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quarta-feira, março 13, 2024

OS ORIXÁS EM CORDEL DE BULE-BULE

 

Quando conheci Antônio Ribeiro da Conceição, o grande mestre baiano Bule-Bule, ainda estávamos no século passado e ele fazia dupla com um outro nome, também famoso, Antônio Queiroz, que fizeram em conjunto o disco “A Fome e a Vontade de Comer”. Em Rondônia, fiz contato com eles em Porto Velho, trazidos por Luiz Malheiros Tourinho. E tive o prazer de vê-los cantando juntos, fazendo repentes e até compuseram uma música sobre o candiru, este peixinho capaz das maiores proezas em busca de um buraco. Este ano, depois de longo tempo, graças a existência do celular, Bule-Bule me liga e renovamos a saudade dos tempos em que, a meu pedido, cantou uma de suas mais românticas canções. Se reatar a amizade com esta lenda baiana já foi uma benção de Deus, então para melhorar muito mais o ano, ele me enviou suas produções. A maior parte delas são literatura de cordel, caminho pelo qual enveredou- e como tudo que faz-com enorme sucesso. Seus livros “Um Punhado de Cultura Popular”, “Rodolfo Coelho Cavalcante, Castro Alves e Outros Temas” são bons exemplos de sua lavra. Porém, sua produção é vasta e compreende muitos temas como “O violento Combate de Samuel Badulaque e José Cafussu contra o Tirano Memeu de Cazu” ou “A bem-Aventurada Santa Dulce dos Pobres: Irmã Dulce da Bahia” ou “Quatro Almas e Um Destino”.  Não há como citar todas, mas por aí se tem uma ideia de sua obra. O grande presente que me foi ofertado, entre outros, é a obra “Orixás em Cordel-Edição Ampliada”, uma edição primorosa da Tupynanquim Editora, com gravuras de Klévisson Viana. Trata-se, como afirma Marco Haurélio, um professor poeta pesquisador de cordel, da “mitologia dos orixás vertida em uma grande e coesa antologia para o cordel”. A literatura de cordel é uma arte muito popular no Nordeste e, sem dúvida, ainda há de ser muito mais valorizada do que é, porém o grande mérito do filho do sambador “Manoel Jararaca” é unir as lendas e os mitos, com muita graça e talento, em poemas de cordel que resgatam as raízes da vida dos terreiros. Um exemplo são os versos:

“Primeiro nasceu Xangô,

Oiá, Ogum, Ossaim,

Obaluaê depois,

Os Ibejis pra dar fim

À solidão de Iemanjá

Olodumaré quis assim.”

Ou neste outro:

“Mas, com a benção de Oxalá,

Exu teve amparo e fama,

Fortuna, prestígio e glória,

Bom projeto, ótimo programa,

É comandante de estrada,

Manda na encruzilhada

E um grande público o ama”.

Sem dúvida também um grande público deve amar as obras de Bule-Bule. Ler sua obra sobre os orixás me levou a recordar de Baden Powell com seus afro-sambas. A correlação tem sentido: para a literatura de cordel este livro sobre os orixás cria, como os afrosambas, uma vertente especial. Ave! Bule-Bule! Que os orixás te deem mais ainda inspiração para novos voos tão belos!

A INADIÁVEL NECESSIDADE DE INCENTIVAR A INDÚSTRIA NAVAL E A MARINHA MERCANTE

 


