fazer apenas publicidade.

Ilustração: Dicas sociais.  

terça-feira, dezembro 05, 2017

O JORNAL EM BUSCA DE UM NOVO MODELO


Houve um tempo onde o jornal foi a única maneira viável de se manter informado, de se ter acesso as notícias. O jornalismo, nesta época, arrebanhava leitores, era o centro das atenções e, por isto mesmo, quando bem feito, se traduzia, de imediato, em gordas receitas publicitárias. O fim desta era de predomínio, e conforto, das mídias impressas se verificou com o surgimento da publicidade digital, e se agravou, depois, com as mídias sociais. O jornal, de fato, foi levado as cordas, de vez que as receitas se evaporaram. A publicidade diminuiu e o jornalismo passou a perder fatias expressivas de suas receitas. De forma que, início dos anos 2000, os jornais, as revistas, a mídia impressa, de uma forma geral, começaram a escorregar, alguns lentamente, outros, de forma acelerada, para o abismo.
A publicidade na mídia impressa perdeu proeminência e seus números, ainda mais comparados aos custos, pareciam minúsculos comparados ao alcance do meio digital, das redes sociais, capazes de atingir, e segmentar, um  público cada vez maior. As receitas de impressão despencaram, a web assumia de vez o protagonismo e até se apregoava, reiteradamente, que era o fim do papel, que ninguém mais lia os papéis. O jornalismo teve que, rapidamente, se adaptar. As mídias de papel tiveram que aderir ao digital para sobreviver. As formas digitais tomaram, definitivamente, o palco e, como consequência, os jornalistas foram demitidos, as redações ficaram vazias, e a questão ficou reduzida a produzir conteúdo da forma mais barata possível. Claro que não foi a solução para os problemas, na medida em que a qualidade do jornalismo diminuiu sem impedir que uma sucessão de empresas fechassem suas portas. É uma competição desigual: mídias sociais proporcionam conteúdo gratuito. Jornalismo tem custos e custos elevados. Não tem como competir com preços livres. E o modelo de vida baseado na publicidade está morto e enterrado. É preciso um novo modelo.
Até agora não parece ter se encontrado este caminho. Mas, por outro lado, há uma explosão de mídia impressa e segmentada acompanhada de uma mortalidade muito elevada. Isto somente mostra que existe espaço, e mercado, para o jornalismo de qualidade; que, ao contrário do que muitos apregoam, o jornal, a revista, não vão morrer. Persiste, todavia, o grande problema como fazer um jornal, uma revista lucrativa. A mídia impressa, a velha e boa mídia impressa, tem lugar no mundo moderno, mas, precisa ser de boa qualidade, analítica, agregar informações relevantes. Num momento em que há uma falta de confiança generalizada nas instituições, nos políticos e nos poderes, que põe em risco a própria democracia, em que o capitalismo que garantiu a liberdade, o individualismo e a fé estão sendo questionados, as pessoas, cada vez mais, procuram quem possa lhes dar direção, parâmetros,  meios de entender a realidade e agir. Este é o papel dos jornalistas que farão a mídia impressa sobreviver. O  caminho não pode ser o da rapidez do mundo midiático, do fast-food das notícias ou do desfile de fofocas sobre celebridades. O público já recebe isto de graça nas redes sociais. Já está viciado nos cliques. O jornal, a revista para criar um novo público precisa desintoxicar, ultrapassar o superficial e oferecer aos que procuram verdades, a melhor versão possível dela. Só isto não basta. Fazer jornal está além dos jornalistas. Ainda falta quem delineie uma forma lucrativa de fazer mídia impressa, mas, a crise é a mãe da invenção. Enquanto isto não acontece muitos jornais e revistas continuarão a morrer.


Ilustração: Jornal Correio do Brasil. 

terça-feira, setembro 26, 2017

O MORCEGO NÃO DIZ TUDO


Quem teve acesso à leitura de “A Interface de Um Morcego- E Outros Contos que a Vida Me Contou”, de Samuel Castiel, editado pela Chiado Editora, na Coleção Palavras Soltas, deve, se conhece um pouco de Porto Velho, da Amazônia, ter tido momentos de muito mais prazer, embora este seja indissociável do mundo criado pelo autor. Foi o que aconteceu comigo, um amazônico adotivo, que, por sorte, ainda vivi um pouco da antiga e acolhedora província, que um dia já foi a capital de nosso Estado. Samuel, que também tenho o prazer de curtir musicalmente, faz na literatura o que mostra na música: é eclético, diversificado e, com muita razão, de certa forma, nostálgico.
Seus contos, narrados de forma simples e direta, são, quase todos, ancorados em memórias ou histórias que viveu ou lhe contaram, mas, na linha saborosa dos grandes contistas, pois, não opta por uma formula de desfecho, de modo que se, algumas vezes, os finais são esperados, no entanto, também, com imaginação e bom humor, não deixa de criar finais, inesperados, muito surpreendentes ou, como acontece com o próprio conto que deu o nome e finaliza o livro, deixa espaço para que os leitores completem ou até mesmo se desviem do que suas palavras permitem entrever. Não é só o morcego que serve de interface, mas, a mente humana que, como faz questão de ressaltar, é criadora de seus próprios fantasmas, como também de suas aventuras.
Somente sei que usando a conhecida história da caçambada, episódio que marcou a cidade pelo atropelamento de muitas pessoas, ou festas, bêbados sempre, incêndios, nuvens, assaltos, velórios ou coronéis de barranco, suas inspirações trazem a marca da versatilidade para mostrar as múltiplas  facetas das criaturas humanas, com o prêmio extra de recuperar memórias que, no fundo, giram em torno de sua vida. De qualquer forma com um sabor  regional, de modo que, os contos, que Samuel Castiel escreve, são também crônicas e histórias que rememoram parte de sua infância com sons de batuque, o mistério e a beleza das noites de luar onde passeiam seus índios, seus cães baleados, seus estouros de boiadas, seus falsos cangaceiros e até mesmo um Che Guevara que só poderia ter saído da imaginação de um pregador de peças como foi João Leal Lobo. Como acredito que a boa literatura se faz cantando sua aldeia só posso recomendar a quem não leu que leia Samuel Castiel. Sua simplicidade esconde a interface da universalidade que o morcego não revela, mas, uma boa leitura sim. Vale a pena, e é saboroso, olhar o mundo por seu prisma.  


