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terça-feira, junho 05, 2007

KLEDIR RAMIL

O ARTISTA VISÍVEL
Fui, no Teatro Um do SESC, para o lançamento do livro de Kledir Ramil, “O Pai Invisível”, uma série de crônicas em que Kledir, de forma dinâmica e informal, relata as situações cômicas e surrealistas pelas quais um pai moderno tende a passar. No caso específico as que ele mesmo passou com os filhos adolescentes. Com maestria compara os períodos diferentes, ao relembrar seu próprio tempo de garoto, quando o ritmo e a posição do pai era outra. Kledir tem um estilo espirituoso, uma forma engraçada de contar histórias que são comuns e, ao mesmo tempo, únicas, dos problemas entre pais e filhos. Não há como não se identificar com o tema que é atual, difícil, complicado o que, mesmo com o tratamento jocoso, fica explícito a seriedade com que encara sua missão de passar algo de sua vivência. A tese que defende é ótima: se no início de suas vidas os filhos dependem dos pais para tudo, quando chega a adolescência, esquecem que o pai existe, e a impressão é que ele se torna um ser invisível. Mas, na verdade, não é bem assim: volta e meia será lembrado justamente quando gostaria de ser esquecido – para a carona de madrugada, para pagar o cinema, o tênis importado, levar os filhos e a galera num passeio que é a maior roubada. Pai é uma espécie de lona que não deve ser percebida enquanto o filho não erra o trapézio.
Kledir Ramil, um gaúcho torcedor do Internacional, nascido em 1953, consagrou-se na música com a dupla Kleiton & Kledir, tendo sido um verdadeiro ícone da modernidade das palavras, talvez gauchescas, porém que influenciaram toda uma geração. Impossível não lembrar de sucessos maravilhosos como “Deu pra ti”, “Nem Pensar”, “Paixão”, “Vira, Virou” e “Maria Fumaça” entre tantos outros. Não sabia muito sobre sua vida passada, nem presente, pois, a dupla desapareceu do cenário nacional, numa certa época, não sei se recolhido mais ao Rio Grande ou se a vida os levou por outros projetos. Sei que reencontrar Kledir, agora como escritor, foi um momento agradável sobre vários aspectos. Trata-se de um artista, de fato, preocupado com seu fazer e seu mundo, uma verdadeira antena da raça, que é de uma grande empatia com o público mesmo fora do espaço musical. Provou ser polivalente e até mesmo teatral, no melhor sentido do termo, ao saber explorar sua própria figura seja nas vídeocrônicas, seja no debate com o público, ao criar momentos de beleza, de descontração e até mesmo de surpresa ao apresentar o público o último tipo de videogame japonês, o bilboquê, aquele brinquedo de madeira que se deve encaixar numa ponta, conhecido por nós, embora não encontrável nos dicionários, como currimboque que, como rapaz de boa cepa, achou meio pornográfico. Não importa. Importa que Kledir é um talento multifacetado, embora, como música seja música, gostaria também de tê-lo ouvido cantar, embora lembrar “Churrasquinho de Mãe” de Teixeirinha, para nossa geração e adjacências, seja um plus. Viva Kledir! Que volte outras vezes ás margens do Madeira!

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