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domingo, abril 19, 2020

O DESAFIO DE SOBREVIVER ALÉM DA CRISE



A crise do coronavírus, por mais que alguns desejem até esticar por razões políticas, não irá durar para sempre. As pessoas mais pobres, os micros e pequenos empresários mais atingidos por ela já se manifestam pelas ruas do Brasil contra a quarentena a ponto de muitos até pedirem a quebra da ordem institucional. É um reflexo do desespero que, se não for atendido, em breve provocará situações muito mais complicadas, em especial para aqueles que defendem o isolamento denominado de horizontal. Na prática, aliás, ele já não existe, pois, mesmo em estados, como São Paulo, que, deveriam ter apenas 30% das pessoas nas ruas, possuem muito mais. O problema real será depois que virar a chave da crise? Como iremos tratar de, no mínimo, mais dois milhões de desempregados? Que empresas, especialmente entre as micros e pequenas, ainda estarão de portas abertas? Com certeza também as famílias, que já estavam endividadas e já não tinham poupanças suficientes para lidar com este tipo de choque, como se comportarão? Um cálculo, que já fazem os especialistas no mercado de trabalho, é de que haverá uma sensível redução da mão de obra a ser contratada. Estima-se que, dos que perderam seus empregos, somente 70 a 80% serão recontratados e não de imediato. Não se espera- e nisto existe quase um consenso entre os analistas-  que o crescimento, a globalização e o comércio simplesmente voltem ao normal quando houver o controle da epidemia. Em suma, o mundo não será mais o mesmo. Em primeiro lugar porquê quanto maior o tempo de paralisação das atividades econômicas mais o país, as empresas e as pessoas empobrecem e, em segundo lugar, com o aumento das compras por meio do e-commerce e a utilização do teletrabalho, uma das resultantes inevitáveis será, certamente, uma diminuição do número e do tamanho das lojas físicas.
Em terceiro lugar, não há possibilidade de uma recuperação rápida da crise, tanto que o Fundo Monetário Internacional-FMI prevê a maior depressão econômica desde os anos 30, porém, naquele tempo as razões e a economia eram completamente diferentes. Inclusive teve seu início no sistema financeiro. Agora não. É na produção que se atingiu a economia. E, mesmo na Grande Depressão o desemprego nos EUA subiu  somente 3,5%, ao longo de quatro anos, agora, no Brasil, se estima uma queda imediata de 5%, todavia, que podemos chegar um aumento do desemprego de 9% em mais quatro semanas de paralisação das atividades.
É um desafio enorme para um governo, como o brasileiro, que já possui dívida e déficit público altos. Mas, o governo brasileiro não poderá fugir de ter que criar pacotes de ajuda, de crédito e de transferir recursos para os mais necessitados. Não somente no nosso país isto acontece, de fato. Porém, em países em melhor situação, países com taxas de juros mais baixas do que as taxas de crescimento, como os Estados Unidos e os mais fortes da Europa, os pacotes  se pagam sozinhos. Para países como o nosso não há opção fora rodar enormes déficits orçamentários no futuro e usar a inflação para aliviar o peso da dívida. A solução boa seria impulsionar o crescimento, para diminuir a dívida como proporção do PIB, mas, como vimos antes da crise, isto é mais fácil falar do que fazer.

Ilustração: Superinteressante.

