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terça-feira, maio 31, 2016

DEVERIA SIM COMEÇAR OUTRA VEZ


Um comentário ligeiro sobre o documentário acerca de Cauby Peixoto

Na minha infância Cauby Peixoto já era um ídolo. Talvez, salvo Orlando Silva, que também despertou alguma histeria, não tivesse tido antes algum ídolo que despertasse tantas paixões, tantos fãs e fofocas igual a ele. Foi, vamos dizer assim com uma certa relatividade, o Roberto Carlos do passado. Gostava, gosto da voz dele. Há canções que somente mesmo ele foi capaz de interpretar com maestria como foi o caso do seu grande sucesso “Conceição”. Não foi um dos meus ídolos, confesso, que me nutria mais de Carlos Galhardo e depois de Nelson Gonçalves, mas, era impossível não gostar de sua voz e de seu repertório que incluíram grandes sucessos como Blue Gardênia, Tarde Fria, New York, New York e a canção de Chico, que foi uma espécie de marca sua nos novos tempos, Bastidores. Cauby Peixoto foi, sem nenhuma dúvida, o primeiro grande artista pop do Brasil. Foi protagonista de uma história de vida bonita, tortuosa e, até certo ponto, incompleta. Sempre me pareceu que foi uma estrela que não chegou a luzir com todo o brilho que devia, merecia.
Quando me deparei, na Netiflix, com o documentário “Cauby – Começaria Tudo Outra Vez” do cineasta Nelson Hoineff, fui assistir com um misto de curiosidade e, ao mesmo tempo, com uma certa reverência. Afinal a morte recente de Cauby ainda está no ar e na dor dos que sabem que é uma época que se enterrou com ele. Com o olhar crítico que sempre tive a seu respeito, apesar de considerar sua voz belíssima não gostava de seus adornos vocais, sabia que seria um prazer ouvir suas músicas e conhecer um pouco mais de sua história. A verdade é que fiquei frustrado sob estes aspectos. Hoineff não explorou bem a biografia de Cauby, nem sua discografia, penso, da melhor forma. É verdade que se revela um esteta, quando a câmera passeia e pega certos momentos do cantor, porém, senti falta de um esclarecimento melhor sobre a vida do cantor e de alguns momentos memoráveis que, certamente, deve ter registro. Sei que, às vezes, também são as limitações de direito e orçamentárias, todavia, mesmo assim, como teve acesso ao biógrafo Rodrigo Faour poderia ter dado uma visão mais rica da vida do grande ídolo. Inclusive, mesmo que ele não quisesse falar, seria preciso dar um tratamento mais claro de sua vida amorosa, de suas experiências que são, apenas  roçadas, com alusões até do cantor sem clareza, porém. Não que esteja se pedindo uma confissão ou intimidades, mas, quais as pessoas que amou, quem o acompanhou pela vida, enfim, os amigos e os amores que não aparecem no filme. Há, inclusive, uma citação de que "reprimiu-se a vida inteira", o que mereceria um tratamento melhor, mesmo que confeitado. Afinal qualquer que fosse sua opção não eliminaria uma trajetória fulgurante nem afetaria o seu valor artístico ou pessoal. O fato é que as figuras queridas de Cauby não ficam claras e quando aparecem, ficam sem um enquadramento que clarifiquem sua importância. Hoineff, pelo que soube, justificou que “Cauby é muito fechado”. Sem dúvida era, de vez que protegeu a sua intimidade a vida toda, mas, um documentário sobre ele, a meu ver, teria que ter mais conteúdo sobre sua vida e carreira. Isto não invalida em nada o filme. É um belo filme, sobre um grande ídolo brasileiro e, até pela falta de outros registros, vale a pena assistir. No entanto, creio que se fosse Hoineff faria, pois, deve ter material, um outro documentário que fosse menos “fechado”. O filme é uma beleza sob o ponto de vista de se ver um grande ídolo até o fim desejando permanecer no palco, todavia, parece, como a própria vida de Cauby, com um roteiro incompleto, ainda como uma estrela que não revela toda a sua luz.


