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domingo, dezembro 29, 2013

Uma opção pela esperança


Fim de ano é sempre tempo de balanços, de memórias, de planos, de retrospectivas e de previsões. O ano de 2013 não foi um ano fácil. Foi um ano surpreendente, em especial, por causa das grandes manifestações públicas de junho pelo Brasil afora, porém, mais ainda inquietador por ter deixado a descoberto os grandes problemas nacionais, como o da crescente violência, da baixa qualidade da educação, dos hospitais e universidades sucateadas, pela desindustrialização crescente do país com o aumento explosivo das exportações e, para encerrar as coisas negativas, o fato de que as ações do governo tem sido burocráticas, meras panaceias, que não atacam as raízes dos problemas nacionais.
É, por um lado, muito desalentador, principalmente, porque este parece ser um padrão mundial. Sem dúvida parece existir uma estagnação dos pensamentos, de propostas e de renovação de lideranças que torna os debates sem atração, torna todos, como se diz no Nordeste “farinha do mesmo saco”, num momento em que se pede soluções novas, inovações na forma de agir e de pensar. São muitos os que apontam o fato de que nossa sociedade não é sustentável; que, ou mudamos o sistema econômico vigente, ou caminhamos para uma catástrofe que hoje nem se consegue imaginar. Porém, a triste realidade é que não surge nada novo. Só temos mais do mesmo.
Neste fim de ano me anima, porém, um dado novo e interessante que foi mostrado por John Parker, jornalista e editor da revista britânica “The Economist”, num artigo em que ressalta que, nos últimos 50 anos, aconteceu um declínio no tamanho das famílias.  Segundo ele, no próximo ano teremos um marco desta mudança quando na Ásia, a taxa de fecundidade total cairá para 2,1.  Em 1960, a fertilidade média da Ásia era de 5,8. Isto graças a que se prevê que, na China, em 2014, será o ano em que as mulheres passarão a ter, em média, dois ou mesmo um filho apenas. É claro que isto é uma decorrência dos problemas econômicos. Não é nada fácil criar filhos, daí a queda de fecundidade ser um fenômeno mundial, mas, é mais significativa na Ásia por concentrar metade da população mundial.
Cito este tipo de dado novo como um sinal, porém, existem muitos outros, como, por exemplo, o avanço de novas técnicas de ensino à distância e a quebra de paradigmas de que a sala de aula tende a se confundir com o mundo. Estes tipos de sinais me dão a esperança de estejam acontecendo mudanças imperceptíveis,  que a hipótese da própria natureza ser mais sábia que o homem e criar sua própria homeostase, seu equilíbrio interno, me parece cada vez mais encantadora. Talvez seja só mesmo uma forma de criar esperança, de ser otimista. Mas, talvez, seja o cansaço de tantas previsões de que, em 2014, teremos mais do mesmo. E, convenhamos, no fim do ano é preciso renovar, pelo menos, a esperança.   



segunda-feira, dezembro 16, 2013

O sinal de alerta ao País do faz de conta


Na semana passada foi notícia em toda a imprensa o resultado do Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que se trata de um ranking organizado pela  Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é aplicado a 470 mil alunos de 15 anos, oriundos de 65 países industrializados, incluindo países emergentes, que é, sistematicamente, feito de três em três anos para comparar os níveis e os investimentos em educação nos diversos países. Infelizmente, como é do conhecimento geral, o Brasil, neste século XXI, tem se notabilizado por não sair das últimas posições. Por mais que se tente despistar o vexame, a realidade é que estamos em 55.º lugar em leitura e compreensão de texto; em 58.º na matemática e 59.º em ciências, e, no cômputo geral, em 55º lugar.
Não é surpresa para ninguém este resultado. Efetivamente a educação somente tem sido prioridade no discurso político e está longe de ser na prática, no dia à dia. Em relação à educação, em todos os campos, há muita retórica e pouca mudança. A grande realidade é que os professores, além de mal pagos, estão completamente desamparados em escolas normalmente em nada (e muitas vezes em condições muito piores) do que as  do século passado. Cobra-se do professor que resolva os problemas da educação quando ele, como os alunos, acabam sendo as maiores vítimas de um sistema que os condena a serem olhados como coitadinhos, como mera massa de manobra, e de pancada, para a inércia que torna o sistema educacional o setor mais atrasado de nossa realidade.
Há uma completa pasmaceira, que é coberta por planos e promessas falaciosas, como a de investir 10% do PIB na educação. Investir mais dinheiro na educação do jeito que está é o mesmo que insistir em tratar o doente dando mais de um remédio que não funciona. A questão real não é dinheiro, embora o dinheiro possa ajudar, mas, sim de instrumentos, de gestão, de determinação de mudar, de fato, a educação no País. Um exemplo fantástico disto é o de que, enquanto as universidades federais e seus cursos aumentam o número de alunos em condições precárias, se gastam milhões na criação de novas universidade e escolas técnicas, em geral em edificações, por razões bastante plausíveis politicamente, mas, que não resolvem nada em termos educacionais.
Somos um país no qual se cobra dos professores a produtividade dos professores norte-americanos, que ganham 20% a mais do que a média de todos os salários do país, enquanto os pobres professores brasileiros ganham 20% a menos. Como a carreira não é atraente será que os melhores a procurarão? E, muitos, sem o menor preparo, desprestigiados e desanimados, ainda enfrentam na sala de aulas jovens que vivem no tempo da internet, dos vídeos, dos audiovisuais e dos games, com cuspe e giz. Como resultado será que é de estranhar que 5,3 milhões de brasileiros, entre 18 e 25 anos, não estudam nem trabalham? Será que espanta saber que 23% dos jovens da faixa etária avaliados pelo Pisa não estão sequer na escola e que 70% deles são mulheres, pessoas que, em tempos passados, seriam as sementes de grandes professoras? É tempo de  olhar os resultados do Pisa como o que eles são: o fracasso do modelo político brasileiro. Um sinal de alerta de que é preciso acabar com o País de faz de contas e construir o Brasil real e começar por cuidar, de fato, da educação.