sexta-feira, abril 10, 2020

EURO TOURINHO E O DIA DO JORNALISTA



Hoje dia 7 de abril é Dia do Jornalista. Apesar dos tempos difíceis em que vivemos, de que a profissão de jornalista tenha sido muito depreciada, submetida, como está sendo, a condições quase vis, a uma gradativa e contínua subordinação à interesses pouco recomendáveis, o verdadeiro jornalista continua a ser uma figura indispensável para a nossa sociedade. É verdade que o jornalismo profissional, uma fonte de informação qualificada, checada, que busca ser o mais fiel possível aos fatos e fornecer os dois lados de uma notícia qualquer, se encontra, cada vez mais, difícil de ser feito. O que temos, hoje, é a invasão de francos atiradores, quando não arrivistas sociais, que usam a imprensa para seus próprios fins de enriquecimento, extorsão, de alpinismo social. Há, inclusive nas redes sociais, uma profusão de palpiteiros, de copiadores, que outorgam a si mesmo o título de jornalistas (e muitos conseguiram até ser reconhecidos como profissionais) que jamais se deram ao trabalho de buscar fatos e informações em fontes primárias, quanto mais de  reportá-los para a sociedade de uma forma clara e objetiva. Na realidade nossa de hoje, do reino imperial do Fake News, do sensacionalismo barato, da propagação unilateral de versões nocivas,  da facilidade na fabricação de fatos, o jornalismo se tornou engajamento cego, opinião sem análise, alguns até se valendo de Millôr Fernandes que disse que “Jornalismo é oposição. O resto é secos e molhados”, se esquecendo que, até outro dia, aplaudiam governos corruptos que enchiam suas bolsas. Jornalismo só é oposição, só pode ser oposição em tiranias, em ditaduras. Em democracias deve ter equilíbrio, ser um fiscal sim dos governos, porém, com equidade, buscando formar e informar. Não posso, aqui, deixar de saudar os verdadeiros jornalistas, os grandes profissionais da imprensa que sempre buscaram dar o melhor de si em prol da boa informação. Por isto mesmo não posso deixar, de hoje, lembrar o meu grande e saudoso amigo Euro Tourinho, que por mais de sessenta anos na frente do Alto Madeira procurou transmitir, a todos que passaram por sua redação, as verdadeiras qualidades de um bom jornalista. Lembro que, uma vez, numa entrevista disse que: “Jornalista acima de tudo, tem que ter amor pela profissão e levar a sério o que faz, sempre primar pelo respeito ao leitor e à notícia”. Ele, com seu modo calmo e sábio, dizia que “não se deve publicar como jornalista o que não se pode sustentar como cavalheiro”. Para ele, “O bom jornalismo é como uma xícara de porcelana, bela e frágil, precisamos cuidar com o maior zelo possível”. Ser, e fazer, jornalismo de qualidade é isto: garantir que a informação que se passa é fidedigna, pautada pela ética e por princípios fundamentais- algo difícil nos nossos conturbados tempos. É, por isto, pela falta destes valores que agregam respeito e credibilidade à imprensa, que restam, hoje, o jornalismo anda tão desacreditado, com jornalistas sendo apenas papagaios, meros repetidores de chavões e, por isto, uma razão fundamental para que o nome de Euro Tourinho não seja esquecido e cultuado, além de suas inesquecíveis qualidades humanas. Na figura dele, nossa homenagem aos verdadeiros jornalistas.

segunda-feira, abril 06, 2020

UMA TENTATIVA DE OLHAR ALÉM DA CRISE DO VÍRUS



Não apenas a mídia, como também as redes sociais, todas as pessoas, desejem, ou não, estão falando sobre o coronavírus e atentos para o que acontece no mundo, quem toma medidas melhores ou sofre mais com a crise. O que poucas pessoas fazem é pensar sobre o futuro pós-crise. O que encontraremos na frente depois de passado este período em que o medo, irracional, permeia, sem que as pessoas percebam, seu modo de pensar. Embora expressem, nas palavras, a preocupação com os outros, na verdade, são movidas pelo receio de uma morte horrível. Há um medo imenso e imperceptível, até por defesa própria, que vem da natureza humana: o medo que se tem de ter perdido o controle, de que não há defesa fácil contra o vírus.
No entanto, se pensarmos na vida depois da epidemia, com uma visão otimista, veremos que a crise nos obriga a ver, e  dar valor, a coisas que, normalmente, fazemos sem valorizar, como dar um aperto de mão, um abraço, jantar ou conviver com os amigos, seja num clube ou num boteco. Talvez, até diminua o hábito que temos de, até na convivência, dar mais atenção às telas de celulares ou tvs. Quem diria, por exemplo, que sair de casa, até para um supermercado, é tão bom! Imagine ir a um evento, a um cinema, a uma livraria ou a um parque?Até mesmo uma caminhada pelo bairro ou pelo centro, agora, ganha uma importância que não se sabia ter. O coronavírus também nos mostrou que o trabalho em casa funciona. E, muitos, até trabalharam mais do que nos seus locais de trabalho. Também aprendemos, à força, é verdade, que não lavamos as mãos direito. Pois é! Até lavar as mãos tem sua tecnologia. Mais do que todas essas coisas, porém, o coronavírus nos obriga a pensar na economia. Na quantidade de bens, serviços e dinheiro que precisamos para sobreviver. Há uma enorme quantidade de pessoas que, surpreendidas pelo vírus, não possuíam dinheiro suficiente para enfrentar a tempestade. Ficaram em uma situação muito difícil sem poder trabalhar, sem poder sustentar a família. Houve casos em que o chefe de família pirou e, depois, ajudado, chorando, disse ter pensado em suicídio. Quem tinha economias, ou um salário garantido durante a epidemia, tem uma enorme vantagem, um verdadeiro colchão de massagem, para enfrentar o estresse contra um assassino invisível que pode estar nos lugares menos imagináveis. Sem dúvida um dos comportamentos que deve se acentuar, pós-crise, deve ser o de buscarmos criar uma poupança maior, usar nosso dinheiro de uma forma que nos dê a certeza que não seremos pegos de calça-curta de novo. O duro é que, ainda estamos imersos nesta situação terrível, e quanto mais perdurar o isolamento, mais os problemas futuros da economia se acentuarão. E, hoje, com a falência de muitos negócios, e a demissão em massa, que está acontecendo, além dos riscos que corremos de desestabilização e de desabastecimento, não é de espantar que, até mesmo os chefes de estado, se recorra à religião. São tantas as preces e as orações que, de uma hora para outra, até os ateus estão apelando para Deus. É talvez, também, pós epidemia, o povo fique mais religioso.