O Brasil é um país muito rico e, mais que rico, generoso, muito generoso com os outros países. Não falo apenas pelos investimentos do BNDES na Venezuela ou em Cuba, mas também com sua generosa relação com a China, em especial, e também com a Coréia do Sul, onde a Petrobras desenvolve projetos que beneficiam aqueles países. Um exemplo recente vem de Yantai, na China, onde foi construído o FPSO (Floating Production, Storage and Offloading, plataformas de processamento e produção de petróleo e gás) Marechal Duque de Caxias. O nome é de um herói nacional e a plataforma foi encomendada pela Petrobras para ser usada no pré-sal na Bacia de Santos. É preciso ver que de cada FPSO construída no exterior significa a perda de cerca de 6 mil empregos diretos e indiretos internos. E para um governo que diz apoiar a indústria naval brasileira pode-se ver a contradição, quando neste tipo de indústria especializada, um salário médio é de R$ 5 mil/mês, ou R$ 65 mil/ano. Isto significa a perda de R$ 390 milhões por ano apenas em salários. Encargos e benefícios representam uma perda adicional de R$ 425 milhões anuais. No total R$ 815 milhões por ano, fora gastos com seguro-desemprego, auxílio-doença etc. Em 3 anos, o prazo da construção, pode-se estimar que foram perdidos quase R$ 3 bilhões. E isto, de uma FPSO somente. Sem contar que não são apenas as perdas de postos de trabalho. Há outros, tão grandes quanto, como materiais e serviços não comprados no Brasil. E ainda os que são difíceis mensurar, como perda tecnológica. E, pasmem, que a plataforma Duque de Caxias utilizará uma tecnologia de separação em alta pressão (HISEP) desenvolvida e patenteada pela Petrobras. Na divulgação do FPSO, o grupo malaio MISC fala da tecnologia sem mencionar que esta foi desenvolvida pela estatal brasileira. Para um governo tão estatista, que defende tanto a nacionalização de empresas, o fato se reveste ainda de uma questão mais grave que é a de não se puder alegar a questão da competitividade ou rapidez na construção local. Inclusive, hoje em dia, países da Europa e da Ásia também não conseguem competir com a China, porém criaram mecanismos que garantem que a construção de determinados tipos de embarcações seja feita localmente, mesmo a um custo mais alto, garantindo para sua indústria encomendas, emprego e renda para a população. Até mesmo os  EUA pode ser apontado como um exemplo, pois qualquer navio, para operar nos portos e na costa norte-americana, deve ser construído nos EUA e ter bandeira americana, devido ao Jones Act, um mecanismo de proteção centenário. Isto tem uma razão lógica: a indústria naval e offshore é considerada de importância estratégica e é apoiada e incentivada pelos governos, inclusive por sua importância econômica. E o Brasil, na contramão da história, prossegue sem ter uma indústria naval e uma marinha mercante desenvolvida. É preciso estimular, por meio de políticas de Estado, a construção naval e a marinha mercante, de vez que as políticas nacionais precisam estimular tanto a indústria naval quanto  a navegação de longo curso e incentivo ao crescimento da bandeira própria, na cabotagem e na navegação interior, para não dependermos apenas das megatransportadoras globais que dominam o transporte marítimo internacional.

 

sexta-feira, janeiro 19, 2024

ENSINO À DISTÂNCIA É FUNDAMENTAL PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA

 


O ensino brasileiro, todos sabem, passa a muito tempo por uma crise. Embora o número de vagas nos cursos públicos tenha aumentado isto, sem dúvida, se fez em detrimento da qualidade. E, nós, professores, constatamos que, a cada ano, recebemos turmas com uma menor quantidade de alunos e com problemas de entendimento que, por mais que se queira negar, provém do fato de que foram afrouxados os sistemas de avaliação e de entrada no ensino superior. A crise, no entanto, ultrapassa isto e se desenvolve em cima de que enquanto as universidades ficam, cada vez mais, burocráticas, o mundo se torna mais flexível, fragmentado, digital e especializado. Mais: na medida em que o diploma não é mais garantia de melhoria econômica e de emprego o ensino superior perde atrativo. Inclusive, a evasão é enorme porque os alunos de hoje, práticos e com as dificuldades econômicas, fazem cálculos: gastam somente, por exemplo, para ir a Universidade de Rondônia, 13 quilômetros na BR, no mínimo, se de ônibus, R$ 225, 00 por mês, sem contar que lá terão que gastar com alimentos, o que é muito mais caro do que a mensalidade de uma formação por EaD.  Esta é uma das razões-quase todas as federais são distantes-pela qual, principalmente a partir da pandemia de Covid-19, o ensino à distância aumentou enormemente e se tornou maior do que o presencial. E com a grande vantagem de que é o ensino que se adapta ao aluno e não o contrário. As nossas universidades estão paradas no tempo, sem aparato tecnológico e deveriam mudar, inclusive a oferta de formações e disciplinas. Não há clima para isto por conformismo e conforto. É preciso lembrar que, entre os direitos da Constituição de 1988, ficou estabelecido que a educação, como um direito social, deve assegurar a liberdade de iniciativa privada, desde que sejam respeitadas as normas gerais e a qualidade do ensino público. Isto implica em que a educação, um direito fundamental, deve ser acessível para todos e de qualidade, independentemente de ser público ou privado, presencial ou à distância. Os cursos de EaD possuem práticas presenciais, muitos deles mais do que exigido legalmente, e qualidade. Além de que, para muitas localidades, são a única forma de acesso a uma educação melhor.  A questão não é de ser presencial, ou não, mas de ter qualidade e é ao MEC que cabe regular e avaliar a qualidade. E há muitos cursos de EaD cuja qualidade é muito melhor do que muitos cursos presenciais. A questão é que seja qual for a modalidade precisamos é de ensino de qualidade para todos e o aluno, ou profissional, deve ter a liberdade de escolher a modalidade que quiser. É preciso sim que o ensino mude, se adapte a uma nova realidade e se torne flexível. Não há espaço mais para o ensino ter uma ótica só e ficar indiferente ao que acontece na sociedade. Não precisamos de mais regras e sim de criar formas do ensino ter a qualidade que deve ter e o ensino à distância é um meio indispensável para a melhoria do ensino brasileiro.