sexta-feira, dezembro 06, 2013

6ª CBAPL foi uma exposição da diversidade brasileira


Em geral conferências nacionais tem sido ou uma mera convalidação de políticas antes já decididas, com a arregimentação de grupos de apoio para bater palmas, ou, quando muito, uma ocasião para fazer política eleitoreira com promessas de melhorias que terminam nas proposições. Não foi o caso da 6ª CBAPL-Conferência Brasileira de Arranjos Produtivos Locais, que teve como tema “Sustentabilidade dos APLs: Governança, Conhecimento e Inovação”, realizada entre os dias 03 e 05 dezembro, em Brasília. Quem participou teve condição de verificar que foi uma conferência múltipla, rica e com diversos desafios estimulantes tanto sob o ponto de vista do fazer, como da elaboração de políticas públicas e de debates acadêmicos.
O sucesso do evento começou pelo fato de que, entre os patrocinadores, aparecia, para surpresa de muitos, no meio de tradicionais promotores deste tipo de evento, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Banco da Amazônia e o BNDES, um patrocinador privado, o Bradesco. E não é por acaso que o maior banco privado do país estava lá, de vez que seus representantes informaram que apóiam mais de três centenas de arranjos produtivos em todo o Brasil. Porém, o interessante, e os méritos vão, sem dúvida, para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior-MDIC, que conseguiu a proeza de reunir técnicos governamentais, empresários e acadêmicos para um debate que se caracterizou por ser variado e estimulante e, melhor ainda, sem viés político, para discutir os problemas reais da produção, da comercialização e dos entraves que fazem o país permanecer abaixo de suas potencialidades.
Ressalte-se que isto foi feito com o talento também de apresentar uma gama de casos de sucesso que merecem ser ressaltados como foi o caso da diretora do Centro Brasileiro de Rochas Ornamentais, Olívia Tirello, do que foi feito, por exemplo, para desenvolver Passo Fundo, apresentado pelo professor Marcos Alexandre Cittollin, de Polocentro, um pólo de tecnologia da Serra Gaúcha, apresentado pelo seu presidente, Antônio Augusto Tessari ou, para irmos até o Nordeste, buscar o caso do Núcleo de Produção Engenho Digital-NPED apresentado por Caio Vinicius Dornelas-só para citar alguns. Mas, houve uma exposição de produtos originados dos APLs que trouxe redes de Jaguarana, por meio do Marcos Abreu e do Alex, jóias de Cristalina e do próprio DF, Cachaça de Góias, mel, laranja e casca de laranja defumadas, enfim de tudo um pouco.
Também, é difícil até citar pela qualidade das palestras, mas, para citar algumas entre as que assisti, valeu a aula do José Eduardo Cassolato que ressaltou terem os arranjos produtivos ocupado seu espaço recuperando a noção de que a produção se dá no território, é coletiva e se dá por meio do aprendizado interativo e enfatizando que a “a governança de fora para dentro não funciona”; embora discordando de alguns pontos, em especial a falta de acentuar que a inflação é uma inflação dos preços administrados e não de mercado, também foi muito boa a do economista do Bradesco, Robson Rodrigues Pereira, sob o cenário econômico; a inspiradora palestra de Susan Andrews do Parque Ecológico Visão Futuro sobre o FIB-Felicidade Interna Bruta, a do secretário de Inovação do MDIC, Nelson Akio Fujimoto, com a exposição do Inovativa Brasil, que apóia novos empreendimentos voltados para a inovação, bem como as também muito interessantes palestras sobre audiovisual de João Guilherme Barone Reis e Silva, de Cesar Piva, Fabio Cândido e Luiz Andrade, mais ressaltando as vantagens competitivas de Nitéroi. Com certeza estarei sendo injusto com muitos outros que precisariam ser lembrados, mas, a intenção foi ressaltar a riqueza e a abrangência do tema que incluiu até a necessidade de integração cultural e produtiva com os outros países do Mercosul.

Em especial me tocou de perto a percepção de Marcus Franchi, discutindo os APLs de audiovisual, por acentuar o enorme fosso que existe entre, digamos assim, o Brasil real e o Brasil visto de Brasília, que aparece nas exigências que se faz de um tecnicismo que está longe da realidade brasileira. Franchi mostrou que a política do Ministério da Cultura, e pelo que vi ele ainda mais, tenta se aproximar criando meios para facilitar o acesso a recursos do que chamamos de Economia Criativa, porém, o governo é uma caixa preta difícil, cheia de siglas e quadrados onde as demandas públicas se emaranham e morrem. O certo é que o Brasil está complicado, apesar de suas imensas possibilidades, e a 6ª CBAPL nos trouxe situações inusitadas como a de que, e é uma política correta, o Sebrae tratar de grandes empresas. É uma inovação e uma demonstração de que é preciso ter coragem de assumir os riscos e mudar as formas de agir e perceber o País. A Conferência também teve o mérito de ser um choque de realidade que nos informou sobre os problemas sem deixar de ter uma visão otimista sobre o futuro.  

domingo, novembro 24, 2013

O Brasil é um enorme vácuo


O Brasil, apesar de ter avançado em muitos pontos, passa por uma crise sem precedentes na sua história. As suas elites atuais (inclusive as que dizem ou mesmo até pensam que não são elites) se mostram incapazes de criar um projeto viável para o País. O que se lê (ou vê e ouve) no noticiário reflete a pobreza das expectativas e da mais completa falta de visão futura: são manchetes de crimes, a discussão tediosa e inútil sobre os mensaleiros ou a falsa polêmica criada em torno de um cartel do passado, talvez, gerada para distrair dos crimes presentes. Tudo uma fuga da realidade, da necessidade que o país impõe de mudar, de se atualizar, de cuidar de ter desenvolvimento e competitividade, o único caminho possível para um futuro melhor.
Vivemos tempos desinteressantes. Há uma evidente ruptura entre a sociedade e as instituições com os principais personagens no palco dando espetáculos solos de falta de visão e de que consigam compreender um mínimo dos tempos em que se vive. Os partidos políticos são o reflexo da falência do sistema apresentando todos os mesmos, e esfarrapados, discursos de que “ouvem as ruas” quando somente procuram, da mesma velha maneira, manter ou alargar o poder. Cessado o susto, iniciado em junho com os movimentos nas ruas, o que se vê é que tudo está se passando como se nada houvesse acontecido. Apenas os perdedores, governos, políticos, partidos, fingiram fazer algum tipo de esforço para minimizar os estragos com os olhos postos na próxima eleição.

