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quarta-feira, dezembro 29, 2010

Promessas de fim de ano



Inevitavelmente fim de ano é tempo de balanço. É tempo de lembranças, de teres e haveres, de pesar os prós e os contras. E quanto mais o tempo passa sempre parece que passa mais rápido e que somos mais felizes na medida em que morrem menos amigos e podemos contabilizar, pelo menos, a saúde e alguma estabilidade monetária, quando possível. A vida, porém, é isto mesmo. Uma sucessão de dias e noites que se guarda e se perde na memória até quando a própria memória se perde. Sinceramente, não me importa mais recordar o passado, que já ficou mesmo para trás. Escrevo em busca do novo, da esperança que o futuro, este indevassável e esperado tempo, traga os frutos doces que sempre desejamos degustar. Vida, daí-me o vinho e o amor e o resto que puder, por favor.
Não, meus amigos, não bebi. Estou mesmo, como é natural, até certo ponto nostálgico depois de um natal em que fiquei dois dias dormindo meio avariado. Também, não me venham com diagnósticos médicos, dizer que é efeito da tonteira. Não é. Encontro-me bem, encontro-me lúcido e contente comigo mesmo até onde se pode estar, pois, afinal, é próprio do ser humano estar sempre abaixo do que espera, exceto alguns iluminados, que, como não consegui estar, credito sempre à sorte, que podem se gabar de ter alcançado a glória que, como dizia Napoleão, é efêmera sim, porém, melhor que a obscuridade eterna. Posso dizer que a única embriaguez que me possui é a de final de ano, de ter ouvido umas músicas de Nara Leão, uns versos de Vinícius, de ter tentado em vão fazer alguma poesia, voltar a escrever alguma poesia, de vez que, na vida, não posso me queixar de que, apesar dos problemas, sempre tenho vivido o mais poeticamente que posso, amando o possível, mesmo com todo o sofrimento e a insatisfação que o amor sempre traz.
De que posso me queixar? De que jamais terei o amor que sonhei? Tive, tenho o amor possível. O amor real de tantas pessoas que seria uma ingratidão não dizer a elas, neste momento, muito obrigado. È muito mais do que se pode almejar, muito mais do que a fama ou o dinheiro, ter um amor, um amigo, onde sempre se pode despejar sua dor, buscar o afago, o carinho, a beleza de um momento que pode custar e ser apenas o prazer de estar ao lado ou, muitas vezes, a voz no telefone que se lembra de perguntar por você ou se queixa de que não liga, não escreve, não telefona, não passa um e-mail e nem sequer mais dá bolas pro Orkut, pro MSN, Facebook! Sou um relapso confesso. Faz tempo que não escrevo, nem telefono, nem vejo meus irmãos. Muitas vezes deixo pra lá meus mais queridos seres sem uma palavra, sem um gesto de amor. É que a lógica, esta assassina de sentimentos, me diz que eles todos, mulher, filhos, amigos, sabem que vivem no meu coração por mais distantes que estejam. Não é assim, lógica cruel. E, neste fim de ano, me penitencio: fui relapso. Meus amigos, meus amores, meus queridos, só posso lhes prometer um tratamento melhor em 2011, porém, não esperem muito. Vocês sabem como são as promessas de fim de ano.