domingo, dezembro 31, 2023

UMA REFLEXÃO SOBRE AS CRENÇAS

 

É um processo quase recorrente, e do qual não se escapa, o fato de que, no final do ano, sempre acabamos fazendo um balanço e ficando meio filosófico. E, com os anos que passam, é normal também que se fique mais reflexivo, de forma que me peguei pensando sobre as crenças e a sua força. Que não se pense, porém que as crenças sejam coisas de religiosos. Ah! Quanto engano! O que tenho observado é que os maiores crentes são aqueles que, longe se se apegarem a uma cruz ou mantras, de fato, creem, piamente, que são racionais, críticos e, acima de tudo, científicos!!! Afinal uma das grandes dificuldades de combater as crenças é que os crentes não tem a menor consciência das crenças que possuem e, na sua grande maioria, alegam a ciência como base de suas convicções e argumentos. Um grande sinal da crença reside, justamente, em que, muitas vezes, o pensamento e a ação do crente são completamente dissociados. Nos tempos recentes, por exemplo, os maiores crentes que conheço são extremamente capitalistas nas suas ações e, no entanto, são propagadores e adeptos de partidos e teorias socialistas que criam uma contradição de personalidade tão grande que só os próprios não percebem. Jamais citarei casos reais. Estou, é claro, raciocinando com exemplos hipotéticos. E um deles, comum, no nosso meio é o do professor, muitos universitários, repletos de títulos, que são eternos caçadores de benesses, que adoram estar no meio dos amigos ricos, um verdadeiro leão se mexerem num centavo seu, porém, nas palavras, no discurso, na sala de aula ou no bar, se tornam irreconhecíveis: são, sem dúvida, os grandes socialistas que a humanidade, infelizmente, desconhece na vida real. A crença ´prega essas peças nas pessoas. Faz com que jamais enxerguem, inclusive, os argumentos contrários ao que o crente acredita ser a “verdade”. O crente, efetivamente, se reveste, mentalmente, de uma capa protetora que o impede de ver o que contraria sua ideologia. Isto pode parecer uma coisa sem sentido, mas é preciso acentuar -e aqui falo como uma espécie de terapeuta de crenças- que nós, seres humanos, não fazemos uma diferenciação clara entre a percepção e a realidade. Nosso cérebro não sabe, de verdade, a diferença entre uma experiência imaginada e uma lembrada na medida em que usamos as mesmas células da mente para ambas as experiências. Existe sim uma diferença sutil na qualidade das imagens internas, de vez que sons e sensações cinestésicas serão diferentes, o que faz com que a informação real, a percebida, seja codificada de forma mais específica, porém, com o tempo, e se reforçados certos sentimentos e crenças, podem ser fixados e se tornam extremamente difíceis de não serem considerados reais. Daí o reconhecido ministro da propaganda Joseph Goebbels, tão esquecido,  afirmar que “Uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade” e ser enfático em que “Nós não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um certo efeito”. Um sintoma, aliás forte das crenças estarem em alta- e isto acontece nas ditaduras e/ ou nas fases próxima de sua implantação, é a necessidade de cercear os meios de refutar as crenças que são propagadas. Ressalto que não há nisto nenhum juízo de valor sobre a ação das mídias sociais, sabidamente úteis e educativas, se bem usadas. E mais não digo porque isto é somente uma reflexão de fim de ano sobre crenças e não um tipo qualquer de manifesto político. Não sou dos que creem que a política está em tudo, mas também, com as crenças que tenho, não sou capaz de refutar quem crê nisto. Creiam, vocês, ou não.

