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domingo, julho 28, 2013

Menor crescimento, mais pressão por mudanças


O The Economist  faz previsões de que os países emergentes, entre eles o Brasil, entrarão em uma fase de menor crescimento. E os argumentos que utiliza em relação ao Brasil são pertinentes e dizem respeito ao fato de que não fizemos as reformas necessárias, não fizemos o dever de casa, crescemos em cima das commodities, crescemos porque a China cresceu e precisava de nossas matérias-primas. É uma leitura, sob o ponto de vista político e econômico, correta. O Brasil, malgrado, ter melhorado não melhorou o suficiente para criar um marco jurídico e econômico estável e que proporcione o meio ambiente necessário para que viceje o empreendedorismo e aumentem os investimentos, o que é fundamental para criar um desenvolvimento efetivamente sustentável.
O governo tem tentado fazer as coisas ao seu modo o que inclui, num sistema de mercado, a tentativa de manter as coisas sob seu controle. Isto é visível nas canhestras tentativas de privatização e na busca de limitar o lucro de setores, como se o maior, ou menor, lucro não fosse um dos mecanismos que faz com que o mercado funcione. Depois, mesmo quando tenta mudar, tenta mudar aos pedaços. Ora, não se faz reforma política, ou econômica, por fatias, nem é aceitável que o governo faça, como tentou  com a questão do plebiscito, uma consulta sobre problemas abstratos a um povo que demonstra, nas ruas, a falta de confiança nos seus representantes, que reclama pelo fato de não se sentir representado. O que se vê claramente é que o nosso sistema democrático não tem funcionado a contento e que é indispensável que se modifique as regras para que se tenham políticos eleitos com representatividade, com legitimidade.

É preciso, portanto, que haja propostas de mudança que se orientem não para atender as necessidades governamentais, ou partidárias, mas, para valorizar a opinião, o debate sobre políticas públicas e a elaboração de um projeto para o País. É evidente que isto não é nada fácil. Quem está no poder não pretende abrir mão dele, nem construir um sistema onde a representação política seja um serviço público, um apostolado, uma expressão da honra, e não uma carreira. Isto, é evidente, somente acontecerá, no longo prazo, porém, a defasagem que existe entre o ideal e a realidade já produz efeitos substanciais. Basta ver a última pesquisa Ibope divulgada, na qual a avaliação negativa da presidente Dilma Rousseff supera a positiva pela primeira vez desde março de 2012 e que mostra que os governadores dos Estados mais ricos e populosos também enfrentam a desconfiança dos eleitores. É uma pista vital para se entender o que pensa o povo a respeito do momento político atual. O que se verifica é que a desaprovação a Dilma, não se deve a aumentos sazonais de preços, boatos sobre Bolsa-Família e seca no Nordeste. É mesmo uma rejeição ao governo que inspira graves preocupações e deixa desconfortável todos os governantes e políticos, que vão precisar responder às demandas de um eleitorado cada vez mais desejoso de mudanças, seja na situação material como institucional. E, com índices menores de crescimento, as mudanças serão inevitáveis. 

