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sexta-feira, agosto 31, 2018

A MARÉ BOLSONARO



A chegada de Bolsonaro em Porto Velho, com a manifestação apoteótica que lhe foi prestada, a partir do Aeroporto Jorge Teixeira de Oliveira, demonstra que é impossível não considerar a caminhada do, até então deputado, um fenômeno eleitoral. Não são os gritos de “Mito” ou o refrão gritado de “Um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos Bolsonaro presidente do Brasil” que, parte dos seus fãs apaixonados, que o qualificam assim, mas, o fato irrefutável, que tem ocorrido em muitos outros lugares do País, que sua chegada reúne uma multidão, de uma hora para outra, sem que haja um partido ou organização planejando. Trata-se, isto sim, de um reconhecimento de que, para o bem ou para o mal, no meio de uma política pantanosa, Bolsonaro surge como alguém verdadeiro, de opiniões e que atende a uma necessidade que a população sente de rumo, de direção, de segurança.
Confesso que o fenômeno, no começo, me pareceu uma reação anti-petista, anti-esquerda. Afinal, sua candidatura é posta como uma candidatura que busca resgatar os valores da pátria, da família e até mesmo da religião, embora, sem um definição de qual delas. Parecia mesmo que fosse uma oposição à Lula da Silva. Pode até ter sido. Não é mais. Pelo que estou vendo houve um alargamento de sua base que somente se pode explicar pela necessidade de esperança. Na areia movediça da política, diante do bombardeio de notícias sobre corrupção, diante da própria falta de firmeza da justiça, quando surge alguém que não foge de seus princípios, que não tergiversa, que não esconde o que é, mesmo com todas as suas limitações, passa a encarnar o papel de um condutor, de uma pessoa que pode canalizar as energias para construir o novo.
Na minha opinião falta muito para se considerar Bolsonaro presidente eleito (mesmo sendo o fenômeno que já é), todavia, os seus opositores o estão ajudando muito. A tentativa de demonização que fazem, quase infantil, de querer atribuir a ele homofobia, ou de menosprezar as mulheres ou não ter sensibilidade social ou mesmo capacidade intelectual, não vão muito longe. Somente se pode suplantar a esperança com mais esperança. Se um dos outros candidatos não passa a simbolizar a esperança para os brasileiros, sua eleição será inevitável. E, por enquanto, nenhum dos outros consegue mobilizar, como Bolsonaro tem feito, os eleitores. Em Porto Velho, nesta sexta-feira, tive que ceder e dar minha mão à palmatória. Não se pode mais tratar Bolsonaro sem considerar que é o mais forte candidato à presidência, no momento. A maré Bolsonaro já existe. E com possibilidade de virar tsunami.

terça-feira, agosto 28, 2018

A FORMULA CONHECIDA PARA O BRASIL CRESCER SEM MÁGICA



É preciso que as pessoas entendam, pelo menos, um pouco de economia. É claro que, se quisermos ser um especialista na matéria leva anos e é muito difícil. Entender profundamente de economia é uma tarefa para a vida toda. Porém, há toda uma soma de conhecimentos econômicos que já se estabeleceram e fazem parte, por assim dizer, do senso comum. E, para dizer de uma forma bem simples, são parte da sabedoria popular como é notório, por exemplo, que quem gasta mais do que tem se endivida ou que, para poupar, se deve gastar menos do que se ganha. Mas, há outros tipos de conhecimentos econômicos tão simples que, mesmo assim, ainda não foram absorvidos pelo público em geral.
Um deles é o de que não se pode ter um país desenvolvido sem liberdade econômica, segurança, inclusive jurídica e escolaridade. Liberdade econômica é se poder empreender sem o ônus de um estado pesado, sem uma burocracia excessiva e sem uma carga tributária pesada-como ocorre no nosso País. Segurança, inclusive jurídica, é ter segurança mesmo, não se ser assaltado, mas, também as leis não mudarem de uma hora para outra, de forma que se possa ter um horizonte para os negócios, ou seja, o que se chama previsibilidade. E escolaridade porque nenhum país se desenvolve com uma quantidade grande de analfabetos.  Todos os países desenvolvidos possuem, em média, mais de 13 anos de escolaridade. Aqui, Lula da Silva, vendeu, e convenceu muita gente, de que seria possível se transformar o Brasil sem educar sua população, um verdadeiro conto do vigário. Só prova que ele foi muito bom em vender ilusões. No entanto, é preciso pensar no futuro.
E pensar no futuro é cobrar do nosso futuro presidente, seja quem for, se exigir, até para dar o seu voto, que se comprometa com estas metas que são essenciais para se ter um desenvolvimento de verdade: 1) fazer um programa efetivo de alfabetização melhorando a escolaridade; 2) simplificar, desburocratizar as leis tributárias, trabalhistas e os regulamentos, em especial relativos ao meio ambiente; 3) Fazer a reforma tributária; 4) Criar incentivos para o empreendedorismo, inclusive facilidade de crédito; e 5) Implantar um grande programa de primeiro emprego para os jovens. Como se observa, na prática, é fazer o que fizeram os países, como a China e a Coréia do Sul, que fizeram um esforço real de planejamento, de educação, de empreendedorismo e de criação de um futuro melhor para sua população. E para isto não se precisa de um super-presidente, nem de um salvador da pátria. Se precisa sim de determinação, de vontade de mudar esta nossa triste realidade, fruto de uma política econômica centrada no aumento do estado, no consumo,  e não na produção, que é o caminho, sem fazer as reformas essenciais que o País tanto necessita. É preciso que o próximo presidente faça apenas o feijão com arroz para preparar o futuro com que tanto sonhamos. Controlar as contas públicas e criar condições para que as pessoas se desenvolvam, criem negócios, sejam protagonistas de suas vidas. O estado é um ser estéril. Só serve para os que dele se servem e, em geral, contra a população. 

