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sexta-feira, dezembro 28, 2007

REFLEXÃO DE ANO NOVO



Os bons navegadores-dizem os velhos pescadores do meu perdido Ceará-são como os rios que contornam os obstáculos, simplificam a vida. Assim, logo depois de um momento em que, pelo menos em tese, deve ser de renovação da esperança, de renascimento, de lembrar que Jesus, seja santo, filho de Deus ou mito, nasceu numa manjedoura para nos salvar, não é hora de ficar chorando as pitangas ou lamentando os acontecimentos. A vida é bela, principalmente pelo inesperado. Por ser uma gangorra onde os sem memória e os sem escrúpulos sempre pagam pelo que fazem quando pensam que são espertos. Uma nação, é preciso saber, não se faz com discursos, espertezas, mistificação. Isto é o auto-engano. Uma nação se faz com pessoas que respeitam as regras, que compartilham projetos, ideais e criam um grau de confiança mútua nos quais as leis são simples confirmação de uma forma de viver que se vive.
Vivemos tempos sumamente interessantes nos quais parece ser impossível ser alguém socialmente sem se deixar vencer pelas teses vigentes de que o que vale é o poder a todo custo ou o ter a qualquer custo também. Até nas novelas globais os mocinhos, agora, são bandidos sejam da alta, da média ou baixa camada. Nunca antes neste país a falta de educação, de respeito aos valores humanos e ao bom comportamento social estiveram tão em alta enquanto se tecem loas aos “melhores índices econômicos de uma década”. Efetivamente não há nada de muito novo no que acontece. Estamos numa época em que os mais velhos, abusados e maus costumes fazem os novos dias. Numa época em que as palavras perdem o sentido para coonestar a farsa dos bons tempos que a mídia propala, mas que não chegam, de fato, ao povo, que iludidos por migalhas e pelo alargamento do crédito se embalam num consumismo sem base, que, como corolário, deve trazer, no futuro, somente dor e desespero.
A verdade verdadeira é que, por mais que a luta tenha sido grande e o caminho árduo, nós mudamos muito pouco do que herdamos de nossos pais. Pode-se até dizer que “ainda somos os mesmos” apenas vivemos um pouco diferentes e mais rápidos. É a certeza de tal rapidez que me embala nestes dias que são tão antigos e, ao mesmo tempo, tão novos. Já existiram inimigos, verdades e muros tidos como eternos que, como por encanto, sumiram e são, hoje, só lembranças. Este tempo atual, com todas as suas nuances de engano e de metamorfose, também irá passar. E é belo saber que os Judas, por mais punhados de moedas que recebam, não escapam do remorso e da história que, embora escrita pelos vencedores, somente recolhe os que resistem, os que lutam sempre, os indispensáveis. A vida é bela. A vida é renovação. E a renovação como o tempo é irreversível. Os ventos da liberdade e da consciência sempre soprarão para o lado da verdade de forma, companheiros, que espero, luto, sonho com o amanhã melhor. Se há uma coisa que é imprescindível não é ganhar, mas sonhar pela esperança que um dia há de colorir a vida depois dos tempos da escuridão. È imprescindível sonhar. E, mais ainda, sonhar o sonho impossível de um amanhã de paz, de liberdade e de democracia.

sábado, dezembro 15, 2007

JORGE MAUTNER E NÉLSON JACOBINA



Jorge Mautner, o nosso guia

Graças ao projeto Sempre um Papo, e ao seu coordenador local meu amigo Fred Perillo, tive um dos maiores prazeres dos últimos tempos que foi o de conviver por algum tempo, em Porto Velho, com Jorge Mautner e seu parceiro o excepcional maestro Nelsón Jacobina que, a meu ver, são a materialização de Dom Quixote e Sancho Pancho modernizados e revistos, ou seja, despidos de quaisquer conotações menos lisonjeiras. Ambos são grandes artistas, mágicos que consideram normal fazer magia.
Mautner, o único mestre que conheço que se embriaga bebendo água, traduz de uma forma otimista e criadora o ser humano que soube viver a história e se transformar sem perder a esperança, a busca da síntese criadora e a paixão arrebatadora pelo viver que caracterizam sua música e suas palavras. È, e dito com a autoridade de quem pode dizê-lo, Mário Schenberg, “Um dos profetas da Nova Era” e o fato de até já ter se apresentado “como messias (talvez com uma ironia peculiar)”, só demonstra que sua extrema competência, e seriedade, é feita de um fino humor que os deuses somente dão aos iluminados.
Criador do Kaos, uma integração contraditória e trágica do paganismo dionisíaco, do comunismo transfigurado e do cristianismo reformulado, é um filósofo que superou a filosofia porque vê, na sua visão de raio-x, além dos prótons, dos elétrons e dos spins que somente a arte nos salvará, o que o transforma num continuador de Nietzsche. È verdade. Mas, Jorge, que até tem nome de santo, foi muito além do bem e do mal e de todos os super-homens com um racionalismo poético radical que prega uma nova espécie de Eterno Retorno cósmico na medida em que o seu Kaos contém também o Caos e o integra, o dissolve, sacode, explode em minúsculas partículas super e subatômicas que criam os maracatus, mas também, Lavoisier do relativismo, tudo recupera no amálgama, esta síntese da síntese ao qual somente chegarão os inocentes que amam a poesia da vida depois de digeridas e recompostas todas as antropofagias.
Infelizmente, apesar de ser o nosso guia, de traduzir como ninguém Jesus, com a mesma simplicidade e talento com que canta valsas de Bertold Brecht e Kurt Weill, até agora não fez como Raul Seixas que criou uma igreja. Não seria, certamente, racional, porém, mesmo o discurso doce de Edir Macedo não soaria tão bonito quanto as parábolas nem as músicas com que Mautner prevê que iremos “brasilificar o mundo”, mas, antes, teremos que “amazonificar o Brasil”, o que me lembrou o ministro dos planejamentos imprevisíveis, Mangabeira Unger, ao afirmar que “O Brasil somente se revelará ao Brasil por meio da Amazônia”. Em suma, o nosso guia prevê que o mundo será purificado pelo excesso de vida que sempre o nosso país exalou, mas, nele, não há nada tão vivo, tão pujante, tão trescalando exuberância, vida e frescor quanto a Amazônia e o Amazonas e, certamente, serão suas águas já não tão puras, que serão utilizadas no batismo e na purificação do novo mundo que há de surgir quando o Brasil, país do carnaval e da poesia, dominar a nova era pós-capitalista por meio da alegria e da dança. Como meu guia sempre está certo estamos iniciando a época da grande transição, mas, admitindo que erre pela primeira vez, não importa. É uma previsão tão boa que, se der errado, vamos ao acaso procurar estrelas para brincar. E, igual ao mestre, não peço desculpas nem peço perdão mesmo todo errado.

terça-feira, novembro 27, 2007

O EGO E OS ERROS



Todas as vezes que o ego está inflado se torna um péssimo conselheiro. Lembro-me de uma notável consultora pernambucana que, reiteradas vezes, afirmou que de nada vale a auto-referência. Não adianta ser o maior, o melhor, o mais notável para si próprio. Na verdade é preciso, inescapável que exista o reconhecimento público. Ou seja, o melhor jogador do mundo pode não ser Pelé. Pode ser que exista escondido nos confins da China ou na Conchichina um jogador mais excepcional do que ele. Pobre de quem for, pois, conhecido e reconhecido mesmo é Pelé. De nada vai adiantar ficar gritando, esperneando lá nos ventos frios ou nas noites quentes, que o bom é ele. Será tido somente como uma comprovação de desespero e, quando muito, falta de juízo, puro destempero.
O comentário vem a propósito do comportamento e dos ataques feitos ao governo e ao presidente Lula da Silva pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Só pode ser desespero, excesso de ego, falta de capacidade de criar uma estratégia capaz de virar o jogo ou, em último caso, como afirmam alguns, sinal de senilidade. Vá lá que Fernando Henrique Cardoso se julge o maior e mais competente de todos os presidentes da República. Neste aspecto, o do ego extremamente inflado, aliás, não ganha também de Lula, mas a grande diferença é que o atual presidente está ativo e muito ativo no jogo até ao ponto de querer mudar suas regras enquanto FHC é, por mais que rumine e grite, passado. É, reconhecidamente ex e não há como influir mais do que já influi até mesmo porque seu partido, a rigor, aceitou ser mero coadjuvante por não ter feito o que se esperava que fizesse: ser uma verdadeira oposição.
E fazer oposição não é atingir pessoalmente a pessoa de Lula da Silva. Não é querer desmerecer seus inegáveis créditos, mas cobrar dele as promessas que não fez, a lama em que se atolou, o caminho sem volta e sem futuro em que se encontra. E isto não se faz querendo apequenar sua estatura e caminhando, mas, efetivamente, mostrando que se, no passado, parecia saber o caminho, agora, se encontra em pleno o mar à deriva. Não combater o bom combate; não ser duro nas horas em que precisava ser duro é o grande pecado do PSDB e, infelizmente, FHC é seu símbolo-mór. Tivesse, como seria de se esperar, por ocasião do Mensalão feito todos os esforços para apear Lula do poder e, hoje, a situação seria outra. Nem FHC nem o PSDB o fizeram. Fizeram o diagnóstico errado de que Lula sangraria até o fim do mandato subestimando o poder de fogo de quem sabe fazer política (e populismo) e estava com o poder nas mãos. Deu no que deu e está dando. Lula continua a ser uma peça central na vida do país e, contra todas as expectativas, continua sendo um líder. FHC é uma sombra do passado. Suas catilinárias soam mais como um eco ou um grito de inveja vindo do passado.