sexta-feira, setembro 22, 2017

O FIM DE UM CICLO DA IMPRENSA DE RONDÔNIA


Nos últimos tempos tem sido uma discussão recorrente a questão da sobrevivência da imprensa impressa, com maior evidência para o desaparecimento de jornais e revistas tradicionais do Brasil e do mundo inteiro. Uma coisa, porém, é a discussão, em tese, de uma brutal realidade. Outra é deparar, como deparamos, com a primeira página do centenário jornal “Alto Madeira”, uma testemunha ocular da história de Rondônia, onde, na edição de 21 de setembro, quinta-feira, anuncia em comunicado direto, que, o jornal Alto Madeira, depois de cem anos de circulação, irá em 01 de outubro de 2017, circular com a sua edição de nº 2837, pela última vez na forma impressa. E deixa claro que por falta de sustentação econômica, pois, conforme afirma “reconhecimento e admiração sempre obtivemos de todos”.
Na verdade, estamos todos de luto com o fim de um ciclo da imprensa de Rondônia. É verdade também que se trata de um fenômeno mundial, pois, recentemente, se lamentava em Portugal o fechamento de um grande grupo da imprensa de lá e, aqui, foram, pelo menos, oito grandes, e antigos jornais, brasileiros, que deixaram de circular. Alguns, como o Jornal do Brasil e o Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, verdadeiros baluartes da imprensa nacional. O fechamento do Alto Madeira, porém, para Rondônia, é muito mais sentido. De uma forma ou de outra, o AM sempre teve um papel fundamental não somente na nossa política, como na nossa cultura. Foi não apenas o berço dos grandes jornalistas e intelectuais do estado, como esteve, permanentemente, aberto para as novas ideias, para a arte, para a cultura, para os que desejassem divergir. Um espaço democrático e, notadamente, regional. Impossível ter sido importante e não ter aparecido nas páginas do jornal que documentou por cem anos a nossa história.
É lamentável ainda mais porque a nossa imprensa fica, cada vez mais pobre. Dos jornais que foram importantes no século passado resta apenas, solitário, o mais novo, o Diário da Amazônia. Num espaço de meio século desapareceram grandes títulos, como A Tribuna, o Guaporé, O Estadão do Norte, Diário do Povo, a Folha de Rondônia e, agora, o a maior de todos eles, a grande árvore de nossa floresta, o Alto Madeira, que, parecia capaz de resistir aos tempos. Termina, por incrível que pareça, depois de ter passado as maiores tormentas, mas, deixa, sem dúvida, um grande legado. O Alto Madeira será sempre um orgulho para todos nós, de Rondônia, que amamos esta terra. Deixa de circular, mas, não de ocupar um lugar memorável na história de nossa imprensa.




quinta-feira, setembro 14, 2017

SOBRE NORMALIDADE, POLÍTICA E PRAZOS


Devo dizer que, não sei explicar por ser até imemorial este sentimento, porém, não me sinto um sujeito normal. E, quando digo isto (tem pessoas que podem pensar isto de mim) não é por me sentir, de qualquer forma, superior aos outros (inferior me sinto, muitas vezes, diante de pessoas que são talentosas, gênios mesmo, com quem tive a honra de conviver). Não também que tenha nada de extraordinário ou seja um ser de intenções ocultas ou malévolas. Sou um homem quase normal nos pensamentos, inclusive sob o ponto de vista de padrões normais de desejo e até mínimos de consumo. A questão real é que, desde pequeno, além de uma acentuada timidez, não comungo nem com o proceder nem os valores da maioria das pessoas. E isto, ainda mais hoje, no Brasil é quase uma coisa criminosa.