Ilustração: Hipnose para viver bem.

sábado, dezembro 30, 2023

SINTO MUITO, VOCÊ NÃO VAI GANHAR R$ 570 MILHÕES

 


Vou, logo de saída, pedindo desculpas. Afinal esta é uma época meio mágica, meio inclinada a despertar ilusões e, por culpa das circunstâncias, de ser economista, uma profissão que classificam de triste por ter uma ancora fincada na realidade, sou obrigado a dizer que é impossível o seu sonho de ganhar R$ 570 milhões na Megasena da Virada se realizar. Não, não estou dizendo que você não pode acertar a sena no fim do ano. Isto, embora muito, mais muito difícil, pode sim ser possível. O que você não pode é ter acesso aos R$ 570 milhões que são estampados pelas loterias e difundido pelos meios de comunicação. E, mais uma vez, tenho que explicar. Fui espicaçado pelas reclamações contra a Caixa Econômica Federal. Uma queixa repetida: descontavam o imposto de renda (27,5% do prêmio) na hora de pagar, na boca do caixa, o que gerava uma série de pessoas reclamando que haviam sido enganadas. Ora, isto não tem como não despertar minha curiosidade por dois motivos fortes: 1) O pagamento é padronizado, feito por um sistema e conferido por diversas pessoas, bem como a CEF afirma que o pagamento é líquido;  2) Alguns dos gerentes, das pessoas que lidam com os pagamentos, pelo menos, uns dois deles foram meus alunos e, como os conheço, sei que são pessoas competentes e íntegras. Portanto seria impensável que não percebessem um erro tão grosseiro. Mas, há o fato: muitas pessoas, depois que recebem, ficam indignadas e se consideram subtraídas de parte do prêmio. Foi esta questão que me levou a investigar a razão. E ela é clara, cristalina, compreensível para quem examina a questão com isenção. É possível compreender quando vamos ver, num concurso normal, que só 46% dos recursos arrecadados vão para o prêmio. Segundo a Caixa, o valor arrecadado com o concurso da Megasena não é totalmente revertido em prêmio para o ganhador. Parte do montante é repassada ao governo federal para investimentos em áreas como saúde, educação, segurança, cultura e esporte. Além disto, outra parte são destinados às  despesas de custeio do concurso, imposto de renda e outros, que fazem com que o prêmio bruto da Megasena da Virada corresponda a 43% da arrecadação.  Desta parcela, 62% vai para quem acertar os 6 números sorteados (sena), 19%, para quem fizer cinco acertos (quina) e outros 19%, para aqueles que acertarem a quadra. Aqui está o cerne da confusão: quem faz 6 pontos, mesmo se for ganhador único, não tem a menor chance de receber R$ 570 milhões. Vai, de fato, receber R$ 353,4 milhões! Ou seja, a frustração dos que recebem deve ser, daí deriva daí, pois, se, por exemplo, 10 pessoas ganham sozinhas num bolão, a expectativa seria a de receber R$ 57 milhões , porém receberão, de fato, R$ 35,3 milhões cada, ou seja, 62% do que pensavam que iria receber. São 38% abaixo das expectativas e as pessoas atribuem ao imposto de renda porque recebem um comprovante onde o valor do imposto recolhido é declarado, O imposto, no entanto é de 27,5% sobre o valor recebido. O certo é que, para sua desilusão, não é possível ganhar R$ 570 milhões neste fim de ano e o procedimento da CEF é correto e legal, inclusive em levar algum tempo para pagar o prêmio por uma questão de conferência.

 

quarta-feira, novembro 29, 2023

HUMANE AÍ: O FUTURO BATENDO NA SUA PORTA

 


