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sexta-feira, setembro 24, 2010

UMA BOA RAZÃO PARA NÃO SE ACREDITAR EM PESQUISAS

Em geral as pessoas não entendem nada de pesquisa. Com espanto, quando ainda era vivo, vi grandes nomes da política nacional, como Ulysses Guimarães ou mesmo Leonel Brizola, dizerem, por meio de arrodeios, que não acreditavam em pesquisas. No fim, apesar de serem homens de grande entendimento político, se comportavam como as pessoas comuns que não acreditam nas pesquisas ou por não serem entrevistadas ou por considerarem que o número de entrevistados é muito pequeno-o que não tem nada a haver. È fato que os eleitores, em geral, pouco conhecem de pesquisas eleitorais e costumam apenas ligar para os resultados divulgados. No máximo prestam atenção às informações sobre o número de eleitores entrevistados, a margem de erro e o intervalo de confiança utilizado. Para muitos é a margem de erro e o intervalo de confiança que garantem a fidedignidade da pesquisa. De qualquer forma a grande maioria sabe de pesquisa o que sabem da caixa preta de um avião, ou seja, que é uma caixa preta. Nem procuram saber mais. È tão cômodo quanto acender a luz sem saber nada a respeito de energia.
Isto não ajuda a acabar com o imenso preconceito que existe em relação às pesquisas eleitorais e a descrença nos seus resultados. A verdade é que a descrença-como acontece no momento atual- tem toda razão de ser. Não porque uma pesquisa bem feita, dentro da metodologia científica, não seja confiável, mas, a iniludível verdade é que a maioria das pesquisas não é conduzida de modo científico. A imensa maioria delas atende aos interesses de quem paga. Da forma como elas tem sido feitas não são organizadas para conhecer a realidade e usar a informação, mas, sim procuram substituir a própria realidade pela pesquisa, simulando a compreensão do que se desejaria que fosse a realidade. É ridícula, por exemplo, as atuais pesquisas que mostram que depois do escândalo atual da Casa Civil, Dilma só teria caído 1%, ou seja, dentro da margem de erro! Como há um Código de Ética do Estatístico, que estabelece a responsabilidade do Estatístico no uso da metodologia estatística, quem empresta seu nome a este tipo de pesquisa deveria ser punido. È claro que para provar que uma pesquisa assim não tem credibilidade é preciso gastar muito dinheiro, mas, deveria haver um acompanhamento da Justiça Eleitoral da forma como as pesquisas são feitas.
O aspecto legal das pesquisas, atualmente, é traçado pela Resolução nº 23.190/10, de acordo com a Instrução nº 127 do Tribunal Superior Eleitoral, porém, não se acompanha o aspecto metodológico que é “xis da questão”, apesar de ser complexo e envolver conceitos estatísticos, como: população, parâmetro, amostragem, amostra, amostragem probabilística, amostragem por quotas, estimação e outros. Não poderia a Justiça fazer, como faz, exigindo apenas por meio do inciso IV, do art. 1º, da Resolução nº 23.190/10, do Tribunal Superior Eleitoral, que as pesquisas sejam registradas no juízo eleitoral. Assim para cada pesquisa eleitoral se pede apenas o "plano amostral e a ponderação quanto ao sexo, idade, grau de instrução e nível econômico do entrevistado; área física de realização do trabalho, intervalo de confiança e margem de erro, porém, não se verifica a qualidade nem o respeito aos parâmetros traçados. Assim o registro é, de fato, um mero registro.
É preciso ver que o objetivo da pesquisa eleitoral é a determinação de uma estimativa pontual da proporção populacional de eleitores e a determinação de um intervalo de confiança. Mas, todo bom estatístico sabe que a metodologia estatística, a determinação da proporção populacional e do intervalo de confiança pode ser possível apenas se a seleção da amostra for aleatória. Sem a aleotariedade os resultados somente são válidos para os eleitores entrevistados. Ou seja, a pesquisa para ser boa não pode ter, como muitas vezes tem, uma amostra escolhida sem ser ao acaso. Uma coisa é sortear os municípios proporcionalmente; outra é escolher municípios de forma a privilegiar um candidato. Por exemplo, uma pesquisa feita em Machadinho fará do atual presidente da Assembléia, Carlos Neodi, proporcionalmente mais votado que Tiririca, o que não corresponde a realidade, embora ambos devam ser campeões de votos nas suas regiões. È fato que, para a pesquisa ser válida, como obrigatoriamente estabelece inciso IV, é exigido que se tenha margem de erro e intervalo de confiança da estimativa pontual da proporção populacional, daí, se conclui que a amostra usada em uma pesquisa eleitoral deve ser probabilística (aleatória), porque a metodologia estatística não determina margem de erro e intervalo de confiança para amostragem por quotas. Ou seja, na amostragem aleatória as unidades amostrais (no caso os eleitores) são selecionadas por sorteio aleatório e não escolhidas pelos entrevistadores, como na amostragem não - probabilística por quotas. Por que razão? A razão, sabe quem entende de estatística um mínimo, é que nas amostras não-probabilísticas, não é possível calcular margem de erro e intervalo de confiança. Apenas se estima empiricamente seus valores. Amostra por quotas, como tem sido feitas as pesquisas atuais, são não-probabilísticas. Este é o tipo de amostra atualmente usada por todos os grandes institutos de pesquisa para realizar pesquisas eleitorais. Em outras palavras, é uma grande contrafação. Desafio qualquer estatístico, mesmo sendo mais um analista de pesquisas e um curioso, do que, de fato, um perito no assunto, que me prove ser possível cálculo estatístico para obter o tamanho da amostra no caso de amostras não-probabilísticas. Por isto, calcula-se o tamanho para uma amostra probabilística e define-se que este será o tamanho da amostra por quotas. Em outras palavras, as pesquisas atuais são tão científicas quanto às previsões astrológicas dos jornais. Se duvidar, é capaz da astrologia acertar mais....