Em certas fases da vida até cheguei a parecer uma pessoa normal. Já desperdicei, por exemplo, muitas noites diante da tela da televisão. Com a ressalva de que, apesar de considerar muito bem feitas as novelas, nunca me prenderam muito a atenção e Big Brother Brasil nem pensar. Também pareço perfeitamente normal quando assisto futebol, embora um pouco mais quieto do que o normal. Dificilmente me acharão normal por gostar de ficar zapeando ou ficar navegando em sites ou lendo notícias de vários países ou ainda traduzindo poesias. Também na infância nunca fui muito chegado a desenhos animados. Sempre gostava de futebol e de livros. Ler, até bula de remédio, sempre foi um dos meus pecados. E alterno horas em que, preguiçoso, somente desejo dormir e outras em que aceito, temporariamente, o  conceito de que "aproveitar" é "sair", buscar nas ruas e nos lugares a diversão que se supõe não está nas nossas moradias. Sou sim  de ouvir bons shows musicais , de curtir um cinema ou participar de algum evento de meu interesse, no entanto, com calma. Até mesmo viajar não pode ser mais as denominadas excursões, verdadeiras maratonas que só servem para mostrar que você já foi aos lugares que, supostamente, todos devem ir. Até aguento um dia marcar encontro com pessoas que, depois, vejo não ter afinidades e me empanturrar de cerveja como meio de esquecer o dissabor, mas, e nisto sou como a grande maioria dos brasileiros, hoje em dia, não me fale mais do que cinco minutos sobre política que não tenho o menor interesse. Hoje, uma boa discussão política, para mim, é esquecer que a política existe. É que comigo ou sem migo, só no longo prazo as coisas se acomodarão. E sei lá se  ainda tenho longo prazo...

segunda-feira, setembro 04, 2017

A RENOVAÇÃO NECESSÁRIA DA IMPRENSA ESCRITA


Como um aficionado dos jornais, das revistas e dos livros é impossível não me ligar às questões da que se costuma denominar como crise da imprensa escrita. Sem dúvida, a imprensa escrita sofreu muito, em especial, nos últimos 10 anos, com as grandes mudanças tecnológicas, com os meios digitais e as redes sociais roubando grande parte dos seus leitores e, mais ainda, desviando os gastos em  publicidade, ainda que, examinadas de perto,  as receitas do on-line não compensem as receitas perdidas no papel. De fato, estima-se que os  anunciantes na imprensa escrita decresceram, em uma década, quase 80%, enquanto o digital, talvez, recupere apenas 55 a 60% dos investimentos, ou seja, na prática, há uma queda de investimentos, embora a sua multiplicidade, e até mesmo a anarquia das mensagens invadam nossos olhos e mentes.
O sinal real da crise reflete-se em que os grandes jornais, as grandes revistas, nacionais perderam milhares de leitores nas edições impressas, e, como se sabe, muitos até cessaram de ter edições impressas, ou até mesmo, encerraram suas atividades, enquanto sobe, e muito, a leitura digital que, no entanto, sobe muito pouco na circulação digital paga, o que gera um saldo pouco positivo para a imprensa em geral. A crise, no meu entender, é, na verdade, do modelo de negócio que a indústria jornalística tanta manter, num ambiente hostil à sua permanência, até mesmo por falta de opção. Aliás, a tentativa que vem sendo feita, de cortar custos, parece ter piorado sua situação na medida em que diminui a qualidade do seu jornalismo e, via de consequência, acelera seus problemas mais do que resolve. E o resultado se vê como um desastre: jornais e revistas com, cada vez mais, menos páginas, com análises e notícias mais curtas, numa concorrência inútil de atender uma população com cada vez menor capacidade de atenção. E, como cortaram na carne, nas redações, o preenchimento dos espaços com fotos e notícias de agências de notícias, torna todos muito parecidos, tudo muito igual, muito pasteurizado.
Não tenho uma formula para combater isto, e se tivesse já teria tentado, mas, ainda creio existir um mercado para o jornalismo de investigação e de análise e de uma opinião bem sustentada. É este tipo de jornalismo que faz falta à democracia, que falta (e muito) ao nosso país. Minha crença é a de que , para que os jornais permaneçam relevantes,  é preciso servir um jornalismo de muito maior qualidade, que seja um diferencial para o leitor. Ainda creio que exista uma grande procura por uma imprensa qualificada, de opinião e crítica. Também pode ser lida, é claro, e até partilhada, com as redes sociais, mas, é este tipo de notícia que cria audiência e da qual sinto falta em todos os meios. Claro que as revistas e jornais são empresas, porém, não são apenas isto. Possuem também um papel cívico e responsabilidades mais amplas. Não podem, como tem sido a tônica nos últimos tempos, somente considerar seus interesses próprios, sem qualquer preocupação em relação à veracidade das notícias. Se fazem isto, então, em nada se diferenciam das opiniões do Facebook, onde cada um diz o que quer, na maioria das vezes, indiferente aos efeitos. Revistas e jornais continuam a ser os maiores produtores de conteúdo e devem ser a melhor fonte de informação sobre os governos, as empresas e as instituições que conformam as nossas vidas. Se não fazem isto, se perdem este tipo de preocupação, se não despertam interesse, é natural que percam importância. E perder a importância é também perder renda e leitores. É preciso inovar nossa imprensa escrita.