segunda-feira, julho 22, 2013

Uma visão realista da economia brasileira


Considerado um dos mais brilhantes economistas do Brasil, com participação na elaboração dos Planos Cruzado e Real, o Doutor em Economia e economista André Lara Resende, numa entrevista veiculada no Estado de São Paulo, no dia 07 de julho último, sob o título “Projeto do PT parece o do regime militar”, afirma que o mix de políticas do governo federal está equivocado, pois, para que a economia melhore será indispensável que se estimule a oferta de moedas e os investimentos e não, como tem sido feito, estimular a demanda e o aumento dos gastos públicos correntes.
Segundo ele, “Espantamos o investimento estrangeiro de longo prazo com a falta de estabilidade das regras, com uma regulação barroca e discriminatória, com uma política macroeconômica incompetente e a opção pelo capitalismo de Estado”. E complementa que “A partir de 2008, o PT adotou um projeto anacrônico. O curioso é que ele é parecido com o do regime militar. Esse projeto está levando ao crescimento medíocre. O governo usou o pretexto da crise financeira nos países avançados para aumentar os gastos públicos e dar estímulos ao consumo”. Também afirmou que “Se após a crise de 2008 fosse para fazer política macroeconômica anticíclica (conjunto de medidas que em período de retração econômica incluem redução de tributos, aumento do crédito e do gasto público para ativar a economia), a opção correta teria sido baixar os juros e não aumentar os gastos”.
E criticando a falta de aproveitamento do Brasil em relação ao otimismo do mundo em relação ao nosso país declara que “Perdemos, é verdade, uma grande oportunidade”. E segue dizendo que “Deveríamos ter aproveitado a oportunidade para investir mais e melhor na infraestrutura e na educação, principais fatores determinantes da produtividade”. E fazendo um chamamento para a revisão do modelo de crescimento econômico brasileiro afirma que “O projeto de desenvolvimento do século 21 deve levar em conta as evidências de que o bem estar depende da qualidade de vida, cujos elementos fundamentais são o sentido de comunidade e a confiança nos concidadãos, a saúde, o tempo com a família e os amigos e a ausência de stress emocional. As grandes propostas totalizantes ideológicas deixaram de fazer sentido”.
E, como um analista preciso, completa “Hoje o que importa são questões concretas relativas ao cotidiano, à eficiência administrativa. É preciso rever um Estado que absorve 36% da renda nacional, mas, investe menos de 3% e consome grande parte dos recursos para sua própria operação. O Estado não pode continuar a ser percebido como um expropriador ilegítimo de uma fatia expressiva da renda da sociedade, sem contrapartida de serviços à altura, como um criador de dificuldades em todas as esferas da vida”.
Não é preciso mais tecer muitos comentários no que está muito bem colocado. De certa forma um Estado é melhor quanto menos incomoda o cidadão, quanto mais suas regras são estáveis e permite maior previsibilidade e transparência nos negócios. O que André Lara Resende colocou, com propriedade, é que as ruas pediram seriedade e eficiência do Estado e, isto somente será possível, com a revisão do projeto político que se encontra em andamento. Não se trata apenas de um crescimento maior, ou menor do Produto Interno Bruto-PIB, se trata de que ou mudamos nossa política macroeconômica ou, de fato, tenderemos a piorar ainda mais os nossos problemas que já são imensos. 

sábado, julho 20, 2013

Tudo que é sólido....


O Brasil vive tempos visceralmente novos, embora, o velho sempre teime em morrer e, principalmente, resista na forma de tentativa de enquadramento por meio da burocracia, muitas vezes, da utilização maléfica da própria liberdade, mas, em especial, na mente das pessoas que não mudam, que não percebem que velhas formas não funcionam mais, com a mesma eficiência, quando se está diante de um período totalmente novo, no qual houve uma explosão de protesto multifacetado, policromático, independente e, notadamente, articulado por pequenos grupos, das redes sociais, do marketing viral, que não segue as regras que foram utilizadas no passado. A ida as ruas, neste mês de junho, em todo o Brasil, nos seus poucos dias, conseguiu mobilizar um espectro importante da sociedade, composto pela classe média que tem sido, sistematicamente, reprimida e espremida, pelas políticas públicas e por impostos, cada vez maiores, e um autoritarismo sufocante que, na suposta defesa de direitos sociais, impede e sufoca até mesmo o tradicional humor brasileiro com a imposição legal de coisas que não tem nada a haver conosco como é o caso do politicamente correto ou da imposição de cotas raciais numa sociedade por si mesmo já miscigenada. Este que, pode ter sido o início de outros movimentos ainda imperceptíveis, mas, que, certamente, virão, não somente porque os tempos de tais lideranças se esgotaram, como pelo fato de que o fenômeno que assistimos foi o de um furacão, que se formou inesperadamente, concentrando uma grande força reprimida, saiu arrasando pelas ruas e que, todavia, permanece, depois dos estragos, em estado latente, sem se dissipar, com uma força e uma capacidade de se formar novamente, a qualquer instante, basta que se reproduzam motivos para novas insatisfações. O que ficou patente, explícito, demonstrado é que foi uma reação ao partido que está no poder, aos políticos que estão no poder. É sim uma reação da classe média, embora com muito apoio das classes mais baixas, contra absurdos como a brutalidade policial, os horrorosos serviços públicos e até mesmo a perda de renda e de importância das pessoas que tem conhecimento, que tem sido execrada seja como funcionários públicos, seja sob o nome, que deveria ser elogioso, de “elite”. Afinal, em qualquer país do mundo civilizado, o que se espera é que seja a elite quem vá dirigir seus destinos e não os despreparados, os menos cultos. Pode-se dizer que este tipo de movimento também acontece nos países desenvolvidos, na Argentina e na Venezuela. É verdade. Porém, também lá é o cansaço dos governados com os governantes, é o mesmo descompasso entre o que se espera e o que a representação política faz. Em especial é, de uma forma clara, o cansaço com as esquerdas- para se termos um diagnóstico realista. Que ninguém espere que saía deste movimento lideranças ou um partido. Não é provável. O provável é que o povo descobriu que não precisa de sindicatos, partidos políticos, associações de classes ou qualquer tipo de instituição, para exercer sua força e que os políticos e governantes precisam atender as demandas e insatisfações da sociedade. Foi como se fosse um basta as manipulações. No meio da Copa das Confederações disseram que desejavam mais do que “Pão e Circo”. É evidente que a compreensão deste momento ainda irá ser adequadamente clarificada, embora, já tenha mudado o jogo e dado um chute nas velhas e conhecidas formas de controle. Quem está no poder que se cuide. Com o monstro nas ruas mais do que nunca o poder será efêmero.