O ATROPELAMENTO LEGALIZADO



Ao sair, atabalhoadamente, em defesa da manutenção de Chávez na Venezuela, que vê como uma “democracia”, embora meio esquisita para os parâmetros que definem uma, Lula da Silva, na verdade, saiu em defesa própria e, na prática, quis estabelecer que não importa o tempo que um dirigente passe no poder, mas que a questão é o seu sucesso “popular”. Em suma para quê constituições estipularem prazos para líderes tão bons quanto eles que tratam dos interesses maiores da nação e o do povo cuidando da sua felicidade? Por que subordinar a excelência a uma mera formalidade eleitoral se, por tanto tempo o princípio da alternância no poder só deu errado? Melhor ficar com Chàvez e com ele que, como se sabe, deram certo, certíssimo depois de 500 anos de incompetência governamental. E, sem discutir a forma como foram feitas, disse que “a Venezuela já teve três referendos, já teve três eleições não sei para onde, já teve quatro plebiscitos. O que não falta é discussão.”
Bom, também deve entender que há discussão demais no Brasil. Uma decorrência natural de seu discurso é a de que, apesar de ter dito que não quer, seu companheiro Devanir Ribeiro (PT-SP) tem toda a razão em defender a convocação, também, de plebiscitos para que o povo diga que quer Lula da Silva, ou seja, o queremismo é indispensável, de vez que antes neste nunca se teve tanto êxito, nunca se deu tão certo. Ou seja, é só fazer igual a Chávez e ficar mais 25 ou 30 anos no poder ou, quem sabe, se igualar a Fidel Castro, seu impecável modelo de democracia. Afinal, quem como Lula tanto lutou contra a ditadura, um grande líder sindical, um democrata inegável jamais irá contra as leis, principalmente aquelas que lhe assegurarem poder por tempo indeterminado. Inútil, portanto, buscar comparações no presente ou no passado com este governo incomparável e infalível. Só há dois tipos de brasileiros que reclamam do governo atual: os pessimistas, que jamais enxergarão que chegamos ao ápice da perfeição e as viúvas de Fernando Henrique, enciumadas com sua superação inacreditável pelas realizações dos últimos quatro anos. Aliás, diga-se de passagem, as viúvas empedernidas porquê, como todos reconhecem, até pelos Renans, Sarneys, Romeros e Jobins, nunca antes houve neste país dois governos tão parecidos no uso da máquina do Estado e na perseguição aos servidores públicos e assalariados.
Lula da Silva, por mais que negue, como não teve e nunca terá nenhum pudor em fazer qualquer coisa para permanecer no poder, ao defender Chávez, de fato, está defendendo a necessidade de deixar uma porta entreaberta no caminho do 3º mandato. Em última instância, defende que a continuidade é legal quando o dirigente tem êxito mesmo contra a lei. Não chega a ser nenhum primor de tese de Direito nem de lógica, mas, para que servem se não se adaptam aos desejos do Grande Timoneiro? O atropelamento, desde que em proveito próprio, é razoável e legal.

domingo, novembro 18, 2007

OS JOVENS DESAMPARADOS



Quando em campanha o reeleito Lula da Silva sempre falava em infância e juventude. Lembro que uma de suas bandeiras foi o badalado e falido programa “Primeiro Emprego” que, segundo ele, não deu certo “porque algumas leis no Brasil pegam e outras não”. Um engano e uma falta de auto-crítica. Não se trata de lei, embora a do Primeiro Emprego fosse ruim. É falta mesmo do que tanto criticou no passado: determinação e políticas públicas. Depois do consenso sobre a educação não creio que haja um consenso tão grande da sociedade sobre o dever do governo de desenvolver políticas, ações e atitudes que assegurem formas de proteção e integração das crianças e dos adolescentes. Todas as discussões sobre o assunto concordam que não têm sido tomadas iniciativas importantes pelos três entes da Federação (a União, os estados e os municípios) e que, as iniciativas privadas são insuficientes para tratar do tema, até porquê as leis cerceiam qualquer ação por todos os lados. Basta ver que as crianças não podem trabalhar, mas podem ficar na rua à mercê de todo tipo de assédio e de deseducação, afora ser utilizada como pombo-correio de quadrilhas.
A questão crucial é que não basta dar direitos por leis ou incluí-los na Constituição. È preciso que tais direitos tenham substrato econômico ou instrumentos de sustentação. Assim dizer que as crianças e adolescentes possuem direito à saúde, educação, esportes, artes e lazer, no papel, é fácil. Difícil é organizar a administração pública para que isto, efetivamente, aconteça. Os jovens não se tornam criminosos apenas pela pobreza, como muito pretendem dizer. A desigualdade pode até contribuir, mas, a estufa dos criminosos é a falta de padrões, do que fazer, do ócio, da falta de orientação para que tenham algum tipo de ocupação seja um trabalho, esportes ou arte. Quando isto não existe, como ocorre hoje nas nossas periferias, o caminho natural é o das drogas, da prostituição, do crime, da procura de resolver os problemas de uma forma que parece mais fácil, porém, se revela cruel e socialmente insana.
Não resolve fazer barulho ou correr para criar medidas emergenciais, como quando, no último mês de fevereiro, no Rio de Janeiro, uma criança foi barbaramente morta por adolescentes em desvio de conduta. A violência não nasce de um momento para o outro nem é reprimida também de forma rápida, exceto da também grotesca forma dos esquadrões da morte. Somente com estudos, políticas públicas adequadas, mudanças legislativas pensadas e relevantes sensíveis às necessidades desses segmentos poderemos mudar a realidade atual e não nas ondas do imediatismo, quase sempre sob a urgência provinda de crises, escândalos ou distúrbios sociais. Há ações que devem ser imediatas, como as escolas de tempo integral, criar empregos e estágios para os jovens, programas de integração social via artes e esportes, afora as experiências de êxito de outros países em diversos programas. No entanto, aqui, se começa pelo fim. Não se busca impedir que o jovem seja um criminoso, mas, tentam baixar a idade da responsabilidade do menor como se os seus problemas pudessem ser solucionados na área criminal. Que País!

quarta-feira, novembro 07, 2007

OLHAR DO ALTO É UMA BELEZA



Uma grande farsa obscurantista

No passado o famoso “Clube de Roma” praticamente lançou o mundo numa angústia existencial ao predizer que, no máximo, em 2005 não teríamos mais petróleo disponível, entre outros fatores de produção. O catastrofismo da época, baseado no tipo de produção que consumia muitos recursos naturais, não deixou de ter seus benefícios tanto que surgiu o “Toyotismo”, ou “Acumulação flexível”, uma reestruturação da economia que mudou o sistema de produzir miniaturizando os produtos que passaram a ser mais informação do que matéria. Por outro lado também produziu malefícios, pois, surgiu a Organização dos Países Produtores de Petróleo-OPEP, cartel que, até hoje, manipula a distribuição de renda do mundo com aumentos sucessivos dos barris de petróleo com o apoio do sistema financeiro.
Qual o motivo para lembrar deste passado? De certa forma o tema atual dos muitos tipos de Ecologistas (ecólogos, ecólatras, ecopatas, ecochatos & outros) agem como se soubessem os destinos do mundo, como se fossem donos da “incontestável verdade”, comunistas modernos, que pretendem nos dizer o que devemos fazer e como. Isto é ainda mais verdade como, quando agora, por qualquer motivo, nos passam no rosto o aquecimento global como culpa do industrialismo. Em momento algum, porém, desejam abrir mão dos modernos meios de comunicação, dos processos industriais, das remunerações, do nível de produção e do consumo que este industrialismo permite. Na verdade, em especial, as grandes ONGs e as nações mais ricas pregam a ecologia e a preservação como uma necessidade a ser feita pelos países, ou regiões, justamente que não possuem o conforto e os níveis de qualidade de vida que experimentam, ou seja, pimenta nos olhos dos outros é refresco. È ótimo falar de consumismo, a partir de Nova York ou de São Paulo. É uma beleza falar em preservar florestas ou concessões florestais a partir de Brasília ou de Washington. É uma maravilha dizer aos outros como devem se portar e que estão destruindo a natureza enquanto gozam do supérfluo retirando de quem deseja viver o essencial.
Conservar a natureza todo mundo quer. Falar a seu favor tomando chope ou fazendo discursos é uma beleza. Agora é preciso verificar que, por exemplo, há na Amazônia uma população que precisa viver e não é menos racional do que qualquer outras pessoas do mundo. Então por que desmata? Para responder é só perguntar por que, no passado, eles também desmataram suas florestas. Se estão arrependidos deve ser um arrependimento bem oculto, pois demonstram orgulho de seu desenvolvimento e de seus níveis de vida e desenvolvimento. O que todo mundo deseja é mais conforto, segurança e lazer o que, infelizmente, não pode ser atingido sem produção, ou seja, destrição, poluição e custo ambiental. Usar o aquecimento global como forma de impedir o progresso da Amazônia e de outras regiões pobres é um grande farsa obscurantista.

domingo, novembro 04, 2007

O NEGÓCIO É A AMOSTRA


AH! AS ESTATÍSTICAS....

Um dos sintomas mais terríveis e denunciadores da completa falta de ética que grassa no mundo atual é o da forma como são feitas, manipuladas e divulgadas as estatísticas. É claro que isto piora nos períodos eleitorais, porém, mesmo fora dele, há uma completa falta de transparência do processo de levantamento, produção e divulgação de dados, em especial governamentais, que são manipulados ao bel-prazer dos governantes de plantão. Informações que deveriam ser coletadas e usadas para fins de planejamento acabam maquiadas, ou deturpadas, com o único propósito de fazer propaganda de administrações, administradores e ideologias nem sempre democráticas. Antigamente, no regime militar, a preocupação se restringia a diminuir os índices oficiais de inflação, entre os quais ninguém esquece o famoso “expurgo do chuchu” da cesta básica. Hoje, sem o menor pudor, se muda a metodologia do Produto Interno Bruto-PIB para inflar o crescimento oficial.
Isto acontece no nível federal que, uma das últimas façanhas cometidas, foi rever, pela terceira vez, o número de homicídios do ano passado e, por incrível que pareça sempre para baixo. Um esforço, aliás, inútil na medida em que por mais que conseguissem baixar chegaram somente ao dissabor de constatar que o Brasil, este oásis de bem-estar e de progresso, teve, em 2006, o dobro do número de mortes do Iraque. Nem quero lembrar, aqui, dos famosos estudos, verdadeiras construções laudatórias do novo ciclo de progresso que experimentamos, que provam que “nunca antes este país” esteve tão bem e que exaltam a inserção de 6 milhões no mercado formal (com a imensa contribuição de R$ 60,00 do Bolsa-Família) nos fazendo crer que estamos no melhor dos mundos. O problema sério das estatísticas é que não podem esconder o espetáculo diário da corrupção sistêmica do poder público (enquanto aumentam a carga tributária com CPMF), a falta de segurança, de saúde, de educação, o “apagão aéreo”, que nunca termina, agora o “apagão do gás”, a crise do leite que foi criada com a incorporação de um elemento antes insuspeito na sua composição (a soda caústica) que os maldosos afirmam que faz parte do plano do governo de acabar com os pobres e, nem vamos falar, da inflação disfarçada ou dos juros altos que são temas constantes dos analistas econômicos.
A questão real é a de que as estatísticas, cada dia mais, perdem a credibilidade. Por exemplo, enquanto se anuncia uma criação recordes de empregos a taxa do desemprego, mesmo a medida pelo governo, teima em não sair dos 9%, a produtividade cai e a massa salarial também, no entanto, se formos crer nos discursos do governo o país nunca esteve melhor. O problema é que, estatisticamente falando, quando se compara o crescimento do país no primeiro governo FHC a taxa média de crescimento foi de 2,6%, no segundo de apenas 2,1% enquanto os quatro primeiro anos de Lula da Silva tiveram uma média de 2,6%. Pode até parecer que está melhorando, mas, se verificarmos que durante o 1º mandato de FHC o mundo cresceu a uma taxa média de 3,7%; no 2º, cresceu 3,6% e durante o governo Lula cresceu 4,9% temos que, na verdade, em relação ao mundo o Brasil está só diminuindo de tamanho, pois no 1º mandato de FHC crescemos 69,5% do crescimento mundial, no 2º descemos para 58,7º e, finalmente, com Lula estamos pior ainda, pois só crescemos 54,4% em relação ao crescimento mundial. Claro que estamos ano vamos crescer muito mais. Houve uma mudança na metodologia do IBGE.