domingo, dezembro 26, 2010

Razões para se sentir triste no Natal



Bem, meus amigos, há quem diga que o Natal é uma data massacrante. E não deixa de ter lá suas razões. Começa pelo fato de que, em outubro, passado o Dia das Crianças, já começa a aparecer Papai Noel de todo lado e, convenhamos, não existe figura mais deslocada entre nós do que Papai Noel. Sempre fico com pena de quem é contratado para fazer este personagem que, com tanta roupa, corre o risco de insolação e, ainda mais de barba, pode acabar com um fedor acre que só não espanta as criancinhas porquê, em geral, elas nem estão aí mesmo para sujeira. E me incomoda também que as roupas, como acontece com as àrvores de Natal e os enfeites, são guardadas e ressuscitadas, de forma que o Natal de hoje parece o do ano passado. E o dinheiro? Sempre falta dinheiro no Natal. Não me lembro um fim de ano, apesar das maravilhas que dizem dos atuais, onde o dinheiro sobre. Sempre fico com uma certa sensação de idiota, de que, durante o ano, não fiz o que podia, ou devia, para estar de novo assim e para ter mais dinheiro e poder dar mais presentes. Como o Falcão já dizia que “Dinheiro não é tudo, mas, é 100%” me rendo à evidência de que a falta dele me faz assim triste no Natal, no fim de ano.
Deixemos, porém, de ser materiais. Há outras razões fortes para me sentir triste no Natal. Entre elas, o fato de que sou mesmo muito sensível. E, neste quesito, muitos o são. Muitos terão seus motivos para ficarem reflexivos e emocionais por causa do Natal. É inevitável que, nesta época, se pense nos natais passados. No tempo em que meus pais eram vivos, na mesa larga e farta de uma Fortaleza que não existe mais, dos meus irmãos e suas brincadeiras, de um tempo no qual a missa era o ponto alto da festa e a ceia uma confraternização complementada pelos presentes e pela alegria. É certo que algo desta alegria, desta mágica, desta realidade foi perdida, além dos meus pais. O Natal, para mim, queira ou não, tem um certo gosto de saudade, uma certeza de que jamais será o mesmo.
Talvez, como me explica, uma amiga religiosa, meu problema seja a falta de fé. Ela me explica que, sendo imagem e semelhança de Deus, já sou perfeito (embora não seja esta sensação que sinto) e que não percebo que minha desconexão com Deus é que gera a ilusão de separação e, por conseqüência, todos os problemas que enfrento. E ao falar da fé verdadeira preconizada por Jesus, a fé do tamanho de um grão de mostarda, que remove montanhas, ela me incita a restabelecer a conexão cósmica com Deus. Na fé verdadeira há a gratidão total e absoluta pela conexão com Deus. Tudo muito bom, mas, fé não é como televisão, que é só encontrar o botão e ligar e sintonizar no canal. Não encontro em mim tanta fé assim por mais que procure o canal. Será por isto que me sinto triste no Natal?
Talvez não tenha encontrado o verdadeiro sentido do Natal. Natal representa o nascimento do homem que deu a vida por nós, que passou o que ninguém jamais passou pra salvar aqueles que o crucificaram. Natal é o nascimento daquele que mais nos amou- me dizem. A mensagem é linda. O sentido também, mas, não me toca. Jesus, para mim, é uma figura mítica, uma Atlântida religiosa. A prova de que os homens também fazem seus deuses. Enfim, curvo-me à certeza de que há muitas razões para se sentir triste no Natal. Este ano tive uma razão mais prosaica. Não sei o que comi ou, talvez, tenha sido uma virose. Sei que adoeci, mal comi e não bebi e, para um hedonista, um Natal assim é sempre motivo de tristeza. Espero que o seu Natal tenha sido ótimo por muitas outras razões também. De qualquer jeito, dizem que Natal para ser direito, tem que ser planejado. Vou planejar o próximo.

