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terça-feira, abril 15, 2014

Alto Madeira, um jornal predestinado


O que é um jornal? As respostas para esta indagação pode ter diversas interpretações, mas, não se poderá fugir do fato de que se trata de um meio de comunicação, um papel de imprensa, ou seja, mais barato, repleto de palavras e fotografias feito por profissionais denominados de jornalistas. Jornais podem trazer de tudo. Alegrias, lágrimas, tragédias, vitórias e derrotas, o belo e o feio, o perto e o distante, as opiniões e os fatos nem sempre bem recebidos. Também é uma exposição para o comércio e a indústria vender seus produtos, um espaço para que políticos apareçam ou desapareçam (hoje, cada vez mais, na página policial ou com a célebre pulseirinha prateada que a Polícia Federal presenteia na hora de prender). Pode ser a dor do boxe ou a sensação provocada por um gol no futebol. Os jornais também tem periodicidade. Em geral são diários, porém, há semanais, quinzenais, mensais e, mesmo os que aparecem de vez em quando. Uns nascem e morrem logo. Outros criam uma longa história e, por isto mesmo, passam a ser independentes de quem o fez, o faz. O jornal cria sua própria personalidade, história e alma. É por tal razão que há jornais e jornais.
No fundo, um jornal é como uma pessoa: se faz na medida em que vive. Um jornal que morre logo é como uma criança que, mal nasceu, se vai. Só os próximos lamentam a perda, o que poderia ter sido. Há outros, como é o caso do nosso Alto Madeira, que caminha, rapidamente, para alcançar os 100 anos e, por tal razão, é o repositório de toda uma história de nossa gente, de nossa terra. Este jornal se confunde tanto com Porto Velho e o Estado de Rondônia que foi fundado por Joaquim Augusto Tanajura, o primeiro superintendente (prefeito) de Porto Velho, em 15 de abril de 1917, portanto, o Alto Madeira, um dos mais antigos jornais em atividade na região, vem registrando a história por exatos 97 anos. Com uma vida tão longa já é necessário, e diga-se de passagem uma tarefa hercúlea, escrever sua história que, como em todas as grandes histórias, tem suas fases de ascensão e de descenso, porém, a maior vitória, sem dúvida, é a de continuar sendo o que sempre tem sido: uma tribuna de liberdade, de opiniões diversas, de espaço para a vida local e suas mudanças, apesar dos erros, inclusive gramaticais, que, em especial, nos novos tempos acontecem. Seu maior êxito se mede por continuar vivo e se renovar mantendo uma linha editorial que sempre privilegia a notícia.

É um jornal que, como se pode constatar indo rever suas edições, jamais deixou de ser uma fonte de ideias e de promoção do desenvolvimento da livre iniciativa, dos negócios, da cultura, além de ter sido a escola dos maiores jornalistas de Rondônia. Como pertenceu a Joaquim Tanajura também participou dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, a primeira grande organização de meios de comunicação do Brasil, e tem sido, desde o final dos anos sessenta, conduzido pelos Tourinhos, em particular com Luiz Tourinho na direção dos negócios, e Euro Tourinho, como o grande orientador da redação, sem favor algum o decano de nossa imprensa. Hoje, todavia, por sua importância, é uma entidade que vai além dos que o guiam, o fazem, pois, como o jornal mais antigo do Estado é um patrimônio de todos nós. Só posso, nesta data, como um partícipe menor de sua história, desejar que o jornal volte aos seus melhores dias. Que, sendo modernizado como está sendo, volte a circular em todo o Estado e proporcione o acesso ao seu conteúdo por uma nova e moderna página eletrônica, de vez que, lá fora, quando se fala em jornal de Rondônia, é ainda o Alto Madeira,  que é a referência. Que os 100 anos que, certamente, serão muito comemorados, na medida em que quase não existem jornais brasileiros com tal longevidade, encontre o Alto Madeira como a fênix revivida em ascensão, para, contra a opinião dos que pensam que os jornais vão morrer, possa continuar pelo tempo afora registrando, pelo menos, os próximos 100 anos de nossa terra e nossa gente. Que o Alto Madeira possa continuar a ser a testemunha da história de Rondônia, uma vocação para a qual parece ter sido predestinado. 