quarta-feira, outubro 24, 2007

O LEGADO DE LORD PETER BAUER

Faz falta, hoje, no Brasil um grupo de bons economistas que tivessem incorporado as idéias do professor da London School of Economics e especialista em questões de desenvolvimento e pobreza, Lord Peter Bauer. Qual o grande conhecimento de Bauer? Efetivamente aquele que mais faz falta especialmente aos petistas no poder, a noção exata do que propicia o desenvolvimento. Por aqui, não poucas vezes, me vêem como um feroz opositor de Lula da Silva e me comparam a Diogo Mainardi ou Reinaldo Azevedo. Sempre digo menos, menos. Mainardi possui uma particular aversão a Lula e ao petismo e tem um prazer quase mórbido em retalhar com precisão. Azevedo se aproxima muito mais de um pensamento conservador do que sou capaz, embora não possa deixar de admirar a coerência de seus argumentos. Com ambos concordo plenamente que Lula, e por conseqüência, o PT são o atraso. Fora isto sou um conciliador. Não sei ficar com raiva muito tempo e procuro pensar e construir, de modo que passou o tempo em que servia para oposição. Costumo ver os dois lados e relativizar. Devo ter algo errado, bem sei, e se, às vezes, pareço ferozmente anti-petista é somente por culpa única e exclusiva dos métodos que adotam de esconder os erros, de negar a realidade, mistificar e, na maioria das vezes, procurar desqualificar quem faz críticas e não responder as que são pertinentes. È a famosa política de que todo mundo é igual e já fazia, logo somos o bastião da moralidade.
Esqueçamos o PT. A questão é Lord Bauer que defendia serem as oportunidades e os lucros privados a chave para o desenvolvimento e não, como muitos pensam, os burocratas com especialidade, os planos de governo. Bauer, no Brasil, mandaria esquecer o PAC e se concentrar no fato de que o desenvolvimento se baseia nas pessoas terem desejos e atitudes adequadas e que o sistema político e legal permita que esta busca se realize com sucesso. Em outras palavras, nada de políticas voltadas para a desigualdade de renda via políticas paternalistas, assistencialistas que tratam os pobres como coitadinhos. Não se consegue erradicar a pobreza com esmolas nem ajuda, mas sim com oportunidades. Neste sentido a criação de um país melhor não passa pelo Bolsa Família ou pela defesa de direitos inócuos e sim pela educação e criação de um ambiente adequado à iniciativa privada. Bons governos, portanto são os que asseguram os direitos de propriedade, a validade das regras e contratos, torna todos iguais perante a lei, reduz a inflação ao mínimo e mantém os impostos progressivos e baixos.
Antes que os urros se levantem é isto mesmo: Bauer diria que a questão do Brasil é menos governo e não mais governo. O governo no país está presente em tudo e a tudo atrapalha e tudo o que dele depende é ruim, tem corrupção e não se desenvolve. Como desenvolver mais aumentando o tamanho da ineficiência? O que Lula e sua equipe ainda não aprenderam é que o governo somente deve cuidar de suas funções fundamentais e se der liberdade ao mercado o país cresce por um passe de mágica. Se trata de fazer o país ser capitalista, é claro. Porém, existe outro caminho?

LUXOS E MORDOMIAS DOS QUAIS NÃO SE FALAM

O Peleguismo em xeque
Num golpe de astúcia o deputado Augusto Carvalho transformou uma operação corporativista numa polêmica e na oportunidade ímpar de acabar com uma injustiça quase centenária contra os trabalhadores que são obrigados a pagar para que sindicalistas façam política e vivam sem trabalhar. Apenas colocou uma emenda que pretende tornar o pagamento da Contribuição Sindical facultativo. Ou seja, a partir do instante em que a legislação entrar em vigor, cabe ao empregado, no exercício dos seus direitos, decidir se paga, ou não, a contribuição.
Como sabe quem for estudar, embora não se diga que é um imposto, está taxa foi criada com o nome de Imposto Sindical, em 1939, e transplantada para a CLT em 1943, depois sendo reciclada pelo regime militar em 1976, com o nome de Contribuição Sindical. É, por natureza, uma contribuição involuntária, obrigatória e corporativista que, infelizmente, as Constituições de 1946 e 1988 não conseguiram erradicar. Claro que o peleguismo sindical tenta impedir que os assalariados recuperem a prerrogativa, gozada até 1940, de dizer se estão dispostos, ou não, a arcar com os custos de entidades artificiais e de dirigentes eternizados à frente de sindicatos, federações e confederações.
Os sindicalistas profissionais acostumados ao bem bom dos recursos que lhes chegam sem esforço, que inclusive pagam luxos e mordomias desproporcionais aos serviços que prestam, estão, agora, assanhados diante da perspectiva de ter que submeter-se ao teste mais objetivo de liderança e confiabilidade que pretendem ter, ou seja, como os políticos comuns terão que buscar votos sem contar com apoio de estruturas que lhe proporcionam ônibus, alimentação, carros de som e outros aparatos por conta do suado dinheiro do trabalhador que, muitas vezes, não tem a menor idéia de que os alimentam nem sabe que se perpetuam na inexistência de oposições, nas eleições manipuladas que são proporcionadas pelo dinheiro obrigatório, caudaloso e fácil.
O melhor da proposta do deputado é que se harmoniza perfeitamente com o princípio de livre associação contido na Convenção 87 da OIT, e nos artigos 5º e 8º da Constituição. Na verdade absurdo mesmo é que o sindicalismo seja agraciado com recursos públicos, de um lado, quando, de outro, na regra expressa no artigo 8º, I, da Constituição é vedado ao poder público “a interferência e a intervenção na organização sindical”, da mesma maneira que se encontra impedido, em nome do Estado de Direito Democrático, de interferir na livre manifestação de pensamento, de crença religiosa, de opção político-partidária.
Criou-se, desta forma, uma monstruosidade que é a de que as organizações sindicais puderam, inclusive, como tem feito muitas vezes, intervir nas questões contra as posições do governo utilizando recursos que dele aufere. Nada contra ser contra qualquer governo, mas governo nenhum deve sustentar organizações que, como se tem visto, nos últimos tempos, acabam por influir, de forma decisiva, no jogo democrático e, não raro, contra a democracia.

segunda-feira, outubro 15, 2007

PERDIDOS NA SELVA


A Cegueira Ambiental
No começo deste mês de outubro ambientalistas de nove organizações não-governamentais lançaram uma proposta para acabar com o desmatamento na Amazônia em sete anos. A iniciativa, recebeu o nome de Pacto Nacional pela Valorização na Amazônia, prevendo metas progressivas de redução, a começar por 25% no primeiro e no segundo anos, e ampliando anualmente as reduções em relação à área desmatada de 2005/2006, até eliminar totalmente o problema no sétimo ano. A grande inovação da proposta seria uma compensação econômica para quem se beneficia do desmatamento. O mecanismo deveria funcionar de forma simples sendo oferecido ao dono de uma área que ainda tem direito de desmatar R$ 100 por hectare/ano que ganharia por não derrubar a floresta. A Imazon e as outras ONGs, signatários da proposta, estimam que para financiar os mecanismos e a infra-estrutura inicial para implementá-la seriam necessários R$ 1 bilhão por ano, que poderiam ser pagos pelo governo e pela inciativa privada. A iniciativa recebe também o apoio das ONGs Instituto Socioambiental, Greenpeace, Instituto Centro de Vida, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, The Nature Conservancy, Conservação Internacional, Amigos da Terra-Amazônia Brasileira, Imazon e WWF-Brasil.
È outra proposta destinada ao fracasso. Embora ataque de frente a causa: a questão econômica. Há um grave erro no diagnóstico dos que se dizem ambientalistas que decorre do juízo que fazem sobre a Amazônia. Não compreendem que faz muito tempo que a Amazônia deixou de ser uma terra vazia. Mesmo nas áreas que se dizem públicas, e devolutas, isto não é uma realidade, pois são palcos de disputas de interesse e se esquecem que o Estado brasileiro, autoritariamente, arrecadou as terras de seringalistas que a mantinham imemorialmente. Assim ficam raciocinando sobre “povos da floresta” que não tem significação na realidade amazônica. Quem domina a Amazônia é o migrante que tem a ambição do desenvolvimento, o desejo de produzir, crescer, ficar rico. Não serão míseros R$ 100,00 nem a oferta de bolsa qualquer coisa, que os impedirão de querer crescer e, na visão, deles é o gado, a soja, a madeira, talvez o café que possam lhe trazer o bem-estar. Enquanto o governo não raciocinar como oferecer ciência e tecnologia, incentivos e formas alternativas para que suas ambições sejam satisfeitas será inútil, ou mera perfumaria, a fiscalização e programas de faz de conta. A verdade é que o mercado pode mais que o governo e uma população acostumada a ter o governo contra si irá sempre gerar desenvolvimento, mesmo a qualquer preço, apesar das divagações e programas de gabinete que desconhecem o fato de que temos uma selva povoada por pessoas ávidas de progresso. A cegueira é a mãe do desastre da nossa política ambiental.