sábado, julho 13, 2013

O momento é de inovação




Tivemos um momento de inflexão, de mudança de rumos, que deixa a todos perplexos pela falta de rumos visíveis. Não há como falar em mudanças sem falar em mudar os paradigmas, aqui bem entendidos como o conceito de Thomas Samuel Kuhn (1922-1996), físico e filósofo da ciência, no seu livro “A Estrutura das Revoluções Científicas” que trata paradigma como as “realizações científicas que geram modelos que orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para os problemas por elas suscitados.” Em suma, algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada situação. Ou seja, estamos sem pai nem mãe. Até mesmo a estabilidade da democracia que até pouco temos nos gabamos de representar na América do Sul corre riscos com as manifestações de ruas que demonstram o imenso hiato entre o povo e sua representação. Houvesse uma compreensão do momento, houvesse desprendimento e patriotismo os políticos, nem precisariam de ser acusados de nada, para renunciarem a seus mandatos. A culpa deles está posta na ineficiência de seus desempenhos. Claro que nenhum, porém, está disposto a sair do seu lugar em prol de um amanhã melhor. Sejamos práticos.
O grande problema é que a nossa sociedade mudou profundamente e todos nós estamos num esforço de adaptação, de acomodamento e numa tentativa de compreensão ativa da mudança. E não é uma mudança qualquer. É uma mudança feita com um fenômeno impactante que nos exige novas habilidades como é a mobile internet, a internet móvel, que tem implicações no cotidiano, nas comunicações, nas modificações sofisticadas da produção, nos grupos de interesses e se mostram diante dos nossos olhos modificando o tempo, exigindo respostas rápidas de nós, dos empresários e dos políticos que somente utilizam instrumentos novos, como os celulares de última geração, mas, se comportam como se estivessem ainda nos tempos da Velha República metendo os pés pelas mãos, trocando o público pelo privado. Embora a pauta das ruas seja variada, no fundo, o que se exigiu da classe política, ética e bons serviços, é progresso, é evolução. Foram os jovens do Facebook, principalmente, que cobravam dos políticos que esqueceram seu papel de criar uma sociedade melhor que se lembrassem para que foram eleitos. Cobravam deles que enfraqueceram os processos de evolução preocupados com demandas e exigências pessoais e não da sociedade. E isto deriva, em especial, que faltam empregos e ainda mais bons empregos. Que a suposta afluência que existe é suportada não pela renda, mas, pelo crédito e pelo endividamento.
Que nem sempre a sociedade segue os rumos do progresso é verdade. Não há nas sociedades uma evolução linear e progressiva, mas, os governos petistas entupiram tanto as massas com discursos de um futuro melhor que, agora, elas saíram as ruas e passaram a exigir. Quem quiser, agora, ter carreira política vai precisar transformar a adversidade de hoje na oportunidade. Vai ter que oferecer o sonho de um país melhor, com mais ética e mais atenção a um desenvolvimento real, à criação de melhores condições de vida. Por enquanto, não há político que tenha despertado para o fato de que continuam a exercer o velho papel do passado. Quem continuar assim pode se aposentar. O momento é de inovação, inclusive, na política.

