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domingo, novembro 24, 2013

O Brasil é um enorme vácuo


O Brasil, apesar de ter avançado em muitos pontos, passa por uma crise sem precedentes na sua história. As suas elites atuais (inclusive as que dizem ou mesmo até pensam que não são elites) se mostram incapazes de criar um projeto viável para o País. O que se lê (ou vê e ouve) no noticiário reflete a pobreza das expectativas e da mais completa falta de visão futura: são manchetes de crimes, a discussão tediosa e inútil sobre os mensaleiros ou a falsa polêmica criada em torno de um cartel do passado, talvez, gerada para distrair dos crimes presentes. Tudo uma fuga da realidade, da necessidade que o país impõe de mudar, de se atualizar, de cuidar de ter desenvolvimento e competitividade, o único caminho possível para um futuro melhor.
Vivemos tempos desinteressantes. Há uma evidente ruptura entre a sociedade e as instituições com os principais personagens no palco dando espetáculos solos de falta de visão e de que consigam compreender um mínimo dos tempos em que se vive. Os partidos políticos são o reflexo da falência do sistema apresentando todos os mesmos, e esfarrapados, discursos de que “ouvem as ruas” quando somente procuram, da mesma velha maneira, manter ou alargar o poder. Cessado o susto, iniciado em junho com os movimentos nas ruas, o que se vê é que tudo está se passando como se nada houvesse acontecido. Apenas os perdedores, governos, políticos, partidos, fingiram fazer algum tipo de esforço para minimizar os estragos com os olhos postos na próxima eleição.

A minirreforma (não riam, por favor) eleitoral transformou-se em minúscula. Um esparadrapo no buraco por onde jorra a lama do poder econômico que a tudo corrompe sem ser, nem por um segundo, perturbada. Não houve, rigorosamente, nenhuma proposta séria de mudança. Nenhum político tomou qualquer atitude ou propôs alguma medida que possa ser considerada um sinal de que há a determinação da mudança, o desejo da mudança. Os problemas brasileiros prosseguem sendo empurrados com a barriga. As receitas, as velhas e gastas receitas, são as mesmas. Vamos ter mais do mesmo em 2014. O problema é que o vácuo, hoje os cientistas constatam, não é um vazio. E o otimismo de certas análises tem uma alegria falsa do Baile da Ilha Fiscal. Parece que até mesmo o cálculo político está impregnado da noção de que é possível continuar tudo sempre da forma que está. E a inação nunca foi o caminho das mudanças. E do vácuo, infelizmente, alguma coisa se cria mesmo quando não há quem dê uma direção ao que vai nascer. Estamos, pois, à deriva, esperando que, por milagre, o melhor aconteça. 

sábado, novembro 09, 2013

Os sonhos de Eliodora


O professor, hoje Mestre, Maurílio Galvão, é um amigo de longa data que tem muitos serviços prestados à Rondônia, embora as pessoas lembrem mais do tempo em que foi administrador de Ariquemes, ou melhor, prefeito mesmo, quando implantou uma parte do que, agora, já se tornou uma cidade de porte médio, se faz preciso salientar sua importante participação, não somente na implantação da base do Estado de Rondônia, bem como por ter sido um dos professores que iniciou a Fundação Universidade de Rondônia-UNIR. Aliás, antes da nossa universidade, porque Maurílio ensinou no CESUR, núcleo que deu origem a ela. A família Galvão tem seu passado, pelo que, até então, sabia, ao Distrito Federal. De lá veio o próprio Maurilio e morava sua mãe, que por lá viveu até os cem anos e faleceu recentemente. Para minha surpresa Maurilio me oferta um livro de outro membro da família, Marlene Galvão, que li, sofregamente, para descobrir que as raízes familiares dos Galvão estão fincadas também em Tocantins.

A obra de Marlene “Os sonhos de Eliodora”, editado pela Ícone Gráfica e Editora, apesar da forma simples e direta em que foi escrita é um excelente testemunho, de vez que, mesmo utilizando nomes ficcionais, se percebe ( e a autora confirma) que se trata de uma recuperação da história familiar com um adendo saboroso que enriquece sobremaneira o livro: o registro da cultura e do linguajar de Tocantins, em especial das cidades de Taguatinga e Ponte Alta do Bom Jesus. Marlene Galvão consegue o feito de transformar o cotidiano de um povo, e suas lembranças do passado, numa história saborosa de ler que, além de nos brindar com o sotaque da região, nos faz percorrer as crenças, as premonições, os sonhos, as festas e mitos que somente se perpetuam pela manutenção de padrões de comportamentos que formam o que denominamos de raízes culturais. Neste sentido, para muitos que viveram nesta região, o livro tem o sabor extra de uma recordação de bons tempos, de festas que, pelas mudanças, dificilmente irão resistir, daí que também o livro contribui para a manutenção da cultura tocantinense.