domingo, outubro 07, 2007

UM ESTADO MUITO PESADO

O Grande Erro
O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário-IBPT informa que, dezenove anos depois da promulgação da Constituição Federal, a legislação brasileira foi acrescida de 3,6 milhões de novas normas. Em síntese são feitas duas novas normas por hora! Deste total, 148.577 foram editadas no âmbito federal com a maior parte delas (97%) provenientes do Poder Executivo, ou seja, na prática, é quem também legisla. É uma prova cabal de que o Poder Legislativo brasileiro está paralisado, e o Executivo, supre e supera quem deveria ser responsável pela edição de normas. E, no máximo, o Judiciário tem servido como bombeiro da irracionalidade do Executivo, mas, para o público e os empresários deixa muito a desejar na defesa da sociedade.
Em parte tal situação foi provocada pela própria Constituição de 1988, que transferiu poder para o Executivo por meio da Medida provisória, que se mostrou pior que o decreto-lei, na medida em que deu mais poder ao Executivo tornando o Parlamento apenas o local de debate apenas do que não é relevante. E não se pode dizer que os parlamentares não aceitaram passivamente este papel na medida em que, mesmo reconhecendo o perigo representado pelas MPs para a função legislativa, não o trataram com a necessidade de regulamentação que um instrumento tão importante deveria ter. Assim colaborou para seu próprio esvaziamento. Um Executivo muito forte, no entanto é um desserviço à democracia e um convite ao uso imoderado do poder como, hoje, se demonstra até com a sugestão, por parte de figuras do partido do governo, de fechamento do Senado considerado “inútil e oneroso”.
É claro que, hoje, não existe no mundo uma legislação tão sistemática e complexa como a brasileira, que acaba impedindo a realização de negócios, o exercício da cidadania e o desenvolvimento do País. A grande realidade é a de que, no Brasil, o peso do Estado sobre a sociedade sempre foi demasiado e, agora, trata-se de um momento em que, ao contrário do que pregam os discursos governistas, é tremendamente exagerado. Não apenas pela quantidade de normas, que asfixiam a sociedade, como pelo excessivo peso da carga tributária como também pelos péssimos serviços que o governo devolve em troca dos impostos que arrecada.
O grande erro da filosofia petista de governo, ainda associada à visão antiga de esquerda, é pregar mais estado quando já há estado demais. E um estado ineficiente que, reconhecidamente, gasta mal e sempre mais. Como não estamos num estado socialista é flagrante que somente poderemos crescer com o crescimento da sociedade civil, com o incentivo à iniciativa privada. Na contramão da modernidade se procura, cada vez mais, impor mecanismos de controle quando o país precisa, de fato, é de incentivos à iniciativa privada e ao empreendedorismo. O Estado, hoje, no Brasil é um fator não de progresso, mas, efetivamente, um empecilho ao crescimento e à modernidade.

quinta-feira, outubro 04, 2007

EH! VIDA DE GADO!

O EFEITO PREVISÍVEL DO CHOQUE DE GESTÃO
Já houve um tempo em que um certo sr. Lula da Silva possuía preocupações com eficiência da máquina pública, com aumento de salários e qualidade de serviços. È claro que nos tempos em que era candidato. Naqueles tempos a saúde, que era melhor do que é hoje, não era de “primeiro mundo”, os professores e funcionários públicos tinham razão em cobrar aumento de salários, existia excesso de funcionários e de mordomias e o governo era muito, mas, muito mesmo, mal administrado por não resolver os problemas que eram todos urgentes.
O candidato de ontem feito presidente aumentou, os dados são do Ministério do Planejamento, entre dezembro de 2002 e dezembro de 2006, o número de funcionários de 809.975 para 997.739, ou seja, 187.764 servidores a mais e, se fizermos uma continha, vamos verificar que, em média, foram contratados no seu governo 128 funcionários por dia. Uma expansão modesta de 23,2% em quatro anos. No seu governo o total de funcionários dos três poderes alcançou, em dezembro passado, a quantidade de 1.116.002 servidores na ativa, 203.810 a mais do que em dezembro de 2002, quando foi de 912.192, por sinal o menor contingente desde 1990. A massa de funcionários atual é a maior desde 1995, quando os poderes tinham 1.033.548 servidores. E o crescimento do quadro de pessoal foi de 8%. Agora Lula da Silva diz que “É preciso parar com a mania de achar que contratar gente é inchaço da máquina”. E se prepara para, em 2008, contratar, por concurso, mais 56 mil servidores. Ora, como Lula enviou ao Congresso um projeto de lei que limita o crescimento da folha de pagamento da União em 1,5% ao ano acima da inflação, logo se pode deduzir que pretende aumentar a quantidade de funcionários públicos mantendo-os na miséria salarial contra a qual tanto bradou no passado. Claro que isto não atinge seus “companheiros” todos comissionados que tiveram aumentos recentes dignos de parlamentares.
Diz Lula que contratar mais gente é choque de gestão. Pode ser também construção de curral eleitoral e esperteza. Para ser choque de gestão mesmo seria necessário não quantidade de pessoal, mas qualidade. E qualidade profissional, boa administração, diminuição da corrupção, criação de equipes, métodos adequados e eficiência não se consegue sem trabalho e sem determinação. Só palavras e maus exemplos, por mais pessoas que se contrate, não farão a burocracia estatal funcionar bem. As pessoas esclarecidas têm certeza de que se trata de empreguismo, de inchaço, de abertura de lugares para seus apadrinhados. Certeza que provém da constatação diária do excesso de funcionários nas repartições públicas e da existência de funcionários fantasmas em grande quantidade, inclusive nos gabinetes de altas figuras públicas. Há também a certeza de que “nunca antes na história deste país” um governo nomeou tanto, criou tantos ministérios, pendurou tanto sua patota nos cabides das repartições, fez tanto aparelhamento político-partidário da administração pública. De uma coisa somente se tem certeza: o recolhimento do dízimo, inexoravelmente, vai aumentar.

quarta-feira, outubro 03, 2007

TEMPOS E COSTUMES

O SIGNIFICADO DE UM JANTAR
Sei que se há uma coisa certa é que o futuro, hoje, não tem mais nada com o passado. Não sou saudosista e, de fato, não me lembro de bons tempos, embora já tenha havido tempos melhores e piores. A questão real, entretanto, é que, numa era que se diz da informação, haja um domínio tão grande e tão permanente da desinformação. Por exemplo, a palavra jantar. Se considerarmos um dicionário qualquer on-line iremos ver escrito lá que jantar vem do Latim. jentare, almoçar; s. m., uma das principais refeições do dia, que é tomada ao fim da tarde; iguarias que a compõem;antigo tributo enfitêutico;tributo que as povoações pagavam aos reis para sustento da sua comitiva, quando iam exercer justiça; v. tr., comer por ocasião da principal refeição; v. int., tomar essa refeição. Porém, podem ter certeza, esta concepção é antiga.
Só descobri isto quando o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp, para tentar acalmar os ânimos dos peemedebistas resolveu reunir num jantar os "franciscanos" e os "cardeais" da legenda. Raupp anda cheio de boas intenções. Quer reunir a bancada dividida, quer manter o partido coeso para evitar novas rebeliões que coloquem em risco à votação da PEC-Proposta de Emenda Constitucional que prorroga a CPMF-Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira até o ano de 2011. Como se vê algo de extrema relevância para o governo. Ôps, mas isto não é contra o povo? Esqueçamos. O fato é que Raupp enviou convite a 19 senadores do PMDB-incluindo o presidente do Senado, Renan Calheiros- mesmo admitindo a impossibilidade de conseguir promover a união integral dos peemedebistas no Senado, posto que senadores como Jarbas Vasconcellos (PE) e Pedro Simon (RS) declararam independência e desejam, por motivos sobejamente conhecidos, distância do presidente Lula da Silva. Bom esta divisão entre os senadores peemedebistas de "franciscanos" e "cardeais" é uma classificação feita por aquele notável senador que parece um Sansão moderno, inclusive nos modos um tanto rústicos, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) em razão de que, segundo ele, os "franciscanos" (será “é dando que se....) não se conformam com o tratamento do governo à bancada do Senado e acusam o Palácio do Planalto de dialogar somente com os "cardeais" da legenda, como os senadores José Sarney (PMDB-AP), Romero Jucá (PMDB-RR) e Roseana Sarney (PMDB-MA).
Como se vê jantar, agora, pode significar, por exemplo, pretexto. Mas as mudanças de significado não param por aí. No citado pretexto, digo jantar, além dos pratos rolou, segundo consta, as demandas insatisfeitas que incluem, como seria de se esperar, coisas santas como partilhas de ministérios, cobranças de cargos, verbas e promessas. De modo que jantar, agora, pode ter significados muito mais profundos do que se poderia esperar, inclusive o de que se trata de um tipo de refeição cujo prato principal depende de ignorar toda e qualquer indignação pública e fazer fisiologismo explícito. Ou seja, jantar pode, com um pouquinho de esforço e acomodação, virar amostra. Amostra de falta de vergonha.

segunda-feira, outubro 01, 2007

O ENTREGUISMO OFICIAL

È impressionante a omissão da imprensa brasileira sobre os assuntos que afetam diretamente a soberania da Amazônia. Nem gosto de tocar na questão absurda, imoral, antibrasileira das concessões que tende, agora, a se concretizar, se os rondonienses não se erguerem contra a entrega da Flona do Jamari a grupos estrangeiros. Aliás, região que, bem se sabe, é rica de minérios. Agora um outro assunto tem merecido mais atenção fora do que dentro do país. Trata-se de decisão do ministro da Defesa para expulsar brasileiros não-índios da região da Raposa Serra do Sol, em Roraima, situada junto às fronteiras com a Guiana e a Venezuela. Ação que seria feita neste mês de outubro, pela Polícia Federal, com a participação de 500 agentes, já se tendo certeza que haverá resistência armada da população local.
È um completo absurdo. O estranho ainda mais é que as pessoas que se colocaram contra esta monstruosidade, como o general Maynard Santa Rosa, ex- secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa, que declarou-se taxativamente contra a invasão, foram demitidos. E não foram poucos, pois, comenta-se que o mesmo aconteceu com os membros da Abin, em especial o seu diretor-geral, Marcos Buzanelli, e o gerente em Roraima, cel. Gélio Fregapani, bem de importante cargo no Ministério da Defesa o general Rômulo Bini Pereira. É um modo rápido de ser expelido de um cargo ser contra esta intervenção que, inclusive, inquieta as Forças Armadas brasileiras que consideram isto uma missão antinacional e desonrosa.
A medida é tão esdrúxula que nem os índios, em especial os macuxis que são maioria, todos aculturados desejam a separação do território até porque, em parte, vivem do comércio com os moradores lá existentes. No entanto são entidades estrangeiras a serviço dos donos do poder mundial, decididos a monopolizar a riqueza mineral do subsolo da área que impõem à retirada das pessoas que já, em abril de 2005, foi impedida pelos próprios índios. Como é aceitável expulsar moradores brasileiros de suas terras por não serem índios? Agora tirar os estrangeiros de lá com ação fartamente documentada não tiram. O que é tanto mais perigoso quanto anunciado no último dia 12 de setembro de 2007, a Assembléia-Geral das Nações Unidas aprovou a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, adotada em 26.06.2006 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ninguém liga isto, é claro, a existir organizações pedindo dinheiro recursos em nome dos ianomâmis, recém-emancipados. E que já existe um governo ianomâmi no exílio, presidido por um norte-americano de Massachusetts, com Parlamento de 18 membros, sob a presidência de um alemão do qual faz parte um índio brasileiro. Ou seja, há um circo armado para montar uma nação indígena na fronteira e o governo quer expulsar os brasileiros para ajudar a internacionalizar a Amazônia? È o entreguismo oficial.