Ilustração: ego.globo.com

terça-feira, maio 24, 2016

VIVA AS DIFERENÇAS


As pessoas, e não apenas elas, não são, naturalmente, iguais.  A grande verdade- se é que há uma- é a de que indivíduos livres são indivíduos muitos diferentes entre si, com habilidades e qualidades diferentes, de vez que os talentos e capacidades e até mesmo a forma de trabalhar não possuem o mesmo afinco, qualidade ou dedicação. Cada um de nós nasce em situações distintas, com suas vantagens e suas desvantagens, cercados por pessoas diferentes e diferentes tipos de incentivos e graus de oportunidade. Só num mundo ideal podemos ser iguais e é compreensível que se procure amenizar as imensas desigualdades existentes, mas, a história real nos tem demonstrado que tentar remediar a situação implantando políticas governamentais “corretivas” tem se mostrado um tipo de cura muito pior do que a doença. A antiga URSS, república socialista, desmanchada por absoluta incapacidade de resolver os seus problemas, ou o longo definhamento de Cuba mostram, com clareza, que a busca de acabar com as desigualdades pode originar situações piores que as originais. Sem falar na agonia atual que a Venezuela passa com Maduro. A situação recente do Brasil, com os governos petistas, comprovaram, o que na experiência histórica é recorrente, que sempre que se tomam medidas coercitivas para a  redistribuição de riqueza somente se consegue que os ricos e os espertos enviem sua riqueza para o exterior, ao passo que os desafortunados terão de arcar com o fardo do inevitável declínio econômico. O aumento de abertura de contas no exterior, com o Brasil sendo o 5º país com mais recursos em paraísos fiscais, demonstra isto e, não por acaso, caminhamos para 13 ou 14% de taxa de desemprego, isto se aceitarmos a estatística criativa implantada nas instituições de elaboração de indicadores.
Infelizmente, graças a uma selvagem e prolongada lavagem cerebral divulgada na mídia e sustentada, até agora, pelo governo, se protesta e se afirma que é indispensável tomar medidas contra a desigualdade, transformada em cavalo de batalha. Quem não concorda com a coletivização, com o tratamento igualitário, e injusto, na medida em que se deseja fazer justiça retirando renda de quem trabalha para quem não trabalha, foi taxado de tucano, coxinha, retrogrado, reacionário e de direita radical. No entanto, apesar do maravilhoso governo que tivemos, que, segundo o marketing agressivo, incorporou ao mercado uma notável parcela de 40 milhões de pessoas, por incrível que pareça, somente se conseguiu aumentar seja a desigualdade, seja a criminalidade, os problemas rurais e urbanos, de tal forma que a insatisfação pública se expressou nas ruas e no impeachment.

Mas, o governo petista, nunca fez distinções básicas entre, como, por exemplo, que se as pessoas são diferentes, e livres, é normal que tenham rendas diferentes. Nem nunca esclareceu que onde as pessoas têm, obrigatoriamente, a mesma renda não são livres. Porém, o que é pior: não há exemplos reais de desenvolvimento onde os governos organizam a produção. Países desenvolvidos são, de fato, aqueles onde os governos perdem, cada vez mais, a importância e atuam somente em atividades básicas, em infraestrutura e de forma compensatória. Ninguém defende a desigualdade exagerada, mas, existe a desigualdade boa e legítima que deriva da ordem natural das coisas, seja o que isto for. O que, uma visão progressista defende é o direito a oportunidades iguais, mas, isto não pode existir pela opressão dos contrários. Assim melhorar as oportunidades de minorias é melhorar a educação delas e não estabelecer cotas. Assim como criar cidadãos é gerar oportunidades de empregos, melhorar o ambiente dos negócios, estimular o empreendedorismo e não, como tem sido feito, aumentar a quantidade de pessoas dependentes do assistencialismo. A igualdade, e ainda mais forçada a partir do governo, é tão e mais injusta e antinatural quanto à desigualdade abusiva. E só os que não pensam podem defendê-la como ideal humanitário. De fato só os que dela se favorecem, os muito espertos, e os tolos podem aceitar que a igualdade seja um ideal político. A ideia de igualdade econômica não representa nenhuma genuína forma de humanidade ou de compaixão. É uma ideia intelectualmente pobre e fraca. E quando se torna a política de um estado, política pública, vira um desastre anunciado em larga escala e um retrocesso econômico. O fato das pessoas não serem iguais, não terem a mesma renda decorre da própria diversidade da existência e das diferenças. Antinatural é tentar igualar a todos. 

