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segunda-feira, novembro 25, 2019

MAKTUB



Eu também sou Rodrigues, mas, não sou Nelson. Se fosse escreveria que já estava escrito nas palimpsestos gregos, nas pedras ancestrais, nos primórdios da criação do mundo, nas línguas dos primeiros profetas que o Flamengo seria campeão da Libertadores este ano. Este time do Flamengo é um grande time? É, inexplicavelmente é. Feito mais por obra do acaso, embora também fruto de trabalho de excelentes técnicos, é uma obra das mais improváveis. É que nele estão juntos velhos talentos, talvez, movidos também por antigas paixões reavivadas, com promessas, agora, cumpridas e até com desconhecidos talentos, como Pablo Marí. Trouxeram Diego, Diego Alves, Rafinha e Filipe Luís, veteranos consagrados, para juntar com nomes conhecidos, todavia, que ainda não tinham marcado seus nomes nos campos, como Bruno Henrique, De Arrascaeta, Gerson, Everton Ribeiro, Rodrigo Caio e, até mesmo, Gabigol, que, mesmo tendo sido artilheiro do brasileiro, não tinha ainda títulos que sedimentassem sua carreira. Com a mão do português, Jorge Jesus, arranjando as peças, fizeram história e se tornaram campeões da Libertadores de 2019. É verdade também que sobraram no campeonato brasileiro. Tudo indica que alcançarão a maior quantidade de pontos que um time ganhador já conseguiu, desde que o campeonato de pontos corridos foi estabelecido. Sua campanha, com vitórias memoráveis, o seu bom futebol rápido e demolidor,  credenciavam o Flamengo como favorito contra o River Plate. Ainda que Gallardo, que ignorava o destino, tivesse razão em dizer que se o Flamengo era superior que provasse nos gramados. Que foi provado, foi. Mas, convenhamos, da forma mais cruel possível. Sejamos justos. Não há como negar que o River foi melhor durante exatamente 93 minutos da partida. Jogou uma partida impecável durante todo este tempo. Dominou o campo, impediu que o Flamengo jogasse. O Flamengo foi irreconhecível, ao ponto, de permitir um gol inacreditável, que foi uma falha coletiva, porém, quase espírita. Era uma jogada que teve tudo para não acontecer. Não pensavam assim os deuses do futebol que permitiram ao River o sabor de pensar que poderiam vencer. Depois de uma hora e meia sem conseguir fazer uma única jogada, adormecido em campo, dominado, submetido, o Flamengo despertou. Do triste Flamengo, que não acertava passes, que não fazia uma jogada certa, que não ganhava um rebote, que desanimava o torcedor, reapareceu o time vencedor e, em três minutos, em apenas três rápidos minutos, fulminou o River Plate. Acertando uma jogada! Só uma! E, com ela, desmontou tudo o que o River havia feito. O golpe foi tão mortal, tão fatal, tão perfeito, tão monumental que nem precisou de uma segunda. De um lance improvável, de uma bola lançada mais para a defesa do que para um provável ataque, de um lançamento sem futuro, o faro de goleador de Gabigol, a vocação de artilheiro, brilhou. E ele, que só havia tido o fácil trabalho de empurrar a bola nas redes no primeiro gol, como um tanque, se impôs aos zagueiros, que atrapalhados, assistiram o seu chute implacável, certeiro, matador. Não havia o que fazer mais. Era só levantar a taça. Foi sorte? Foi. Porém, quem disse que os grandes times não precisam de sorte para vencer? A sorte foi tanta que, no domingo, foi campeão brasileiro sem entrar em campo. Agora, sejamos cirúrgicos, precisos no exame: ninguém é um grande campeão apenas com sorte. O Flamengo fez história jogando muito. E foi premiado ganhando a Libertadores quando fez sua pior partida dos últimos tempos. Porém, não é todo time que só precisa de três minutos jogando bem para ganhar do River Plate. A verdade é que estava escrito!