domingo, setembro 23, 2007

É PRECISO REAGIR

A VERGONHA FLORESTAL
Só há uma palavra correta para o anúncio da primeira concessão de florestas a ser feita pelo governo federal. E esta é o celebre bordão de Boris Casoy: “É uma vergonha”. Depois da queda, o coice. Depois da absolvição de Renan Calheiros desmoralizando o Senado nada pior para o país que esta entrega silenciosa e definitiva da Amazônia. O grande geógrafo Aziz Ab’Saber, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBPC, brasileiro de indiscutível saber e mérito posicionou-se duramente contra o Ministério do Meio Ambiente pela licitação da primeira área pública para concessão, a Floresta Nacional-Flona do Jamari, em Rondônia. Suas palavras:“Tenho absoluta certeza que o exemplo, mais uma vez, mostra que o Brasil continua não sabendo gerenciar sua floresta. Estão, agora, privatizando a floresta. Não pensam no futuro. Tenho raiva da ignorância ambiental que existe nesse governo. Estou indignado”, frisou Ab’Saber. Aos 83 anos, confessou ser esta uma das “maiores tristezas” de sua vida. Ele está triste. Agora perguntem como estou que considero a medida safada, anti-nacional e uma porta aberta para se perder o controle da Amazônia. A resposta é impublicável.
Na verdade sempre fui contra a política adotada no Meio Ambiente que é surda, cega e insensível à nossa realidade. Basta verificar que, quando alguém deseja plantar alguma coisa, há toda a sorte de impedimentos que vão desde de que pode plantar e não conseguir retirar até o fato de que a burocracia e as interpretações das leis ambientais deixam qualquer empreendimento ao sabor do dirigente de plantão e, afora os custos exorbitantes de atender as leis, a preocupação existente se situa apenas na fiscalização. O resultado todo mundo vê, embora as estatísticas escondam, o desmatamento avança na medida em que o governo não pode com a iniciativa privada nem com a devastação ilegal.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao anunciar o processo de licitação de 1 milhão de hectares de florestas públicas, diz que “Todas as inverdades sobre a Lei de Gestão de Florestas Públicas estão agora sendo desconstruídas”. Não dá para levar a sério. Este tipo de concessão é somente falta de patriotismo, de visão ou até mesmo um modo de servir a interesses pouco claros. Utilizar uma medida desta como forma de “resolver” a questão da preservação é criminoso.
Na verdade é um meio de impedir o acesso dos locais (que jamais terão condições de participar contra grandes grupos externos ou cumprir a burocracia que se impõe), mas, o que jamais pensei foi que, logo, a primeira área pública a ser licitada fosse aqui, na Floresta Nacional-Flona do Jamari, em Rondônia. A unidade de conservação do Jamari tem 220 mil hectares de extensão, dos quais 90 mil hectares serão concedidos, mas, não é, como muitos pensam, uma área sem ocupação. Não importa. Importa é que nós, rondonienses, não podemos e não devemos aceitar este verdadeiro estupro de nosso território. A meu ver é hora de fazer um movimento contra esta licitação entreguista e anti-nacional. Se querem entregar algo aos estrangeiros é melhor, então começar licitando o Ministério do Meio Ambiente e uma porção de parlamentares que aprovam este tipo de lei. Se a ministra acha tão boa a medida devia começar pelo Acre.

sexta-feira, setembro 14, 2007

A RELATIVIDADE DAS ANÁLISES

A Imprensa Ideal
Seria até engraçado se não fosse doloroso, mas, até mesmo alguns jornalistas tidos como “sérios” embarcam na tese furada, que tem sua origem no filósofo petista Wanderley Guilherme dos Santos, de que “a imprensa no Brasil é um partido político” porque, segundo ele, “se considera indestrutível porque resiste à democratização, à republicanização do Brasil” (sic), por culpa da “capacidade que a imprensa tem de criar movimentação popular, de criar atitudes, opiniões, independentemente do que está acontecendo na realidade”, ou seja, para ele, “a imprensa brasileira tem a capacidade de gerar crises, instabilidade política”. Este poder seria derivado da concentração das notícias em grandes jornais e revistas e da TV Globo.Para Wanderley, este poder é utilizado contra o governo Lula da Silva por suas “prioridades óbvias”, supostamente sua atenção “as classes subalternas”, o que irrita e “faz com que aumente a disposição da imprensa para acentuar tudo aquilo que venha a dificultar e comprometer o desempenho do governo”.
Não se pode negar ao emérito professor sua capacidade de elaboração de teses. O problema talvez esteja na memória, na leitura ou na ideologia. Na própria imprensa também grassa uma outra vertente da mesma tese que é a de que a imprensa estaria julgando, sendo, ao mesmo tempo, “delegados de polícia, promotores públicos, juízes, júri e carrasco”, ou seja, estaria extrapolando suas prerrogativas de consciência nacional e praticando excessos porque, nas palavras de alguns, “a opinião publicada não é a opinião pública”. Engraçado é que, no passado, quando o PT acusava sem a mínima prova, quando na ânsia de cortar cabeças insistia em criminalizar qualquer ato alheio não havia o mínimo questionamento sobre o papel da imprensa que, ao acusar os integrantes do governo FHC por qualquer coisa apenas “exerciam o papel da imprensa livre”. Há!Há!Há!
Ora, a imprensa se alimenta de noticias e, ninguém nega, que, em geral de notícias ruins. A questão é a de que quem a fabrica, nos últimos tempos, quem plantava, e planta, notícias é o próprio governo, o partido do governo e seus integrantes. Nem se precisa lembrar de partidários do PT, membros do MP, que foram punidos por alimentar a imprensa com notícias contra autoridades ou o que a imprensa carinhosamente chama de “fogo amigo”. A grande realidade que não se pode esconder é a de que “nunca antes neste país” um governo fabricou tantos escândalos e, a rigor, a imprensa, que sempre foi de esquerda, alisa mais do que bate e, as empresas, principalmente as grandes, enchem as burras de dinheiro, satisfeitas com o governo Lula da Silva. Se não escondem mais é não dá. Nunca, de fato, a lama foi tão grande e a transparência da Internet deixaria seus meios de comunicação em maus lençóis. A verdade verdadeira é que nunca houve uma imprensa tão pouco investigativa e submissa quanto à do Brasil atual. O sonho do governo Lula e de seus ideólogos, porém, é de que tenhamos uma imprensa tipo três macaquinhos: sem ver, sem ouvir e sem falar.

QUE PAÍS!

Uma lição de falta de vergonha
Só há um dado que é pior para o país do que a absolvição de Renan Calheiros: é, sem dúvida, a normalidade com que o resultado foi encarado e a falta de vergonha dos principais atores. Desde que filmaram Waldomiro Diniz, um assessor de Zé Dirceu, próximo de Lula da Silva, pedindo propina para bicheiro, que a norma tem sido a da mais completa impunidade coberta pelo argumento petista de que tudo é somente “caixa 2” eleitoral e que, no fim, todos são iguais, daí que ninguém tem mais ética do que o nosso operário presidente que, no entanto, somente se sustenta com o apoio dos que, ontem, execrava públicamente como o próprio Renan, Sarney, Jader Barbalho, Orestes Quércia e tantos outros.
Neste sentido a salvação momentânea de Renan se constitui apenas numa reprise da gigantesca pizza servida pelos poderes desde 2005, quando permitiram que o presidente Lula da Silva escapasse impune do escândalo do mensalão, sem tentar seriamente o “impeachment”, malgrado a fartura de evidências de sua responsabilidade por práticas delituosas, seja como mandante ou omisso. Neste sentido a não condenação de Calheiros segue a lógica do próprio presidente que, em tempos passados, no começo da crise, afirmou que a primeira mentira exige outras, mais outras e outras até que já não se possa mais cobrir o descalabro que as sucessivas mentiras provocam. Assim, na verdade, o caso Renan é apenas uma reprise, uma repetição das mesmas práticas, inclusive com muitas das mesmas pessoas, pois salta aos olhos que a política foi reduzida a um círculo no qual os fins justificam os meios e os interesses particulares e imediatistas são sempre colocados acima de qualquer interesse público.
O mais triste ainda é verificar que a sustentação dos interesses de um grupo partidário é feita com a benção de banqueiros, rentistas e grandes empresários em detrimento do futuro do país e da maioria dos brasileiros que são condenados à perpetuação da desigualdade por um esquema que utiliza uma roupagem de esquerda e social por meio de um assistencialismo que mitiga, hoje, a subnutrição de milhares sem lhes proporcionar capacidade de obter uma existência digna. O episódio Renan Calheiros somente expõe que os membros do Executivo e Legislativo, em sua maioria, são cúmplices deste estado de coisas e não possuem a menor vergonha de posarem para fotos como marionetes de um governo que não oferece nenhuma opção, exceto o agravamento da doença. Infelizmente se há uma derrota, se houve uma derrota, esta foi da vergonha e do Código Penal.

