Há uma lenda urbana, muito
ajudada pela crise da economia mundial de 2008, de que o Brasil se tornou mais
importante e vai bem pela forma como suportou os efeitos da crise internacional
em meio à piora das outras nações e que o país estaria numa espécie de lua de
mel com o mercado internacional. Ora, costuma-se dizer que dinheiro não tem pai,
nem mãe, nem pudor: vai para onde pode ter maior retorno e, no nosso caso, com
as altas taxas de juros, talvez, as maiores do mundo, não é de supor que haja
muito problema do capital especulativo vir buscar seus ricos dividendos por
aqui. Urge acentuar que o que se comemora como melhora, a queda do risco
Brasil, é, na verdade, a sinalização de que se pode vir sem receio buscar os
maiores juros sem impostos no nosso mercado.
Temos estabilidade? Temos sim. Mas,
esta estabilidade que significa, na prática, apenas que pagamos regularmente os
juros da enorme e crescente dívida brasileira, não será capaz de nos garantir um
futuro promissor sem as reformas reclamadas imemorialmente e sem atacar os
problemas eternos da educação, das deficiências na área de infraestrutura, que
continuam a engolir a nossa produtividade e competitividade, bem como o peso
insustentável de um sistema tributário arcaico e complexo, que ajuda a inflar o
chamado custo Brasil. Contra o otimismo governamental,que empurra com a barriga
os problemas, se assiste a um processo gradativo de desindustrialização e a
repetição do denominado “voo de galinha” que é a monótona repetição de um ou
dois anos de crescimento alto, seguido de medidas de repressão contra inflação
na medida em que não existe nem capacidade produtiva, ne investimentos para se construir uma
sustentabilidade de longo prazo.
Agora mesmo assistimos as previsões
de crescimento para 2012 caindo rapidamente e crescendo o número de analistas
que preveem um avanço para o Produto Interno Bruto (PIB) igual ou até mesmo
inferior aos 2,7% registrados no ano passado. O resultado do PIB, divulgado na última
sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstra
que o país praticamente parou no primeiro trimestre deste ano, com um
crescimento de apenas 0,2% em relação aos três últimos meses de 2011 e de 0,8%
em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o pior desempenho entre os
países dos Brics e isto irá se repetir se não houver uma política para que
tenhamos os necessários ganhos de produtividade, poupança e investimento para
dar um novo impulso à economia brasileira.
Ninguém contesta que seja correto
o governo tomar medidas para incentivar o mercado interno, mas, não faz seu
dever de casa, como ocorre na China com a redução dos gastos públicos que
possibilite aumentar seus investimentos. Ao contrário da China, com uma
situação fiscal mais equacionada, o Brasil tem gastos elevados que limitam o
seu aumento de investimentos e inibe maiores desonerações. Com carga tributária
elevada, problemas de infraestrutura e burocracia, além da baixa taxa de
investimento e sem fazer as melhorias devidas nas são áreas de educação, saúde,
produtividade e ambiente de negócios, todo o otimismo que alimentamos será vão.
Enquanto nossos dirigentes vivem se gabando de que estamos melhor que os outros
continuaremos marcando passo. Não existe omelete sem quebrar os ovos.
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