Ilustração: revistaescola.abril.com.br

quinta-feira, maio 19, 2016

A MALDIÇÃO MODERNA DA CONECTIVIDADE


Que é sério é, mas, também hilário. Meu amigo de Londrina, Luiz Moreira, se queixa de que “A conectividade está muito à frente da minha realidade...” e, sem conseguir dominar as complexidades do seu celular, considera que “Acho que é melhor ir pro mato sem Internet.. kk”. Bem, a grande verdade é que, penso que os celulares são como os computadores, segundo o grande jornalista Euro Tourinho “incompreensíveis por natureza”. Na sua insuspeita opinião, ninguém domina, de fato, este tipo de tecnologia. Euro, que faz questão de usar a máquina de datilografar, afirma que, por mais que se conheça os computadores; eles sempre, de alguma forma, nos ultrapassam. Podem me chamar de BIOS-Bicho ignorante de Sistema Operacional, que, na verdade sou, mas, são históricos meus problemas com celulares. Com todos eles, a grande exceção foi aquele imenso tijolo da Motorola dos tempos jurássicos do início da telefonia móvel no século passado.

Hoje, tenho um Xperia, mas, com um série de aplicativos que, de repente, são mais invasivos que vendedores de consórcios, telemarketing de telefônica e corretor de imóvel..Ops! Aqui já fui muito longe. Mas, a verdade é que o aparelho brinca com a minha privacidade e faz tábua rasa de meus desejos. Ainda mais que entrei nuns grupos de WhatsApp para ser a toda hora interrompido pelo som da chegada de alguma mensagem e o troço ainda informa, faz um relatório de que olhei para o infeliz que mandou a mensagem. Aliás, faz muito mais do que isto, informa sempre se estou online, a partir de quando ligo o telefone, mesmo que o indigitado do teclado, que só existe em inglês e chinês, não me permita, de forma alguma, responder nada por meio dele. Só falta mesmo, aliás, não sei se não faz, informar a cor da minha cueca, que meu saldo bancário está negativo, porque, desconfio, que, a esta altura, meu CPF, RG e localização estejam mais acessíveis que água benta em pia de igreja. E ainda me aparece gente que pensa, como acontece com o Moreira, que sou mal educado e não respondo, quando, muitas vezes, nem vi. E me cobra: -Te mandei um zapzap e vc nem tchuns. E faz um ar de descrédito quando digo que não vi. Olha lá se zapzap é meio de comunicação! E depois quem disse que o que recebo, na hora, posso responder. E pessoas que somente usam emoji, emotics, sei lá, as carinhas e garatujas usadas na comunicação digital. Sei lá o que querem dizer. E o mar de convites para jogar coisas que não tenho a menor ideia nem interesse. E, o pior, é que, telefone, mesmo celular, foi feito, para se falar, que é a última coisa que se faz. Ultimamente, do modo como as telefônicas vem se comportando, parece que nem querem mais que se fale, de vez que só aparece mensagem de chamada perdida. Mas, vídeos, de todo tipo, e mensagens de voz chegam toda hora. Mensagens imensas e vídeos mais sem graça que as piadas de judeu do Woody Allen ou tão incompreensíveis quanto as peças de Gerald Thomas. Sem falar das desculpas de quem entrou no grupo errado e disse besteiras sem limites. Devo dizer que já mudei de Samsug para Nokia, passando por Apple e outras marcas de pontas, sem que tudo deixasse de ser uma grande porcaria. O problema é que, como tantas outras coisas na vida, depois que nos acostumamos, não se passa sem o maldito aparelhinho. E uso o meu, até demais, para acessar o Facebook e telefonar. Já pensei em voltar a usar um Nokia peba, mas, pense bem, vou parecer mais dinossauro do que já sou. Assim, permaneço sendo um dinossauro quase digital e continuo sendo sexy....sexagenário, é claro. 