terça-feira, novembro 19, 2019

AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO RECLAMAM NOVAS FORMAS DE PENSAR O FUTURO





Leio no jornal português “O Público” que uma pesquisa do Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que as empresas portuguesas contatam mais frequentemente os seus trabalhadores fora dos seus respectivos horários de trabalho atualmente mais do que há quatro anos. Segundo ainda a mesma pesquisa  quase 40% dos funcionários tiveram solicitações de trabalho no seu período de descanso pelo menos uma vez nos dois meses anteriores. Segundo o inquérito, em 2015 mais de metade (56,6%) da população empregada no 2º trimestre afirmava nunca ter sido contatada profissionalmente fora do horário de trabalho. No trimestre equivalente de 2019, aquele valor diminuiu 3,9%, sendo agora 52,7% os que fazem tal afirmação. Em sentido contrário, 39,2% dos trabalhadores empregados hoje dizem ter sido contatados por questões da empresa em horário de descanso, pelo menos, uma vez nos últimos dois meses – a diferença entre os dois indicadores são os entrevistados que não sabem ou não respondem. Destes, 20,2% receberam este tipo de contato “uma ou duas vezes”, enquanto os restantes 19% revelam uma prática mais frequente. Na maioria desses casos (13,2%), os contatos são feitos na expectativa de que o trabalhador interrompa o seu período de descanso para resolver algum problema.  Os contatos fora do horário de trabalho são mais frequentes entre homens (49,1%, contra 40,3% entre as mulheres); funcionários com formação superior (61,2%) e trabalhadores por conta de outrem (56,8% reportam a existência destas práticas nos últimos dois meses). Dentro destes, o fenômeno é particularmente sentido pelos funcionários que têm vínculos com termo (60,5%). Também é significativo na pesquisa que quase um terço dos trabalhadores (28,8%) afirma trabalhar “sempre, ou muitas vezes” sob pressão de tempo, “tendo de terminar tarefas e trabalhos ou tomar decisões dentro de prazos considerados insuficientes”. Pouco mais de um terço da população empregada (34,1%) afirma ter total, ou muita, autonomia para decidir a ordem e o modo como executa as suas tarefas ou trabalhos. Bem, a pesquisa é portuguesa, mas, não deve ser muito diferente no Brasil. Parece que, apesar do descanso ser considerado um direito fundamental do trabalhador, a jornada de trabalho, que é o período estabelecido no contrato com a empresa que deve ser cumprido pelo empregado, está, cada vez mais sendo menos respeitada, principalmente, quando se trata de trabalhadores de nível superior ou especializados. O que se percebe é que a legislação brasileira (e mundial) gira em torno do emprego que, com o desenvolvimento da tecnologia e da inteligência artificial, ao meu ver, tende a diminuir muito. Mas, se o emprego tende a diminuir, ou, talvez, como pregam alguns, a desaparecer, o trabalho, certamente, não desaparecerá. A verdade parece ser que é preciso que se pense em novas leis mais adequadas a uma nova realidade. O enfraquecimento sindical não se dá à-toa. Reflete o fato de que a classe trabalhadora é, cada vez mais, fragmentada e heterogênea. Pensar que se possa agrupar interesses crescentemente difusos é uma tolice. A questão do futuro será como remunerar melhor o trabalho ou como criar uma forma de renda universal que se sustente num modelo onde só uma parte muito pequena da força de trabalho será contratada por empresas. A dissolução entre o trabalho e o descanso, que aumenta a olhos (e pesquisas) vistos, é um sintoma das profundas modificações do mundo do trabalho. E é preciso que se pense em novas formulas e não, como faz grande parte da mentalidade de esquerda, desejar que “direitos” se sustentem, quando não possuem, como contrapartida, o substrato econômico que os viabilize. É um belo discurso, o de falar em direitos, mas, a história demonstra que eles só existem quando a economia permite que possam ser sustentados.


quinta-feira, novembro 14, 2019

CRIAR CIDADES INTELIGENTES É CUIDAR DO FUTURO



Cada vez mais merece atenção o tema de transformação das cidades em cidades inteligentes, ou, em inglês, Smart Cities, que são sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para promover o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida.  Estes fluxos de interação são inteligentes por fazer uso estratégico de infraestrutura e serviços e de informação e comunicação com planejamento e gestão urbana para dar resposta às necessidades sociais e econômicas da sociedade. O Cities in Motion Index, do IESE Business School na Espanha, utiliza 10 dimensões para indicar o nível de inteligência de uma cidade: governança, administração pública, planejamento urbano, tecnologia, o meio-ambiente, conexões internacionais, coesão social, capital humano e a economia. A importância que se dá as cidades inteligentes pode ser medida pela criação do Ranking Connected Smart Cities, um estudo desenvolvido pela Urban Systems para o evento homônimo, idealizado pela Urban Systems e pela Sator e realizado desde 2015, criando uma plataforma de discussão e negócios sobre o de Cidades Inteligentes. Com 5 publicações já realizadas, as versões 2015 a 2019, o Ranking Connected Smart Cities se configura um esforço da Urban Systems para o entendimento e a definição dos indicadores que apontem o desenvolvimento inteligente das cidades.  A última edição do Ranking Connected Smart Cities, de 2019, avaliou 700 cidades brasileiras, levando em consideração 70 indicadores distribuídos nos eixos de mobilidade, urbanismo, meio ambiente, energia, tecnologia e inovação, economia, educação, saúde, segurança, empreendedorismo e governança. Campinas (SP) conquistou o primeiro lugar geral, seguida por São Paulo (SP) e Curitiba (PR), respectivamente. A liderança de Campinas se explica pelo quesito economia, com independência do setor público, uma vez que 94,5% dos empregos formais não estão na administração pública. Mas, também, pela tecnologia e inovação: Campinas possui cinco parques tecnológicos e cinco incubadoras de empresas, e apresenta 4,9% de crescimento do número de entidades de tecnologia, mesmo em período de crise econômica. No Norte, porém, entre as 100 cidades listadas como as mais inteligentes do Brasil só uma aparece: Palmas, a capital de Tocantins. É preciso, portanto, que nossos prefeitos e nossas lideranças passem a olhar com mais carinho a questão de como tornar nossas cidades inteligentes. Até porque para se ter uma cidade inteligente não se pode olhar os setores de uma maneira isolada. Todos eles precisam ser entendidos como fazendo  parte de um ecossistema integrado que afeta o dia a dia do cidadão. Daí, que  o processo para tornar as cidades mais inteligentes é sempre gradativo exigindo  não só gestão pública, mas, também a compreensão  dos próprios cidadãos de que são também responsáveis pelo futuro de suas cidades. É preciso que, urgente, se discuta como tornar nossas cidades inteligentes buscando soluções que atendam a realidade e a necessidade de todos nós.

