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quinta-feira, maio 28, 2009

BRASIL FOODS



Brasil Foods é realismo pragmático

Principalmente na segunda metade do século passado as esquerdas latino-americanas, e a brasileira em especial, tinham um inimigo: as empresas multinacionais. Foi um grito comum entre os esquerdistas o “Fora multinacionais” na medida em que, como mantinham seus centros de decisões no exterior, as empresas eram vistas como inimigas do país, risco para a soberania do povo brasileiro e, principalmente, como grandes sugadores da riqueza pátria. A grande diferença é que, no passado, havia, na sua grande maioria, o predomínio das multinacionais norte-americanas e os Estados Unidos eram vistos como o país imperialista por excelência, de forma que tornou-se comum os slogans “Fora ianques” e “Go home trustes”.
É irônico que o Brasil que tanto ajudou a criar este tipo de mito seja agora acusado pelas demais nações latino-americanas de serem “os ianques da vez”, pois, seja no Paraguai, na Bolívia, no Equador ou na Venezuela, hoje, o perigo imperialista é, quem diria, o Brasil com suas grandes multinacionais estendendo seus tentáculos e recebendo em troca o tratamento que deu no passado aos investimentos estrangeiros. Ou alguém dúvida de que a Petrobras, a Odebrecht, a Camargo Correa, a Ambev ou a Vale, só para citar as mais comuns não sejam vistas como empresas gigantes e dominadoras de mercado? Como se vê o mundo mudou. Mudou tanto que a fusão da Sadia com a Perdigão, criando a Brasil Foods, que pareceria impossível tempos atrás, se fez quase por imposição do mercado internacional. Na verdade os seus dirigentes compreenderam que só em conjunto poderiam pesar e ser uma das maiores empresas do mundo na produção e exportação de alimentos industrializados, porém, por isto mesmo também uma nova candidata a engrossar a lista das empresas que, para muitos esquerdistas, compõem o que, para nós, é uma completa paranóia, o projeto imperialista brasileiro da América do Sul. Longe estão de pensar que estamos numa época onde não existe nenhuma intenção imperial, mas, apenas e tão somente as necessidades estratégicas comerciais de empreendedores.
É certo que muitos dos nossos vizinhos, como nós no passado, não compreendem o mundo novo de megaempresas de atuação multinacional, o que no setor de alimentos é indispensável. A questão de criar grandes corporações multinacionais brasileiras é um caminho sem volta e a única forma possível de inserção no comércio internacional. Hoje, em dia, por mais que o esquerdismo infantil não compreenda só há uma coisa pior do que ser explorado por multinacional: é não ser. Quem não tem multinacionais na sua economia, como muitos países da África, estão excluídos do desenvolvimento e da modernidade.

sexta-feira, maio 22, 2009

NEGÓCIOS DA CHINA



É anunciado com estardalhaço que a China emprestou R$ 10 bilhões para a Petrobras. Tal empréstimo seria um sinal do sucesso da visita de Lula da Silva ao gigante asiático e prova do acerto da política diplomática posta em prática pelo atual governo. Não é preciso ir muito longe para relembrar que, em 2004, Lula já havia ido até lá para, supostamente, acertar a vinda de grandes investimentos chineses para o Brasil e, passados cerca de cinco anos, qualquer um que se debruçar nos números verá que os chineses investem muito mais em países africanos como a Nigéria, Sudão e Argélia do que no Brasil.
O fato real é que, em contraposição à nossa política ciclo tímica e de terceiro-mundismo anacrônico, a China, se comporta de forma pragmática e com uma estratégia de longo prazo que não está nem aí para boas intenções ou promessas vazias. Os chineses, ao contrário de nós, cuidam de seus interesses, daí que o que o empréstimo revela é a consistência de sua política externa que se alicerça em ter muito dinheiro em caixa e na compra maciça de insumos que possam garantir o seu desenvolvimento. Numa época em que falta crédito no mundo e a demanda cai não existe negócio melhor do que aproveitar os preços em queda das “commodities” e comprar o minério de ferro, a soja e, agora, com este último empréstimo também o petróleo, para poder continuar crescendo velozmente. Claro que isto nos garante um sólido superávit comercial neste ano de crise, mas, não deixa de ser revelador de que continuamos sendo exportadores de matéria-prima para nações que nos vendem produtos processados, ou seja, vendemos as mercadorias de baixo preço, sem tecnologia e sem valor agregado o que, convenhamos, revela bem que existe um grande desequilíbrio na relação bilateral com a China (e não somente com ela) e desvela estratégias diferentes que mostram que o Brasil não sabe negociar com os chineses. A viagem de Lula revela friamente que somos ineficientes em aproveitar as oportunidades existentes enquanto os chineses são precisos, frios, calculistas e estão nos dando um banho de competência diplomática em todos os sentidos. A rigor não há o que comemorar. Se a diplomacia brasileira tivesse capacidade de auto-análise certamente encobriria o rosto do Barão do Rio Branco para que, nem com os olhos apertados, pudesse enxergar o fiasco de seus sucessores fazendo negócios na China. Não é de estranhar que Lula, muitas vezes, apareça desajeitado. O estranho é que não exista ninguém perto dele que o tenha desaconselhado a sacramentar o fracasso de sua diplomacia sob o sol do Oriente.

sexta-feira, maio 15, 2009

O HOMEM CORDIAL....