Certamente quem tiver um pezinho no sertão, e quase todos nós brasileiros temos, ao ler o livro de Marlene Galvão irá se identificar com a vida simples, com os cantos de galos, fatos, comidas e, para quem vive em regiões onde é uma tradição, reviver o “manto vermelho sagrado com a pomba branca retratando o Divino Espirito Santo”, que, para quem conhece, é uma festa inesquecível na qual os romeiros entoavam seus cantos misturando a fé com a folia num momento que une reflexão, alegria e crença. Sem dúvida, o livro de Marlene Galvão pode até não fazer um grande sucesso, por sua própria opção regional e de ser uma memória de uma história de família, porém, é uma leitura fácil, gostosa e que, ao fim, nos deixa com um desejo de quero mais e a sensação de que, muitas outras pessoas, deveriam fazer o que ela fez tão bem: registrar a história de uma época no seu cotidiano. Assim, com méritos, escreve ficção e história dando sua contribuição à cultura de nossa região.

sábado, novembro 02, 2013

As incertezas da economia


Há entre os economistas, que se dedicam a analisar o País, quase um consenso de que falta coerência à política econômica atual que oscila entre esforços para criar uma taxa mais alta de crescimento e o combate à inflação, que, pelos aumentos sucessivos da taxa Selic, ultimamente vem ganhando. Aliás, uma vitória de Pirro, na medida em que fará com que, este ano, o Produto Interno Bruto-PIB, tudo que se fabrica no País (bens & serviços) durante o ano, tenha um crescimento abaixo do esperado, que já foi 4% nas contas governamentais, e, hoje, na estimativa do mercado, se crescer muito, poderá, no máximo, chegar aos 2,5%. Com certeza, o amortecimento da economia, no final de 2011, com reflexos até agora, adveio de um excessivo rigor na aplicação de taxas de juros mais elevadas que, tem como efeito colateral, o aumento da dívida pública e do endividamento de empresas e famílias.  O que ainda mantém o otimismo moderado do mercado é o fato de que o ritmo da queda do emprego esteja sendo menor do que o da produção. É preciso lembrar, aqui, que, em 2010, ainda com Lula, foram criadas 2,136 milhões de vagas com carteira assinada, um recorde. Em 2011, quando a presidente assumiu o comando, a oferta caiu cerca de 27%, para 1,566 milhão de postos. Como resultado dos erros de 2011, em 2012, com a atividade econômica perdendo mais fôlego ainda, a abertura de vagas desacelerou, sendo abertas 1,3 milhão de empregos formais. As previsões mais otimistas acreditam que este resultado se repetiria no final de 2013. Apesar de menor, a geração de emprego ainda pode ser considerada boa, capaz de segurar a taxa de desemprego em níveis baixos, porém, a dúvida dos economistas é até quando. Um sintoma foi o baixo crescimento da demanda por empregos temporários neste final de ano e a perspectiva de que o percentual dos que ficarão empregados, que sempre esteve na faixa dos 20%, deve ser reduzido para um patamar entre 12 a 15%. A maior parte dos empresários, apoiados por análises de seus auxiliares, afirmam que, se os custos diretos e indiretos associados ao emprego formal não forem atacados, é grande a possibilidade da presidente Dilma Rousseff terminar o seu governo com o mercado de trabalho com um desempenho francamente ruim. O que vai determinar isto serão os próximos meses, pois, se a economia se recuperar, são maiores as chances do mercado de trabalho continuar dinâmico. Caso contrário, a tendência do emprego será a de continuar a despencar.
O que se verifica é que o Brasil corre riscos, nos próximos anos, de ter um desempenho mais fraco no mercado de trabalho, com efeitos fortes sobre o emprego e renda, se a economia continuar, como está patinando e, sem uma recuperação mais robusta. Os sinais de exaustão do modelo baseado no consumo e no crédito ficaram mais evidentes, neste segundo semestre, sem que o governo consiga dar uma resposta adequada à dificuldade de recuperação da economia. Se, no começo do próximo, persistirem os mesmos resultados, as perspectivas para 2014/2015 tendem a apontar para o agravamento do quadro, com a continuidade de níveis de crescimento medíocres e uma maior queda na geração de empregos.