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terça-feira, junho 19, 2007

PROTESTAR É PRECISO...

NADANDO CONTRA A CORRENTE
O poder, no mundo moderno, é invasivo. Diluindo as fronteiras entre o trabalho e o lazer, entre a casa e o escritório, entre o público e o privado, efetivamente, penetrou em todas as esferas da existência, e, numa mágica às avessas, mobilizou inteiramente o homem para se alienar pela busca incessante de mais riqueza, mais poder, mais ter. Assim o corpo, a afetividade, o psiquismo, a inteligência, a imaginação, a criatividade não são postas em prol do bem-estar próprio e geral e sim de uma filosofia invertida em que o que importa é ganhar dinheiro, ter sucesso a qualquer custo fechando os olhos para a miséria e a decomposição em volta. Porém, nenhum homem, ou sociedade, é uma ilha. Somos, cada vez mais, uma aldeia global, daí que ao violar, invadir, colonizar os outros em seu proveito os donos do poder plantam as sementes do seu próprio mal-estar. É impossível ser feliz num mundo totalmente desequilibrado.
Talvez, para piorar ainda mais as coisas, especialmente no Brasil, o poder está nas mãos dos que menos possuem preparo para exercê-lo e, como a inteligência é bem distribuída e os medíocres cientes de que somente pela força podem governar, o uso dos mecanismos de controle, como o capital, o Estado, a mídia e as instituições, tomam formas difusas que moldam a forma de pensar das pessoas. O poder, infelizmente, se exerce por dentro vendendo, por exemplo, a convicção de que a política é ruim, que todos os políticos são iguais, que todos roubam e que não vale a pena lutar por um mundo melhor. E como todos são iguais o negócio é se locupletar do que é possível. Como, para a grande maioria, é impossível ler através dos fatos o que o poder leva é ao conformismo, à vidinha sem objetivos nem grandeza, sem sonhos enfim.
É o que se prega, no momento, no Brasil que todos nós fiquemos conformados em ser homens-múmias. É certo que fora do sarcófago, mas devemos aceitar que este é o melhor dos mundos possíveis, que o Brasil nunca esteve tão bem, que, agora, não devemos ter pressa, que os 0,01% de aumento e os 2,8% de crescimento (aumentados por alquimia) é o máximo que se pode ter. Ao mesmo tempo que, por ações da Polícia Federal, se comprova que tudo é uma porcaria, que todo mundo é corrupto, até pelo exemplo de cima de adultério e de venda de bois, o melhor mesmo é a indiferença política que vem pela exaustão da luta. Afinal não vale a pena. Chegamos ao melhor que se pode chegar...Mas, nós, brasileiros, seres criados para o prazer e a felicidade, criadores do carnaval, não podemos aceitar ser o que o poder quer. O poder quer homens docilizados, inconscientes, vegetativos, conformados que digam sim. E nós, que não desistimos nunca, que, ontem, dissemos não ao poder centralizado e brutal, agora, diremos também não, ao descentralizado e mais brutal ainda. Não somos uma manada. Somos um povo. E, contra os anti-povo de direita e de esquerda, ainda iremos fazer deste país uma democracia de verdade.