A minirreforma (não riam, por favor) eleitoral transformou-se em minúscula. Um esparadrapo no buraco por onde jorra a lama do poder econômico que a tudo corrompe sem ser, nem por um segundo, perturbada. Não houve, rigorosamente, nenhuma proposta séria de mudança. Nenhum político tomou qualquer atitude ou propôs alguma medida que possa ser considerada um sinal de que há a determinação da mudança, o desejo da mudança. Os problemas brasileiros prosseguem sendo empurrados com a barriga. As receitas, as velhas e gastas receitas, são as mesmas. Vamos ter mais do mesmo em 2014. O problema é que o vácuo, hoje os cientistas constatam, não é um vazio. E o otimismo de certas análises tem uma alegria falsa do Baile da Ilha Fiscal. Parece que até mesmo o cálculo político está impregnado da noção de que é possível continuar tudo sempre da forma que está. E a inação nunca foi o caminho das mudanças. E do vácuo, infelizmente, alguma coisa se cria mesmo quando não há quem dê uma direção ao que vai nascer. Estamos, pois, à deriva, esperando que, por milagre, o melhor aconteça. 

sábado, novembro 09, 2013

Os sonhos de Eliodora


O professor, hoje Mestre, Maurílio Galvão, é um amigo de longa data que tem muitos serviços prestados à Rondônia, embora as pessoas lembrem mais do tempo em que foi administrador de Ariquemes, ou melhor, prefeito mesmo, quando implantou uma parte do que, agora, já se tornou uma cidade de porte médio, se faz preciso salientar sua importante participação, não somente na implantação da base do Estado de Rondônia, bem como por ter sido um dos professores que iniciou a Fundação Universidade de Rondônia-UNIR. Aliás, antes da nossa universidade, porque Maurílio ensinou no CESUR, núcleo que deu origem a ela. A família Galvão tem seu passado, pelo que, até então, sabia, ao Distrito Federal. De lá veio o próprio Maurilio e morava sua mãe, que por lá viveu até os cem anos e faleceu recentemente. Para minha surpresa Maurilio me oferta um livro de outro membro da família, Marlene Galvão, que li, sofregamente, para descobrir que as raízes familiares dos Galvão estão fincadas também em Tocantins.

A obra de Marlene “Os sonhos de Eliodora”, editado pela Ícone Gráfica e Editora, apesar da forma simples e direta em que foi escrita é um excelente testemunho, de vez que, mesmo utilizando nomes ficcionais, se percebe ( e a autora confirma) que se trata de uma recuperação da história familiar com um adendo saboroso que enriquece sobremaneira o livro: o registro da cultura e do linguajar de Tocantins, em especial das cidades de Taguatinga e Ponte Alta do Bom Jesus. Marlene Galvão consegue o feito de transformar o cotidiano de um povo, e suas lembranças do passado, numa história saborosa de ler que, além de nos brindar com o sotaque da região, nos faz percorrer as crenças, as premonições, os sonhos, as festas e mitos que somente se perpetuam pela manutenção de padrões de comportamentos que formam o que denominamos de raízes culturais. Neste sentido, para muitos que viveram nesta região, o livro tem o sabor extra de uma recordação de bons tempos, de festas que, pelas mudanças, dificilmente irão resistir, daí que também o livro contribui para a manutenção da cultura tocantinense.

Certamente quem tiver um pezinho no sertão, e quase todos nós brasileiros temos, ao ler o livro de Marlene Galvão irá se identificar com a vida simples, com os cantos de galos, fatos, comidas e, para quem vive em regiões onde é uma tradição, reviver o “manto vermelho sagrado com a pomba branca retratando o Divino Espirito Santo”, que, para quem conhece, é uma festa inesquecível na qual os romeiros entoavam seus cantos misturando a fé com a folia num momento que une reflexão, alegria e crença. Sem dúvida, o livro de Marlene Galvão pode até não fazer um grande sucesso, por sua própria opção regional e de ser uma memória de uma história de família, porém, é uma leitura fácil, gostosa e que, ao fim, nos deixa com um desejo de quero mais e a sensação de que, muitas outras pessoas, deveriam fazer o que ela fez tão bem: registrar a história de uma época no seu cotidiano. Assim, com méritos, escreve ficção e história dando sua contribuição à cultura de nossa região.

sábado, novembro 02, 2013

As incertezas da economia


Há entre os economistas, que se dedicam a analisar o País, quase um consenso de que falta coerência à política econômica atual que oscila entre esforços para criar uma taxa mais alta de crescimento e o combate à inflação, que, pelos aumentos sucessivos da taxa Selic, ultimamente vem ganhando. Aliás, uma vitória de Pirro, na medida em que fará com que, este ano, o Produto Interno Bruto-PIB, tudo que se fabrica no País (bens & serviços) durante o ano, tenha um crescimento abaixo do esperado, que já foi 4% nas contas governamentais, e, hoje, na estimativa do mercado, se crescer muito, poderá, no máximo, chegar aos 2,5%. Com certeza, o amortecimento da economia, no final de 2011, com reflexos até agora, adveio de um excessivo rigor na aplicação de taxas de juros mais elevadas que, tem como efeito colateral, o aumento da dívida pública e do endividamento de empresas e famílias.  O que ainda mantém o otimismo moderado do mercado é o fato de que o ritmo da queda do emprego esteja sendo menor do que o da produção. É preciso lembrar, aqui, que, em 2010, ainda com Lula, foram criadas 2,136 milhões de vagas com carteira assinada, um recorde. Em 2011, quando a presidente assumiu o comando, a oferta caiu cerca de 27%, para 1,566 milhão de postos. Como resultado dos erros de 2011, em 2012, com a atividade econômica perdendo mais fôlego ainda, a abertura de vagas desacelerou, sendo abertas 1,3 milhão de empregos formais. As previsões mais otimistas acreditam que este resultado se repetiria no final de 2013. Apesar de menor, a geração de emprego ainda pode ser considerada boa, capaz de segurar a taxa de desemprego em níveis baixos, porém, a dúvida dos economistas é até quando. Um sintoma foi o baixo crescimento da demanda por empregos temporários neste final de ano e a perspectiva de que o percentual dos que ficarão empregados, que sempre esteve na faixa dos 20%, deve ser reduzido para um patamar entre 12 a 15%. A maior parte dos empresários, apoiados por análises de seus auxiliares, afirmam que, se os custos diretos e indiretos associados ao emprego formal não forem atacados, é grande a possibilidade da presidente Dilma Rousseff terminar o seu governo com o mercado de trabalho com um desempenho francamente ruim. O que vai determinar isto serão os próximos meses, pois, se a economia se recuperar, são maiores as chances do mercado de trabalho continuar dinâmico. Caso contrário, a tendência do emprego será a de continuar a despencar.
O que se verifica é que o Brasil corre riscos, nos próximos anos, de ter um desempenho mais fraco no mercado de trabalho, com efeitos fortes sobre o emprego e renda, se a economia continuar, como está patinando e, sem uma recuperação mais robusta. Os sinais de exaustão do modelo baseado no consumo e no crédito ficaram mais evidentes, neste segundo semestre, sem que o governo consiga dar uma resposta adequada à dificuldade de recuperação da economia. Se, no começo do próximo, persistirem os mesmos resultados, as perspectivas para 2014/2015 tendem a apontar para o agravamento do quadro, com a continuidade de níveis de crescimento medíocres e uma maior queda na geração de empregos.