quinta-feira, agosto 31, 2017

NÃO FOI BEM DE AMOR QUE O POETA MORREU


Algumas vezes não fazemos o que devemos fazer. É, algumas vezes, por conta de um “deixa a vida me levar”, mas, outras, apenas pela maldosa procrastinação, que é um mal que, infelizmente, me assola. Seja como for devia, já faz tempo, um comentário sobre o mais recente livro de Júlio Olivar, “O Poeta que Morreu de Amor” sobre o poeta maranhense Vespasiano Ramos, tido por grande parte dos historiadores como o precursor da literatura de Porto Velho, o que significa, praticamente, de Rondônia, de vez que a cidade foi, por muito tempo, a única parte onde podia existir algum tipo de literatura.
Antes de mais nada cabe dizer que Júlio, com este segundo livro, se torna uma espécie de escavador literário do tempo, pois, já no seu livro anterior sobre Santo Antônio do Rio Madeira, tinha se arriscado nas águas profundas da história em busca de pérolas que, supostamente, só existiam como lendas. E, como na vez anterior, pode se gabar de ter conseguido um resultado extraordinário, apesar dos riscos e da tarefa árdua que teve de executar. De fato, especialmente, no livro sobre o poeta, consegue tirar leite de pedra.
É que, Vespasiano, em Rondônia, é mais lenda mesmo que realidade. O poeta de Caxias foi uma figura contraditória, que andou por outras cidades, inclusive com relativo sucesso em Belém do Pará, autor de apenas um livro “Coisa Alguma” que, se fosse no mundo atual, se diria que foi mais performático do que construiu uma obra. Além de ter vivido pouco (32 anos), uma vida conturbada, se atribui a uma decepção amorosa sua vinda para Rondônia onde, em pouco tempo, viria a falecer na cidade de Porto Velho em 26 de novembro de 1916. E, como foi, mesmo assim, adotado como intelectual local, mereceu de Júlio Olivar uma recuperação histórica de muito valor que começa pelo título de “O Poeta que Morreu de Amor”, uma evidente licença poética, de vez que o que o matou mesmo foi uma cirrose. Talvez até, depois de duvidar de sua importância para a literatura de Rondônia até me incluam na famosa prole que cantou no poema “Ao Cristo”:

“Prometeste voltar! Não voltes, Cristo:
Serás preso, de novo, às horas mudas,
Depois de novos e divinos atos,

Porque, na terra, deu-se apenas, isto:
Multiplicou-se o número de Judas
...E vai crescendo a prole de Pilatos”.

Certamente não será o caso de Olivar que escreveu um livro bem documentado, fácil de ler, divertido, com parte dos poemas de Vespasiano e, ainda por cima, com um certo perfume de passado, que torna o seu livro uma leitura fascinante. Vale a pena comprar, ler e divulgar. 

sexta-feira, agosto 18, 2017

A IMPORTÂNCIA DESPREZADA DA HIDROVIA DO MADEIRA



A discussão trazida à baila pela Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária- FENAVEGA, no debate sobre a Hidrovia do Madeira, a Importância do Transporte Sustentável em Rondônia, Amazônia e Impactos pós-UHE’s, acontecido na sexta-feira, 18 de agosto, serviu para mostrar como a nossa realidade se encontra distante da nossa política. Embora contando com o apoio da ANTAQ-Agência Nacional de Transportes Aquaviários, num momento onde a questão da dragagem do Madeira assume um imenso relevo- até por estar atrasada e ser questionada pela forma como tem sido conduzida- é sintomática da falta de atenção às demandas públicas, em especial às da Amazônia- a ausência de autoridades e de órgãos que não poderiam estar ausentes de questão tão relevante como é o caso do Ministério do Meio Ambiente, do IBAMA e do DNIT, entre outros.
Vale frisar que a Hidrovia do Tiete, a única de fato que merece o nome, segundo foi mencionado nos debates, possui, no máximo, embarcações que transportam cerca de 7 mil toneladas, enquanto no rio Madeira já transita o 2º maior comboio do mundo, com capacidade de 32 mil toneladas, o   que corresponde a 20 balsas e ao que transporta 1.300 carretas, e já está autorizado o uso de comboios que irão transportar 50 mil toneladas. É importante também acentuar, como disse o presidente da FENAVEGA, Raimundo Holanda, que, apesar de se transportar anualmente 13 milhões de toneladas de cargas, quando é possível, no mínimo, dobrar esta quantidade, “Nós não temos uma hidrovia”. Sim, o rio Madeira, pela falta de atenção, pela falta de investimentos, de uma política pública de aproveitamento de nossos caminhos fluviais, não é senão um rio navegável com toda a sua importância para a região.

De fato, o que o debate demonstrou amplamente é que há a necessidade vital de se transformar o rio Madeira, efetivamente, numa hidrovia. E, foi dito, e muito bem dito, que é um mito opor o transporte fluvial ao rodoviário. Ambos se complementam e, como também se sabe, é indispensável que haja a integração multimodal, inclusive com a implantação da Ferrovia da Soja-Porto Velho/Sapezal, uma forma eficiente e rentável de escoar a soja do Mato Grosso. É indubitável também que as questões pós-UHE’s, como a do desbarrancamentos e das toras, não podem ser, como estão sendo, descuidadas com enormes prejuízos para a navegação e para as cidades, empresas e cidadãos atingidos. Do questionamento não escapou nem mesmo o fato de que até mesmo a dragagem, da forma que está sendo feita, se será uma solução ou um mero paliativo. Uma coisa, porém, ficou evidente: não se pode continuar impassível diante da falta de soluções dos problemas que o rio Madeira vem atravessando. A questão não é apenas econômica. É uma questão, como a da conclusão da BR-319, que entrava o nosso futuro. Rondônia e a Amazônia são dependentes dos caminhos, sejam os das terras ou das águas, e não se pode, como se tem feito, emperrar a vida de milhares de pessoas em nome de interesses distantes, e obscuros, enquanto nós sofremos na pele o descaso e a desatenção do poder público aos nossos problemas. 