Não podemos chamar o retrocesso


O mundo precisa de ordem. E a verdade que há uma certa ordem até mesmo no caos. Só os anarquistas, que não primam, aliás, por deixar de gostar das coisas que funcionam, das coisas bem ordenadas, é que são capazes de acreditar que a ordem não seja necessária. Aliás, o problema deles não é nem mesmo a ordem. Eles não gostam mesmo é que haja comando, governo, mas, sem estas coisas, aí, principalmente, com a complexidade do mundo moderno, é que nada funciona mesmo. A ordem, por menos que gostemos, dela é uma necessidade essencial. Claro que, mais jovem, também me rebelava contra a ordem estabelecida, mas, existiam razões sensíveis: o mundo era preto e branco. As coisas eram mais simples: havia um governo militar e se desejava a democracia. Era evidente quem estava de um lado ou de outro e o que se desejava era o que, hoje, existe: um governo eleito pelo voto.
Dos anos 80 em diante o mundo mudou muito e o Brasil muito mais. A democracia que foi conquistada a duras penas, porém, como se esperava, melhorou muito as coisas, sob os aspectos de liberdade e de opinião, porém, não resolveu, como era a ilusão reinante, os grandes problemas nacionais. O crescimento, por exemplo, não foi o mesmo do governo militar, seja porque, há que se reconhecer, os militares usaram a melhor capacidade técnica possível existente e fizeram, em áreas essenciais, escolhas que foram corretas. Fizeram uma enorme dívida pública? Fizeram. Porém, é inegável que criaram um Brasil muito maior economicamente e com possibilidades de pagar a dívida sem problemas. Foram as escolhas civis, o não pagamento dos juros da dívida externa e a falta de combate adequado à inflação que fizeram com que, entre 1986 e 1994, o país voltasse aos níveis de produção dos anos 70 com governos populistas que não faziam o que deveriam fazer. Só com o Plano Real, a coragem de Itamar Franco, e com uma equipe sob o comando de FHC, é que começamos a trilhar os caminhos corretos. A estabilidade, as reformas, as privatizações, a consolidação e o controle da dívida pública (que nem se sabia de quanto era) e a Lei de Responsabilidade Fiscal permitiram ao país viver uma nova realidade e consolidar o processo democrático.
A ascensão de Lula da Silva, mesmo saudado como o supra sumo do processo, sempre me pareceu um problema. Nada contra Lula, que tem seus evidentes méritos, mas, sua falta de determinação e preparo eram, sempre foram, evidentes. Não que seu governo não tenha tido méritos. O maior deles foi manter a receita e melhorar, de forma nem sempre adequada, o acesso dos pobres a uma vida melhor. Menos pela melhoria efetiva da renda do que pelo aumento do crédito, pois, saímos de um patamar de 24% do Produto Interno Bruto-PIB de crédito para os 49% do final de seu governo. O consumo interno aumentou muito é a pura verdade. Graças ao endividamento geral também é verdade. O que é essencial para termos um país melhor: valorizar o trabalho, a educação, criar serviços de qualidade, consolidar a burocracia pública, diminuir a carga tributária, melhorar a vida dos aposentados, porém, foram promessas esquecidas. Embalado no marketing e nos elevados índices de popularidade o líder petista criou um monstrengo: a satisfação completa dos muito ricos, uma ligação direta com a população mais carente por meio de benesses e o sufocamento das instituições, em especial, o Congresso pela cooptação econômica e por distribuição de cargos das oposições. A classe média, os servidores públicos, os militares pagaram a conta com aumento de impostos e queda de seus rendimentos.  No geral, sem contestação política,  Lula deixou as coisas correrem, empurrou os problemas com a barriga e elegeu sua sucessora fazendo os acordos mais espúrios possíveis e carregando consigo a carga de seu governo ter sido palco do maior escândalo público de todos os tempos. É esta herança maldita que uma Dilma atônita tenta equilibrar sem ter forças nem a percepção de que só desligando-se de seu criador e matando os monstros ocultos debaixo do tapete. Terá força e grandeza para isto? Não sei. Sei que sugerir plebiscito é uma solução insolúvel. Sei que, hoje, falta uma visão do que desejamos, de para onde desejamos ir. E o povo nas ruas, também sem lideranças e sem caminhos, é um perigo para o aventureirismo e as soluções de força. É tempo de se ter a calma e o bom senso de verificar que precisamos, em nome da democracia, dar uma trégua para que se possa pensar em soluções e não apenas pressionar um governo que, embora não seja nem um pouco o que desejo, foi eleito contra a minha vontade e, em respeito à democracia, não podemos fazer com que seja empurrado para as cordas e haja uma quebra da ordem isntitucional. É hora das lideranças conscientes começarem a dizer que é preciso que as manifestações de ruas tenham fim e o país volte à normalidade. Não há solução mágica e só com a democracia funcionado poderemos ter uma representatividade real e as mudanças que desejamos. Continuar indefinidamente protestando e parando as atividades econômicas é um convite ao retrocesso.