terça-feira, outubro 22, 2013

Os cem anos de Vinícius de Moraes


Os cem anos de Vinícius de Moraes

Na verdade conheci a poesia de Vinícius de Moraes antes de conhecê-lo. E digo conhecê-lo mesmo por suas obras e por uma admiração que se estendeu a outros grandes nomes da música brasileira que foram, são, o inesquecível Tom Jobim e o então jovem violonista e também notável compositor Toquinho. Vinícius me conquistou, sem quem soubesse quem era, pela maravilhosa letra de “Serenata do Adeus”: “Ai, vontade de ficar, mas, tendo que ir embora/Ai, que amar é se ir morrendo pela vida afora/É refletir na lágrima, um momento breve/De uma estrela pura cuja luz morreu”. Bastaria ter feito isto para já ser considerado um dos grandes poetas brasileiros.
Vinícius, no entanto, era uma fonte permanente de poesia e de musicalidade. Se, nos versos do ‘Soneto da Separação”, se observa um poeta à vontade e radicalmente elegante e belos nos versos: “De repente do riso fez-se o pranto/Silencioso e branco como a bruma/E das bocas unidas fez-se a espuma/E das mãos espalmadas fez-se o espanto”, logo, com a adesão à música popular seus versos se tornariam quase coloquiais, sem a grandiosidade do passado, mas, com a generosidade muito mais sofisticada das coisas simples, como em “Como dizia o poeta”: Quem já passou/Por esta vida e não viveu/Pode ser mais, mas, sabe menos do que eu/Porque a vida só se dá/Pra quem se deu/Pra quem amou, pra quem chorou/Pra quem sofreu, ai/Quem nunca curtiu uma paixão/Nunca vai ter nada, não”. É, de certa forma, uma radiografia da alma de um poeta que se fez maior pela capacidade da paixão, pela dilacerada, humana e inútil busca de ser feliz.
Vinícius faz cem anos mais vivo do que nunca. Foi um dos poucos ídolos que vi de perto, num bar do Leblon, numa roda de amigos conversando e bebendo, porém, com toda a tietagem que havia em volta, ele pairava como um ser tranqüilo e plácido, com uma calma que, hoje, seria considerada incomum. Tive também, como fã incondicional, o privilégio de vê-lo, inúmeras vezes, num antológico show com Tom, Toquinho e Miúcha, no Canecão, onde fizeram uma temporada de sete meses de casa lotada. Cada apresentação que assisti foi uma celebração. Havia muita poesia, vida, paixão arrebatadora e, embora o script fosse o mesmo, nada era igual. Artistas extraordinários ao vivo acompanhados de grandes músicos e vocalistas criavam momentos incomuns. Lembro que até mesmo Roberto Carlos apareceu para dar uma canja antológica cantando “Lygia”. A sensação que tive permanece até hoje: poucos terão o prazer de assistir algo assim que me acompanhará na memória enquanto esta houver. Foram momentos únicos e, recentemente, revivi, mais de 30 anos depois, um pouco deste clima com um show de Toquinho, em Búzios, em homenagem ao “Poetinha”, quando cantou suas parcerias com o acompanhamento de toda a praça.
Vinícius faz cem anos. Fará duzentos, trezentos, mil e tantos. Quem escreveu um poema como “Dialética” não sai de cena enquanto houver o idioma nacional e o mínimo de inteligência: É claro que a vida é boa/ E a alegria, a única indizível emoção/ É claro que te acho linda/ Em ti bendigo o amor das coisas simples/ É claro que te amo /E tenho tudo para ser feliz/ Mas, acontece que eu sou triste...”. Somos, ficamos mais tristes com a falta de sua presença e criação, mas, como ele mesmo diz em “Poema de Natal” :“Pois para isso fomos feitos:/Para a esperança no milagre/Para a participação da poesia/Para ver a face da morte/ -De repente nunca mais esperaremos...Hoje a noite é jovem; da morte, apenas /Nascemos, imensamente”. Saravá Vinícius de Moraes! Um brinde por nós que sabemos que apenas virastes passarinho.


terça-feira, outubro 15, 2013

Um dia só para ser elogiado


Sou professor. Tenho, nem o sabia até o dia em que comecei por circunstâncias a ser, uma vocação inata para a profissão que sempre me orgulhou e me deu, ao longo da vida, uma imensa satisfação. Mas, reconheço que ser professor, hoje, é ser, acima de tudo, um sobrevivente, um ser que não é respeitado senão por poucos, muito poucos, não importa a contribuição que tenha dado, o que tenha feito e, pelo menos no horizonte visível, sem perspectivas. Longe de mim vim aqui destilar queixas, contar as agruras próprias, desnudar a insatisfação e, algumas vezes, o desespero de verificar que, embora os discursos enalteçam a figura, a triste realidade é a da completa desvalorização da profissão.

Neste sentido não são apenas os salários. É a completa falta de respeito que se demonstra em relação ao ensino e suas peculiaridades. No Brasil se importa, sem a menor consideração pelas condições existentes, as instituições e os padrões de primeiro mundo e pretendem avaliar os cursos por padrões ideais com uma escola em condições sórdidas, com uma sala de aula que nada avançou em duzentos anos. O professor brasileiro, mesmo o de escolas de qualidade como a USP de São Paulo, ainda exerce sua profissão como se estivesse no passado, como se não houvesse celulares, vídeos, cinema, internet e outras novidades tecnológicas que o obrigariam a criar um ambiente de ensino muito mais interessante. Muitos se queixam da ausência de interesse dos alunos, mas, como jovens imersos em padrões de tecnologia irão agüentar um mestre somente dispondo de lábia e giz por horas? Muitos de nós até conseguem o milagre de se tornar suportáveis, porém, é insuportável a quantidade de atividades que é obrigado a fazer, dentro de uma lógica produtivista de fabricação em massa que não considera a qualidade do que se realiza, mas, apenas a quantidade. Que empurra para as salas de aulas os alunos sem condições, muitas vezes, de entender o vocabulário que se utiliza. Acrescente-se que, numa sociedade onde o valor dos indivíduos se mede mais pelo consumo do que pelas qualidades das pessoas, por seus valores, ser professor é ser um profissional mal pago. Numa época em que a escolha da profissão é feita pela possibilidade de sucesso, de rendimentos altos, a profissão de professor está no estrato mais baixo das escolhas. Ser professor é quase se condenar a ser pobre, a ser um ser quase monástico. Não é à-toa que os pais, hoje, não desejam de forma alguma que seus filhos sejam professores. Professor é sinônimo de pobreza. E, muitos alunos, na sala de aula mesmo, tratam o professor como se fosse um sonhador ou um acomodado, na medida em que não compreendem como alguém sabe tanto e ganha tão pouco. De fato, é inexplicável até mesmo sob o ponto de vista econômico, de vez que quanto mais aumenta a demanda por professores mais a média dos salários, no País, baixam. O professor, hoje, efetivamente, só tem um dia de reconhecimento que este dia 15 de outubro. Neste dia, podem atestar, todos os políticos falam que é a base de desenvolvimento de qualquer país, profissão fundamental para a nação, enfim, a maravilha das maravilhas. Nos outros dias, sem a grandiloqüência dos discursos, a triste realidade é a das más condições de trabalho, dos salários baixos, do dia à dia cansativo e desgastante, do desânimo com os resultados, das queixas em reuniões que não dão em nada e, outras vezes, pior ainda as perseguições e até mesmo o espancamento por polícias militares. E assim se faz o Brasil. Ou melhor, assim, massacrando o professor, o Brasil se desfaz. 

