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terça-feira, dezembro 30, 2008

REFLEXÃO DE FIM DE ANO



Os bons navegadores-dizem os velhos pescadores do meu perdido Ceará-são como os rios que contornam os obstáculos, simplificam a vida. Assim, logo depois de um momento em que, pelo menos em tese, deve ser de renovação da esperança, de renascimento, de lembrar que Jesus, seja santo, filho de Deus ou mito, nasceu numa manjedoura para nos salvar, não é hora de ficar chorando as pitangas ou lamentando os acontecimentos. A vida é bela, principalmente pelo inesperado. Por ser uma gangorra onde os sem memória e os sem escrúpulos sempre pagam pelo que fazem quando pensam que são espertos. Uma nação, é preciso saber, não se faz com discursos, espertezas, mistificação. Isto é o auto-engano. Uma nação se faz com pessoas que respeitam as regras, que compartilham projetos, ideais e criam um grau de confiança mútua nos quais as leis são simples confirmação de uma forma de viver que se vive.
Vivemos tempos sumamente interessantes nos quais parece ser impossível ser alguém socialmente sem se deixar vencer pelas teses vigentes de que o que vale é o poder a todo custo ou o ter a qualquer custo também. Até nas novelas globais os mocinhos, agora, são bandidos sejam da alta, da média ou baixa camada. Nunca antes neste país a falta de educação, de respeito aos valores humanos e ao bom comportamento social estiveram tão em alta enquanto se tecem loas aos “melhores índices econômicos de uma década”. Efetivamente não há nada de muito novo no que acontece. Estamos numa época em que os mais velhos, abusados e maus costumes fazem os novos dias. Numa época em que as palavras perdem o sentido para coonestar a farsa dos bons tempos que a mídia propala, mas que não chegam, de fato, ao povo, que iludidos por migalhas e pelo alargamento do crédito se embalam num consumismo sem base, que, como corolário, deve trazer, no futuro, somente dor e desespero.
A verdade verdadeira é que, por mais que a luta tenha sido grande e o caminho árduo, nós mudamos muito pouco do que herdamos de nossos pais. Pode-se até dizer que “ainda somos os mesmos” apenas vivemos um pouco diferentes e mais rápidos. É a certeza de tal rapidez que me embala nestes dias que são tão antigos e, ao mesmo tempo, tão novos. Já existiram inimigos, verdades e muros tidos como eternos que, como por encanto, sumiram e são, hoje, só lembranças. Este tempo atual, com todas as suas nuances de engano e de metamorfose, também irá passar. E é belo saber que os Judas, por mais punhados de moedas que recebam, não escapam do remorso e da história que, embora escrita pelos vencedores, somente recolhe os que resistem, os que lutam sempre, os indispensáveis. A vida é bela. A vida é renovação. E a renovação como o tempo é irreversível. Os ventos da liberdade e da consciência sempre soprarão para o lado da verdade de forma, companheiros, que espero, luto, sonho com o amanhã melhor. Se há uma coisa que é imprescindível não é ganhar, mas sonhar pela esperança que um dia há de colorir a vida depois dos tempos da escuridão. È imprescindível sonhar. E, mais ainda, sonhar o sonho impossível de um amanhã de paz, de liberdade e de democracia.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

A LACUNA DA GRANDE TEORIA



Pós-Modernidade e teorias

O conceito de modernidade, sem dúvida, aparece inúmeras vezes em Baudelaire que a vê como "O transitório, o fugaz, o contingente, é a metade da arte, cuja outra metade é o eterno e imutável", de forma que a experiência moderna se move entre os dois pólos de referência. Por suposto, os que lhe seguiram, traçaram a pós-modernidade como o lado fugaz e contingente da afirmação de Baudelaire, ou seja, no fundo a pós-modernidade não seria algo inteiramente novo com respeito à condição moderna, mas, sim o seu aprofundamento. Na prática, invés de ruptura entre os dois conceitos há continuidade na medida em que, em ambos, se percebe que a efemeridade, a transitoriedade e a fragmentação são próprias de ambas as épocas.
O que se observa, quando se compara as categorias do modernismo e pós-modernismo, é que ambas são pouco explicativas fora do conceito de capitalismo. Na verdade, a rigor, a modernidade que os pós-modernos pretendem transcender é apenas a falta de explicação para fenômenos fragmentários que nem o estado da arte nem a razão instrumental conseguem enquadrar nos conceitos que manejam e se cria, até mesmo, uma aversão por qualquer projeto que procure uma explicação universal através do desenvolvimento da razão e da ciência por conta da incapacidade de ter uma teoria globalizante. A forma, então, de escapar da incapacidade da razão é a criação de teorias minimalistas, de metadiscursos ou a própria negação da ciência que demonstram somente uma crise da filosofia iluminista.
Neste particular, ressalte-se que, quando ainda se falava de modernidade, Adorno e Horkhemeir já ressaltavam a traição aos ideais, inclusive marxistas, na medida em que um projeto de libertação tornara-se um sistema de dominação. Outros, como Nietzsche, Shelley e Byron propunham a experiência estética subjetiva frente à razão objetiva como forma de fugir do dilema, mas, perspicaz, Benjamin ressaltava que metanarrativas sobre o capitalismo não são necessariamente excludentes com o reconhecimento do valor da fragmentação nem iluminadoras.
O problema real continua a ser que a fragmentação, a especialização, a diversidade, enfim os elementos que configuram esta coisa opaca e multifacetada que se convencionou chamar de globalização nos impede de ter uma visão dos processos gerais nos quais nos movemos e obstrui o pensar sobre o capitalismo, inclusive por ter explodido certos conceitos marxistas que seriam essenciais para se ter uma visão global. Isto é o que leva a muitos dos grandes pensadores, como por exemplo, Foucault e Lyotard, a um anarquismo estetizante e, mesmo, ao niilismo. É a falta de categorias com que pensar a realidade e a assimilação das diferenças pelo capitalismo que impõe o modismo também nas ciências como uma forma de ocultar e de renovar pela conservação. Contra o neoconservadorismo, o niilismo e a falta de pensar, que, no fundo, são o pós-modernismo, somente é possível o combate com uma grande teoria que, infelizmente, não se enxerga no horizonte.