sábado, maio 14, 2016

OS INSIGNIFICANTES CONTRIBUINTES DERRUBARAM O GOVERNO


O que mais me impressiona, no atual processo de afastamento de Dilma Roussef, é o fato de que não somente ela, mas, também uma grande quantidade de pessoas, muitas, é verdade, por puro interesse financeiro, mas, outra parte significativa, por ideologia, não consegue enxergar a realidade e, permanece, insistindo na tese sem sentido de golpe e na visão tosca de que, agora, se terá um retrocesso nas políticas sociais. Aliás, nos dois pronunciamentos em que se despediu, Dilma Rousseff, voltou a tocar na mesma tecla de que iria se trocar o “presente róseo” do governo dela por um futuro sombrio, ignorando que este já chegou há muito tempo no seu próprio governo. É incapaz de admitir, o que é patente: seu mandato foi conquistado com o mais deslavado estelionato eleitoral. Inclusive acusando os adversários de que iriam fazer o que, depois, mal fecharam as urnas, fez, sem o mínimo pudor.
Dilma também tapou os olhos para as multidões que, nas ruas, pediam seu impeachment e, alega, ser vítima de um complô mafioso de Cunha e Temer. É risível. Basta verificar que seu governo conseguiu bater recordes de pedidos de impeachment: 50. Cunha só aceitou um, e restringindo o seu âmbito aos problemas contábeis, quando seria impensável não estender aos fatos do “Petrolão”, o que a Lava Jato apenas constatou, de vez, que há muito tempo já circulavam pelo país as acusações de desmandos na Petrobrás. Ela, por sinal, um ano antes, ocupando posto e cadeira de mando, publicamente desmentiu tudo e ainda acusou os que apontavam para os malfeitos de serem adversários do povo brasileiro, de antipatriotas! Se não bastasse isto afirma que está sendo injustiçada por ser honesta. Bem não me consta que se eleja alguém para roubar, mas, também, não para ocultar a verdade. E é impossível acreditar na completa honestidade de alguém cujos principais auxiliares, Giles Azevedo, Jacques Wagner, Edinho Silva, Gleisi Hofmann, Aluizio Mercadante, só para citar alguns, são todos apontados como envolvidos em transações obscuras. Sem contar que a sua mais fiel escudeira, Erenice Guerra, saiu da Casa Civil por motivos que todos sabem e até hoje, pipocam acusações contra ela. Não me cabe, nem sou juiz, ficar acusando ninguém, mas, como um observador da cena não posso deixar de constatar, e aí já é a justiça quem demonstra, que Dilma pode não ter feito nada, mas, os crimes que aconteceram foram sob o seu comando. O PT toda vez que é acusado alega, por exemplo, que o PP é quem tem mais parlamentares acusados na Lava Jato e que todos os partidos têm membros encrencados. É verdade. Mas, de onde saíram os recursos, quem era responsável pela gestão? Lula, Dilma e o PT. No mínimo, o impeachment já seria legítimo, até para Lula, pela omissão, pela negligência e, se não tiverem, como dizem que não, participado, pelo menos, responderiam por fazer vista grossa para o assalto aos cofres públicos. Querer tapar isto atribuindo os problemas reais que a catapultaram a um complô golpista e desqualificar um correto procedimento constitucional, ainda mais alegando que se trata de inconformidade das elites com as conquistas sociais, que, por sinal, se esfumaçaram, é um desserviço ao país, na medida em que muito pouca gente gosta ou se beneficia da pobreza. Se a pobreza fosse boa para os empresários e o lucro, a África seria o paraíso deles.