sábado, setembro 18, 2010

A crise é da educação



O que tem a haver o fato de que a influência dos intelectuais, das revistas e dos jornais diminuem quando, como agora, o Brasil pode chegar a eleger alguém sobre o qual se sabe muito pouco e o pouco que se sabe não a recomendaria para assumir um papel tão relevante? Por que as pesquisas, que não batem com a realidade que se vê nas ruas, dá a muita gente a impressão que haverá fraude nas urnas eletrônicas? Como é possível que uma Casa Civil da Presidência da República se transforme em centro de escândalos e não se veja nenhuma reação mais forte, nenhuma tentativa mínima sequer de culpar o dirigente maior? Qual a diferença entre isto e, por exemplo, o que aconteceu com Getúlio Vargas que suicidou-se apenas porque a crise bateu na porta da cozinha?
Bem há o conforto, a melhoria do crédito, a propaganda maciça que diz que tudo vai bem no melhor estilo George Orwell, os índices de popularidade de Lula da Silva e, como sempre lembram, num discurso já gasto que a internet, supostamente, teria introduzido a democracia, de forma que a informação, nos tempos atuais, seria acessível a todos, daí, que, se nas nações mais desenvolvidas o avanço da internet se tornou uma ameaça aos meios tradicionais de comunicação, no Brasil o problema seria maior ainda: os jornais perderam circulação, assinaturas e credibilidade. Isto é verdade, mas, apenas uma parte da verdade. Não é a internet que mata os jornais, revistas e a influência dos intelectuais. A verdade é que a cultura não influencia mais porque o país é analfabeto.
O maior e mais definitivo pecado de Lula da Silva é ter introduzido duas noções extremamente nefastas e deletérias. A primeira de que não tem importância roubar porque todo mundo rouba. E a segunda que não se precisa estudar porque pode-se alcançar qualquer coisa sem trabalho, sem esforço e sem educação e ele é a prova. O resultado é visível depois de quase oito anos de seu governo: no ano passado, apenas 5,7% dos brasileiros entre 25 e 64 anos de idade buscavam melhor o seu nível educacional. A informação consta da Síntese dos Indicadores Sociais de 2009 divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, para piorar, se informa que quanto mais se eleva a idade, menor é a frequência aos estudos. Ou seja, enquanto o resto do mundo procura desesperadamente se escolarizar quanto mais ficamos adultos menos queremos ser modernos, ou seja, estudar. Triste retrato de um país.
É aí que reside a crise dos jornais, das revistas, dos formadores de opinião. Não é a influência da internet que gera a redução dos pouquíssimos leitores tupiniquins, mas, é que a ignorância acredita, hoje em dia, que não se precisa estudar. O resultado é que o mercado editorial brasileiro, com uma população de quase 200 milhões de habitantes, vendeu apenas 25,5 milhões de livros em 2009, segundo a Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros). Um país continental cuja a economia é dezesseis vezes o mercado da Argentina tem um mercado que é ¼ do mercado argentino, estimado em cerca de 60 milhões de livros. E a análise deste mercado mostra que dos livros vendidos, em 2009, 17,7 milhões são livros didáticos ou de apoio, dicionários e atlas. As publicações literárias somam só 7,8 milhões. Os números são a prova cabal da falência do nosso ensino, de sua crise: dos milhões que aprendem a ler todos os anos só uma pequenina pare de torna um leitor real. São os analfabetos funcionais que pesam nas eleições e podem nos conduzir cada vez mais ao atraso.