sexta-feira, julho 21, 2017

A CHINA EM RITMO QUÂNTICO


Ao contrário do Brasil, a China, com investimentos crescentes que contrastam com a economia mundial, recuperou o tempo perdido e investe, fortemente, em tecnologias de ponta. Em especial está dando um salto de qualidade em áreas como ferrovias de alta velocidade, grandes aeronaves, foguetes portadores, telefonia celular e, fez uma mudança fantástica, nas suas telecomunicações quânticas.
Para se ter uma ideia do novo rumo, embora o que tenha chamado a atenção da imprensa tenha sido o ARJ21, o primeiro jato projetado e produzido no país, o fato mais relevante mesmo é a entrada na arena da competição internacional da Informação Quântica. Os cientistas chineses foram os primeiros a alcançar estados quânticos emaranhados e teletransporte a uma distância segura acima de 100 km. Efetivamente, são pioneiros, ao criar a primeira rede mundial quântica em larga escala, e líderes mundiais nas aplicações metropolitanas de tecnologia e no uso de distribuição quântica para comunicação de informação sensível.
É primordial entender que a comunicação quântica é uma nova modalidade de envio de informação de forma absolutamente segura, de vez que utiliza o “emaranhado quântico”, a partilha de um canal quântico que permite o átomo ser compartilhado entre duas localizações, mesmo à distância, com a percepção em tempo real e, se o estado de um muda o outro irá se alterar de forma correspondente.  Assim a comunicação quântica possui eficiência e segurança ao não permitir o sequestro da informação que está sendo transmitida na medida em que, qualquer interceptação, será reconhecida tanto pelo transmissor, quanto pelo receptor, impedindo que o hacker possa obter toda a informação, o que é fundamental para a proteção de informações de segurança e de negócios financeiros.
Também, em agosto do ano passado, foi lançado o primeiro satélite quântico experimental do mundo, o Micius, permitindo a primeira conexão quântica entre um satélite e a terra. Não bastasse estes sucessos, ainda foi construído o Link Xangai-Hangzhou, com 260 km de extensão, a primeira linha de comunicação quântica mundial e, logo em seguida, um novo link, o Link Pequim-Xangai foi adicionado para transferir importantes informações, inclusive com bancos comerciais utilizando o sistema para transmissão de backups.

E a cereja do bolo é a constatação do enorme potencial da tecnologia quântica tanto que sua lucratividade induziu a IDQTEC Quantum Tecnology Co. Ltda. a ser a primeira empresa do setor de comunicação quântica a lançar ações no mercado de capitais. São infinitas as possibilidades na área e, embora não se tenha uma ideia clara do futuro, já se prevê que a comunicação quântica será tão difundida que as contas eletrônicas, mesmo as feitas por celular, deverão ter chips de encriptação quântica, para garantir que as transações financeiras sejam absolutamente seguras. Como se vê a China, definitivamente, está sendo movida em ritmo quântico. 

quinta-feira, junho 29, 2017

UM PROTAGONISTA DA HISTÓRIA DE RONDÔNIA


Tomo conhecimento, com muito pesar, da morte de Luiz Malheiros Tourinho, o notável empresário Luiz Tourinho, não somente o responsável pela manutenção por mais de meio século do jornal Alto Madeira, mas, sem dúvida, durante, pelo menos, trinta anos um dos mais importantes empresários do Território e, depois, Estado de Rondônia. Certamente, Luiz Tourinho nunca teve, em vida, um reconhecimento à altura do enorme papel que exerceu em nossa sociedade. Ao contrário dos irmãos, que enveredaram por caminhos mais suaves, Luiz foi, ao seu modo, um gênio do mundo dos negócios e um articulador político excelente de bastidores. Como um homem que disputa poder teve seus admiradores e seus adversários e os tratou de acordo com seus interesses e grau de ferocidade que as lutas pela sobrevivência exige. Não foi um santo, claro, porém, não se pode negar sua grandeza como figura de relevo no panorama estadual. E sempre foi amigo dos seus amigos. E sempre foi um homem de princípios. Leal até mesmo com os adversários avisava do que não gostava e não negava as atitudes que tomava na defesa dos seus interesses.
Logo cedo surgiu como uma liderança estudantil e, depois, empresarial. Teve uma passagem vitoriosa pelo Banco do Brasil que, para ele, foi uma escola e ganhou dinheiro com seguros, depois enveredando por outros negócios, de fato, criou um pequeno império que geriu com tino e sagacidade. Foi proprietário da primeira revendedora de automóveis Fiat e de uma corretora de seguros, bem como também foi proprietário do jornal O Rio Branco e da Rádio Rio Branco, no Acre, onde se formou como advogado. Um homem de larga visão, que, depois de ter sido dirigente da Associação Comercial de Porto Velho, teve o mérito de, com os empresários José Ribeiro Filho e Frederico Simon Camelo, ser um dos responsáveis direto pela criação das federações do Comércio e da Indústria de nosso Estado. Depois, por longo tempo, seria presidente da Fecomércio, como também presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae, que  ajudou a fundar em nosso Estado. Incansável participou também da criação da Federação da Agricultura e Pecuária (Faperon). Entre outras coisas construiu o prédio Rio Madeira, o primeiro grande edifício privado de nossa capital e que também foi pioneiro em ter elevador. Na transformação do Território para Estado, quando o Alto Madeira, atingiu o auge como jornal estadual mais importante, exerceu um papel muito grande junto ao governador Jorge Teixeira tendo, inclusive, sido responsável pela indicação de postos importantes do governo. Também exerceu a função, no governo Raupp, de secretário de Indústria e Comércio. Foi, com o governador do Acre, Nabor Junior, iniciar com uma comitiva que foi ao Peru, convidado pelo ex-presidente Belaunde Terry, em 1983, o sonho da Saída para o Pacífico, que, depois seria uma bandeira que gerou a atual estrada Bioceânica que, liga via Assis Brasil, com o Peru e os portos do Pacífico. Recentemente lançou um livro em que defendeu a necessidade da integração latino-americana, em especial, da integração de nossa região com os países vizinhos.