Seria mais lógico, e mais eficaz, reconhecer os erros, mas, a expressão mais qualificada do que pensa a cúpula petista veio mesmo da Amazônia, quando a senadora Vanessa Graziottin, uma das mais ilustres integrantes do grupo da chupeta no senado, afirmou “A classe média é analfabeta política e tem que ficar no seu lugar insignificante de contribuinte e deixa (sic) a esquerda intelectual garantir o futuro desta nação”. Como se observa, apesar de pregarem a igualdade, deixam bastante claro quem são nós, os analfabetos e insignificantes contribuintes, e eles, a esquerda intelectual, que, deve gerir o fruto do nosso trabalho, sem que possamos dar nenhum palpite. Foi esta visão que o povo nas ruas afastou do poder. Os insignificantes contribuintes desejam ser ouvidos e atendidos nos seus pleitos e rejeitaram o papel que haviam lhe dado de somente pagar as contas. 
Ilustração: blogdopavulo.blogspot.com

quarta-feira, maio 11, 2016

A IMPRENSA: O DR JEKKIL MODERNO


Ora, uma característica permanente da imprensa, desde que começou a ser reconhecida, é a de que jamais foi isenta. Efetivamente, sua função básica sempre foi a de propagar e difundir ideias, e, ao que se sabe, é muito incomum ideias, em especial sobre governo e sociedade, serem consensuais. O que sempre se propugnou em relação à imprensa é a de que exista liberdade, ou seja, a todos seja permitido emitir sua opinião. Agora é preciso ver que uma televisão, uma rádio, um jornal tem dono, logo, não é errado nem antiético que defenda suas posições. Claro que o ideal é que faça isto de forma transparente, mas, isto depende da formação de cada um. E é preciso deixar claro que ninguém é obrigado a assistir, ouvir ou ler algo. Por mais que não se goste de certos posicionamentos dos meios de comunicação há sempre a liberdade de ignorá-lo. Aliás, um meio qualquer somente cresce se tiver audiência ou leitores, e se isto acontece, é sinal do que o que produz tem qualidade, cria interesse. A liberdade de imprensa se acentua quando qualquer meio vence a concorrência e consegue ter liderança. No fundo é representativo do que pensa a maioria. Isto é liberdade de imprensa e não se propugnar que se feche um meio de comunicação por não se gostar do que divulga. Isto é próprio de regimes comunistas ou fascistas onde não há liberdade de imprensa.