sábado, setembro 21, 2013

A necessidade de valorizar a economia criativa

Em épocas, como as atuais onde a palavra recessão se não anda na moda paira no ar, é sempre necessário que se busque, especialmente, nos negócios, soluções criativas. Aliás, modernamente, a chamada indústria criativa, ou seja, a indústria sem chaminé que vive mais das idéias e de cabeças que pensam passou a ser, de fato, um fator decisivo no aspecto econômico, porém, nestas como em outras atividades, a questão do ambiente adequado é essencial. É sob este ponto de vista que a situação atual de Rondônia padece de um mal que, infelizmente, não tem sido tratado que é o de não se dar uma maior atenção aos setores culturais, aos setores criativos que são uma fonte fundamental da atividade econômica.
Sintomático disto é, por exemplo, que o Teatro Estadual se arraste por diversos governos sem que a obra tenha sido até hoje inaugurada. Há a promessa do atual governador de que este longo calvário terá fim em dezembro, mas, mesmo assim é uma obra apenas. Um teatro deve ter todo um aparato artístico, toda uma programação, toda uma estrutura por detrás que, para nossa tristeza, não tem sido pensada. O Teatro Amazonas, por exemplo, foi todo remodelado, todavia, lá sua programação não incluiu apenas uma apresentação histórica de uma ópera como também se criou até grupos teatrais, orquestra sinfônica e toda uma escola de pessoal. Pelo que temos noticia nada disto foi pensado até agora por aqui, apesar do anúncio festivo da inauguração.
Para piorar é um fato constatado ( e não somente em nosso estado) que, quando se fala em cortar despesas, a primeira coisa que acontece é cortarem recursos justamente no que, embora devesse ser considerada uma fonte de criação de riqueza, é sempre visto apenas como despesas e, para desgosto de artistas, artesãos, criadores de uma forma geral, a tesoura cai sempre sobre os eventos de cultura e de lazer, inclusive o carnaval que é a festa popular mais forte do País, uma marca mesmo de nossa cultura.
Sob o risco de parecer herético digo mesmo que toda e qualquer indústria moderna precisa incorporar a economia criativa como forma de gerar mais valor em suas mercadorias. Não é preciso de muita argumentação para se mostrar que não existe grande produto sem marca e, no fundo, marca é propaganda, uma forma artística de se mostrar que um produto tem qualidades diferentes ou superiores. Rondônia precisa valorizar sua economia criativa, ou seja, ter seus valores criativos exaltados e reconhecidos ou seguiremos sendo eternamente uma terra sem valores próprios. Antigamente éramos a terra da cassiterita. Já nos caracterizamos por ser um eldorado, mas, ainda não firmamos uma marca que caracterize Rondônia. Ou fazemos isto com competência criando uma indústria criativa nossa ou seremos eternamente a terra do “já teve”. E, de fato, já tivemos de tudo, mas, corremos, hoje, o risco de ficarmos marcados apenas pelas marcas negativas. Rondônia tem muita criatividade. É indispensável fortalecê-la, usá-la para exaltar muitas coisas positivas, inclusive o céu sempre azul, quase tão azul quanto o céu grego.

 

domingo, setembro 01, 2013

Só oscilações à vista




O governo comemora o fato de que a economia cresceu 1,5% no 2º semestre. Não há como não concordar que o comportamento da economia foi melhor que o esperado e melhor que o anterior, mas, é preciso lembrar que isto já aconteceu inúmeras vezes na história recente e não assegura nada a respeito do comportamento futuro. Há dados que, se forem mantidos no tempo, são muito bons. Um deles é o aumento da taxa de investimento e do consumo privado que cresceu, mas, perdendo participação no PIB. O consumo público também, ao aumentar, nos leva a ter certeza de que a poupança está crescendo como proporção do PIB. Bem como a agropecuária e indústria cresceram sua participação na economia deslocando os serviços. É uma mudança necessária por causa do imenso passivo externo. O governo alega que este rombo está sendo coberto por investimento direto, produtivo. Mas, capital externo tem de ser remunerado, seja por juros, lucros e dividendos e, num prazo maior, isto é insustentável e se transforma, como sabe quem entende o mínimo de finanças, numa bola de neve. Neste sentido é bom que a taxa do câmbio tenha se depreciado. O exame, portanto, dos dados nos induz a pensar que o resultado foi mesmo muito bom e alguns setores econômicos, se mantiverem o comportamento, farão uma grande diferença, todavia, deve-se olhar com a frieza do curto prazo e de que foi uma oscilação. Nada nos dá certeza, pelo menos por enquanto, que se trata de uma tendência.
Para manter, porém, o foco é preciso afirmar que a produção atual depende do investimento passado. E, como se sabe, a taxa de investimento em relação ao PIB, de 18,6%, com muito esforço 19%, têm sido muito baixa. Mesmo o crescimento apontado no trimestre, embora acima do passado, ainda está muito longe dos desejados 23 a 25% que nos permitiriam ter um crescimento sustentável em torno de 5%. Por isto não é crível argumentar com um crescimento trimestral anualizado de 6%. A causa está no baixo investimento do passado. Também não existem, pelo menos de forma visível, fatores que indiquem que os bons resultados do trimestre se devam a algum tipo de política pública. O governo parece continuar a querer insistir no esgotado modelo de incentivo ao consumo, mas, o crédito, seu motor, bateu no teto e os índices da taxa de emprego já acendem o sinal amarelo mostrando que os caminhos devem ser outros. Não dá para acreditar que, com as eleições na porta, o governo mude de rumo. Deverá insistir na formula de tentar incentivar o consumo. Como o governo já sinalizou, com a relutância em diminuir ministérios, que não fará uma política fiscal mais dura nem, em compensação, melhorará os gastos e investimentos públicos de forma significativa, não há como não considerar que continuaremos a verificar oscilações na atividade econômica e o termômetro delas são as expectativas: os empresários demonstram muito pouco otimismo em relação ao futuro. E sem o otimismo deles é impossível pensar que as taxas de crescimento alcem voos mais altos. O previsível são as oscilações.

