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terça-feira, fevereiro 17, 2009

JARBAS RASGOU A FANTASIA



Por mais que a grande imprensa tenha minimizado a verdade é que, desde que, em junho de 2005, o deputado Roberto Jefferson, do PTB, denunciou a compra sistemática de parlamentares para servir ao governo Lula, no esquema conhecido historicamente pelo nome de "Mensalão", um político não conseguiu um efeito tão devastador quanto o da entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja. Afinal Jarbas não é um político insignificante nem um neófito. Já foi duas vezes governador do seu Estado e é um dos fundadores do seu partido e, ao contrário de Jefferson, não tem o intento de vingança nem é um homem que almeje muito mais do que já obteve na política. De fato, o que fez foi um desabafo de alguém que se cansou de ver o controle do Planalto sobre o Congresso que dança sob a conveniência do lulismo deteriorando ainda mais os costumes políticos e se afastando da ética e do bem público que deve ser o norte da política.
Claro que não iria citar casos concretos nem dizer nomes, aliás, dispensáveis, porém, meteu sem dó o dedo na ferida que não é apenas do PMDB, que não é segredo para ninguém que se trata mesmo de uma confederação de líderes regionais, todos com os seus próprios interesses onde predominam as práticas clientelistas. Não é um apanágio do PMDB como explicou Vasconcelos, mas, de todos os partidos fisiologistas que usam os cargos como instrumento de prestígio político e se especializam na “manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral". Nem mesmo é novidade que "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção." O que salta aos olhos é que o senador denunciou com muito mais veemência o clientelismo explícito do governo Lula da Silva que quer se perpetuar, à la Chávez, alargando o Bolsa Família, como bem disse Jarbas “O maior programa de compra oficial de votos do mundo”.
O que, de certa forma, motivou o desabafo é a geladeira em que colocaram um homem com a experiência de Jarbas Vasconcelos à margem da política nacional enquanto outras figuras menores, por serem coniventes com um sistema corrupto, não contribuem para mudar absolutamente nada para o país. A amargura do senador foi extravassada pelo fato de que considera inadmissível Renan Calheiros, depois de ser apeado da presidência por um escândalo, voltar a ser líder e Sarney que considera sem “compromisso com reformas ou com ética" ser guindado à presidência apenas por servir para manter os partidos numa relação essencialmente clientelística. Jarbas Vasconcelos não atingiu o PMDB, mas, uma estrutura clientelística e corrupta de manutenção do poder que quer se perpetuar. Jarbas Vasconcelos rasgou a fantasia de eficiência de um governo que tem sido excepcional em marketing e medíocre em resultados.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

UMA PALHINHA...



NA FOGUEIRA DO DEBATE
A provocação está feita para todos que, de uma forma ou de outra, dependem das mídias, porém, afeta mais particularmente os jornais. Já, no Alto Madeira, de domingo a provocação veio sob a forma da matéria de Antonio Nilton que sob o título “A Imprensa morreu. Viva a nova Imprensa” em que defende a tese de que só haverá salvação para os meios de comunicação se, e somente se, houver mais investimentos, mais criatividade e preocupação com os leitores. É um bom veio a ser explorado. Ou seja, a preocupação com o futuro dos jornais é uma preocupação bem nossa.
Mas não só nossa como comprova a reportagem de capa desta semana da revista Time que aborda exatamente os tempos negros vividos pelos jornais. O autor da análise é pessimista, pois, trata-se de Walter Isaacson, ex-editor da própria Time, que enfoca os jornais americanos apresentando números que comprovam a queda de faturamento das empresas de mídia, enquanto, contraditoriamente, se constata o aumento do número de leitores, em especial mais jovens, que, normalmente, rejeitavam o formato de jornal impresso. Issacsoon trava uma luta intelectual tentando encontrar caminhos para que as empresas possam sair da sinuca em que se encontram derivada de que a tecnologia democratizou o acesso à mídia global, dificultando os mecanismos de faturamento. Ou seja, como se pode ter acesso às publicações do mundo inteiro num simples clicar de botão qual o sentido de pagar pela notícia? É partindo desta premissa que Isaacson considera que as empresas de mídia estão seriamente ameaçadas e a profissão de jornalista também porque- diz ele- logo as empresas não mais poderão pagar salários justos a seus profissionais e, sem fontes de renda, as empresas desaparecerão.
Bem, a premissa dele me parece complicada na medida em que seu raciocínio é o de que ninguém vai assinar uma publicação se pode lê-la on-line sem pagar um centavo. De resto, com a crise econômica, segundo ele, as coisas ficam piores. E há, lá e aqui, muitas evidências a favor deste argumento. Todo mundo sabe das dificuldades de grandes jornais, inclusive do The New York Times. Ou de fatos acontecidos recentemente como a suspensão das edições impressas do Christian Science Monitor e o Detroit Free Press que são agora somente on-line. No Brasil, os mais notórios exemplos são a Tribuna da Imprensa, do Rio, e a Gazeta Esportiva, de São Paulo – um tradicional jornal de esporte, que somente ainda continuam gerando conteúdo na internet. A posição de Isaacson é dogmática. Crê que foi um erro a liberação gratuita de conteúdo e sugere um tipo assinatura eletrônica via pay pal como o Wall Street Journal. Não creio que seja o caminho. Acredito que a questão está mais ligada à falta de diversidade, de adaptação à clientela, de qualidade e de circulação do que qualquer outra coisa. Cada caso é um caso, mas, há empresas que estão aumentando seu faturamento e circulação e exemplos de jornais que são distribuídos de graça mostram que a tendência é mais para o “di grátis” do que tentar lutar contra o inevitável que é a liberdade de informação e a tecnologia.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

