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segunda-feira, outubro 26, 2009

ACIMA DO BEM E DO MAL



Se há uma constatação ultimamente sobre o comportamento de Lula é o de que, para quem não lê nada, parece que ele andou lendo a Bíblia. No entanto, como parece que faz parte do seu comportamento e de seu partido, ele fez dela uma leitura muito peculiar. Assim, o neo-divino-sindicalista se apresenta como quem abriu o mar que separava o Rio de Janeiro das Olimpíadas, faz a água se multiplicar no São Francisco como meio para que se multipliquem os peixes dos votos, ceia com os neo-apóstolos do PMDB para selar uma aliança para 2010 e, num sincretismo inédito, até tenta conciliar Jesus Cristo com Judas para explicar suas laicas razões para uma coalização tão esdrúxula, pelas características da política brasileira, que, pelo que deixou entrever, se Jesus Cristo tivesse que trilhar seus caminhos teria que fazer aliança até com o diabo. Deus me livre de tentar explicar ou criticar tão complexas elucubrações, mas, seria bem melhor do que utilizar metáforas religiosas distorcidas, se Lula, que é adepto do simplismo em tantas coisas, também o fosse na questão do bem e do mal, na questão da ética que, como bem lembrou, de forma até suave, Dom Dimas, não permite dualidade nem interpretações, ou se é puro ou não é. E, no caso de Lula, parece fora de questão que se juntam os lados santos com outros tão sombrios que a sombra do diabo parece muito maior.
Num balanço o quanto possível isento Lula fez alguma coisa em dois governos? Fez. Não sejamos injustos, apesar de que sua popularidade atual ser feita mais dos erros que dos acertos, de uma propaganda consistente, centralizada, contínua que não encontra adversários na medida em que as forças de oposição, em especial os sindicatos, foram calados pela cooptação e a imprensa, que o governo alega ser contra ele, é, fundamentalmente, monolítica e acritica na difusão de seus “memoráveis” feitos a ponto de quem aponta os problemas de má execução governamental, de aparelhamento e de uso da máquina ou de trapalhadas na área internacional como o apoio a Chávez, os erros com a Bolívia e Paraguai e o monumental tropeço de Honduras recebam a pecha de antinacionalistas ou de “direitista”. È tão flagrante o cerco à imprensa que será impossível, mesmo entrando no Google, encontrar uma foto de Lula com José Dirceu ou com Delúbio Soares. Por que será? Ao menos, na publicidade parece que o “puro” se afasta dos pecadores.
Há, porém, fatos que não se pode apagar. A grossa bandalheira do Mensalão é um deles. A união com as figuras que demonizou no passado, como José Sarney, que sustenta na presidência do Senado, o apoio a figuras como Fernando Collor, Renan Calheiros, Jader Barbalho ou Romero Jucá ou a necessidade de esvaziar comissões parlamentares, como as da Petrobras ou do MST, são mais importantes que as reformas necessárias para o país, que as ações que poderiam melhorar nosso futuro. Tudo se obscurece diante do único plano real: eleger o sucessor, ou melhor, a sucessora. O grande problema é que, para ser o “divino” Lula queimou todos os seus aliados, como Zé Dirceu, Mercadante, Antonio Palocci e tantos outros. Pegou o possível que é Dilma, mas, será preciso um milagre de verdade para soldar na marra as barganhas e conchavos que se fazem necessário para seu projeto ter o mínimo de viabilidade. De qualquer forma vai passar o seu último ano não querendo consertar o país e sim querendo submeter o país à sua vontade. Não parece ser uma tarefa de quem trabalha pelo bem, mas, como se sabe os deuses, mesmo sindicalistas, se consideram acima do bem e do mal.

quarta-feira, outubro 14, 2009

POR UMA NOVA POLÍTICA PARA A AMAZÔNIA



Copenhague pede um ponto de inflexão
Em dezembro próximo se realiza a Conferência de Copenhague, na Dinamarca, cujo principal objetivo é o de atualizar as decisões tomadas, em 1977, em Kyoto, no Japão, quando os países participantes da Convenção do Clima iniciaram uma tentativa de evitar o aquecimento da atmosfera e as mudanças climáticas que, naquela época, já apresentavam os sintomas que, hoje, são muito mais visíveis e já era claro o papel fundamental da queima dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás) como uma de suas causas. Ocorre que uma coisa são as boas intenções; outra é, malgrado elas, o desprendimento necessário para reduzir os padrões de riqueza e de consumo ou encontrar substitutos adequados (e econômicos) para as formas vigentes de energia. Um balanço evidente é o de que somente um grupo de países europeus levou a tarefa a sério. E os países em desenvolvimento, os denominados emergentes, em especial a China, Índia e o Brasil, sempre tiveram mesmo como meta o desenvolvimento (crescimento melhor definiria a meta) do que diminuir as emissões e prejudicar o aumento dos seus produtos internos. O certo é que se avançou muito pouco, apesar de se constatar que com os avanços da tecnologia se produz muito mais com menor gasto e também se usa muito mais fontes de energia renováveis, porém, o esforço ainda é diminuto em relação aos danos que se causa ao planeta.
Claro que não é um esforço simples nem fácil. Olhando para o passado se vê que os países ricos poluem a mais de cem anos e que só agora os países em desenvolvimento se tornaram emissores importantes, daí o argumento, até certo ponto lógico, de que é injusto exigir que estes países reduzam as emissões, exceto se pagos pelos ricos. A lógica termina de ser lógica quando se verifica que, ao poluir, estamos prejudicando a nós mesmos, logo não se trata de uma tarefa dos outros, mas, nossa na medida em que a questão é de sobrevivência mundial. Também os tempos são outros. Quando os países desenvolvidos poluíram não tinham a consciência que existe hoje. No entanto, apesar da entrada no palco muito depois, os emergentes respondem atualmente por metade das emissões de gases de “efeito estufa”, ou seja, a participação dos países em desenvolvimento é essencial para qualquer esforço sério de melhoria climática.
É preciso que haja, por parte de todos, um maior comprometimento para que se reduzam as emissões para algo entre 25% a 40% até 2020, o que é uma meta factível, e a Conferência de Copenhague pode ser um marco desta mudança que deve preencher o fosso entre discurso e ação. O Brasil deve ter um papel maior e deve ultrapassar o discurso que tem sido sua única contribuição real. Neste sentido é preciso rever, em primeiro lugar, sua política ambiental para a Amazônia na medida em que é o desmatamento nossa fraqueza maior e este não será, como já se comprovou, reduzido efetivamente com a mera ação repressiva. É preciso mudar a política ambiental para a Amazônia e prover meios para que haja preservação sem impedir a sobrevivência e o desenvolvimento de sua população.