O FANTÁSTICO CIRCO DA MÍDIA

Com a perda de dinheiro que os meios de comunicação enfrentam se, antes, já não existia, agora, é que não existe mesmo mais o tal do “jornalismo investigativo”. É pura conversa para boi dormir. As redações, seja do que for, possuem pouca gente (e sem grande experiência) para ir atrás das notícias e são pautados, ou seja, vão somente atrás do interesse do momento que, em geral, é o assunto dominante, daí a razão de que quando se fala do Vavá é só do Vavá, se do Renan é só do Renan, de Luana Piovani ter chamado Caetano de “banana de pijama”, é só de Luana ou, para ser temático, do aquecimento global.
Logo também o famoso "furo", a descoberta de uma notícia antes dos outros, só acontece movido por interesses. Normalmente quando uma fonte oficial, ou não, despeja um dossiê para atingir alguém por motivações políticas ou econômicas. É, sem tirar nem por, o que acontece agora com o festival de vazamentos de informações das operações da Polícia Federal ou com o circo da “venda” dos bois de Renan Calheiros. Claro que o senador não pode ser considerado nenhum santo, porém é muito suspeita a ânsia de investigação da acomodada e pacífica Rede Globo que, de repente, se torna investigativa. Está na cara que não é. Certamente é fruto dos adversários locais, ou federais, inconformados, quando ficou evidente a pizza, que partiram para quebrar a blindagem, por sinal frouxa, do presidente do Senado. Se absolverem, se arquivarem o processo contra Calheiros é o mesmo que dizer que se pode fazer qualquer coisa, mesmo documentada, que o Congresso absolve.
Na verdade, hoje, jornalismo investigativo virou isto: ações de pessoas ou grupos envolvidos numa briga qualquer vazam informações para a imprensa visando atingir seus adversários. A imprensa buscando afirmar a imagem de "independência" acaba sendo massa de manobra, se deixa manipular, por algumas manchetes sensacionalistas. Os policiais, como estão com a mão na massa, também ganham projeção com tais escândalos, vide elogios e o alto conceito em que a PF anda, de forma que o sucesso da formula está se espalhando tanto que até as policiais estaduais resolveram também aderir e uma exorbitou prendendo 2.532 pessoas num só dia. Pasmem 2.532 pessoas! Imagine como serão tomados os depoimentos (e quando), onde serão alojados e qual a justificativa para prender tantos de uma vez só! Agora que as manchetes estão asseguradas não há dúvida. E, de fato, durante algum tempo o circo da mídia deve ser alimentado por depoimentos, indícios & cia ltda., porém, como tem sido norma, o difícil será tomar conhecimento de punições, pois, na prática, fora as breves e rápidas prisões, as sentenças, como o jornalismo investigativo, não existem. É só mesmo jogo de cena e alimento para o circo. Que país!

terça-feira, junho 05, 2007

KLEDIR RAMIL

O ARTISTA VISÍVEL
Fui, no Teatro Um do SESC, para o lançamento do livro de Kledir Ramil, “O Pai Invisível”, uma série de crônicas em que Kledir, de forma dinâmica e informal, relata as situações cômicas e surrealistas pelas quais um pai moderno tende a passar. No caso específico as que ele mesmo passou com os filhos adolescentes. Com maestria compara os períodos diferentes, ao relembrar seu próprio tempo de garoto, quando o ritmo e a posição do pai era outra. Kledir tem um estilo espirituoso, uma forma engraçada de contar histórias que são comuns e, ao mesmo tempo, únicas, dos problemas entre pais e filhos. Não há como não se identificar com o tema que é atual, difícil, complicado o que, mesmo com o tratamento jocoso, fica explícito a seriedade com que encara sua missão de passar algo de sua vivência. A tese que defende é ótima: se no início de suas vidas os filhos dependem dos pais para tudo, quando chega a adolescência, esquecem que o pai existe, e a impressão é que ele se torna um ser invisível. Mas, na verdade, não é bem assim: volta e meia será lembrado justamente quando gostaria de ser esquecido – para a carona de madrugada, para pagar o cinema, o tênis importado, levar os filhos e a galera num passeio que é a maior roubada. Pai é uma espécie de lona que não deve ser percebida enquanto o filho não erra o trapézio.
Kledir Ramil, um gaúcho torcedor do Internacional, nascido em 1953, consagrou-se na música com a dupla Kleiton & Kledir, tendo sido um verdadeiro ícone da modernidade das palavras, talvez gauchescas, porém que influenciaram toda uma geração. Impossível não lembrar de sucessos maravilhosos como “Deu pra ti”, “Nem Pensar”, “Paixão”, “Vira, Virou” e “Maria Fumaça” entre tantos outros. Não sabia muito sobre sua vida passada, nem presente, pois, a dupla desapareceu do cenário nacional, numa certa época, não sei se recolhido mais ao Rio Grande ou se a vida os levou por outros projetos. Sei que reencontrar Kledir, agora como escritor, foi um momento agradável sobre vários aspectos. Trata-se de um artista, de fato, preocupado com seu fazer e seu mundo, uma verdadeira antena da raça, que é de uma grande empatia com o público mesmo fora do espaço musical. Provou ser polivalente e até mesmo teatral, no melhor sentido do termo, ao saber explorar sua própria figura seja nas vídeocrônicas, seja no debate com o público, ao criar momentos de beleza, de descontração e até mesmo de surpresa ao apresentar o público o último tipo de videogame japonês, o bilboquê, aquele brinquedo de madeira que se deve encaixar numa ponta, conhecido por nós, embora não encontrável nos dicionários, como currimboque que, como rapaz de boa cepa, achou meio pornográfico. Não importa. Importa que Kledir é um talento multifacetado, embora, como música seja música, gostaria também de tê-lo ouvido cantar, embora lembrar “Churrasquinho de Mãe” de Teixeirinha, para nossa geração e adjacências, seja um plus. Viva Kledir! Que volte outras vezes ás margens do Madeira!