Com sua morte, certamente, nossa paisagem intelectual fica muito mais pobre e perdemos a oportunidade de ter um retrato muito preciso da história política estadual, de vez que havia prometido fazer um livro de suas memórias que, com certeza, seria muito esclarecedor de uma época política (e rica) da história mais recente do Estado. Com a morte de Luiz Tourinho fecha-se um ciclo, pois, deve ser um dos últimos remanescentes dos grandes empresários que participaram ativamente da vida pública no final do século passado. Ele foi o nosso grande empresário que se fez por si mesmo, de certa forma, embora mais diversificado, foi o nosso Assis Chateaubriand, um Chatô eclético, que formou um império e ergueu bem alto o nome da família Tourinho na região. A morte, como se sabe, é inevitável, mas, nem por isto não se pode deixar de lamentar quando morre um homem que participou e escreveu parte de nossa história. No mínimo, para ser justo, se deve dizer que morreu um grande empreendedor. E que será impossível escrever a história empresarial de nosso Estado sem considerar sua imprescindível colaboração. 

quarta-feira, junho 07, 2017

A CRISE É O MOMENTO IDEAL PARA EMPREENDER


Todos os especialistas em desenvolvimento acentuam que a educação é indispensável para se obter mais crescimento e maior qualidade de vida, mas, não é suficiente. Por que não é suficiente? A razão reside em que, caso não exista uma expansão da economia, os empregos existentes serão obtidos somente pelos mais preparados sem que aumentem em número. É por isto que se insiste na necessidade do empreendedorismo como um fator determinante para o desenvolvimento. Sem novos negócios, sem ter pessoas com iniciativa, que se determinem a empreender, de fato, não existe desenvolvimento.
No Brasil, infelizmente, embora se diga que existe muito empreendedorismo, o que se observa é que se trata do “empreendedorismo forçado”, ou seja, a pessoa que não obtém emprego para sobreviver cria algum tipo de atividade para se sustentar. Não é empreendedorismo no seu sentido bom. No sentido bom o empreendedorismo nasce de um sonho, de um grande sonho, mas, factível de execução e que requer características pessoais, como coragem, autoconfiança, persistência, resiliência, entre outras. Isto é necessário em razão de que terá que superar muitos obstáculos, não somente vindos da excessiva burocracia, como da falta de capital para investimento, em geral, e de que, no período de maturação, até o negócio dar retorno, quem empreende tem que fazer muitos sacrifícios, inclusive o de se dedicar sem uma contrapartida financeira compensadora.

Porém, hoje, com a diminuição do mundo, com a conexão on line, com a tecnologia rompendo barreiras, acabando com as distâncias, nada é mais cruel, em especial para o novo empreendedor, que a concorrência cada vez mais acirrada. Todo negócio, por menor que seja, pode ser impactado pelo que acontece distante, de forma que empreender vai ser, cada vez mais, uma questão de identificar necessidades. O sucesso de um negócio está muito ligado a explorar um nicho qualquer mal atendido. E, hoje, no Brasil, com os problemas da crise, empreender também importa em se motivar para o sucesso e acreditar em novas soluções.  De qualquer forma precisamos de empreendedores. É preciso deixar de falar em crise, pois, empreender é difícil em qualquer época. Portanto, a crise é um momento de oportunidade.  Se você tem uma ideia e acredita que ela traz algum tipo de solução que pode impactar na vida das pessoas, que é possível de gerar um negócio de sucesso, não tenha dúvida e empreenda! As dificuldades serão grandes, mas, não há sucesso sem trabalho e sem problemas. 

Ilustração: Arquitetos de Elite. 