Como se sabe muito bem o mundo da Inteligência Artificial é repleto de segredos (até porque os profissionais que trabalham para as grandes Big Techs assinam contratos de confidencialidade) e, faz algum tempo, circularam rumores de que haviam projetos em andamento para substituir os celulares. Sempre houve muita especulação sobre isto, mas agora um passo real foi dado com a empresa Humane lançando um dispositivo alimentado por IA: o Ai Pin. É um dispositivo que funciona por comando de voz e pode se dividir em dois: um quadrado e uma bateria que se prende magneticamente às roupas e outras superfícies com um peso total de 54 gramas. Sua principal função, conforme comunicado da Humane, é conectar-se a modelos de IA por meio de um software que a empresa chama de AI Mic e, segundo divulgado, possui compatibilidade com modelos da Microsoft e OpenAI (ChatGPT). Informações não oficias sugerem que o novo Pin está sendo alimentado principalmente por GPT-4. O aparelho roda um sistema operacional chamado Cosmos e atende os comandos do usuário sem precisar baixar e instalar aplicativos. O fato inesperado é que não possui tela, porém pode serem feitas projeções na palma da mão das pessoas e uma utilidade que parece introduzir um mundo novo (e fantástico) para o turismo é a capacidade do dispositivo de traduzir de imediato as palavras, ou seja, se alguém, por exemplo, dizer alguma coisa em japonês pode-se entender em inglês e responder na mesma língua de quem fez a pergunta! Sem ter uma tela inicial, nem muitas configurações para ajustar, é necessário simplesmente falar ou tocar no Pin, dizer o que se deseja fazer ou saber, e isto acontece automaticamente. É ainda muito cedo para se ter uma noção do que a novidade traz de revolucionário, no entanto fica evidente que, como se trata de um primeiro protótipo, já é um avanço não se precisar, como o celular, de manuseio, bem como a capacidade que possui para enviar mensagens e fazer chamadas de voz, resumir sua caixa de entrada de e-mail, obter informações nutricionais quando o usuário aponta algum alimento para a câmera ou do próprio usuário, bem como fazer tradução e buscas em tempo real. Como todo dispositivo novo ainda deve ser aperfeiçoado e também o custo é alto. A novidade apresentada na quinta-feira (9 de novembro) custará US$ 699,00 no varejo americano (cerca de R$ 3,4 mil na cotação atual), mas para o Brasil é preciso acrescentar os impostos, o que deve chegar na casa do R$ 6.500,00! E há também uma taxa mensal de assinatura de US$ 24,00 que oferece um número de telefone e cobertura de dados através da rede da operadora T-Mobile. Não dá para não ter atenção sobre o novo dispositivo, de vez que, antecipando-se ao que novidade irá ter no futuro, o  próprio Bill Gates escreveu que “Nos próximos cinco anos, você não precisará usar aplicativos diferentes para tarefas diferentes. Você simplesmente dirá ao seu dispositivo o que deseja fazer”, sobre o impacto da IA ​​em dispositivos. Como afirma a imprensa especializada o dispositivo busca trazer a computação para a experiência humana. Com uma câmera de 13 MP, GPS, conexão de celular, acelerômetro, sensor de luz, microfone, alto-falante, miniprojetor para comunicação visual e bateria magnética, seu forte é a assistência onipresente da IA via ChatGPT na sua vida. E dispensando um painel de vidro , um fone de ouvido XR ou o uso de outros meios para suas funcionalidades. Será o novo assistente virtual de sua vida real.

 

quarta-feira, novembro 08, 2023

UMA HISTÓRIA ANTIGA DO MUNDO ATUAL

 


A constatação é histórica: o Brasil sempre lidou muito mal com a questão fiscal. Basta pensar na Inconfidência Mineira, um movimento de revolta ocorrido no século XVIII, devido à insatisfação de membros da elite da capitania de Minas Gerais com os altos impostos e taxas da Coroa Portuguesa. De lá para cá a história nada tem de diferente, exceto o Plano Real, que tem sido responsável por impedir os surtos inflacionários, mas sempre sob ameaça do desequilíbrio fiscal. Principalmente porque a Constituição de 1988, instituindo os orçamentos autônomos dos Poderes e a elevação das vinculações de receita e da partilha de tributos com os entes subnacionais e ao expandir as concessões e emendas parlamentares, desvirtuaram o arcabouço fiscal, favorecendo a corrupção.  Os sucessivos governos jamais se preocuparam em criar uma lei das finanças públicas e o que se tem visto é o aumento constante dos gastos públicos lastreados no aumento dos impostos. É muito mais fácil para os dirigentes de plantão, e diga-se de passagem, com a cumplicidade dos parlamentares, aumentar os impostos do que exigir que os governantes façam seu dever de casa e controlem as despesas. Porém, o que se observa, o que se constata é a falta de compromisso com o controle dos gastos públicos, a falta de gestão, de indicadores e de políticas reguladoras da ação pública. O Brasil, por mais que as propagandas exaltem a qualidade dos seus governos, não fica bem no retrato. Possui uma tendência incontrolável de aumentar a carga tributária, por mais que se exalte a necessidade de simplificar a legislação e diminuir os impostos. Daí, o que temos, de fato, é o uso e abuso dos recursos do Estado pelo patrimonialismo e o corporativismo dos agentes políticos que, apesar de terem mandatos, somente cuidam dos próprios interesses. Esta reforma tributária em curso é a comprovação de tudo isto. Feita para simplificar será o inferno astral dos contribuintes, e uma fonte permanente de judicialização, na medida em que, por longo tempo, conviverão dois regimes fiscais. E, efetivamente, nada se pode dizer de concreto-até porque toda hora surge uma novidade no texto-sobre os seus impactos, exceto que não detém a escalada de gasto público que já está sobrecarregando a política de juros e levando o governo a uma corrida desesperada por novas receitas para isto até abusando dos órgãos arrecadatórios para desmamar o contribuinte. Não há teto de gastos que se aguente nem arcabouço fiscal. A grande realidade é que nuvens negras se avolumam sobre o próximo ano a partir de uma guerra fiscal antecipada estimulada pelo governo federal, que foi o aumento das alíquotas do ICMS dos estados. É uma corrida desenfreada para não mudar nada. Se todo mundo aumenta suas alíquotas só quem perde é o consumidor. E os estados mais pobres que ficam na mesma e não lutam pelo que deveriam lutar de fato: compensações pelas desigualdades regionais. Para a questão fiscal não existe solução fora de disciplinar os gastos públicos, mas, no Brasil, a lógica é sempre relegada a segundo plano quando se trata dos interesses de uma elite que usa o estado apenas para seus próprios interesses.