terça-feira, agosto 21, 2007

OS MEIOS SÃO OS FINS

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO EM CRISE
Os dados mais recentes do IVC-Instituto Verificador de Circulação demonstram que existe uma crise entre jornalões e revistas, especialmente os de maior circulação e tradicionais como os dos irmãos Marinho ("O Globo"), dos Frias ("Folha"), dos Mesquita (Estadão), dos Civita ("Veja") e, por extensão, nos outros grupos importantes do país todo. De um lado é um fenômeno mundial, mas, por outro lado, há o fato também de que, além da falta de escolaridade e de hábito de leitura, esses veículos enfrentam a agilidade e, muitas vezes, a competência de agências e sites de notícias que esvaziam as novidades e, como se sabe, em nossa época novidade é tudo. Basta dar um giro pelas televisões e pela Internet para se verificar que só o novo atrai. Seja um Alemão da vida, seja uma nova geringonça eletrônica ou a descoberta de um rato com dente.
Também não tem nem mesmo surtido efeito as formas com que lá no exterior as empresas procuram enfrentar o problema. As promoções e ofertas mirabolantes de assinaturas do tipo "assine por um ano e ganhe DVD, celular, relógio, etc" não tem tido bons resultados. Há quem diga que se oferecessem bom jornalismo talvez a circulação aumentasse. È possível, porém, na verdade, hoje a segmentação é tanta, as exigências tamanhas, os custos tão altos que se as empresas já não se sustentam com o modelo atual se fossem buscar fazer o que é necessário talvez falissem antes. É verdade que há um exagero em relação à cobertura política, se bem que não se distingue bem qual a diferença entre política e policial, mas o fenômeno-não se pode deixar de acentuar- diz respeito diretamente ao faturamento. Como politizaram as verbas públicas e os grandes impérios de mídia estão recebendo menos publicidade direta do governo e muito mais de forma indireta o fato real é o de que, sempre que não são contemplados como entendem que devem ser, utilizam a arma do ataque pesado ao governo.
No fundo uma reação do tipo você me espreme aqui então lhe espremo lá. E isto é feito de forma sorrateira. Tão sorrateira que a "Meio & Mensagem" on-line, afirma que os gastos dos órgãos da administração direta caíram 64%: de R$ 771 milhões para R$ 278 milhões. O problema maior, talvez, resida, justamente, aí: o que era visível passou a ser feito de modo invisível. Não é que o governo Lula da Silva gaste menos com publicidade-o que se verifica quando se somam os valores globais- é que, de fato, gasta muito mais, porém, controlado a partir do Palácio grande parte das despesas é feita por campanhas das empresas e autarquias. Também o governo tomou iniciativas como as de intervir no mercado publicitário, sob alegações de saúde, restringindo as propagandas de bebidas e cigarros que atingiram, e podem atingir ainda mais, os meios de comunicação. Há analistas que não vêem isto como um acaso. Entendem que “nunca antes neste país” se procurou ter um controle tão grande sobre o jornalismo, principalmente, político que é feito por diversos meios, sejam financeiros ou judiciais. O fato é que assim como a política o jornalismo tem perdido visivelmente qualidade.

sexta-feira, agosto 17, 2007

CANSADO JAMAIS

São muitas as pessoas, inclusive da melhor qualidade e formação, que insistem em dizer que não se deve discutir política, religião ou futebol. Os dois últimos temas, de fato, são escolhas pessoais (mas nem assim menos discutíveis) e se pode até mesmo passar uma vida inteira sem discutir e adotar posições, todavia o mesmo não se dá com a política. Ser cidadão é participar da vida pública. É contribuir para melhorar as nossas instituições. E não há como melhorá-las sem uma discussão sobre seus princípios, sobre as práticas sociais, sobre o Estado e seu controle. A pessoa, por mais culta que seja, que abre mão da política, inclusive muitos dizendo que não gostam dela, na verdade, abre o espaço para que os ignorantes e os mal intencionados a controlem. Isto é muito sensível, por exemplo, na pregação absurda do voto nulo que tomou conta da Internet nas últimas eleições.
É verdade que a Internet é um meio de comunicação maravilhoso. E, igual a todas as coisas, pode ser usada para o bem ou para o mal. Também se constitui, no momento atual, uma forma cada vez mais importante de expressão de opinião. É suficiente para comprovar sua crescente importância a quantidade de mensagens sobre política, na maior parte fazendo críticas aos políticos, aos partidos e o pântano de moral e ética que atravessamos no momento. Há também os conformistas e os equivocados que nos propõem cruzar os braços como protesto (afinal o que todos querem é apenas se dar bem) e os que se dizem cansados da política. Enquanto há vida há política e não é possível se cansar dela. Efetivamente fazem confusão com o péssimo desempenho das pessoas que nos representam muito mal com a necessidade da qual não se escapa de ter boas instituições que impeçam, justamente, que ocupem a vida pública pessoas que não possuem merecimento para tal. Não se muda as coisas com cansaço, mas com ação. Cansado? Jamais. Ativamente político sempre.
E não se pode deixar de fazer política porque ser homem, exercer a política faz parte da vida do homem, ser social por excelência, que dela não tem como abdicar, exceto se exilado ou morto. A mais conhecida, e reconhecida, definição de homem é a de que “O homem é um animal político” que se atribui a Aristóteles. Ou seja, ser homem é por natureza participar do destino da sua sociedade e não há como participar sem tomar posições, sem ser contra ou favor das ações que são feitas pelos políticos e pelo Estado. Neste sentido, não existe meio termo. A não participação também é um ato político. É, no fundo, um consentimento pelo silêncio, pela falta de coragem ou fé na participação, mas, quem não participa, também deixa seu destino entregue nas mãos dos que atuam na política, nas dos que são ativos. Por isto quando não concordo, como é o caso da prorrogação da Contribuição Provisória de Movimentação Financeira-CPMF escrevo, falo, chio e grito contra. É um imposto ruim, ilegal e economicamente nocivo. Podem até prorrogar esta imoralidade, mas, contra o meu mais veemente protesto. Ser cidadão é lutar por seus direitos, protestar, gritar, vaiar...

domingo, agosto 05, 2007

OS CRITÉRIOS TÉCNICOS

Não deixa de ser cômico quando o governo tenta tapar o sol com uma peneira. Outra coisa não foi o fato de, depois do presidente Lula da Silva afirmar que não tem medo de vaias e de ruas, o Cerimonial da Presidência da República aprontar uma solenidade, no Palácio do Planalto, para promover um ato de apoio ao próprio governo. E, com o cuidado, mesmo tendo na lista de convidados prefeitos e governadores aliados e da oposição, de escolher, a dedo, dois petistas para criticar a “elite” e dizer que o povo “aplaude” o presidente. É uma tentativa de minimizar o impacto político de que “nunca antes neste país” um presidente foi tão vaiado.
Embora negue problemas com as vaias Lula afirmou que a oposição e a mídia não iriam emparedá-lo e prendê-lo no Planalto. Mas, o certo é que seus assessores e conselheiros mostram-se cautelosos em marcar novos eventos em cidades com mais de 150 mil habitantes. A solenidade no Palácio é a maior prova. Lula livrou-se da tarefa de visitar 12 capitais nas quais iria anunciar obras do PAC do Saneamento, mas, onde, certamente, o esperavam 12 novas vaias. Interessante foi o esforço, quase heróico, dos petistas escalados em afagar o ego do presidente. O prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, e a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, recorreram a expressões típicas do presidente como “As elites não colocam em prática uma campanha para reverter a miséria”, disse Carepa, ou “Todos sabem que falamos em nome do nosso povo, e o nosso povo te aplaude”, disse Sobrinho, que, sem boa memória, esqueceu que Lula não pára em Porto Velho por, neste município, ter experimentado uma das primeiras grandes vaias de sua vida pública. O prefeito convidou o presidente a visitar Porto Velho afirmando que “O senhor jamais receberá uma vaia no nosso município, pois não somos traíras”, disse, quase aos gritos. Lula, é claro, não se deixou seduzir. Sabe bem que mais vaias virão e que, ali mesmo, seria vaiado, se não fossem as conveniências.
No seu discurso preferiu dizer que os maiores problemas sociais do Brasil estão nas periferias das grandes cidades, “o centro nervoso da sociedade”, em “que as pessoas disputam lugar com ratos e baratas”. E criticou a imprensa dizendo que "É importante que a nossa gloriosa imprensa registre que nós utilizamos, eu diria, um paradigma técnico, que eu não sei se em outro momento foi feito, pode ser que em algum estado tenha sido feito, em alguma cidade, mas o critério de distribuição dos recursos foi eminentemente técnico e comprometido com os principais problemas de cada cidade”. Se esqueceu, apenas, de mencionar quais foram os critérios técnicos que o fizeram dar enormes aumentos aos DAS e a nomear um político no lugar de um técnico em Furnas. Sintoma de que seu tecnicismo é muito, muito relativo.
(Publicado simultaneamente no Site Gente de Opinião (http://www.gentedeopiniao.com.br/).

AS VAIAS REVELADORAS

Embora mantenha a convicção de que Lula da Silva não tem o preparo necessário para ser presidente não comungo do desejo, nem da pretensão, de retirá-lo do poder a qualquer preço. É verdade que contesto sua eleição. Uma eleição marcada pela deslavada manipulação da imprensa, dos recursos públicos, com o decisivo crescimento do Bolsa Família, gerando os pingentes governamentais, verdadeira reedição do coronelismo oficial. Porém, se não houve, o recurso às vias legais para caracterizar o uso (e abuso) do poder econômico, não me parece lícito sua utilização agora. O que desejo deixar bem claro é que sou contra o radicalismo. Não se pode construir dividindo a nação.
No entanto, desnorteado pelas vaias consecutivas, o presidente operário tenta caracterizar quem reclama contra os escândalos de seu governo, sua inoperância, sua inação de “direitistas” ou de “golpistas” chegando ao cúmulo de, em Cuiabá, afirmar que se trata de um movimento pequeno, mesquinho e comparou a política a um casamento que não deu certo. E, numa total incoerência, comparou os manifestantes que o vaiaram aos que apoiaram o Golpe Militar de 1964. Para Lula, as pessoas que o vaiam estão incomodadas com a democracia. “Esta gente que pensa assim fez a Marcha com Deus pela Liberdade que resultou no golpe, levou João Goulart a renunciar e levou Getúlio Vargas ao suicídio”. Bem, a falta de conhecimento histórico, de capacidade de discernimento poderia inocentar o presidente, mas, há contra ele seu indiscutível conhecimento político e sua malícia que não tornam a afirmação senão um crime contra a própria Constituição na medida em que classifica como golpistas os que não aprovam seu governo. Aqui vale lembrar Ruy Barbosa que escreveu: “Odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas; oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de ignorância; e, quando esta se traduz pela abolição geral das grandes instituições docentes, isto é, pela hostilidade radical à inteligência do país nos focos mais altos da sua cultura, a estúpida selvageria dessa fórmula administrativa impressiona-me como o bramir de um oceano de barbárie ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade.”
Lula da Silva é incapaz de conviver com a divergência e a elite, ou seja, com a democracia e o melhor do país, com a nata que, entre outros, inclui intelectuais, artistas, políticos, magistrados, militares, advogados, lideranças, cientistas, enfim os que pensam. Gosta mesmo é do puro aulicismo, dos pelegos que batem palmas sem pensar nem discutir. Como, os que pensam e não se venderam por trinta moedas, hoje, são contra ele, pela sua completa falta de gerência, quer caracterizar quem não concorda com seu governo como anti-povo. Não é isto. Quem está contra Lula é a vanguarda do país. São os que se mobilizam para restabelecer a confiança popular nas instituições da República. E não aceitam que, em nome do culto à personalidade, o país continue caminhando para o atraso. As vaias são uma prova de que existe vida inteligente no Brasil.
(Publicada simultaneamente no Rondonotícias (www.rondonoticias.com.br).