quarta-feira, novembro 13, 2019

A NECESSIDADE DA ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL DE RONDÔNIA



O Departamento Acadêmico de Ciências Econômicas da UNIR, com o apoio do Núcleo de Ciências Sociais Aplicadas também da Universidade de Rondônia e o Conselho Regional de Economia de Rondônia-CORECON/RO, realizam, no Auditório da UNIR Centro, um Seminário de Economia que tem como tema “A Economia do Estado de Rondônia no contexto do Desenvolvimento Regional” em três encontros, dois dos quais já aconteceram nos dias 4 e 12 de novembro, e o próximo, que acontece no dia 20, na próxima terça-feira, terá como mote “A Economia de Rondônia, tendo o Estado como agente mediador e indutor do Desenvolvimento” a ser apresentado pelo Coordenador da Secretária de Agricultura, economista Avenilson Gomes Trindade, e o emérito Conselheiro do Tribunal de Contas e professor Valdivino Crispim de Souza. Até agora, apesar do público estar quase limitado aos alunos de Economia da Universidade Federal de Rondônia, o seminário tem sido muito frutífero no sentido de apontar a falta de um projeto para o estado e das dificuldades de articulação, planejamento e recursos que Rondônia possui para o seu desenvolvimento.
É verdade, como defendeu um dos integrantes do governo durante o seminário, que Rondônia possui um Plano de Desenvolvimento Estadual Sustentável de Rondônia-PDES/RO 2015-2030, mas, como foi ressaltado por um dos debatedores, não há um nexo causal entre o plano, o plano plurianual de investimentos e o orçamento. Ainda que se tenha tentado defender o governo apontando que, dada a complexidade dos objetivos e metas e a pequenez dos recursos, seja feita uma redução das grandes ambições do plano para um planejamento estratégico que se concentraria no que é possível gerir, no entanto, também se contestou a gerência, que seria feita por ilhas setoriais do governo. Ainda, porém, que se aceitasse os argumentos em defesa do planejamento governamental é indiscutível que o PDES é um plano de governo. Não é de conhecimento da sociedade, apesar de terem tido, conforme foi afirmado, várias audiências públicas e se garantido espaço para as instituições e sociedade civil. O fato é que seus objetivos não são os objetivos da sociedade nem são por ela encampados. O que ficou patente, no decorrer do seminário, é que a definição do que desejamos, a falta de organização da própria sociedade, gera um hiato entre os anseios públicos e o governo. Há, por assim dizer, um diálogo entre diferentes línguas que não se entendem. Apesar disto, a economia estadual cresce, porém, é preciso, mais do que nunca, que a sociedade civil se organize para fazer com que suas demandas sejam incorporadas aos planos governamentais. Neste sentido, não importa a questão levantada da não participação da população na medida em que é chamada apenas para corroborar o que se planejou. Na verdade, em Rondônia, o que não é diferente do resto do país, a população e as próprias lideranças não têm informações nem conhecimento, por exemplo, sobre o orçamento e a utilização dos recursos públicos, o que, em tais condições, faz prevalecer as manipulações. A grande maioria não sabe quais são as possíveis formas de participação ativa nas deliberações públicas, de forma que o controle social acaba sendo só pro forma, como também o direcionamento dos recursos. Não importa se as pessoas tem, ou não, conhecimentos, inclusive burocráticos e digitais, o que importa é que suas demandas sejam incorporadas ao planejamento e se crie formas de controle social, sob pena de se criar um campo fértil para a ineficiência e se abrir as portas para a corrupção. Neste sentido, quanto menos permeável é um governo, quanto menos acessível, menor será a influência da sociedade sobre os recursos que lhes são retirados em forma de impostos. E menor também o retorno que deles recebem. O Seminário está sendo esclarecedor sobre este aspecto e, principalmente, de que a sociedade rondoniense precisa se organizar melhor para encontrar consensos sobre o que deseja e cobrar do governo uma atuação mais efetiva em prol do desenvolvimento do Estado.