 

terça-feira, outubro 17, 2023

O HARAQUIRI ELEITORAL

 


O governo deve servir ao povo e não o povo ao governo- isto deveria ser uma regra básica da boa administração. No Brasil não é. Os governantes de plantão fazem o que bem entendem sem atentar para o bom senso e, como tem sido comum, também pagam o preço por suas decisões. O governo Lula da Silva, seguindo a norma da velha política, se comporta como se o mundo não tivesse mudado até mesmo depois de uma pandemia. Como, desde meados dos anos 90, sempre o governo tem optado por aumentar impostos para cobrir suas despesas se comporta como se o tempo não houvesse passado. Como se a carga tributária não tivesse chegado a níveis mais altos dos que admissíveis para uma economia como a nossa. Como se Bolsonaro, com todos os erros que possa ter, não tivesse existido e comprovado que, com desoneração, as coisas ficam mais baratas, as famílias compram mais e o PIB-Produto Interno Bruto e a arrecadação aumentam, como ficou evidente em 2022. Então, então, o que temos visto é a reoneração dos impostos, medidas que visam somente arrecadar mais e cobrir os rombos de despesas maiores. A opção do governo Lula tem sido clara: mais governo e mais impostos. A reforma tributária, que se esperaria que fosse para simplificar e diminuir impostos, até agora, dentro da incerteza que a cerca, tem tido textos que simplificam, porém aumentam os impostos. O setor de serviços, por exemplo, se mobiliza freneticamente para impedir que as alíquotas cresçam estratosfericamente. O próprio relator da reforma afirmou, categoricamente, que seria impossível não esperar que a reforma não aumentasse os impostos. É com esta impopularidade que o governo federal está lidando. E, para se livrar de tamanho fardo, vendeu aos governadores, em cima de uma reforma que não se sabe o que vai ser, que é preciso aumentar a alíquota do ICMS de 17% para 21,5%! Ou seja, disse que, com os novos impostos, mesmo que haja uma regra de compensação, é preciso aumentar também o ICMS. Antes apenas 13 estados haviam embarcado nesta barca furada. Rondônia não era um deles. Agora, com uma manobra com todos os pecados da ausência de diálogo, o governo de Rondônia embarcou também por este caminho. Os deputados estaduais que aprovaram já experimentam o mau gosto da impopularidade. O governo ainda não. A população ainda não sentiu os efeitos. Os empresários, mais conhecedores dos efeitos, se revoltaram. A ida de mais de 90 entidades para reclamar na Assembleia Legislativa demonstra que manter a lei que foi sancionada  é assumir a crise. Os burocratas do governo somente pensam no seu financiamento e nos compromissos assumidos, mas a economia é uma ciência triste. Vai ensinar a eles que a esperteza tem um preço eleitoral muito caro. Alguns deputados já estão pagando. O governador e o candidato do governo estão dispostos a pagar? O estrago vai passar, é claro, pela cesta básica, mas o efeito será bem maior: cada bebedor de cerveja do estado vai lembrar muito bem a quem deve estar pagando seu prazer mais caro.