segunda-feira, março 20, 2017

UMA BOA MEDIDA COM EFEITOS INCERTOS


A Tendências Consultoria estimou que a liberação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços-FGTS das contas inativas, cerca de R$ 16,5 bilhões este ano, terão um impacto, considerando o efeito multiplicador, de cerca de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os produtos e serviços produzidos internamente durante o ano, mesmo com pesquisas do Serviço de Proteção ao Crédito-SPC indicando que 38,2% dos recursos serão destinados ao pagamento de dívidas.
É fato que, embora o montante de tais recursos somente, não possa tirar o país da crise, no entanto, não deixa de ser uma medida importante para aliviar o orçamento das famílias brasileiras endividadas e deve contribuir para melhorar as expectativas de consumo e de investimentos, um passo importante para a retomada do crescimento. Ainda assim, grande parte dos analistas econômicos consideram que o efeito será pouco. Há mesmo economistas como o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, projetando um impacto menor sobre o PIB, de apenas 0,2% na taxa de crescimento, considerando que "Boa parte desses recursos deve ir para pagamento de dívida, o que ajuda em um segundo momento no consumo, mas não agora". A equipe do Banco Santander é mais pessimista, pois, afirma que o uso do dinheiro das contas inativas do FGTS para pagar dívidas deverá ter efeito "desprezível" sobre o comprometimento da renda e inadimplência, de forma que, de um modo geral, o “impacto efetivo será bem pequeno e, definitivamente, não muda o cenário". Entre estas visões, que tem seus fundamentos, pode-se dizer que variam com o otimismo dos analistas, porém, a grande verdade é que a economia brasileira atual anda ao sabor das novidades políticas. O problema é que a política está proporcionando mais notícias ruins do que boas.

Uma medida como a da liberação do FGTS poderia ter sim um efeito muito maior, de vez que desperta mesmo mais esperança e otimismo. O ruim é que, logo em seguida, surge, como agora, a “Operação Carne Fraca” que, tem sim, efeitos nocivos. Não que não devesse ser feita, mas, a forma de divulgação não teve o mínimo de cuidado com os seus efeitos. Assim, quando me perguntam, se a liberação vai ter um impacto maior ou menor, sou, como um economista cuidadoso, e não um vidente, obrigado a dizer que depende. Como num jogo de xadrez o resultado depende de peças que serão ainda mexidas e mesmo com mexidas corretas, como a do FGTS, sem capacidade de prever o jogo futuro, só é possível torcer para que melhores tempos venham. Da forma como está tudo anda muito incerto, imprevisível. E não há crescimento sem estabilidade, sem notícias ruins que apaguem os efeitos positivos das boas medidas. 

sexta-feira, março 17, 2017

SEGURANÇA JURÍDICA, UMA PRIORIDADE RELEGADA


Depois de uma discussão que se arrastou por mais de vinte anos a maioria do STF-Supremo Tribunal Federal decidiu que o ICMS não integra a base de cálculo do PIS e da COFINS- ressalta a imprensa. Parece brincadeira, mas, mostra a realidade tributária e jurídica brasileira. Embora seja cristalino, sempre foi, que a Constituição estabelece que o PIS e a CONFINS incidem somente sobre o faturamento ou a receita, de forma que, como o ICMS entra para ser repassado a seus credores, que são os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, não poderia, de forma alguma entrar, pois, não poderia, não pode, ter por base algo que não é faturamento ou receita. É cristalino. Não no Brasil onde nem sempre a legislação infraestrutural respeita o que está contido na Constituição e nas leis.
Não é por simples acaso que isto acontece. Na verdade, há um imenso histórico de que as burocracias brasileiras sempre legislam a seu bel prazer e, muitas vezes, no sentido contrário ao espírito das leis e do direito. Sempre contra o contribuinte, contra seus direitos e a favor de encher os cofres estatais mesmo quando a matéria é mais clara do que a luz do sol e, na grande maioria das vezes, com o beneplácito e o conluio, aberto ou disfarçado da Justiça, a ponto de ser até, de certa forma, espantoso quando, em ocasiões, como agora, no caso da cobrança da bagagem nos aviões, tomarem uma decisão a favor do setor privado.

A norma, no entanto, é que seja um órgão de regulação, seja o INSS, Receita Federal, enfim, qualquer tipo de órgão, se criem resoluções ou normas que sempre impactam no bolso das empresas e das pessoas sem que se possa ter muita alternativa de recorrer, exceto se dispendendo recursos e também, em geral, sem muito sucesso. Exemplo linear disto é a substituição tributária do ICMS, um verdadeiro acinte às regras mais comezinhas da natureza do imposto, que, no entanto, permanece sendo aplicado apesar das inúmeras tentativas de derrubá-la na Justiça. Por situações assim, pela insegurança jurídica, derivada do cipoal de normas e interpretações de direito tributário, pela constante mudanças dessas normas, sem nenhuma consideração pelos custos que acarretam, é que o Brasil figura no “Doing Business 2016”,  do Banco Mundial, que mede a facilidade de fazer negócios, na 116ª posição num ranking de 189 países. Ou seja, está quase no terço dos piores até por apresentar os piores resultados nos indicadores de pagamento de impostos (178º), abertura de empresas (174º) e obtenção de alvará para construção (169º). Depois de dois anos consecutivos de produto interno negativo, se desejamos retomar o desenvolvimento, e atrair investimentos,  as lideranças políticas e empresariais precisam, mais do que nunca, dar atenção à necessidade de desburocratização e de segurança jurídica para que possamos, realmente, diminuir o nosso atraso em relação aos países desenvolvidos. 

