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quarta-feira, novembro 29, 2006

A INCIPIENTE ARTE DIGITAL

Um tempo, que me parece longínquo, me considerei um poeta. Uma ilusão talvez. Talvez nem mesmo existam mais poetas e a poesia seja um vicio do passado, de pessoas como o poeta Vinícius de Moraes, um Borges, um Neruda que fizeram com que as palavras contivessem emoção. A palavra, hoje, parece estar despida de sentimento, de teatralidade, de grandeza. Passou a ser um mero adereço do espetáculo. De certa forma a literatura, refém da vida, incorpora as novidades do cotidiano e não pode deixar de ter como matéria-prima a condição humana. Com as profundas mudanças tecnológicas a literatura também mudou, inclusive na forma de ser produzida. Lembro do escritor Joca Reiners Terron, autor de um caso clássico o seu romance “Hotel Hell”, sobre uma cidade degradada, que nasceu de seu blog (http://hellhotel.blogger.com.br/). Bem como livros que são, na verdade, posts de blogs, resgastes puros. Não parecem, porém distantes, na sua grande maioria, de sub-literatura com meu pedido de perdão antecipado para muitos bons intelectuais que os fazem. E, quando se trata de poesia, os produtos parecem piores, degradantes mesmo. Talvez, levando as ultimas conseqüências, a degradação da poesia seja a degradação da vida.
Do público é, certamente. E autor e público se modificaram com as múltiplas, as infinitas possibilidades tecnológicas. A interatividade, as obras coletivas e a comunicação instantânea até mesmo uma certa perda da autoria são fenômenos que ganham força hoje em dia. É possível que, como conseqüência das inovações, a poesia esteja migrando para outros espaços, a literatura mudando de forma e o sentimento de perda, de busca de uma poesia perdida não seja mais do que o anacronismo de um artista do passado que nem tomou consciência de que é um sobrevivente de um mundo que só existe ainda na sua memória. A Internet, imposição e progresso inevitável, com suas wikis e permissões facilitadas se tornou a grande mãe das idéias, a grande usina, a grande difusora de idéias, sejam boas ou não, com um amplo poder de comunicação e de mudança da produção, das técnicas e da estética.
Não vejo muitas coisas novas nem sequer novas técnicas na produção poética. A mídia e o público, com certeza, ficaram menos exigentes, embora existam núcleos muito intelectualizados e pouco influentes. Os recursos tecnológicos parecem ter encoberto a pobreza e até mesmo a miséria do conteúdo artístico. É possível que nos Estados Unidos ou em outros países desenvolvidos, o que se sabe que existe, por exemplo experiências com telas de textos programados, não necessariamente são bons exemplos de uma novidade em arte e nem no Power Point se vê um bom uso da técnica para a poesia. Os meios novos não tem sido bem utilizados para abranger o que se chama de arte ou da percepção do mundo dos artistas que parecem ainda pré-digitais. No fundo se existir a arte digital em literatura ou poesia parece ainda não ter um estatuto digno de ser percebido e difundido. A arte digital, pelo menos no que conheço, ainda me parece anêmica.