quarta-feira, julho 03, 2013

A imprensa que todo governo deseja


Inevitável é tratar das manifestações nas ruas brasileiras, mas, a verdade é que, como qualquer outro fato, num mundo de rápidas transformações e excesso de notícias, até mesmo as manifestações, depois de uma semana, parecem repetitivas e tão velhas quanto às respostas que o governo dá ao movimento. Por isto, procuro aspectos que fujam das visões tradicionais sobre esta onda que percorre as ruas. E, para mim, um deles diz respeito à questão da imprensa e sua atuação inclusive nas manifestações.
Na Veja, desta semana, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, numa análise lúcida, afirma que não é possível, como desejam inúmeras alas governistas, controlar a informação ou, como dizem, num eufemismo pouco esclarecedor, regular a mídia. É evidente que a mídia, impressa, ou não, tem que formar e informar e, neste sentido, não pode nem deve estar atrelada a nenhum governo. A realidade brasileira é que, por uma questão econômica, e até política, na medida em que a proibição de muitos tipos de publicidade, como de bebidas e cigarros, tornou a sobrevivência delas extremamente dependente de verbas ou benesses governamentais. E, ao contrário do que afirmam os militantes partidários do governo, a mídia é extremamente benevolente com o governo e a Rede Globo, mais ainda, apesar de estigmatizada como protótipo da mídia elitista, concentrada e manipuladora, espécie de oposição sistemática ao governo e representação por excelência dos interesses capitalistas mais empedernidos.
Esta mistificação, a mesma dos discursos de Lula contra elite quando ele é a encarnação da própria elite, foi desmistificada pela atuação da TV Globo nas manifestações de rua. A verdade é que, seguindo à risca seu papel de mantenedora do status quo, a rede omitiu, como sempre fez, os movimentos o quanto pode. Afinal é uma beneficiária direta do governo petista tendo, somente nele, saído de sua situação deficitária, inclusive no exterior, e obtido empréstimos do BNDES, que o governo FHC nunca lhe concedeu. E, observe-se que sou imparcial em relação à Globo, é uma empresa de padrão de qualidade internacional e que se mantém, mesmo com inúmeros projetos contrários, que procuraram desbancá-la através dos tempos, graças à sua incontestável competência. Ocorre que, como é normal, qualquer empresa de mídia, ou não, cuida de seus interesses. E quando é o governo, como acontece no país, o seu maior cliente, sempre irá  preservar os interesses dele. É claro até que a situação afete a sobrevivência da empresa. Foi o que aconteceu: pressionada pelos fatos, pelo clamor das ruas, a Globo cedeu aos ditames da audiência, mas, à contragosto. E, quando passou a cobrir os fatos, deu o show de competência que sempre dá, porém, teve que esconder sua marca pela insatisfação que gerou e por manifestações pouco felizes de alguns de seus contratados.

Acontece que a TV Globo aparece mais como fonte de manipulação da mídia por ser a líder de audiência da televisão, o meio que mais pesa na opinião pública. Mas, a grande realidade é que as outras emissoras não se comportam de modo diferente, com evidentes gradações e maior atrelamento ao governo, ou não. Ao contrário do que desejam os governantes a questão não é de concentração da mídia, nem que haja uma oposição consistente da grande mídia. A questão real é de que as formas de sobrevivência da mídia estão reduzidas ao governo e alguns poucos e grande anunciantes que, em geral, também dependem dele. Como não existe uma oposição real ao governo entre os partidos, a oposição da mídia é também inexistente. A grande realidade é que a mídia, fantasiando um país que não existe, contribuiu para a explosão de descontentamento que tomou as ruas. Mais por colaborar com o governo e difundir sua ideologia do que, efetivamente, por ser contra ele. Agora, o que os governantes gostariam é que nada do que fazem de malfeito seja publicado. Isto somente existe quando não há imprensa ou está é controlada numa ditadura. É o ideal de todo governo ter uma imprensa que só noticie o que interessa. Aí não se tem imprensa, mas, diário oficial.