É claro que existem critérios técnicos para a imprensa, mas, nada é isento da política. O que não é aceitável, como muitos desejam fazer crer, é que haja um imenso complô a favor de algum tipo de ideia ou de governo, que, enfim, toda a imprensa seja mera manipulação. O PT que, por exemplo, hoje reclama que os veículos da grande mídia estão exacerbados e, supostamente, teriam construído uma pauta-única de sua destruição, de Lula e Dilma, não reclamava quando a quase totalidade dos meios fazia apologia do governo Lula, aceitava como realidade, por exemplo, coisas absurdas, sob o ponto de vista técnico, como a criação de uma falsa classe média emergente ou as comparações forjadas dos índices apenas com o final do governo FHC, quando eles cresceram por culpa da ascensão de Lula, numa manipulação da mídia sem precedentes na história brasileira. Por sinal, quem estava no governo, o principal anunciante e suporte financeiro da imprensa, era o PT e não somente financiou, aumentando os recursos para a área e a quantidade de meios pagos, como pagou um exército de jornalistas e blogueiros o que, certamente, não terá sido para fazer propaganda contra si. É totalmente falso que a imprensa tenha sido uma perseguidora de Lula e do PT. Sem ela, por sinal, sem sua condescendência, se houvesse existido uma apuração criteriosa dos fatos, Lula jamais teria chegado ao poder. Alegam, por exemplo, que as denúncias de corrupção do partido ganham mais manchetes. Convenhamos que, só para clarificar a questão, quando no passado existiu flagrante de recebimento de propinas, dólares em cuecas, atos dantescos, como dancinhas no Congresso ou intervenções do governo para gerar atos ilegais, como o mais recente de Maranhão? Se, no mandato de Lula, não houve um complô da imprensa para transformá-lo no “estadista”, que jamais foi, tampouco há, agora, um para transformar o governo Dilma em “fim de mundo”. A imprensa, como um espelho, só reflete, mesmo que, algumas vezes, com distorções, a imagem que os governos e a sociedade construir. Como Dr Jekkil só tenta provar suas teorias de que o bem e o mal convivem na sociedade. E, é evidente, o mal é mais fácil de dar boas manchetes. A imprensa, como o mundo, não é perfeita, mas, é melhor quanto mais diversificada e não, como pregam os que desejam uma versão única das coisas, com o estado buscando colocar limites à informação e às opiniões. 

terça-feira, maio 10, 2016

OS BONS EFEITOS ECONÔMICOS DA LAVA JATO



A grande verdade é que, apesar das mudanças não acontecerem de uma hora para a outra, a Operação Lava Jato, com todos os problemas e objeções que possa ter, já mudou a realidade da justiça brasileira. Um sintoma evidente disto aparece, por exemplo, agora, quando, numa atitude inédita, a empreiteira Andrade Gutierrez, que aceitou pagar R$ 1 bilhão de indenização como pena, em nota, pede desculpas ao povo brasileiro reconhecendo que "erros graves foram cometidos nos últimos anos e, ao contrário de negá-los, estamos assumindo-os publicamente. Entretanto, um pedido de desculpas, por si só, não basta: é preciso aprender com os erros praticados e, principalmente, atuar firmemente para que não voltem a ocorrer". A empresa também diz que vai colaborar com as autoridades no decorrer das investigações e informou que concluiu a negociação de acordo de leniência com o Ministério Público Federal, iniciada em outubro de 2015.  
É um notável avanço na medida em que, como se observa, corriqueiramente, a prática das empresas, e das pessoas, tem sido sempre a de negar a realidade, mesmo diante das evidências e provas factuais. Em grande parte, este comportamento advém da histórica impunidade dos brasileiros mais poderosos e ricos e, neste sentido, também a Lava Jato inova ao demonstrar que ninguém, mas, ninguém mesmo, está acima da lei. Mas, isto somente foi possível pelo apoio da sociedade inclusive porque, como muitos são os atingidos, se busca mesmo nublar os fatos, distorcer uma ação que é apenas de aplicação da lei, da justiça como deve ser feita, sem considerar a posição da pessoa que comete o crime.