sábado, dezembro 18, 2010

COM MUITA SEDE AO POTE



Quando se fala em endividamento e inadimplência no Brasil havia, até pouco tempo atrás, uma certa racionalidade, uma sazonalidade no comportamento do consumidor que se caracterizava por, via de regra, alcançar seus níveis mais altos de endividamentos, e até mesmo incapacidade de pagar as contas, por volta do final do primeiro semestre. Havia nisto também uma lógica que nos parecia familiar que é a de que, com os gastos extras de fim de ano e as férias, se acabava por, lá por fim de março, começo de abril, se voltar a consumir e até mesmo comprar bens duráveis. O resultado era que, em junho, no máximo, julho as contas desandavam. E muitos devedores se moviam para regularizar a situação (limpar o nome) e procurar chegar em dezembro com crédito e capacidade de compras. Até meados desta década o comportamento era este.
Com o aumento do crédito, que dobrou no período Lula da Silva, e alguma melhoria da renda das classes mais baixas, que a propaganda política procura classificar como “a nova classe média”, a ordem e a sazonalidade desandaram de vez tanto que, para meu espanto, em termos nacionais, a inadimplência voltou a subir em novembro, segundo a Serasa Experian, sendo este o sétimo mês consecutivo em que isto acontece. Em parte porque, de fato, existem os novos consumidores, pessoas que não tinham condições de comprar muita coisa que, no momento, o crédito abundante favorece. As pessoas de classe mais pobre têm o que nós, economistas, denominamos de “propensão marginal a consumir”, ou seja, o dinheiro que entra é utilizado em consumo. E também raciocinam em termos absolutos. Explicando: não levam em consideração as taxas de juros ou o custo final. Sua lógica é a de se “cabe no orçamento”. Em suma, um televisor LCD se tem uma prestação de R$ 176,00, e ela pode ser paga, o custo final, muitas vezes, 2,3 vezes o valor do bem, não é levado em consideração. Decorre, daí, a euforia do consumo e o aparente contrasenso econômico que vivemos de existir crédito abundante com taxas de juros elevadas. Falta o que se denomina de planejamento financeiro. Falta o que se denomina de consumo consciente. O consumo é bom para a economia tanto que se prevê que a economia brasileira vai crescer 7,5%, mas, não pode ser fonte de endividamento permanente.
É fácil conseguir crédito, porém, não é barato. Nos Estados Unidos em crise os juros anuais estão na casa de 10,7% ao ano. Aqui, se paga, sem pensar muito, 4% ao mês que é um juros quase criminoso, mas, se chega a pagar no cheque especial o juros criminoso de 8% ao mês ou o assassino de cartão de crédito de 12% ao mes. Se, na pesquisa nacional do mês de novembro da Confederação Nacional do Comércio (CNC), em termos de Brasil, o número de famílias endividadas cresceu de 58,6% em outubro para 59,8% em novembro, em Porto Velho a inadimplência cresceu de 67% para 69% das famílias com o endividamento local continuando 15% maior que o nacional. Isto, aliado ao fato de que, mesmo com o pacote do Banco Central, o consumo não arrefeceu, mostra que, hoje, o brasileiro foi como muita sede ao pote do consumo e se encontra todo melado. Felizes e endividados. E a política monetária brasileira consegue ignorar que não é lógico, nem saudável, ter uma economia com crédito fácil e taxas de juros absurdas.

Ilustração: http://www.padero_rj.blogger.com.br/

quarta-feira, dezembro 08, 2010

A maturidade e os limites



Apesar do tempo ter passado e, hoje, ser um homem sexy, isto é, sexagenário, não fosse os problemas normais da idade, é fato que nunca antes me senti tão bem comigo mesmo até mesmo para perdoar meus erros e viver, dentro do possível, da melhor maneira. E devo dizer que, criado como fui, num tempo de grande repressão, com todos os problemas que, hoje, existem, sou um homem mais de hoje que de ontem. Ao contrário de muitos contemporâneos meus, não gostaria de voltar ao passado. Hoje, as facilidades da vida moderna, os computadores, os celulares, as bugigangas eletrônicas, a liberdade de opinião, os avanços da democracia tudo me parece melhor mesmo quando lamento algumas coisas perdidas que, invariavelmente, passam pela educação.
Entre elas três coisas, particularmente, me desgostam que são um sintoma da perda da tecnologia dos bons costumes, da delicadeza que, de certa forma, sempre foi uma marca mesmo dos brasileiros mais ignorantes. Uma deles é a assunção do politicamente correto que, para meu espanto, só funciona como uso político. Dizer certas palavras, contar certas piadas, que sempre serão motivo de riso, virou crime, porém, não é criminoso, por exemplo, a enxurrada de nomes feios que passaram a ser lugar comum. No passado até esculhambação era uma palavra horrorosa. Hoje parece infantil. A segunda é uma decorrência da primeira ou efeito. Que sei eu? Mas, não concordo, de forma alguma, com a ideia, que é quase unânime, da “cultura do coitadinho”. Por trás do crescimento da violência esta a ideia, para mim errônea, de que se alguém é criminoso foram às famosas “condições de vida”. Não acredito e mesmo abomino isto na medida em que, muitas vezes, outros tiveram condições piores e, no entanto, não são criminosos, logo, é para mim, uma questão pessoal. A culpa, creio, é individual. Há o que se chama de livre arbítrio.
Talvez a terceira coisa que muito me desgosta venha de que existe uma crença, quase generalizada, de que os pais não devem ser duros com os filhos. Não devem castigar e, pasmem, nem dar umas palmadas, hoje, se pode. Para mim esta crença costuma levar a família a ser permissiva, não cobrar, não exigir respeito, não exercer a autoridade parental. Isto contribui para a dificuldade que muitos pais têm de estabelecer as regras necessárias a uma educação saudável e eficiente, que construa relações de respeito mútuo e a noção de hierarquia dentro e fora da família. Talvez até tenha errado neste sentido por ter sido, mesmo com todo o amor e o respeito que meu pai me despertou, um libertário e, até certo ponto, um desregrado. Hoje, a maturidade me faz pensar que se deve ter um equilíbrio entre o afeto e o limite. Limite visto como uma fronteira que não deve ser ultrapassada. O limite serve para conter, para formar uma barreira de proteção, mas, não deve inibir a espontaneidade. Limite inclui saber dizer não, estabelecer regras e cobrar responsabilidade. Só com limites as pessoas podem obter o desenvolvimento de um senso de justiça, de respeito aos outros. No momento em que os pais deixam seus filhos sem limites e correções, tiram também a chance de desenvolver sua autonomia moral e cognitiva, não os preparando para a vida. É a falta de limites que proporciona o festival de má educação que se assiste nas ruas, no trânsito, no completo desrespeito em relação ao direito alheio que, diariamente, aumenta a violência contra todos nós. Reconhecer seus limites é uma questão de educação e de maturidade e deve ser a primeira lição de casa.