quarta-feira, novembro 22, 2006

AS FLORES DO EMPREENDEDORISMO

OU UMA REALIDADE EM MUTAÇÃO
Duas forças modernas praticamente desmontaram a capacidade dos trabalhadores de ter a mesma força de reivindicação do passado. A primeira delas foi a crescente utilização das máquinas nos diversos campos do fazer humano acabando com as tarefas repetitivas. Máquinas são, sem dúvida, uma solução muito mais prática, e confiável, para tarefas que exigem força, habilidade e que se repetem. A segunda foi a fragmentação da produção que, além de desterritorializar as fábricas, passou, por meio de redes, a aproveitar diversas formas antigas de trabalho como os dos free-lancers, o trabalho em casa, o trabalho parcial ou o pago por tarefa. Assim acontecem, ao mesmo tempo, duas condições que deixam órfãos populações inteiras que haviam desfrutado de certa estabilidade e poder contratual que, agora, se vêem desempregados ou obrigados a aceitar concessões ou situações precárias de emprego. Uma representada pela destruição de postos de trabalho (nas fábricas e escritórios) outra pela exigência crescente de maior escolaridade, pois o trabalho que se deseja, agora, é mental. Contra tais tendências não há como buscar abrigo no sindicato ou na lei. O sindicato porque se encontra esvaziado na medida em que o trabalhador não tem força para parar a produção e na lei na medida em que, como costume, tem que acompanhar as mudanças sob pena de penalizar toda a sociedade. Infelizmente o emprego da era industrial parece coisa do passado e, quem deseja sobreviver, tem que olhar para novas formas de criar riqueza buscando criar valor e renda.
No entanto o que se observa ainda é que mesmo as pessoas mais esclarecidas ainda pensam no presente com um olhar para o passado. Parecem, como observou certa vez Marx, pagarem, por não pensar, tributo aos mortos. É o que acontece comumente quando não compreendem que não bastam grandes projetos ou investimentos em infra-estruturas para criar desenvolvimento. Quando não compreendem que não é mais a indústria que gera empregos, mas sim o setor de serviços, a pesquisa, a tecnologia e o desenvolvimento de novos produtos. Impossível ter futuro sem conhecimento, sem educação, sem criar um ambiente que incentive o saber, a curiosidade, que crie nas pessoas o desejo de progredir, de buscar caminhos novos. Nestas condições não são pessoas que buscam empregos as que irão construir o progresso. São os empreendedores. Pessoas que desejam se arriscar, criar coisas novas, fazer seu próprio nicho. Este tipo de pessoas, porém não vicejam em ambientes burocratizados. São como flores que necessitam de ambiente propício, de um ambiente que, infelizmente, ainda não se construiu no Brasil de verdadeiro capitalismo. Um ambiente no qual o conhecimento, a criação de valor e o empreendedorismo sejam, realmente, valorizados.
Obs.: A ilustração é da notável artista sul-africana Georgia Papageorge.

terça-feira, novembro 21, 2006

A CAUDA LONGA

O jornalista Chris Anderson escreveu que 99% dos CDs vendidos no mercado norte-americano não são mais prensados e o mesmo ocorre na área de vídeo onde, dos 200 mil DVDs produzidos nos EUA nos últimos cinco anos, apenas 3 mil estão disponíveis nas locadoras do país. São dados semelhantes, colhidos no livro The Long Tail (A Cauda Longa), em que Chris analisa as causas e conseqüências da queda da chamada cultura dos hits (grandes sucessos) e a extraordinária ascensão de nichos de mercado altamente segmentados e personalizados. Para ele, o mais interessante é que o crescimento dos nichos de consumo não significa a morte dos mercados de massa. Na verdade implica numa modificação do varejo convencional e numa revisão estratégica drástica dado o aumento da oferta gerada pela internet e direcionada a mercados segmentados. È fato que o caso da música é exemplar. Até a virada do século, as lojas de CD eram as únicas com espaço físico suficiente para estocar uma maior variedade de títulos e estilos musicais. Como a venda era altamente concentrada, as gravadoras se acostumaram a investir nos grandes sucessos, que eram rapidamente consumidos no varejo, evitando que as lojas acumulassem grandes estoques. Caso semelhante ocorre com os CDs que também ilustra a lógica de funcionamento do varejo quando a oferta é limitada pelos custos operacionais. Um mercado como este possui a inevitável tendência de criar grandes sucessos pela homogeneização do consumo. Em mercados assim, com o comércio eletrônico, as operações ficaram descomplicadas. Não mais se empacota, transporta e estoca CDs. As músicas agora são multiplicadas, transmitidas e reproduzidas de forma digital, com custos praticamente nulos de armazenagem e distribuição. Com isto obras mais diversificadas, voltadas para públicos menores e especializados se tornam competitivas em termos de preços e a oferta se torna infinita.
Não se tem ainda uma conseqüência final do fenômeno que está sendo estudado por especialistas num novo livro, chamado de Cauda Longa 2, na qual se defende que a soma dos mercados segmentados em determinados setores pode produzir receitas superiores às de uma rede de supermercados como a Walt-Mart. A questão é saber que ramos do varejo se adaptam melhor ao processo da Cauda Longa e qual a rentabilidade mínima para garantir a sustentabilidade de um site de comércio eletrônico. Não se trata de uma tarefa fácil nem que seja resolvida logo, mas já existem avanços neste sentido. O certo é que o fenômeno da cauda longa é uma característica dos nossos dias.