A TRAIÇÃO É A MARCA DO ATRASO



Esta semana fiz duas leituras completamente diferentes. Uma do escritor recém-falecido John Updike, reproduzida pela revista Veja, do seguinte trecho: “Minhas amizades com autores e críticos tentando seguir carreira nos países comunistas e do Terceiro Mundo tornaram-me um apreciador das liberdades e oportunidades que gozo como americano. Eu amo o governo do meu país por sua tentativa de, num mundo tão precário, preservar uma ordem pacífica na qual o trabalho é possível e a felicidade pode ser buscada não para o bem do estado, mas num estado que existe para o nosso bem. Eu amo o meu governo no mesmo grau e medida em que ele me deixa em paz”. É um depoimento sólido de quem vê como é difícil ter, e valorizar, a liberdade política. Neste ponto, não posso deixar de ser um admirador da democracia norte-americana, sem igual em criar espaço para o cidadão. Como brasileiro sei como o governo pesa no bolso e na vida criando obstáculos para que se tenha uma vida melhor. Porém, aqui, Updike, toca num ponto fundamental: a construção de respeito às regras, de confiança social mútua, de respeito aos valores.
È o grande contraste em relação à outra notícia que li sobre as eleições dos presidentes da Câmara e do Senado. Nela houve um jogo de enganos e de traições. Claro que o homem trai seu semelhante desde os tempos mais remotos. Pode-se dizer que é um traço inato da humanidade. Mas, a vida em sociedade somente progride, somente cria o que nós chamamos de desenvolvimento quando passa a haver o cimento da confiança entre as pessoas. Todas as culturas condenam a traição por ser um sintoma de atraso, de falta de desenvolvimento inclusive mental. É emblemático o beijo de Judas na face de Jesus que tornou-se símbolo máximo da traição dissimulada. O apóstolo matou-se sufocado pelo peso da consciência e, mesmo assim, o termo “Judas” é sinônimo de “traidor”. È triste ver que as eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado são exemplos de como trair virou uma fato normal na busca de objetivos. Claro que trair na política não é novidade. Em geral os políticos traem prometendo coisas que não vão fazer. Triste, porém, é ver a desfaçatez com que os parlamentares falavam na traição de colegas como estratégia para eleger seu candidato e não se vê indignação nem protestos da opinião pública com o jogo de traições na cúpula do poder nacional. È um péssimo sinal. Quando trair vira um valor, é sinal de que há algo de muito errado na nossa sociedade. É uma questão de princípios. Princípios? Isto parece uma coisa do passado quando se observa que um mesmo partido age, em dois lugares de forma completamente diferente, de acordo com os seus interesses locais. O que vale é o poder a qualquer preço. Pode-se mantê-lo, mas, condenando a sua própria sociedade ao atraso.

Ilustração: http://www.lepanto.com.br/Imagens/Judas2.bmp