No seu desenrolar a Lava Jato revelou, com clareza, que as relações entre o governo, as empresas e os partidos criaram esquemas dolosos que, além de drenarem recursos públicos para fins ilícitos, criaram um ambiente econômico profundamente perverso no qual desaparece a concorrência e as boas práticas de mercado substituídas pelo apadrinhamento e um sistema de exclusão dos que não participam do clube da propina. Desta forma, sob o ponto de vista econômico, é o oposto da tese que muitos políticos defendem: a Lava Jato é muito saudável para a economia. Insalubre mesmo é a corrupção sistêmica, a combinação de preços, prevista como crime na legislação, que tem, como agravante, o superfaturamento de obras. Se, é lógico, no curto prazo, a renda e o emprego são afetados pelas punições da Lava Jato, sua ação tem o efeito corretivo de reduzir a corrupção, de injetar transparência e imparcialidade nos negócios públicos e colaborar para um ambiente econômico futuro melhor. A experiência comprova que não se constrói desenvolvimento sem regras claras, sem transparência e sem concorrência, em especial nas relações entre o governo e os fornecedores. Ainda que, amanhã, a Lava Jato possa ter seus efeitos diminuídos por outros fatores, sem dúvida, já obteve um efeito saneador ao expor as práticas ilegais e punir os infratores da lei. De qualquer forma será impossível entender este momento brasileiro sem levar em consideração os efeitos benéficos que estão sendo obtidos para a construção de um país com mais justiça e eficiência. 

domingo, maio 08, 2016

A RECONSTRUÇÃO NECESSÁRIA


É claro que os que usam viseiras ideológicas, que são bem menos do que se possa imaginar, e os que ganharam ou ganham, ou queriam ganhar com o governo Dilma, vão continuar sempre a dizer que o impeachment dela é um golpe. Se foi um golpe foi o primeiro golpe popular da história brasileira. Há até mesmo os mais sem parcimônia que utilizam a velha e surrada defesa de que só os governos do PT fizeram algo em favor dos pobres. O grande problema disto são os números, que, apesar de imensamente torturados nos tempos atuais, não conseguem mais esconder o malogro inevitável de um governo que teve como pretensão contrariar a lógica mais comezinha. Basta apontar que não existe um caso de desenvolvimento real via estado. Países desenvolvidos, todos os conhecidos, são de livre mercado e, mais do que isto, só com livre mercado pode existir liberdade.
Mas, os pecados dos governos do PT, além do pecado original de desejar que o estado dominasse tudo, passam também pelos erros primários de condução da administração pública. Lula, que saiu com uma aprovação recorde, no seu primeiro governo foi responsável pelo “Mensalão”, obra que por si só, já merecia o impeachment que ele havia pedido para todos os governos anteriores. E mais responsável ainda por, quando navegava em mar de brigadeiro, tendo herdado um país com todas as condições de criar um futuro melhor, sentou-se em cima do marketing para refazer sua própria biografia e não moveu uma palha para modernizar o país, melhorar a gestão pública, mudar a sociedade e, para completar a obra pífia, elegeu uma pessoa sem nenhuma experiência política, que não se elegeria a síndico de seu prédio, para governar o país vendendo a imagem de eficiência gerencial que, como seria de se esperar, foi decepcionante.
O governo de Dilma, por herança e continuidade do populismo barato, levou adiante a farsa de criar desenvolvimento via crédito e consumo, algo insólito na história humana, e acentuou, aliás, acentuou não, potencializou os erros nas políticas relativas aos combustíveis e à energia, área em que, supostamente, Dilma seria uma especialista. As denúncias da Lava Jato, a descoberta do Petrolão, foi a cereja do bolo. Se há um golpe é, sem dúvida, um golpe popular e legítimo. É o golpe do povo que foi às ruas dizer que precisa de um governo que cumpra seu papel. O governo Dilma chegou, e foi um pouco além, do limite suportável. E a classe política, verdade seja dita, foi empurrada, impelida a catapultá-la.
Por esta razão nem mesmo se espera muito do governo Temer, principalmente, porque o Brasil pós-PT é uma terra arrasada. Serão preciso muitos anos somente para recuperar o estrago de dois anos de Produto Interno Bruto-PIB caindo numa média de -4% e para recuperar a destruição das finanças públicas, porém, pelo menos, o Brasil passa a ter esperança em um governo melhor, um governo que, em primeiro lugar, faça o dever de casa, controle as finanças, para podermos retomar o desenvolvimento. O momento é de buscar reconstruir o país dos escombros de uma política ruinosa para o nosso futuro. Claro que desejaríamos ter políticos melhores, porém, não se pode fugir da realidade de que teremos que trabalhar com as cartas disponíveis e exercer a cidadania da forma como foi feita para limpar o caminho da reconstrução. 

