A Ata da 166.ª reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom) demonstra que o governo tem uma visão otimista da economia na
medida em que sinaliza que o processo de redução da taxa básica de juro (Selic)
não acabou, todavia, o sujeita, como é natural, à evolução da economia
internacional e nacional. Fica claro que, para o governo, mesmo com o ambiente
internacional continuando preocupante, a situação é boa na medida em que cria
um ambiente de contenção dos preços e permite ao Brasil captar recursos
externos em melhores condições, embora o Copom não toque na questão de que isto
se faz por meio das importações e em detrimento da indústria nacional.
Há uma crença no voluntarismo quando as autoridades
creem que a demanda interna poderá melhorar por meio das medidas tomadas para
dinamizar a indústria e diminuir o custo dos juros, bem como, pontualmente, se
ter desonerado certos ramos industriais. Não se toca, na ata, no entanto, na
questão central do aumento da carga tributária nem na má distribuição e no
corte dos gastos com os investimentos. É verdade que não faz parte da
atribuição da autoridade monetária tratar de tais problemas, mas, ao exaltar a
atual política fiscal se procura, de fato, acentuar que as perspectivas para a
inflação são boas e se neglicencia os efeitos de uma desvalorização do real e
da possibilidade concreta de um aumento dos derivados do petróleo mudar
completamente o panorama. A questão é que o governo alardeia o lado positivo do
que faz sem levar em conta que somente mudando a competitividade (impossível de
se obter sem mudanças substanciais) não se ataca os problemas que conservam a
economia nacional num puxa e encolhe, num sobe e desce.
Neste sentido nem adianta discutir os limites da
redução da taxa Selic no contexto atual, que, para muitos, seria de 8,75%. O
problema é que, mesmo com os significativos cortes, e com a agressiva postura
do governo de fazer com que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica cortem seus
juros (ainda de forma tímida), mesmo com as finanças públicas em ordem, o
financiamento do déficit público exige uma elevação constante da carga
tributária, que figura entre uma das mais fortes causas da falta de
competitividade da economia brasileira. A ofensiva do governo por melhorar o
custo e o nível do crédito tem, por tal motivo, tido pouco efeito porque na
raiz dos problemas está o fato de que o governo tem políticas contraditórias, a incapacidade crônica de fazer o que deve ser feito e
uma dívida interna elevada que demonstra que, para poder cobrar dos outros, é preciso,
primeiro, fazer o dever de casa. E fazer o dever de casa é melhorar o gasto público
e, gradativamente, se livrar de ser um eterno devedor.
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