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sexta-feira, dezembro 06, 2013

6ª CBAPL foi uma exposição da diversidade brasileira


Em geral conferências nacionais tem sido ou uma mera convalidação de políticas antes já decididas, com a arregimentação de grupos de apoio para bater palmas, ou, quando muito, uma ocasião para fazer política eleitoreira com promessas de melhorias que terminam nas proposições. Não foi o caso da 6ª CBAPL-Conferência Brasileira de Arranjos Produtivos Locais, que teve como tema “Sustentabilidade dos APLs: Governança, Conhecimento e Inovação”, realizada entre os dias 03 e 05 dezembro, em Brasília. Quem participou teve condição de verificar que foi uma conferência múltipla, rica e com diversos desafios estimulantes tanto sob o ponto de vista do fazer, como da elaboração de políticas públicas e de debates acadêmicos.
O sucesso do evento começou pelo fato de que, entre os patrocinadores, aparecia, para surpresa de muitos, no meio de tradicionais promotores deste tipo de evento, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Banco da Amazônia e o BNDES, um patrocinador privado, o Bradesco. E não é por acaso que o maior banco privado do país estava lá, de vez que seus representantes informaram que apóiam mais de três centenas de arranjos produtivos em todo o Brasil. Porém, o interessante, e os méritos vão, sem dúvida, para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior-MDIC, que conseguiu a proeza de reunir técnicos governamentais, empresários e acadêmicos para um debate que se caracterizou por ser variado e estimulante e, melhor ainda, sem viés político, para discutir os problemas reais da produção, da comercialização e dos entraves que fazem o país permanecer abaixo de suas potencialidades.
Ressalte-se que isto foi feito com o talento também de apresentar uma gama de casos de sucesso que merecem ser ressaltados como foi o caso da diretora do Centro Brasileiro de Rochas Ornamentais, Olívia Tirello, do que foi feito, por exemplo, para desenvolver Passo Fundo, apresentado pelo professor Marcos Alexandre Cittollin, de Polocentro, um pólo de tecnologia da Serra Gaúcha, apresentado pelo seu presidente, Antônio Augusto Tessari ou, para irmos até o Nordeste, buscar o caso do Núcleo de Produção Engenho Digital-NPED apresentado por Caio Vinicius Dornelas-só para citar alguns. Mas, houve uma exposição de produtos originados dos APLs que trouxe redes de Jaguarana, por meio do Marcos Abreu e do Alex, jóias de Cristalina e do próprio DF, Cachaça de Góias, mel, laranja e casca de laranja defumadas, enfim de tudo um pouco.
Também, é difícil até citar pela qualidade das palestras, mas, para citar algumas entre as que assisti, valeu a aula do José Eduardo Cassolato que ressaltou terem os arranjos produtivos ocupado seu espaço recuperando a noção de que a produção se dá no território, é coletiva e se dá por meio do aprendizado interativo e enfatizando que a “a governança de fora para dentro não funciona”; embora discordando de alguns pontos, em especial a falta de acentuar que a inflação é uma inflação dos preços administrados e não de mercado, também foi muito boa a do economista do Bradesco, Robson Rodrigues Pereira, sob o cenário econômico; a inspiradora palestra de Susan Andrews do Parque Ecológico Visão Futuro sobre o FIB-Felicidade Interna Bruta, a do secretário de Inovação do MDIC, Nelson Akio Fujimoto, com a exposição do Inovativa Brasil, que apóia novos empreendimentos voltados para a inovação, bem como as também muito interessantes palestras sobre audiovisual de João Guilherme Barone Reis e Silva, de Cesar Piva, Fabio Cândido e Luiz Andrade, mais ressaltando as vantagens competitivas de Nitéroi. Com certeza estarei sendo injusto com muitos outros que precisariam ser lembrados, mas, a intenção foi ressaltar a riqueza e a abrangência do tema que incluiu até a necessidade de integração cultural e produtiva com os outros países do Mercosul.

Em especial me tocou de perto a percepção de Marcus Franchi, discutindo os APLs de audiovisual, por acentuar o enorme fosso que existe entre, digamos assim, o Brasil real e o Brasil visto de Brasília, que aparece nas exigências que se faz de um tecnicismo que está longe da realidade brasileira. Franchi mostrou que a política do Ministério da Cultura, e pelo que vi ele ainda mais, tenta se aproximar criando meios para facilitar o acesso a recursos do que chamamos de Economia Criativa, porém, o governo é uma caixa preta difícil, cheia de siglas e quadrados onde as demandas públicas se emaranham e morrem. O certo é que o Brasil está complicado, apesar de suas imensas possibilidades, e a 6ª CBAPL nos trouxe situações inusitadas como a de que, e é uma política correta, o Sebrae tratar de grandes empresas. É uma inovação e uma demonstração de que é preciso ter coragem de assumir os riscos e mudar as formas de agir e perceber o País. A Conferência também teve o mérito de ser um choque de realidade que nos informou sobre os problemas sem deixar de ter uma visão otimista sobre o futuro.  

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