Há, agora, uma grande
reação ao “politicamente correto” que, como não se pode desconhecer, está
intimamente associado a um conjunto de normas sociais que pretendem evitar
palavras e comportamentos que sejam considerados ofensivos ou discriminatórios.
Há razões fundadas para isto, pois, o exemplo mais obvio é o de criticarem
Monteiro Lobato por considerarem parte de sua obra infantil “racista”
(qua!qua!) ou, outro exemplo absurdo, é de associar a Gilberto Freyre, um
conservador, mas, reconhecidamente adepto da multirracionalidade, inclusive, de
certa forma, seu livro é um elogio ao Brasil por sua miscigenação, de racista,
anti-semita, xenófobo, machista e sei lá mais o quê. Vamos ser claros: Gilberto
Freyre usa, e abusa, de adjetivos e de opiniões no seu livro (e ninguém é
obrigado a concordar com elas), mas, enciclopédico como foi, escreve sobre
quase tudo, de alimentação passando por agricultura e até mesmo genética, com
tantas teses, dados e argumentos que seria impossível estar certo em todas.
Como, porém, compreender o Brasil, e Portugal em parte, sem ler “Casa Grande
& Senzala”? Pode-se acusá-lo de tudo menos de não ter escrito um livro
importante e polêmico. Mas, pela ótica do politicamente correto, não muito
diferente da inquisição, seus livros deveriam não ter sido escritos e, como
foram, mereceriam a fogueira. E, no fundo é isto que faz com que o
“politicamente correto” seja uma forma de totalitarismo. É, sem sombra de
dúvidas, uma imposição de censura às ideias e aos comportamentos que limitam a
liberdade de expressão. Mais do que isto, sob o argumento bom mocista de querer
impor o que, supostamente, é bom, no fundo, existe a ideia de promover uma
visão única, de homogeneizar o pensamento. É um ótimo instrumento para o
controle social, de vez que todos os regimes totalitários desejam calar a voz
dos opositores, seja impedindo suas falas, seja banindo a oposição, prendendo,
acusando de “fake news” quem pensa diferente ou cancelando e, modernamente,
retirando os meios de sobrevivência e até mesmo impedindo acesso às mídias
sociais. A evidência moderna é a de que o “politicamente correto” tem servido
muito para a manipulação do discurso público para moldar a percepção social (os
anúncios politicamente corretos de hoje são peças toscas e, como diria o Falcão
“Ó gente feia”) visando confirmar a narrativa dominante e usando,
descaradamente, a demonização das divergências. Enfim, a intenção do
politicamente correto de promover respeito e inclusão somente semeia controle,
acirramento e ódio. Basta ver a perseguição feita aos humoristas que, hoje,
fazem piadas com receio de ir para a cadeia. É como se, na vida real, não
existisse preconceitos, rejeições, preferências, bondade, má intenção e mesquinhezes
que, no fundo, representam quem somos e como ou quanto podemos melhorar. Não será a nova fala, nem os eufemismos,
redefinições ou invenções semânticas ou etimológicas que irão resolver as
disputas humanas e suas diferenças ou aversões. Pode até parecer que resolvem,
mas somente criam outras. O politicamente correto não é apenas autoritário. É
sim uma manifestação do totalitarismo travestido de boas intenções.
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