domingo, abril 05, 2020

O JORNALISMO DO TERROR É UM DESSERVIÇO





Sou, por convicção e por história, favorável ao regime democrático e à liberdade de opinião. Porém, não tenho como não assinalar que a imprensa brasileira tem tido um comportamento altamente negativo, não somente no presente caso da epidemia do coronavírus, mas, especialmente nela, nos impingindo um jornalismo de “terror e pânico”. Não vou entrar em discussões idiotas, tipo esquerda e direita, pró ou contra Bolsonaro, isolamento horizontal ou vertical. A própria OMS-Organização Mundial de Saúde foi cristalina, ao afirmar que as medidas deviam depender, em cada caso, do grau da epidemia, das possibilidades e recursos de cada país. É, um fato irretorquível o de que, nos casos de calamidades sanitárias, mais do que nunca, tudo é relativo. Isolamento, universal ou não, não garante nada. Não é possível se ter certezas, nem prever o que vai acontecer da forma como a mídia apresenta. Como se houvesse uma certeza absoluta que o isolamento total é o melhor a ser feito, independente das famílias sem sustento econômico e dos efeitos desastrosos desta medida sobre a economia, sobre o nosso futuro.
Não sou, nem nunca fui, um dos que advogam retaliações contra a Rede Globo, nem nunca deixei de reconhecer que tem sido, ao longo do tempo, competente para se manter na liderança da televisão aberta, no entanto, isto não me impede de ser um crítico antigo de seu comportamento. É claro que se trata de uma empresa, que está preocupada com sua sobrevivência e seus lucros, logo não será a favor de quem cortou suas fontes de renda, então, nada do que faz, do que fez, se afasta de seus interesses. Não há nada demais nisto, exceto quando vira uma política deliberada que se aliena do que se espera de uma imprensa correta e informativa. Prever, como tem previsto, que, na semana de 30 de março, nas cidades de São Paulo, Rio e Brasília o vírus chegaria a 16 mil casos, quando em dia 4 de abril, os casos confirmados, de fato, eram somente, no Brasil, 9.056, é criar uma atmosfera alarmante como divulgar falas de que irão morrer mais de um milhão de pessoas no País. Claro que sempre existirão os argumentos de que as fontes são “especialistas”. O uso de especialistas é um artifício. Ainda mais quando se cerceia os que discordam. E até a CNN fez isto.  Uma televisão, uma rádio, um jornal, qualquer empresa ou instituição precisa ter responsabilidade pelo que divulga. No mínimo se precisa relativizar os dados ou corrigir a previsão antes feita. Mas, não só a Rede Globo, como a maioria de nossa imprensa, está jogando no time do alarmismo e do quanto pior melhor. Só isto explica tanto destaque, por exemplo, para informar que, em maio, o número de infectados no Estado poderia chegar a mais de 500 mil, sem as devidas precauções que devem ser dadas a uma previsão. Mas, o caráter alarmista fica evidente quando o G1 de Rondônia estampou que os casos de coronavírus aumentaram, em uma semana 500% de 1 para 6! Não é de espantar que estejam, rapidamente, perdendo a credibilidade.