quinta-feira, fevereiro 16, 2017

O SOFREDOR DE PLANTÃO


O consumidor, no Brasil, embora, aparentemente, haja toda uma legislação de proteção, na verdade, está sem nenhum tipo de defesa em relação, em especial, as empresas telefônicas, bancos e cartões de crédito, entre outras grandes corporações. Sem contar que o próprio governo, em qualquer nível, pisa, sem dó nem piedade, sobre os direitos de consumo. O fato mais comum é o de que quando o consumidor pretende contratar algum serviço se oferece mundos e fundos. Parece que irá encontrar o paraíso e toda a facilidade possível. Há, inclusive, ofertas que, na grande maioria, nunca se concretizam. E ainda que o serviço ofertado fique bem abaixo do que se esperava, aí do consumidor quando desistir. Para fazer a rescisão de um contrato, para começo de conversa, é, praticamente, impossível fazer pelo telefone ou por internet. Toda e qualquer facilidade some. Não tem jeito. A forma possível, recomendável, é, na prática, quase que obrigatória, a de ter que fazer o pedido, por escrito, para a empresa por carta com Aviso de Recebimento (AR) ou notificação via Cartório de Títulos e Documentos.
Há também uma prática que é um verdadeiro abuso, inclusive, quando se pretende forçar o consumidor a buscar sua fatura de pagamento seja via internet ou dispositivo móvel. Sem contar que o código de barras, muitas vezes, não presta ou o caixa eletrônico não consegue ler. Uma empresa de tv paga, por exemplo, oferece até desconto para colocar em débito no banco ou receber a fatura via e-mail, mas, envia a fatura em papel, invariavelmente, fora do prazo para obrigar o consumidor a fazer o que deseja. Bancos, cartões e telefônicas também para que o consumidor tenha acesso, supostamente, para manter a confidencialidade, obrigam a criar nomes de usuários e senhas, inclusive, o que é absurdo, no acesso aos call-centers. Grave é que, em alguns casos, o cliente não consegue pagar sua fatura por não ter acesso a ela. E, em grande parte dos casos, é o site e o call center que não funcionam bem. Há casos até que, para reclamar, se pede que se obtenha um número de protocolo! E até para responder aos e-mails levam mais de uma semana. E, quando é o caso, de se querer pagar a fatura para cancelar o serviço é um Deus nos acuda. O pior é que, se o consumidor não paga, para poder cancelar, corre o risco, muito grande de acabar com o seu nome negativado. Pode-se recorrer à Justiça. Pode sim, mas, é também um outro sofrimento. Em geral, é preciso, primeiro, enfrentar o Procon, o que nem sempre é fácil. Depois, falta a muitas pessoas o conhecimento das peculiaridades deste tipo de problema. No fim, sobra mesmo é para o consumidor. Mesmo quando ganha, o que recebe não compensa os aborrecimentos nem o tempo gasto na empreitada. Ser consumidor no Brasil é viver no purgatório.


segunda-feira, janeiro 30, 2017

A INTERVENÇÃO SOBRE O CRÉDITO ROTATIVO


Sob a alegação de que é preciso diminuir a inadimplência dos consumidores brasileiros o Governo Federal vai alterar, a partir de abril, as regras no rotativo do cartão de crédito. Muitos economistas analisando a medida consideram que se trata de uma boa intervenção, de vez que os juros devem cair. É verdade que é um absurdo, segundo a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), que, em dezembro, os juros do cartão de crédito tenham alcançado o patamar de  15,33% ao mês, um total de 453,74% ao ano. Mas, com a nova medida, o consumidor perde a opção de pagar apenas uma parte do valor da fatura, o que, no mínimo, é de 15% e a possibilidade de deixar o saldo restante para os próximos meses, ou seja, deixa de, na prática, existir  o crédito rotativo. De acordo com a medida adotada, agora, a manutenção do rotativo, a partir de abril, com as novas regras, se o consumidor não tiver dinheiro para pagar o total da fatura, não poderá passar de mais de 30 dias usando o rotativo. Depois disto, o banco deve oferecer um crédito parcelado com taxas mais baixas. Ou seja, o cliente que entrou no rotativo em abril, terá que, obrigatoriamente, parcelar a sua conta em maio.
Aparentemente se trata de um ganho. O rotativo é considerado como uma verdadeira bola de neve e o parcelado deve ter um custo menor. Ou seja, a medida visa fazer com que as famílias paguem menos juros e que sobre mais dinheiro para estimular a economia. Há, porém, alguns problemas. Primeiro, o Banco Central não anunciou em quantas vezes o rotativo será parcelado e nem a taxa de juro. É provável que deixe os prazos e os juros por conta das instituições. Talvez, estimam os especialistas, deva ficar próxima do CDC (Crédito Direito ao Consumidor), que está em torno dos 7% ao mês. Seria uma queda dos juros acima da metade, o que seria um grande ganho.
O problema, ao meu ver, é que, mais uma vez, se alteram as regras depois do desastre, quando grande parte dos consumidores já estão perdidos nas suas contas. Acrescente-se que os bancos, não são obrigados a oferecer o crédito. E se não oferecerem? O que acontece com quem não tiver dinheiro? Será obrigado a buscá-lo em fontes alternativas? Se for, então, o consumidor pode estar, invés de sendo obrigado a se organizar, a ter problemas de obtenção de crédito ou cair nas garras de agiotas. De qualquer forma o que me parece mais complicado é o fato de que, de novo, o governo, que não tem suas próprias contas organizadas, interfere diretamente na vida privada para influir sobre as finanças dos cidadãos. E, se for para facilitar a vida das pessoas, seria bem melhor que começasse a rever os seus procedimentos burocráticos, os impostos em grande quantidade e altos, os custos que acarreta com obrigações acessórias ou até mesmo criar programas de recuperação dos endividados. Intervir, porém, me parece sempre um retrocesso. Já existe governo demais. Precisamos de mais mercado.