Foi para o brejo
É engraçado como se consolidam socialmente alguns estereótipos na psique popular. Talvez nenhum deles seja mais emblemático do que, por exemplo, a crença de que nossa sociedade se define por traços que a caracterizam como uma sociedade cordial, pacífica, sem imensos conflitos sociais. È claro que isto não poderia escapar do olhar científico e são muito conhecidas as palavras de Sérgio Buarque de Holanda que, em Raízes do Brasil, escreveu “A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal”. È verdade, mas, é preciso não esquecer que nossos ancestrais com pertinácia fecunda no meio rural e patriarcal foram responsáveis por reduzir cerca de cinco milhões de índios que estavam aqui antes dos colonizadores, divididos em mil etnias, nos parcos 300 mil indígenas de hoje o que dá bem uma dimensão do extermínio que lhanamente cometeram. Ou seja, a rigor sempre houve uma máscara de paz, de cordialidade, porém, o jogo sempre foi duro.
No entanto nos tempos atuais onde as boas maneiras, a polidez e o respeito parecem comportamentos cada vez mais distantes dos padrões brasileiros se alguma vez houve mesmo o tal do “homem cordial” deve ser uma espécie em extinção ou prestes a desaparecer. Basta ver que até mesmo nas classes menos favorecidas e entre os mais jovens se alastram os números pesados da criminalidade com homicídios, uso de armas e drogas despontando de um lado e, de outro, nos supostos movimentos sociais, vemos o MST ocupando estradas, centros de pesquisa, edifícios e órgãos públicos ou os sem-teto nas cidades brasileiras ocupando conjuntos ou prédios abandonados ou em construção, sem contar os protestos nada pacíficos de estudantes contra os aumentos de passagens ou pelo passe livre, os conflitos entre policiais e camelôs em São Paulo ou, aqui em Porto Velho, entre policiais e mototaxistas. Esses movimentos sociais, afora tantos outros, rasgam o véu da cordialidade, verdadeira máscara que esconde, na verdade, a crueldade sempre presente nas relações da sociedade brasileira.
Aliás, nenhuma crueldade é maior do que a do próprio sistema político que afastou, definitivamente, a elite intelectual e moral do país do seu comando, por meio do clientelismo e do poder econômico, criando uma agenda em que os verdadeiros problemas do país são tratados apenas nos discursos enquanto os poderes oligárquicos se perpetuam mesmo que sob a fachada de um operário e de um partido de esquerda que perdeu completamente a noção de que esquerda é lutar pela condição de cidadania e não manter o povo pendente de um auxílio qualquer. Definitivamente quando se perde a batalha da educação e o espelho dos bons modos é porque o homem cordial há muito foi pro brejo.

sábado, maio 09, 2009

A LÓGICA TORTA...



PODER
(ou Salvai-me São Jorge de ser crente!) DO >

Pode até parecer grotesco que um deputado federal, e logo do Rio Grande do Sul que supomos uma bastilha dos libertários, o deputado Sérgio Moraes, tenha a coragem desabrida de afirmar que está “se lixando” para a opinião pública” e ainda emendar desafiadoramente para a jornalista que o entrevistava que “Até porque parte da opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Vocês batem, mas a gente se reelege”. Bem, pode até ter sido um deslize, mas, o deputado disse o que realmente pensa – sobre o povo, a imprensa e a democracia. Disse também, indiretamente, o que pensa sobre a atuação do colega, de vez que não viu indícios de quebra de decoro por parte de um parlamentar acusado de usar notas frias na sua prestação de contas, ou seja, foi honesto dentro dos seus parâmetros.
Não deixa de ser irônico que quando um político diz o que pensa realmente revele a lógica do poder e esta, como fica evidente, é a de que se pode fazer tudo desde que se seja eleito como se o fato de obter votos, mesmo que da forma mais rasteira possível, promova a limpeza na falta de ética e no desrespeito as leis. No entanto o desabafo do deputado Sérgio Moraes é também revelador dos tempos em que vivemos na medida em que, recentemente, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, procurava ser candidato por seu partido como uma forma de “apagar” seu passado, assim como o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palloci, anda prestes a conseguir via um mandato, que somente se explica pela inércia da Justiça. Todos se agarram na frágil defesa de que “fazem o que todo mundo faz”. Mas, isto é uma justificativa que não livra ninguém dos crimes e torna todos criminosos, porém, é diferente a atribuição generalista do crime ao crime específico. O que seria correto, se pudessem fazer, seria dizer que não fizeram o que fizeram. Ao jogar todo mundo no lixo comum o que se faz, de fato, é querer justificar a criminalidade pelo discurso e sepultar a culpa pela via do voto. Se assim se for, então se justificaria inocentar os criminosos que conseguissem votos? E quem duvida de que Marcola ou Fenandinho Beira Mar não seriam bem votados?
Aqui, por dever de ofício, é preciso acentuar que se trata de um costume que tem raízes no PT. Concordo plenamente que o Partido dos Trabalhadores é igual a outro partido qualquer e que não inventou a corrupção nem é o único por ela responsável, mas, não posso deixar de assinalar que lhe cabe a culpa, com a reeleição de Lula da Silva, de ter inaugurado o costume de se achar que tudo é possível se encobrir com os votos. Não é. O sistema eleitoral brasileiro, por si mesmo, é uma fonte de males com o clientelismo e a compra de votos afastando do exercício da política os mais probos, os mais cultos e os mais jovens. E, infelizmente, como comprova a tentativa frustrada de retorno de Delúbio Soares, com seu discurso lamacento de renúncia, um partido que veio para mudar se transformou numa fonte de atraso, o verdadeiro condutor do clientelismo, do “é dando que se recebe” e da compactuação com quem, no passado, como Sarney, Collor, Jáder Barbalho ou Jucá Romero, chamavam de “ladrões”. Também nisto o PT não inova, mas, se afasta dos ideais que nortearam sua formação e se tornou a verdadeira direita do país que, estranhamente, somente se revela em episódios tristes, como este, onde um deputado da base aliada desvela a lógica do poder que quer se manter a qualquer custo. Ou é mentira que já anda se pretendendo, no melhor estilo Chávez, rasgar a Constituição em busca de um terceiro mandato?