domingo, julho 29, 2007

O FUTURO DAS VAIAS ANUNCIADAS

Embora FHC até hoje negue que tenha dito “esqueçam o que escrevi” que o PT transformou em símbolo de seu comportamento, hoje, em dia parece que quem tem amnésia geral em relação a todas as suas lutas antigas é o Partido dos Trabalhadores. E a amnésia parece ser recorrente, pois abarca até mesmo o mês passado. Basta ver, por exemplo, que pretenderam vender a absurda idéia de que a uníssona, gloriosa e contundente vaia dada no Maracanã ao ex-esfaqueado e, agora, mais “aéreo” do que nunca operário-presidente teria sido ensaiada, a partir de César Maia, com servidores municipais. Não conseguem encarar de frente o choque de realidade. Lula da Silva, no entanto, sabe muito bem como sua reeleição foi duramente conquistada não se ilude mais.
Tanto que não foi ao Rio de Janeiro, no final do Pan, nem foi ao Rio Grande do Sul que, previsivelmente, o esperavam para repetir a apoteótica ovação.
A esperteza do marketing oficial, então, depois da solidão, de deglutir da forma possível a indigestão do vomito popular sobre ele, resolveu ir lançar o Plano de Aceleração do Crescimento-PAC cercado de todas as garantias em Aracaju, terra de um dos petistas mais avaliados, no Nordeste onde a farta de distribuição de bolsas famílias, supostamente, o livraria de novas vaias. Todo cuidado como se observou foi inútil, embora a segurança tenha eliminado faixas que, certamente, incomodariam a visão, aliás, pouco utilizada de nosso timoneiro. Até em Sergipe as vaias o perseguiram demonstrando bem que se o seu partido e ele esquecem as promessas há muita gente que não se esquece do que prometeram e não cumpriram.
O que Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores esquecem, em primeiro lugar, é que há uma grande massa de primeira hora que deu sempre todo o apoio ao PT e a Lula e os encaram como grandes traidores. Isto ficou visível quando, no mês passado, uma manifestação da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal-Condsef, foi recebida, com parlamentares do PT e PCdoB, para solicitar pedir negociações entre servidores e governo. Já na época cinco categorias representadas pela Confederação estavam em greve (Ibama, Incra, Cultura, Datasus e CNEN). Houve o protesto realizado no Palácio do Planalto pelos servidores do Incra que foi respondido por Lula com a necessidade de se aprovar o projeto que quer regulamentar o direito de greve. Ou seja, respondeu com dureza aos desejos de negociação. E as greves e protestos só reivindicavam que o governo cumprisse os acordos firmados com as categorias em 2005 e que até o presente são solenemente ignorados. Em Sergipe, portanto, foram os servidores públicos que deram os primeiros sinais de sua insatisfação. A imprensa afirma que somente onze vaiaram. Há!Há! Não falam da enorme operação que tiveram que fazer para impedir que Lula da Silva tivesse outra vaia história nem que tiveram que reprimir e levar o presidente por outros caminhos para que não recebesse os apupos vindos da insatisfação popular. Agora vão ver que as vaias vão ser sim organizadas. Os insatisfeitos aprenderam o caminho.

quarta-feira, julho 25, 2007

SERÁ QUE VAI DAR CERTO UMA BOA IDÉIA?


UMA 51 NO MEIO DO CAOS
Quando, depois de um final de ano conturbado pelo “apagão aéreo”, se pensava que as coisas iriam, enfim, voltar à normalidade do passado, verificamos que isto, de fato, vai custar a acontecer. E o fizemos da pior forma. Por meio de uma tragédia que vitimou mais de 200 pessoas causadas pela explosão do AirBus da TAM no qual ficou explícito, no mínimo, uma grande falta de previsão, de dirigentes sérios. Se dúvidas houvesse o gesto obsceno do assessor internacional do Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, delatou, de forma inequívoca, o nível de gente a que estamos subjugados. Em qualquer ocasião seria um gesto reprovável, mas, neste contexto, um prato cheio para a mídia e para sermos, em prosa e versos, vendidos como atrasados e ignorantes no mundo inteiro. Para completar não faltou nem mesmo uma pane em radares dos Cindacta-4 da Amazônia com retorno de aeronaves internacionais e novos riscos de colisão de aeronaves na região amazônica. Hoje, sabemos que não houve o devido cuidado na escolha dos dirigentes do setor aéreo e, na verdade, não só dele. É fruto lamentável do que sabíamos de antemão: Lula não estava, e não está, preparado para governar o País. Porém, como ainda é o presidente, pode, pelo menos, ouvir mais.
Neste sentido, no meio de todo este caos, uma boa idéia foi levantada pelo secretário de Transportes do Estado do Rio, Júlio Lopes, que fez umas contas por alto e defende que o custo da construção de um novo aeroporto é mais do que a metade do que seria gasto na implantação do trem bala Rio-São Paulo. Disse Lopes que "Um novo aeroporto não sairá por menos do que algo entre R$ 5 bilhões e R$ 7 bilhões. Não é só construir a pista e o terminal. Será preciso fazer o acesso rodoviário e ferroviário para ligar o aeroporto a São Paulo, já que ele não deve ser construído a menos de 100 quilômetros do centro da capital paulista e de outros centros. Isso custaria mais R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões". O custo estimado da ligação ferroviária Rio-São Paulo é de US$ 9 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões), mas a grande vantagem do trem é a de desafogar o trafego aéreo, começar a mudar a opção brasileira de transportes e, por fim, poder contar com investidores internacionais, inclusive com o apoio da China que tem uma indiscutível competência no setor ferroviário. E, com a vantagem adicional de que os trens podem ser tão ou mais confortáveis que os aviões e não precisam parar com chuva ou neblina. É ótimo que o governo do Rio tente influenciar o governo federal a trocar o projeto de construção de um terceiro aeroporto em São Paulo pela adoção do trem de alta velocidade, principalmente para o usuário que poderá ter o embarque e desembarque no centro das duas capitais e tarifas menores e, para o país, que pode começar a dar uma guinada para o transporte ferroviário.

domingo, julho 22, 2007

BIODIESEL- A NOVA ENERGIA DO INTERIOR

Foi uma iniciativa vitoriosa, principalmente para a Prefeitura Municipal de Ariquemes, o "Encontro Intermunicipal de Biodiesel-A Nova Energia do Interior", no último dia 13 de julho, que congregou políticos e técnicos para discutir as possibilidades e lançar um projeto intermunicipal para viabilizar o uso do biodiesel em Rondônia, especialmente na região da Grande Ariquemes, que envolve os 13 municípios em volta. O encontro foi excelente para mostrar que a alternativa tem amplas condições de dar certo, porém envolve uma reestruturação do programa em nível governamental. A política energética nacional do biodiesel, centrada na inclusão da pequena propriedade familiar, cerceia os investimentos privados na medida em que, hoje, o biodiesel é feito a partir da soja e os outros tipos de cultura disponíveis são de custo muito mais elevado retirando a competitividade do combustível obtido. Não se pode assim embarcar na onda de euforia sem frisar que se há um aspecto bastante descuidado é o relativo ao mercado. Ainda mais quando fontes governamentais dizem que não haverá mais leilões de compras de biodiesel. Isto nos leva citar o caso da Oleoplan SA – Óleos Vegetais Planalto que inaugurou uma usina de biodiesel em Veranópolis, no interior do Rio Grande do Sul e já possui capacidade ociosa. Até agora, a usina forneceu 10 milhões de litros de biodiesel à Petrobras – o que equivale a 15% da produção prevista anual e será difícil vender para outros setores dado que o produto é cerca de 35% mais caro do que o diesel tradicional. Este fato foi que, na ocasião do Encontro, no painel que participei, procurei ressaltar. Efetivamente é o chamado mercado obrigatório, constituído pela Lei nº 11.097/05 que estabelece os índices de 2% até 2008 e 5% até 2013 para ser misturado com o diesel que cria um mercado, porém, com as 23 plantas existentes e em implantação, que já poderão produzir 928 milhões de litros, o mercado oficial já se encontra saturado. O outro mercado possível, o das empresas de transporte coletivo e de cargas encontra sérios problemas por causa do custo mais alto do combustível alternativo. Sobra, portanto como opção o mercado externo, que hoje se concentra na União Européia, no entanto não se pode esquecer que este já é o maior produtor da atualidade e que, por adoção de uma política agrícola protecionista, isto impede uma maior exportação brasileira para o bloco. Por tudo isto já se cobra a antecipação, de 2008 para este ano, da adição obrigatória de 2% de biodiesel ao diesel comum e os produtores querem que esse índice suba logo para 5% até 2010. De qualquer forma é preciso ter cuidado. O biodiesel pode ser uma ótima opção, mas ainda exige um tratamento da cadeia produtiva, uma reformulação do programa com atenção aos impostos e consolidar o mercado. Enfim, como em muitas outras coisas, o papel do governo é essencial e sua ausência sentida.

terça-feira, junho 19, 2007

PROTESTAR É PRECISO...

NADANDO CONTRA A CORRENTE
O poder, no mundo moderno, é invasivo. Diluindo as fronteiras entre o trabalho e o lazer, entre a casa e o escritório, entre o público e o privado, efetivamente, penetrou em todas as esferas da existência, e, numa mágica às avessas, mobilizou inteiramente o homem para se alienar pela busca incessante de mais riqueza, mais poder, mais ter. Assim o corpo, a afetividade, o psiquismo, a inteligência, a imaginação, a criatividade não são postas em prol do bem-estar próprio e geral e sim de uma filosofia invertida em que o que importa é ganhar dinheiro, ter sucesso a qualquer custo fechando os olhos para a miséria e a decomposição em volta. Porém, nenhum homem, ou sociedade, é uma ilha. Somos, cada vez mais, uma aldeia global, daí que ao violar, invadir, colonizar os outros em seu proveito os donos do poder plantam as sementes do seu próprio mal-estar. É impossível ser feliz num mundo totalmente desequilibrado.
Talvez, para piorar ainda mais as coisas, especialmente no Brasil, o poder está nas mãos dos que menos possuem preparo para exercê-lo e, como a inteligência é bem distribuída e os medíocres cientes de que somente pela força podem governar, o uso dos mecanismos de controle, como o capital, o Estado, a mídia e as instituições, tomam formas difusas que moldam a forma de pensar das pessoas. O poder, infelizmente, se exerce por dentro vendendo, por exemplo, a convicção de que a política é ruim, que todos os políticos são iguais, que todos roubam e que não vale a pena lutar por um mundo melhor. E como todos são iguais o negócio é se locupletar do que é possível. Como, para a grande maioria, é impossível ler através dos fatos o que o poder leva é ao conformismo, à vidinha sem objetivos nem grandeza, sem sonhos enfim.
É o que se prega, no momento, no Brasil que todos nós fiquemos conformados em ser homens-múmias. É certo que fora do sarcófago, mas devemos aceitar que este é o melhor dos mundos possíveis, que o Brasil nunca esteve tão bem, que, agora, não devemos ter pressa, que os 0,01% de aumento e os 2,8% de crescimento (aumentados por alquimia) é o máximo que se pode ter. Ao mesmo tempo que, por ações da Polícia Federal, se comprova que tudo é uma porcaria, que todo mundo é corrupto, até pelo exemplo de cima de adultério e de venda de bois, o melhor mesmo é a indiferença política que vem pela exaustão da luta. Afinal não vale a pena. Chegamos ao melhor que se pode chegar...Mas, nós, brasileiros, seres criados para o prazer e a felicidade, criadores do carnaval, não podemos aceitar ser o que o poder quer. O poder quer homens docilizados, inconscientes, vegetativos, conformados que digam sim. E nós, que não desistimos nunca, que, ontem, dissemos não ao poder centralizado e brutal, agora, diremos também não, ao descentralizado e mais brutal ainda. Não somos uma manada. Somos um povo. E, contra os anti-povo de direita e de esquerda, ainda iremos fazer deste país uma democracia de verdade.