sábado, dezembro 04, 2010

A Política é Economia, mas,



A Economia é Política
Esta semana o Banco Central anunciou que passava a exigir o aumento do requerimento de capital das instituições financeiras dos atuais 11% para 16,5%, para a maioria das operações de crédito a pessoas físicas. Também foi anunciado o aumento de alíquotas de depósitos compulsórios, recursos que os bancos são obrigados a deixar no BC, e assim não podem usar os recursos para emprestar aos clientes. Não há a menor dúvida de que as medidas decorrem do susto com o endividamento que, segundo a Confederação Nacional do Comércio-CNC, em novembro, alcançou 59% das famílias. É preciso lembrar que o governo Lula praticamente dobrou a média histórica de crédito de 24% do Produto Interno Bruto-PIB para os atuais 47% que são um recorde desde que se acompanha a série histórica das contas nacionais.
Não se pode negar que este foi o grande trunfo eleitoral do governo Lula. A sensação de bem-estar que as pessoas sentem vem muito menos do aumento real da renda, embora ela exista, do que do aumento do consumo derivado, em especial, de que mesmo pagando 2,5 a 3 vezes o preço de um bem, hoje, as pessoas consomem mais em detrimento do futuro. Porém, o alto volume de crédito no país que, ainda mais nos últimos meses, se espalhou por todos os setores da economia, especialmente no financiamento de veículos, de bens duráveis e no setor da construção civil tem seu lado negativo que é o alto endividamento e, como os brasileiros, em geral, não controlam suas contas nem fazem planejamento financeiro o receio, por parte dos bancos e dos empresários, com 9% das famílias afirmando que não podem pagar suas contas, começou somente agora a preocupar o governo.
Sob o ponto de vista teórico as medidas tomadas em nome do controle da inflação são, efetivamente, corretas. Pode-se reclamar que vieram um pouco tarde na medida em que muitos consumidores já financiaram suas compras ao longo de novembro com a parcela do 13º, mas, não deixa de ser uma medida saneadora sob o aspecto econômico. Evita-se a inflação, por um lado, e, por outro, se acalmam os receios de que a inadimplência possa levar os bancos, principalmente os pequenos bancos, a terem dificuldades. Talvez um efeito colateral deste processo seja afetar um pouco as expectativas de vendas, contudo, será só um pouco mesmo, pois, as medidas levarão algum tempo para ter efeito. Isto talvez explique a demora do governo em adotar as medidas. Como é importante obter um crescimento do PIB substancial este ano para ter um comportamento fiscal mais ortodoxo no próximo, a visão de especialistas é de que se as medidas tivessem sido tomadas um mês atrás, por exemplo, os efeitos seriam muito fortes sobre as vendas de final de ano. Assim, fica claro que, pelo menos, no caso atual, a política se impôs à economia.