A
Tendências Consultoria estimou que a liberação do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviços-FGTS das contas inativas, cerca de R$ 16,5 bilhões este ano, terão
um impacto, considerando o efeito multiplicador, de cerca de 0,3% do Produto
Interno Bruto (PIB), a soma de todos os produtos e serviços produzidos
internamente durante o ano, mesmo com pesquisas do Serviço de Proteção ao
Crédito-SPC indicando que 38,2% dos recursos serão destinados ao pagamento de
dívidas.
É
fato que, embora o montante de tais recursos somente, não possa tirar o país da
crise, no entanto, não deixa de ser uma medida importante para aliviar o
orçamento das famílias brasileiras endividadas e deve contribuir para melhorar
as expectativas de consumo e de investimentos, um passo importante para a
retomada do crescimento. Ainda assim, grande parte dos analistas econômicos
consideram que o efeito será pouco. Há mesmo economistas como o economista-chefe
da MB Associados, Sergio Vale, projetando um impacto menor sobre o PIB, de
apenas 0,2% na taxa de crescimento, considerando que "Boa parte desses
recursos deve ir para pagamento de dívida, o que ajuda em um segundo momento no
consumo, mas não agora". A equipe do Banco Santander é mais pessimista,
pois, afirma que o uso do dinheiro das contas inativas do FGTS para pagar
dívidas deverá ter efeito "desprezível" sobre o comprometimento da
renda e inadimplência, de forma que, de um modo geral, o “impacto efetivo será
bem pequeno e, definitivamente, não muda o cenário". Entre estas visões,
que tem seus fundamentos, pode-se dizer que variam com o otimismo dos analistas,
porém, a grande verdade é que a economia brasileira atual anda ao sabor das
novidades políticas. O problema é que a política está proporcionando mais
notícias ruins do que boas.
Uma
medida como a da liberação do FGTS poderia ter sim um efeito muito maior, de
vez que desperta mesmo mais esperança e otimismo. O ruim é que, logo em
seguida, surge, como agora, a “Operação Carne Fraca” que, tem sim, efeitos
nocivos. Não que não devesse ser feita, mas, a forma de divulgação não teve o
mínimo de cuidado com os seus efeitos. Assim, quando me perguntam, se a
liberação vai ter um impacto maior ou menor, sou, como um economista cuidadoso,
e não um vidente, obrigado a dizer que depende. Como num jogo de xadrez o
resultado depende de peças que serão ainda mexidas e mesmo com mexidas
corretas, como a do FGTS, sem capacidade de prever o jogo futuro, só é possível
torcer para que melhores tempos venham. Da forma como está tudo anda muito
incerto, imprevisível. E não há crescimento sem estabilidade, sem notícias
ruins que apaguem os efeitos positivos das boas medidas.