O FANTÁSTICO CIRCO DA MÍDIA

Com a perda de dinheiro que os meios de comunicação enfrentam se, antes, já não existia, agora, é que não existe mesmo mais o tal do “jornalismo investigativo”. É pura conversa para boi dormir. As redações, seja do que for, possuem pouca gente (e sem grande experiência) para ir atrás das notícias e são pautados, ou seja, vão somente atrás do interesse do momento que, em geral, é o assunto dominante, daí a razão de que quando se fala do Vavá é só do Vavá, se do Renan é só do Renan, de Luana Piovani ter chamado Caetano de “banana de pijama”, é só de Luana ou, para ser temático, do aquecimento global.
Logo também o famoso "furo", a descoberta de uma notícia antes dos outros, só acontece movido por interesses. Normalmente quando uma fonte oficial, ou não, despeja um dossiê para atingir alguém por motivações políticas ou econômicas. É, sem tirar nem por, o que acontece agora com o festival de vazamentos de informações das operações da Polícia Federal ou com o circo da “venda” dos bois de Renan Calheiros. Claro que o senador não pode ser considerado nenhum santo, porém é muito suspeita a ânsia de investigação da acomodada e pacífica Rede Globo que, de repente, se torna investigativa. Está na cara que não é. Certamente é fruto dos adversários locais, ou federais, inconformados, quando ficou evidente a pizza, que partiram para quebrar a blindagem, por sinal frouxa, do presidente do Senado. Se absolverem, se arquivarem o processo contra Calheiros é o mesmo que dizer que se pode fazer qualquer coisa, mesmo documentada, que o Congresso absolve.
Na verdade, hoje, jornalismo investigativo virou isto: ações de pessoas ou grupos envolvidos numa briga qualquer vazam informações para a imprensa visando atingir seus adversários. A imprensa buscando afirmar a imagem de "independência" acaba sendo massa de manobra, se deixa manipular, por algumas manchetes sensacionalistas. Os policiais, como estão com a mão na massa, também ganham projeção com tais escândalos, vide elogios e o alto conceito em que a PF anda, de forma que o sucesso da formula está se espalhando tanto que até as policiais estaduais resolveram também aderir e uma exorbitou prendendo 2.532 pessoas num só dia. Pasmem 2.532 pessoas! Imagine como serão tomados os depoimentos (e quando), onde serão alojados e qual a justificativa para prender tantos de uma vez só! Agora que as manchetes estão asseguradas não há dúvida. E, de fato, durante algum tempo o circo da mídia deve ser alimentado por depoimentos, indícios & cia ltda., porém, como tem sido norma, o difícil será tomar conhecimento de punições, pois, na prática, fora as breves e rápidas prisões, as sentenças, como o jornalismo investigativo, não existem. É só mesmo jogo de cena e alimento para o circo. Que país!

terça-feira, junho 05, 2007

KLEDIR RAMIL

O ARTISTA VISÍVEL
Fui, no Teatro Um do SESC, para o lançamento do livro de Kledir Ramil, “O Pai Invisível”, uma série de crônicas em que Kledir, de forma dinâmica e informal, relata as situações cômicas e surrealistas pelas quais um pai moderno tende a passar. No caso específico as que ele mesmo passou com os filhos adolescentes. Com maestria compara os períodos diferentes, ao relembrar seu próprio tempo de garoto, quando o ritmo e a posição do pai era outra. Kledir tem um estilo espirituoso, uma forma engraçada de contar histórias que são comuns e, ao mesmo tempo, únicas, dos problemas entre pais e filhos. Não há como não se identificar com o tema que é atual, difícil, complicado o que, mesmo com o tratamento jocoso, fica explícito a seriedade com que encara sua missão de passar algo de sua vivência. A tese que defende é ótima: se no início de suas vidas os filhos dependem dos pais para tudo, quando chega a adolescência, esquecem que o pai existe, e a impressão é que ele se torna um ser invisível. Mas, na verdade, não é bem assim: volta e meia será lembrado justamente quando gostaria de ser esquecido – para a carona de madrugada, para pagar o cinema, o tênis importado, levar os filhos e a galera num passeio que é a maior roubada. Pai é uma espécie de lona que não deve ser percebida enquanto o filho não erra o trapézio.
Kledir Ramil, um gaúcho torcedor do Internacional, nascido em 1953, consagrou-se na música com a dupla Kleiton & Kledir, tendo sido um verdadeiro ícone da modernidade das palavras, talvez gauchescas, porém que influenciaram toda uma geração. Impossível não lembrar de sucessos maravilhosos como “Deu pra ti”, “Nem Pensar”, “Paixão”, “Vira, Virou” e “Maria Fumaça” entre tantos outros. Não sabia muito sobre sua vida passada, nem presente, pois, a dupla desapareceu do cenário nacional, numa certa época, não sei se recolhido mais ao Rio Grande ou se a vida os levou por outros projetos. Sei que reencontrar Kledir, agora como escritor, foi um momento agradável sobre vários aspectos. Trata-se de um artista, de fato, preocupado com seu fazer e seu mundo, uma verdadeira antena da raça, que é de uma grande empatia com o público mesmo fora do espaço musical. Provou ser polivalente e até mesmo teatral, no melhor sentido do termo, ao saber explorar sua própria figura seja nas vídeocrônicas, seja no debate com o público, ao criar momentos de beleza, de descontração e até mesmo de surpresa ao apresentar o público o último tipo de videogame japonês, o bilboquê, aquele brinquedo de madeira que se deve encaixar numa ponta, conhecido por nós, embora não encontrável nos dicionários, como currimboque que, como rapaz de boa cepa, achou meio pornográfico. Não importa. Importa que Kledir é um talento multifacetado, embora, como música seja música, gostaria também de tê-lo ouvido cantar, embora lembrar “Churrasquinho de Mãe” de Teixeirinha, para nossa geração e adjacências, seja um plus. Viva Kledir! Que volte outras vezes ás margens do Madeira!

sábado, maio 05, 2007

NÃO SE FALA MUITO A RESPEITO DA....

A VIOLÊNCIA SILENCIOSA
São cada vez maiores, no mundo atual, os sinais de violência contra o outro. E a violência maior, na maioria das vezes, é invisível na medida em que, se uma morte por bala perdida causa comoção e horror ou, como recentemente, na Paraíba, um grupo de bandidos usa mais de cinqüenta pessoas como reféns para estabelecer uma barreira humana, afim de escapar da polícia, nos faz ver como os bandidos chegaram a uma audácia sem limites, o fato repercute, mas resulta das pequenas (e grandes) violências que se cometem no dia à dia.Isto, no entanto não acontece por acaso. È fruto do que a ex-juíza Denise Frossard alegava, numa entrevista a Marília Gabriela, que há a violência maior do uso do Estado contra o cidadão negando ou usurpando os seus direitos.
É preciso, aqui, relembrar que violência, derivado do Latim violentia, quer dizer qualidade do que é violento, ímpeto ofensivo, veemência, tirania, abuso de força e opressão, ou na sua forma jurídica, o constrangimento exercido sobre uma pessoa para a obrigar a fazer ou a deixar de fazer um ato qualquer, coação no seu sentido estrito. Assim entendido quem tem maior possibilidade de coagir? O governo, é claro. E se é um governo que não atende as classes mais esclarecidas, que não trata como iguais os cidadãos comuns, se divide a sociedade em classes e trata certas classes com evidente má vontade, desrespeito e até perseguição, enquanto concede benesses a quem julga necessário dentro de uma concepção própria de poder “republicano” isto é ou não uma violência? Assim como é ou não uma violência estimular a luta pela terra para que os sem terras arranjem um pedaço de terra para ingloriamente produzir com desvantagens imensas ate que o desânimo os leva sempre a serem expulsos de seus lotes? Ou não é uma violência, por exemplo, negar licenças sistematicamente para os grandes projetos de desenvolvimento da Amazônia? Ou impedir que madeireiros retirem madeira de áreas florestais enquanto se vendem grandes áreas para empresários externos? Ou, simplesmente, adequar a saúde dos pacientes do SUS aos recursos? Ou, dizer que não há filas na Previdência quando só atendem um número determinado por dia?
A violência, portanto é parte integrante de nossa realidade diária. Não é, com certeza, privilégio do governo atual, porém, com seu viés socialista de botequim, exacerbou-a num nível nunca antes visto neste país. Basta verificar o ministro da Previdência, apesar de reconhecer que o déficit no setor é do governo, desejar diminuir a pensão das viúvas.Ou a manutenção da CPMF ou a criação de um super-receita para cobrar mais por um subgoverno. A violência, portanto não se restringe aos assaltos, drogas, transgressões físicas, morais, sociais, etc... mas é um câncer que corrói o nosso tecido social e só desaparecerá na hora que a Justiça crie consciência que não pode ser um poder ancilar do governo e faça valer as leis para quem mais a desobedece. Quando o parlamento acabar com a excrescência das medidas provisórias. Infelizmente sem modificações nas leis, permitindo que processos contra os governo sejam protelados, se deixa a impressão de que o poder e o dinheiro podem tudo, cria a sensação de um vazio de horizontes, de falta de bons exemplos e até de que a família e a sociedade estão colaborando não só para o crescimento da violência, como para sua cristalização. É preciso dar um basta à violência do Estado e que este assuma suas obrigações de respeitar os direitos privados. Começando, por exemplo, a taxar menos os salários e mais os lucros, inclusive dos bancos.