sábado, agosto 17, 2013

Todo julgamento é um ato intelectual


Longe de mim ser bíblico, mas, reconheço na bíblia uma fonte de grandes lições. Em especial gosto muito de “"Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mateus 7:1) e de “Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu?”( Mateus 7:4). Estes trechos me parecem muito oportunos numa época em que, vejo, especialmente no Facebook e na internet, a despreocupação com que as pessoas julgam os outros, mesmo aqueles que não conhecem, o que, aliás, se estende para a vida cotidiana. Há, por conta até mesmo do rebaixamento da cultura e dos costumes, uma falta de senso em dizer e escrever certas coisas que, no passado, fariam corar um frade de pedra.
Dizem que sou muito crítico. Devo ser, embora pense que não, mas, somos péssimos julgadores de nós mesmos. Agora, concordando que seja, critico ideias, comportamentos, atos. Não tenho, como vejo aos montes, a coragem de dizer que certas pessoas são isto ou aquilo ou que merecem o castigo que, algumas vezes, é puro infortúnio, pois, afinal, visto de perto, qualquer um não é apenas fora do normal, como também terá seus pecados, secretos ou não. Porém, as pessoas costumam julgar os outros e se excluir como se fossem inocentes. A meu ver, ninguém é inocente. No máximo, pode ser menos culpado. Há os que se aferram à lei: você fez isto e aquilo que a lei diz que não pode. É fácil usar as leis contra os outros. O problema, em geral, é que quem mais utiliza este tipo de expediente se encontra na posição de poder usar a lei e, não raro, não vê que também escapa de suas linhas.

A armadilha de pensar assim é que, queira ou não, qualquer manifestação de linguagem é um ato intelectual. E, ao criticar o julgamento alheio, se analisa atitudes intelectuais e, quem analisa intelectuais acaba falando de si mesmo, acaba falando de sua própria confraria como se a ela não pertencesse. Sei que pertenço por escrever, por desempenhar o papel de quem transmite ideias, mas, apesar de errar também, pois, sou humano, procuro fugir das falsas generalizações. Como, por exemplo, de considerar todos os políticos iguais. De fato, quando escrevo, procuro, antes de tudo, ser um verdadeiro intelectual, ou seja, me apegar à análise dos fatos e não, como fazem muitos, tentar persuadir, convencer de que esteja certo. Considero que, ao contrário de Sartre, o intelectual não pode ser engajado. Se ele é engajado deixa de ser intelectual por passar a ser partidário, se distanciar do discurso racional e passar, efetivamente, a fazer propaganda. Bem, muitos podem dizer que não se consegue fugir da ideologia. É verdade. Não há discurso totalmente objetivo, todavia, penso que não se pode condicionar os princípios aos interesses contingentes da conjuntura política. De forma que não preciso nem tenho, por exemplo, de ser PT ou PSDB quando nenhum dos dois realiza melhor os princípios nos quais creio. Neste sentido, posso estar errado, entretanto, luto para que o monopólio da força não se torne também o monopólio da verdade e tendo sempre presente que, numa democracia, para se construir o futuro não se têm inimigos, mas, adversários. 

quarta-feira, agosto 07, 2013

A banalidade do mal


É muito característico da época, e de grande atualidade, o filme “Hannah Arendt”, da escritora e cineasta Margarethe Von Trotta (“Os Anos de Chumbo”), que passeia por um período da vida dela, que vai de 1961 a 1964, bastante turbulento para Hannah, vivida por Barbara Sukowa (“Lola”), em excelente desempenho. É um filme que mostra a filósofa que foi encarar o monstro Eichmann, acusado de matar milhões de judeus, e encontrou um burocrata medíocre (e os burocratas medíocres são os que mais banalizam o mal). E foi em torno deste choque que ela foi capaz de observar e tentar entender o que chamou de banalidade do mal, com uma coragem e uma honestidade intelectual incríveis, que, como sempre acontece com quem têm, lhe causou um enorme mal-estar, muitas incompreensões, hostilidades e perseguição no seu trabalho e à sua figura. A busca de Hannah Arendt foi sempre a de querer entender e, de forma original, compreendeu que o mal pode se originar não da monstruosidade de uma opção política ou ideológica, mas, simplesmente da obediência cega, da inabilidade para pensar autonomamente e até mesmo da falta de motivo, do simples fato de que pessoas que não pensam, muitas vezes, somente sabem ter inveja, buscar tirar o brilho de quem tem brilho. É o que se vê, muitas vezes, em burocratas, ainda mais quando crentes em alguma ideologia ou no próprio papel que desempenham. Julgam, condenam, difamam, falam sobre coisas que não entendem, repetem bordões ou palavras de ordem sem pensar e atingem as pessoas sem compreender que, neste mundo de Deus, tudo tem volta, há uma lei inexorável que é a do retorno. Mas, essas pessoas, incapazes de pensar, são cheias de certezas e preconceitos. E, por mais que o filme fale do passado, o mal e sua banalidade estão a toda hora à nossa volta, todos os dias.
O filme “Hannah Arendt” é, portanto, muito atual, atualíssimo. É uma narrativa simples, clássica, esclarecedora que não somente revela uma trajetória, um pensamento portentoso de uma figura humana admirável, como também demonstra que não é fácil se ter honestidade intelectual. Porém, o que mais me agrada é o comportamento da personalidade de Arendt que mostra um traço que admiro muito nas pessoas, e que sempre procurei cultivar, que é o de respeitar e procurar entender o outro, até mesmo quando se trata de adversários, de vez que jamais tive inimigos, embora, os que vivem no mal e sua banalidade, escolham seus inimigos de uma forma preconceituosa e aleatória e, não poucas vezes, justo a quem deveriam agradecer. Hannah Arendt era um ser assim e quem é capaz de buscar entender os outros, de gostar mesmo contra os evidentes defeitos, por compreender que as falhas são próprias da humanidade, certamente, se torna um ser humano melhor.
O filme tem o mérito de resgatar um tema polêmico e que nos desafia modernamente. E, entre outras coisas, tem o dom de desmistificar o pensamento comum de que exista uma entidade “o mal”, oposta a outra, “o bem”, num claro reducionismo, pois, seria muito confortável se o mal fosse um alvo externo, localizável, eliminável, mas, para desespero dos simplistas, dos que pensam em preto e branco, o bem e o mal estão dentro de nós mesmos, fazem parte de nosso miséria humana, de nosso DNA. Mesmo as melhores pessoas podem ser as piores, dependendo das condições e do momento. A banalidade do mal está em que, de fato, este tem suas raízes no próprio ser humano e enfrentá-lo não é tarefa fácil tendo em vista que as fronteiras entre o bem e o mal são tênues, quase que imperceptíveis, em especial, num mundo onde, muitas vezes, a verdade é a mentira propagada por muitos. O mal, de fato, nunca antes foi tão banal.