domingo, maio 01, 2016

A FELICIDADE E O CRUEL PENSAMENTO DE FREUD


De repente, deve ser culpa dos tempos, me vejo refletindo sobre a felicidade. É preciso acentuar que sempre alimentei a ideia, ligada ao pensamento do inglês Bertrand Russell, do livro “A Conquista da Felicidade”, de ser necessário, para tentar ser feliz, alimentar uma multiplicidade de interesses e de relações com as coisas e com os outros homens. Para ele, em síntese, a felicidade seria a eliminação do egocentrismo. Neste sentido, o que não deixa de ser verdade, é impossível ser feliz numa sociedade infeliz. Não muito diferente do pensamento, por exemplo, de Freud que, num estudo que tem menos de psíquico do que de filosófico, conclui em “O Mal Estar da Civilização” que, face às exigências impostas pela civilização, a felicidade é uma meta irrealizável.
É evidente que a ideia de felicidade é indissociável da ideia de prazer. Aliás, prazer e desprazer são conceitos fundamentais para se entender a concepção de felicidade. No terreno filosófico sobre o qual Freud edificou o conceito de prazer sua leitura é de uma crueza e precisão impressionante. Só rememorando: acentuava que o princípio de prazer é um modo de organização que, governando o psiquismo do início da vida, baseia-se na busca de prazer, mas, também em evitar o sofrimento. Freud é cético e clínico a respeito:
[...] o programa está em desacordo com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo quanto com o microcosmo. É absolutamente irrealizável, as disposições do todo – sem exceção – o contrariam. Diria-se que o propósito que o homem seja “feliz” não está contido no plano da “Criação”..

Para ele, portanto, se fazia necessária à introdução do princípio de realidade. Manter uma condição subjetiva de prazer sem desprazer é uma meta inalcançável. O mundo externo não nos permite a satisfação irrestrita, fora as questões psíquicas, como o tempo curto do prazer, a necessidade do contraste, ou seja, como ter prazer sem desprazer? Freud, é, para não ser pornográfico, um torturador mental de alto estilo, ao ressaltar que, sob o ponto de vista psíquico, há uma outra explicação para o fato do princípio de prazer ser irrealizável: a idéia segundo a qual a felicidade está relacionada ao estado zero de tensão, ou seja, à morte, sendo, nesse caso, incompatível com a vida, por conta da própria constituição do psiquismo. E, com a frieza de um estatístico, Freud nos afirma que as possibilidades de sentir infelicidade são muito maiores. A infelicidade provém do corpo, do mundo externo e dos relacionamentos humanos. Neste sentido, parece que ao seguir Russel e o grande neurocientista português, António Damásio, tenho navegado contra a corrente. Se for levar em conta Freud melhor é ter menos, inclusive relacionamentos, notícias, informações e até mesmo desejo de felicidade. Subjacente ao que diz, os homens que reduzem suas reivindicações de felicidade vivem melhor e são mais felizes somente por terem escapado ao sofrimento. O que me parece, apesar de como filósofo me encontrar num estágio mais rasteiro do que peito de cobra, é que, nem sempre o que se pensa, corresponde aos desejos, à capacidade psíquica e do corpo. Muitas vezes, abrir mão de algo é muito doloroso. Sendo assim como diminuir as reivindicações? Freud que me perdoe, mas, vou ouvir música. É muito desprazer ver que nos fornece uma análise pessimista, dura e implacável: a promessa de felicidade é uma miragem da sociedade moderna e, sob o ponto de vista filosófico, está destinada a permanecer nada mais do que uma promessa. Felicidade foi embora! 

Ilustração: http://divagacoesligeiras.blogs.sapo.pt/.