segunda-feira, abril 14, 2014

Eles não sabem o que querem


Ao nos aproximarmos da Copa do Mundo também nos aproximamos do primeiro aniversário das grandes manifestações de rua que inundaram as cidades brasileiras durante junho de 2013. É o momento de olharmos para trás e perguntar em que resultou tanta movimentação, tanto barulho, tantas propostas dispersas e o abalo sísmico sofrido pelo nosso sistema político que captou, ou pelo menos fingiu captar, a mensagem de que a maioria da sociedade não se sente representada por aqueles que, supostamente, deveriam cuidar de seus interesses. É verdade que foram, na sua grande maioria, pessoas da classe média cobrando maior representação, melhor qualidade das políticas públicas, mais saúde, educação e uma gama de outras reivindicações que desfilaram pedindo maior eficiência e da moralidade, porém, o apoio das classes mais baixas, apesar de menos ostensivo, foi muito real.
Uma primeira impressão é a de que os resultados, apesar dos discursos de que os políticos “ouviram as ruas” é o de que se ouviram deve ter sido numa língua estranha, de vez que não mudaram em nada. Continua abismal a distância entre o que a população deseja e o governo, aqui envolvendo todas as instâncias políticas, oferece. O que está na base da insatisfação popular somente tem se agravado. É inegável verdade de que houve um achatamento da massa salarial brasileira. Também é verdade que este achatamento se torna mais sensível nas camadas da classe média onde o acesso à educação universitária, mesmo de péssima qualidade, resultou numa diminuição expressiva dos ganhos de imensa parcela de segmentos da classe média. Acrescente-se que se, sob o ponto de vista macro, a massa salarial tem crescido este crescimento se dá pela diminuição salarial. O aumento do emprego, tão fortemente alardeado pelo governo, é um aumento de empregos de baixa qualificação e de baixa renda que, de fato, inclui mais, porém, penaliza enormemente segmentos significativos da classe média alta, seja pela forma de perda de empregos, ganhos ou até mesmo de tributação mais elevada. E com a elevação da inflação esta base se consolida e se amplia.

Ainda mais que com a falta de um projeto real de desenvolvimento, na medida em que, efetivamente, o reformismo petista somente mudou pontualmente as estruturas do Plano Real, por sinal um plano de estabilização, permitiu que, via crédito e consumo, fosse reduzido um pouco a pobreza, porém, sem tocar nos alicerces da imensa concentração da propriedade dos patrimônios e ativos produtivos, o que, de fato, impede uma melhor distribuição de renda, apesar da ficção da “nova classe média” de R$ 1.200,00. O que se observa, desde que a crise eclodiu, é que o governo, mesmo sem saber o que fazer, procura apenas manter a popularidade para enfrentar as eleições e, posteriormente, quem sabe, buscar um projeto. Por outro lado, a oposição, também sem saber o que fazer, não propõe nada de novo. Nem sequer algo de impacto como, por exemplo, acabar com o imposto de renda, o que seria uma bela ideia. Vamos chegar ao processo eleitoral marcado por esta imensa falta de clareza na agenda futura. Embora ambos saibam que querem o poder, nem o governo nem a oposição sabem o que fazer e, com uma correlação de forças que somente se une no seu descontentamento com a situação, é impossível saber o que pode acontecer, inclusive, porque a própria população também não sabe o que quer. O grande perigo, ou talvez a solução se quem encarnar a resposta for competente, é que podemos ter muitas surpresas até a eleição. Mas, será preciso mudar, radicalmente, a forma de fazer política no país, sob pena de ingressarmos numa fase de dificuldades que nos levarão a novos tempos de ruptura institucional.