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segunda-feira, abril 30, 2012

Primeiro é preciso fazer o dever de casa



A Ata da 166.ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) demonstra que o governo tem uma visão otimista da economia na medida em que sinaliza que o processo de redução da taxa básica de juro (Selic) não acabou, todavia, o sujeita, como é natural, à evolução da economia internacional e nacional. Fica claro que, para o governo, mesmo com o ambiente internacional continuando preocupante, a situação é boa na medida em que cria um ambiente de contenção dos preços e permite ao Brasil captar recursos externos em melhores condições, embora o Copom não toque na questão de que isto se faz por meio das importações e em detrimento da indústria nacional.
Há uma crença no voluntarismo quando as autoridades creem que a demanda interna poderá melhorar por meio das medidas tomadas para dinamizar a indústria e diminuir o custo dos juros, bem como, pontualmente, se ter desonerado certos ramos industriais. Não se toca, na ata, no entanto, na questão central do aumento da carga tributária nem na má distribuição e no corte dos gastos com os investimentos. É verdade que não faz parte da atribuição da autoridade monetária tratar de tais problemas, mas, ao exaltar a atual política fiscal se procura, de fato, acentuar que as perspectivas para a inflação são boas e se neglicencia os efeitos de uma desvalorização do real e da possibilidade concreta de um aumento dos derivados do petróleo mudar completamente o panorama. A questão é que o governo alardeia o lado positivo do que faz sem levar em conta que somente mudando a competitividade (impossível de se obter sem mudanças substanciais) não se ataca os problemas que conservam a economia nacional num puxa e encolhe, num sobe e desce.
Neste sentido nem adianta discutir os limites da redução da taxa Selic no contexto atual, que, para muitos, seria de 8,75%. O problema é que, mesmo com os significativos cortes, e com a agressiva postura do governo de fazer com que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica cortem seus juros (ainda de forma tímida), mesmo com as finanças públicas em ordem, o financiamento do déficit público exige uma elevação constante da carga tributária, que figura entre uma das mais fortes causas da falta de competitividade da economia brasileira. A ofensiva do governo por melhorar o custo e o nível do crédito tem, por tal motivo, tido pouco efeito porque na raiz dos problemas está o fato de que o governo tem políticas contraditórias, a incapacidade crônica de fazer o que deve ser feito e uma dívida interna elevada que demonstra que, para poder cobrar dos outros, é preciso, primeiro, fazer o dever de casa. E fazer o dever de casa é melhorar o gasto público e, gradativamente, se livrar de ser um eterno devedor.

sexta-feira, abril 06, 2012

Sem nada de novo no horizonte


Li um artigo do deputado José Aníbal, cujas boas intenções e o desejo de ver um país melhor me parecem incontestáveis, com o nome de “O fim da política sem sonho” em que louva o fato do PSDB ser um partido “que tem uma história de bons serviços prestados ao Brasil” e, que, por tal razão, precisava se renovar, daí, as prévias para a prefeitura de São Paulo, que, segundo ele, estabeleceu a representatividade partidária como critério para definir o candidato e, como resultado, foi um sucesso para rejuvesnecer o partido. O deputado, considera com razão, que nunca existiram tantos partidos e tão governistas, mas, a meu ver, erra feio quando afirma que, com as prévias, o seu partido voltou a fazer política.
Infelizmente não é verdade. Se há um partido que fez e faz política este, podem dizer o que quiserem, mas, é preciso reconhecer sua capacidade, é o Partido dos Trabalhadores, o PT. E faz política por ter conseguido se incrustar nas bases ao ponto de ter feito- como fez nos últimos anos- uma completa despolitização da política. A grande realidade é que, sob a batuta de Lula da Silva, o PT foi se infiltrando, utilizando com maestria a filosofia gramsciana da influência intelectual, em todas as organizações sociais, em especial nos sindicatos de trabalhadores, de tal forma que, quando Fernando Henrique era governo, teve que enfrentar, em condições externas adversas, uma enxurrada de greves e manifestações que chegaram ao ponto de pedir seu afastamento. Onde essas combativas organizações estão durante os mandatos petistas? A resposta é fácil de ser dada. Basta verificar quem ocupa postos significativos e rentáveis de governo, quem são as organizações que abocanham verbas públicas quase sem controle, nem cobrança de resultados. O PT que mobilizou as bases com promessas de mudanças é o mesmo que, no governo, as desmobilizou com os recursos públicos cooptando suas lideranças, daí, a enorme despolitização. As representações sociais, incluindo aí as grandes e tradicionais, perderam todo e qualquer compromisso com suas bases.
É neste contexto que qualquer partido, para fazer política, de fato, precisa mudar seu comportamento e acabar com o caciquismo e com a imobilidade. Neste sentido fazer as prévias é um fato novo, realmente, num partido como o PSDB onde a cúpula decidia sem ouvir as bases. Porém, somente isto não basta. É indispensável que os partidos passem a estudar a realidade, contestem os dados e o marketing político do governo. É indispensável que passem a vocalizar as aspirações populares. Deixem de ser o instrumento de políticos para ser o instrumento da política, ou seja, passem a formar lideranças, a discutir problemas locais e nacionais, a se insurgir contra um governo que, supostamente, construiu um país novo. Novo em que? Na dívida pública imensa, no endividamento em massa, na desindustrialização progressiva? No pagamento insuportável de juros? Na maior carga de impostos do Ocidente? Fazer política é desmanchar o conto de fadas de que estamos no melhor dos mundos possíveis. E, mesmo o PSD, que se construiu e pretende ser uma alternativa nova, ainda não deu um passo na direção de se postar como alternativa. Política com sonho é propor uma alternativa viável ao que aí está. E a sonolência e a preguiça com que os partidos se movem só faz bem ao PT. Que me desculpe o deputado José Aníbal, mas, não há nada de novo no horizonte.