domingo, julho 28, 2013

Menor crescimento, mais pressão por mudanças


O The Economist  faz previsões de que os países emergentes, entre eles o Brasil, entrarão em uma fase de menor crescimento. E os argumentos que utiliza em relação ao Brasil são pertinentes e dizem respeito ao fato de que não fizemos as reformas necessárias, não fizemos o dever de casa, crescemos em cima das commodities, crescemos porque a China cresceu e precisava de nossas matérias-primas. É uma leitura, sob o ponto de vista político e econômico, correta. O Brasil, malgrado, ter melhorado não melhorou o suficiente para criar um marco jurídico e econômico estável e que proporcione o meio ambiente necessário para que viceje o empreendedorismo e aumentem os investimentos, o que é fundamental para criar um desenvolvimento efetivamente sustentável.
O governo tem tentado fazer as coisas ao seu modo o que inclui, num sistema de mercado, a tentativa de manter as coisas sob seu controle. Isto é visível nas canhestras tentativas de privatização e na busca de limitar o lucro de setores, como se o maior, ou menor, lucro não fosse um dos mecanismos que faz com que o mercado funcione. Depois, mesmo quando tenta mudar, tenta mudar aos pedaços. Ora, não se faz reforma política, ou econômica, por fatias, nem é aceitável que o governo faça, como tentou  com a questão do plebiscito, uma consulta sobre problemas abstratos a um povo que demonstra, nas ruas, a falta de confiança nos seus representantes, que reclama pelo fato de não se sentir representado. O que se vê claramente é que o nosso sistema democrático não tem funcionado a contento e que é indispensável que se modifique as regras para que se tenham políticos eleitos com representatividade, com legitimidade.

É preciso, portanto, que haja propostas de mudança que se orientem não para atender as necessidades governamentais, ou partidárias, mas, para valorizar a opinião, o debate sobre políticas públicas e a elaboração de um projeto para o País. É evidente que isto não é nada fácil. Quem está no poder não pretende abrir mão dele, nem construir um sistema onde a representação política seja um serviço público, um apostolado, uma expressão da honra, e não uma carreira. Isto, é evidente, somente acontecerá, no longo prazo, porém, a defasagem que existe entre o ideal e a realidade já produz efeitos substanciais. Basta ver a última pesquisa Ibope divulgada, na qual a avaliação negativa da presidente Dilma Rousseff supera a positiva pela primeira vez desde março de 2012 e que mostra que os governadores dos Estados mais ricos e populosos também enfrentam a desconfiança dos eleitores. É uma pista vital para se entender o que pensa o povo a respeito do momento político atual. O que se verifica é que a desaprovação a Dilma, não se deve a aumentos sazonais de preços, boatos sobre Bolsa-Família e seca no Nordeste. É mesmo uma rejeição ao governo que inspira graves preocupações e deixa desconfortável todos os governantes e políticos, que vão precisar responder às demandas de um eleitorado cada vez mais desejoso de mudanças, seja na situação material como institucional. E, com índices menores de crescimento, as mudanças serão inevitáveis. 

segunda-feira, julho 22, 2013

Uma visão realista da economia brasileira


Considerado um dos mais brilhantes economistas do Brasil, com participação na elaboração dos Planos Cruzado e Real, o Doutor em Economia e economista André Lara Resende, numa entrevista veiculada no Estado de São Paulo, no dia 07 de julho último, sob o título “Projeto do PT parece o do regime militar”, afirma que o mix de políticas do governo federal está equivocado, pois, para que a economia melhore será indispensável que se estimule a oferta de moedas e os investimentos e não, como tem sido feito, estimular a demanda e o aumento dos gastos públicos correntes.
Segundo ele, “Espantamos o investimento estrangeiro de longo prazo com a falta de estabilidade das regras, com uma regulação barroca e discriminatória, com uma política macroeconômica incompetente e a opção pelo capitalismo de Estado”. E complementa que “A partir de 2008, o PT adotou um projeto anacrônico. O curioso é que ele é parecido com o do regime militar. Esse projeto está levando ao crescimento medíocre. O governo usou o pretexto da crise financeira nos países avançados para aumentar os gastos públicos e dar estímulos ao consumo”. Também afirmou que “Se após a crise de 2008 fosse para fazer política macroeconômica anticíclica (conjunto de medidas que em período de retração econômica incluem redução de tributos, aumento do crédito e do gasto público para ativar a economia), a opção correta teria sido baixar os juros e não aumentar os gastos”.
E criticando a falta de aproveitamento do Brasil em relação ao otimismo do mundo em relação ao nosso país declara que “Perdemos, é verdade, uma grande oportunidade”. E segue dizendo que “Deveríamos ter aproveitado a oportunidade para investir mais e melhor na infraestrutura e na educação, principais fatores determinantes da produtividade”. E fazendo um chamamento para a revisão do modelo de crescimento econômico brasileiro afirma que “O projeto de desenvolvimento do século 21 deve levar em conta as evidências de que o bem estar depende da qualidade de vida, cujos elementos fundamentais são o sentido de comunidade e a confiança nos concidadãos, a saúde, o tempo com a família e os amigos e a ausência de stress emocional. As grandes propostas totalizantes ideológicas deixaram de fazer sentido”.
E, como um analista preciso, completa “Hoje o que importa são questões concretas relativas ao cotidiano, à eficiência administrativa. É preciso rever um Estado que absorve 36% da renda nacional, mas, investe menos de 3% e consome grande parte dos recursos para sua própria operação. O Estado não pode continuar a ser percebido como um expropriador ilegítimo de uma fatia expressiva da renda da sociedade, sem contrapartida de serviços à altura, como um criador de dificuldades em todas as esferas da vida”.
Não é preciso mais tecer muitos comentários no que está muito bem colocado. De certa forma um Estado é melhor quanto menos incomoda o cidadão, quanto mais suas regras são estáveis e permite maior previsibilidade e transparência nos negócios. O que André Lara Resende colocou, com propriedade, é que as ruas pediram seriedade e eficiência do Estado e, isto somente será possível, com a revisão do projeto político que se encontra em andamento. Não se trata apenas de um crescimento maior, ou menor do Produto Interno Bruto-PIB, se trata de que ou mudamos nossa política macroeconômica ou, de fato, tenderemos a piorar ainda mais os nossos problemas que já são imensos. 

sábado, julho 20, 2013

Tudo que é sólido....