Ilustração: onfloow.com. 


segunda-feira, agosto 13, 2018

UM CONSTRUTOR DE SONHOS COM AS PALAVRAS




O nosso querido amigo Lito Casara, indiscutível mestre do chorinho com o seu bandolim mágico, me emprestou para ler o livro da Editora Record, “Ficha de Vitrola & Outros Contos”, do seu parceiro, no clássico da música popular brasileira “Matinês” Jaime Prado Gouvêa. Já sabia que devia ser muito bom, porém, fui surpreendido com a capacidade de escritor do mineiro, pois, não consegui parar mais. Só parei quando terminei de ler o livro todo. É uma leitura, sem dúvida, deliciosa. Não somente por Jaime ser um ser, mesmo na literatura, essencialmente musical, como também porque transparece nas letras sua alma de boêmio, sua imensa capacidade de construir narrativas que prendem e revelam um sólido intelectual.
Suas histórias, que, mesmo quando não expressa de forma clara, são mineiras, cantos mineiros, possuem também o lado universal com o qual todo ser humano se identifica. Seu livro de contos é um livro urbano, um livro em que sua imaginação percorre as ruas, a cidade, passeia pelos sons, máquinas, odores, mormaços e pedras não deixa de ser, em momento algum musical, não apenas pelas alusões constantes a vitrolas, ou o ambiente dos bares que, junto com o álcool, exigem sons, porém, ainda mais por suas citações de preferências artísticas que vão dos mineiros (Milton Nascimento e Fernando Brant) brincar com Charlie Parker, bordejar Caetano, Torquato Neto, Macalé, Caymmi ou Paul McCartney, com a mesma sensibilidade devoradora que junta Odair José, Bee Gees, Nara Leão, Martinho da Vila, Elvis Presley até abusar com Nat King Cole, Roberto Carlos e Antônio Carlos & Jocafi. É uma salada que pode ter tanto Chopin, quanto Lindomar Castilho, Wanderley Cardoso ou mesmo “Que c’est triste Venise” com Charles Aznavour, todavia, encaixadas em contextos nas quais se tornam indispensáveis como referências para personagens que destilam suas desesperanças ou reproduzem destinos familiares.
Apesar de, em muitos momentos, ser triste e pesado, como a vida, o que não falta no texto de Jaime é beleza, imaginação, uma concisão das palavras que vai se incrustando em nós como as valsas ou os rocks lentos que se insinuam em estórias do cotidiano que são, sempre, poéticas, com citações literárias de grandes pensadores, poetas e escritores, como Nietzsche, Homero, Joyce, Rimbaud, Robert Frost, Dumas, F. Scott Fitzgerald, Edgar Allan Poe, Ascenço Ferreira e Paulo Mendes Campos, cujo um dos textos dá título ao conto “Batuque dos gambás”. Efetivamente se trata de um autor refinado. Não é uma leitura para incultos nem enquadrados, embora esses também possam ler para compreender que quem tem cultura e visão larga escreve bem melhor. E é o que muito me agrada em Jaime. Seu descompromisso com filosofias ou tribos, com padrões, inclusive na literatura, do qual um maravilhoso exemplo é o conto “Relatório de viagem”, que faz, com maestria, sobre os ocupantes das poltronas de um ônibus, onde revela a vida e os pensamentos dos passageiros, ou em outro no qual o filho mais novo do sargento Lima depois de ter aprendido a voar despenca sobre a cristaleira para encher os olhos de vidro.
Há na escrita de Jaime o prazer e a dor de viver. Seja no tédio, um tema constante, na repetição dos destinos ou mesmo no novo começo que nunca se sabe onde vai terminar. É a incerteza que faz seus contos, em certos momentos, quase serem poemas trágicos ou desconcertantes. Todos, porém, latentes de lirismo. Ler Jaime Prado Gouvêa é um mais um prazer que a vida nos dá. É como escutar uma música de qualidade em letras, sorver um bom vinho, fazer o suave e desesperado amor que seus personagens transmitem. É para quem gosta de boa literatura. Não deixem de ler!