quinta-feira, maio 07, 2009

É NEGÓCIO TER A VENEZUELA NO MERCOSUL?

NA ENCRUZILHADA DOS RUMOS FUTUROS
Embora não tenha tido, por parte da imprensa e da opinião pública, o espaço e a discussão merecida um dos mais importantes assuntos que se encontra prestes a ser votado no Senado é, sem dúvida, o projeto que aprova o texto do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul. Há até mesmo uma certa pressa, um açodamento para que seja votado e que se aproveite a vinda do presidente Hugo Chávez, que tem encontro marcado com o presidente Lula no próximo dia 26, na Bahia, para que o país vizinho seja incluso no bloco como defende o Executivo.
Como argumento para que isto seja feito o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve recentemente em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Congresso justificando a posição do governo de apoio à entrada da Venezuela não sob o ponto de vista ideológico, que é o verdadeiro ponto de união entre Lula e Chavez, e sim pelo fato de que a Venezuela é o país com que o Brasil possui maior superávit nas relações comerciais individuais – US$ 4,5 bilhões no ano passado. Por isto, segundo Amorim, a entrada do país vizinho no bloco pode ser muito vantajosa.
Bem não se discute o fato de que, num mundo globalizado, ainda mais diante de uma crise econômica, não seja melhor uma maior integração, em especial com as nações vizinhas. Todo o esforço que é feito para salvar o Mercosul advém desta base, logo o raciocínio parece adequado também para a Venezuela. Se isto é correto em tese, na verdade, não é bem assim. Isto em razão de que o governo da Venezuela é, sabidamente, marcado por um exacerbado personalismo de seu chefe que cria um ambiente político incerto, principalmente diante das sucessivas manobras de Chávez para se perpetuar no poder. É verdade que os governos passam e os países ficam, ou seja, poderia ser de bom alvitre ignorar as posições do dirigente em nome das boas relações que sempre mantivemos com o país vizinho. O problema principal disto é o de estimar se vale o preço a ser pago.
É indispensável lembrar que com a Venezuela no Mercosul, por conta do estilo imperial e passional de Chávez, com o poder de veto é dado a todos os países integrantes do bloco, este pode certamente impedir o avanço de acordos de livre comércio e das flexibilizações da Tarifa Externa Comum (TEC), negociadas, em virtude das infindáveis incompatibilidades de interesses, especialmente entre argentinos e brasileiros. Não se pode esquecer também os princípios que regem a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), a versão chavista da Alca, na qual a Venezuela tem defendido o pleito de Fernando Lugo, presidente do Paraguai, de renegociar com o Brasil o Tratado de Itaipu, bem como condenado uma das políticas mais caras a Lula que é a expansão do uso do etanol, com o aumento da cultura da cana-de-açúcar , na opinião dos chavistas, responsável por “efeitos devastadores” sobre a produção de alimentos. È claro que o interesse é outro: com o petróleo sendo sua principal fonte de receita Chávez não tem o menor interesse na produção em larga escala de combustíveis que concorram com a riqueza natural da Venezuela. Será que é um bom negócio atrair um país para a integração quando este é dirigido por quem está mais atento as bandeiras que atendam mais ao seu desejo de liderança regional do que uma efetiva integração? O balanço fica mais negativo ainda se verificamos que, por suas posições, será um grande complicador para as discussões de possíveis novos acordos com a União Européia e os Estados Unidos aos quais, seguidamente, critica. O grande perigo é que o Mercosul acabe atrelado à agenda chavista o que, na prática, significará sua efetiva estagnação.