O Brasil vive tempos visceralmente novos, embora, o velho sempre teime em morrer e, principalmente, resista na forma de tentativa de enquadramento por meio da burocracia, muitas vezes, da utilização maléfica da própria liberdade, mas, em especial, na mente das pessoas que não mudam, que não percebem que velhas formas não funcionam mais, com a mesma eficiência, quando se está diante de um período totalmente novo, no qual houve uma explosão de protesto multifacetado, policromático, independente e, notadamente, articulado por pequenos grupos, das redes sociais, do marketing viral, que não segue as regras que foram utilizadas no passado. A ida as ruas, neste mês de junho, em todo o Brasil, nos seus poucos dias, conseguiu mobilizar um espectro importante da sociedade, composto pela classe média que tem sido, sistematicamente, reprimida e espremida, pelas políticas públicas e por impostos, cada vez maiores, e um autoritarismo sufocante que, na suposta defesa de direitos sociais, impede e sufoca até mesmo o tradicional humor brasileiro com a imposição legal de coisas que não tem nada a haver conosco como é o caso do politicamente correto ou da imposição de cotas raciais numa sociedade por si mesmo já miscigenada. Este que, pode ter sido o início de outros movimentos ainda imperceptíveis, mas, que, certamente, virão, não somente porque os tempos de tais lideranças se esgotaram, como pelo fato de que o fenômeno que assistimos foi o de um furacão, que se formou inesperadamente, concentrando uma grande força reprimida, saiu arrasando pelas ruas e que, todavia, permanece, depois dos estragos, em estado latente, sem se dissipar, com uma força e uma capacidade de se formar novamente, a qualquer instante, basta que se reproduzam motivos para novas insatisfações. O que ficou patente, explícito, demonstrado é que foi uma reação ao partido que está no poder, aos políticos que estão no poder. É sim uma reação da classe média, embora com muito apoio das classes mais baixas, contra absurdos como a brutalidade policial, os horrorosos serviços públicos e até mesmo a perda de renda e de importância das pessoas que tem conhecimento, que tem sido execrada seja como funcionários públicos, seja sob o nome, que deveria ser elogioso, de “elite”. Afinal, em qualquer país do mundo civilizado, o que se espera é que seja a elite quem vá dirigir seus destinos e não os despreparados, os menos cultos. Pode-se dizer que este tipo de movimento também acontece nos países desenvolvidos, na Argentina e na Venezuela. É verdade. Porém, também lá é o cansaço dos governados com os governantes, é o mesmo descompasso entre o que se espera e o que a representação política faz. Em especial é, de uma forma clara, o cansaço com as esquerdas- para se termos um diagnóstico realista. Que ninguém espere que saía deste movimento lideranças ou um partido. Não é provável. O provável é que o povo descobriu que não precisa de sindicatos, partidos políticos, associações de classes ou qualquer tipo de instituição, para exercer sua força e que os políticos e governantes precisam atender as demandas e insatisfações da sociedade. Foi como se fosse um basta as manipulações. No meio da Copa das Confederações disseram que desejavam mais do que “Pão e Circo”. É evidente que a compreensão deste momento ainda irá ser adequadamente clarificada, embora, já tenha mudado o jogo e dado um chute nas velhas e conhecidas formas de controle. Quem está no poder que se cuide. Com o monstro nas ruas mais do que nunca o poder será efêmero.

sábado, julho 13, 2013

O momento é de inovação




Tivemos um momento de inflexão, de mudança de rumos, que deixa a todos perplexos pela falta de rumos visíveis. Não há como falar em mudanças sem falar em mudar os paradigmas, aqui bem entendidos como o conceito de Thomas Samuel Kuhn (1922-1996), físico e filósofo da ciência, no seu livro “A Estrutura das Revoluções Científicas” que trata paradigma como as “realizações científicas que geram modelos que orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para os problemas por elas suscitados.” Em suma, algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada situação. Ou seja, estamos sem pai nem mãe. Até mesmo a estabilidade da democracia que até pouco temos nos gabamos de representar na América do Sul corre riscos com as manifestações de ruas que demonstram o imenso hiato entre o povo e sua representação. Houvesse uma compreensão do momento, houvesse desprendimento e patriotismo os políticos, nem precisariam de ser acusados de nada, para renunciarem a seus mandatos. A culpa deles está posta na ineficiência de seus desempenhos. Claro que nenhum, porém, está disposto a sair do seu lugar em prol de um amanhã melhor. Sejamos práticos.
O grande problema é que a nossa sociedade mudou profundamente e todos nós estamos num esforço de adaptação, de acomodamento e numa tentativa de compreensão ativa da mudança. E não é uma mudança qualquer. É uma mudança feita com um fenômeno impactante que nos exige novas habilidades como é a mobile internet, a internet móvel, que tem implicações no cotidiano, nas comunicações, nas modificações sofisticadas da produção, nos grupos de interesses e se mostram diante dos nossos olhos modificando o tempo, exigindo respostas rápidas de nós, dos empresários e dos políticos que somente utilizam instrumentos novos, como os celulares de última geração, mas, se comportam como se estivessem ainda nos tempos da Velha República metendo os pés pelas mãos, trocando o público pelo privado. Embora a pauta das ruas seja variada, no fundo, o que se exigiu da classe política, ética e bons serviços, é progresso, é evolução. Foram os jovens do Facebook, principalmente, que cobravam dos políticos que esqueceram seu papel de criar uma sociedade melhor que se lembrassem para que foram eleitos. Cobravam deles que enfraqueceram os processos de evolução preocupados com demandas e exigências pessoais e não da sociedade. E isto deriva, em especial, que faltam empregos e ainda mais bons empregos. Que a suposta afluência que existe é suportada não pela renda, mas, pelo crédito e pelo endividamento.
Que nem sempre a sociedade segue os rumos do progresso é verdade. Não há nas sociedades uma evolução linear e progressiva, mas, os governos petistas entupiram tanto as massas com discursos de um futuro melhor que, agora, elas saíram as ruas e passaram a exigir. Quem quiser, agora, ter carreira política vai precisar transformar a adversidade de hoje na oportunidade. Vai ter que oferecer o sonho de um país melhor, com mais ética e mais atenção a um desenvolvimento real, à criação de melhores condições de vida. Por enquanto, não há político que tenha despertado para o fato de que continuam a exercer o velho papel do passado. Quem continuar assim pode se aposentar. O momento é de inovação, inclusive, na política.