sexta-feira, setembro 10, 2010

A quem serve os escândalos espetaculares?



Neste mundo atual onde as palavras tomaram rumos semióticos, que podem ser qualquer coisa distante do seu conteúdo original, já nem mesmo sei se existe mais esquerda ou direita, embora, a meu ver, ser de esquerda, mais do que nunca, é lutar por oportunidades iguais e por uma maior igualdade ainda que não seja mais o antigo sonho de criar sociedades planificadas que se transformaram, de fato, em prisões da liberdade política. Ocorre que, no Brasil, há certos eventos que estão se repetindo, sistemáticamente, e sempre em certas oportunidades e jamais contra certos grupos o que não deixa de criar a suspeita fundada que, se não o faz, como grande beneficiário e fiador do poder, teria que, obrigatoriamente, ter outro tipo de comportamento.
Agora mesmo, por exemplo, o governador do Amapá, Pedro Paulo Dias (PP), foi preso em Macapá, capital do Estado, durante a Operação Mãos Limpas, deflagrada pela Polícia Federal (PF). O objetivo da operação, segundo se anuncia, seria o de prender uma organização criminosa, composta por servidores públicos, agentes políticos e empresários, que praticava desvio de recursos públicos do Estado do Amapá e da União. Não faz nem quinze dias tivemos a prisão, em Dourados (MS), de 28 pessoas suspeitas de práticas de fraude à licitação, corrupção ativa e formação de quadrilha, entre elas o prefeito, nove vereadores e cinco secretários municipais. Ora, o que há de estranho em que se prendam pessoas que delinqüiram, que usaram o cargo que deveria ser utilizado em favor do povo para proveito próprio? Em princípio nada. Afinal criminoso, investido ou não, de cargo público é criminoso e, como tal, deve ser enquadrado legalmente. O que é ruim, em ambos os casos, é aspecto deletério que causa aos poderes, bem como a coincidência de que casos assim somente acontecem quando o governo federal se vê, como é o caso agora, as voltas com situações difíceis como a de explicar a violação de mais de 2 mil sigilos fiscais de pessoas a partir da Receita Federal.
O fato concreto é que, apesar do rumoroso caso, o maior escândalo político nunca antes visto neste país, o Mensalão não produziu nenhuma prisão em série, nada de espetacular e, na prática, somente quem pagou o pato mesmo foi Marcos Valério e seu advogados, meros operadores do esquema. Este é um fato concreto: não há petistas presos nem integrantes do esquema da base de sustentação do governo de um escândalo comprovadamente tido como o mais abrangente de nossa história. Este é um lado da questão. Outro é o fato de que os escândalos, e a ação policial, parecem somente ser eficientes quando se voltam contra os estados menos influentes ou os adversários. Por que será que os escândalos só espocam no Distrito Federal, no Mato Grosso, em Rondônia ou no Amapá? Certamente porquê, apesar dos inúmeros indícios de que assim não seja, o governo federal está povoado de anjos. Como a Polícia Federal é eficiente, comprovadamente capacitada, quando não se descobrem aloprados nem violadores de sigilos ou quem realiza determinados vazamentos, a impressão que fica é a de que as prisões e os escândalos espetaculares servem a determinados fins que estão muito longe de serem republicanos.