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domingo, dezembro 31, 2023

UMA REFLEXÃO SOBRE AS CRENÇAS

 

É um processo quase recorrente, e do qual não se escapa, o fato de que, no final do ano, sempre acabamos fazendo um balanço e ficando meio filosófico. E, com os anos que passam, é normal também que se fique mais reflexivo, de forma que me peguei pensando sobre as crenças e a sua força. Que não se pense, porém que as crenças sejam coisas de religiosos. Ah! Quanto engano! O que tenho observado é que os maiores crentes são aqueles que, longe se se apegarem a uma cruz ou mantras, de fato, creem, piamente, que são racionais, críticos e, acima de tudo, científicos!!! Afinal uma das grandes dificuldades de combater as crenças é que os crentes não tem a menor consciência das crenças que possuem e, na sua grande maioria, alegam a ciência como base de suas convicções e argumentos. Um grande sinal da crença reside, justamente, em que, muitas vezes, o pensamento e a ação do crente são completamente dissociados. Nos tempos recentes, por exemplo, os maiores crentes que conheço são extremamente capitalistas nas suas ações e, no entanto, são propagadores e adeptos de partidos e teorias socialistas que criam uma contradição de personalidade tão grande que só os próprios não percebem. Jamais citarei casos reais. Estou, é claro, raciocinando com exemplos hipotéticos. E um deles, comum, no nosso meio é o do professor, muitos universitários, repletos de títulos, que são eternos caçadores de benesses, que adoram estar no meio dos amigos ricos, um verdadeiro leão se mexerem num centavo seu, porém, nas palavras, no discurso, na sala de aula ou no bar, se tornam irreconhecíveis: são, sem dúvida, os grandes socialistas que a humanidade, infelizmente, desconhece na vida real. A crença ´prega essas peças nas pessoas. Faz com que jamais enxerguem, inclusive, os argumentos contrários ao que o crente acredita ser a “verdade”. O crente, efetivamente, se reveste, mentalmente, de uma capa protetora que o impede de ver o que contraria sua ideologia. Isto pode parecer uma coisa sem sentido, mas é preciso acentuar -e aqui falo como uma espécie de terapeuta de crenças- que nós, seres humanos, não fazemos uma diferenciação clara entre a percepção e a realidade. Nosso cérebro não sabe, de verdade, a diferença entre uma experiência imaginada e uma lembrada na medida em que usamos as mesmas células da mente para ambas as experiências. Existe sim uma diferença sutil na qualidade das imagens internas, de vez que sons e sensações cinestésicas serão diferentes, o que faz com que a informação real, a percebida, seja codificada de forma mais específica, porém, com o tempo, e se reforçados certos sentimentos e crenças, podem ser fixados e se tornam extremamente difíceis de não serem considerados reais. Daí o reconhecido ministro da propaganda Joseph Goebbels, tão esquecido,  afirmar que “Uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade” e ser enfático em que “Nós não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um certo efeito”. Um sintoma, aliás forte das crenças estarem em alta- e isto acontece nas ditaduras e/ ou nas fases próxima de sua implantação, é a necessidade de cercear os meios de refutar as crenças que são propagadas. Ressalto que não há nisto nenhum juízo de valor sobre a ação das mídias sociais, sabidamente úteis e educativas, se bem usadas. E mais não digo porque isto é somente uma reflexão de fim de ano sobre crenças e não um tipo qualquer de manifesto político. Não sou dos que creem que a política está em tudo, mas também, com as crenças que tenho, não sou capaz de refutar quem crê nisto. Creiam, vocês, ou não.

Ilustração: Hipnose para viver bem.

sábado, dezembro 30, 2023

SINTO MUITO, VOCÊ NÃO VAI GANHAR R$ 570 MILHÕES

 


Vou, logo de saída, pedindo desculpas. Afinal esta é uma época meio mágica, meio inclinada a despertar ilusões e, por culpa das circunstâncias, de ser economista, uma profissão que classificam de triste por ter uma ancora fincada na realidade, sou obrigado a dizer que é impossível o seu sonho de ganhar R$ 570 milhões na Megasena da Virada se realizar. Não, não estou dizendo que você não pode acertar a sena no fim do ano. Isto, embora muito, mais muito difícil, pode sim ser possível. O que você não pode é ter acesso aos R$ 570 milhões que são estampados pelas loterias e difundido pelos meios de comunicação. E, mais uma vez, tenho que explicar. Fui espicaçado pelas reclamações contra a Caixa Econômica Federal. Uma queixa repetida: descontavam o imposto de renda (27,5% do prêmio) na hora de pagar, na boca do caixa, o que gerava uma série de pessoas reclamando que haviam sido enganadas. Ora, isto não tem como não despertar minha curiosidade por dois motivos fortes: 1) O pagamento é padronizado, feito por um sistema e conferido por diversas pessoas, bem como a CEF afirma que o pagamento é líquido;  2) Alguns dos gerentes, das pessoas que lidam com os pagamentos, pelo menos, uns dois deles foram meus alunos e, como os conheço, sei que são pessoas competentes e íntegras. Portanto seria impensável que não percebessem um erro tão grosseiro. Mas, há o fato: muitas pessoas, depois que recebem, ficam indignadas e se consideram subtraídas de parte do prêmio. Foi esta questão que me levou a investigar a razão. E ela é clara, cristalina, compreensível para quem examina a questão com isenção. É possível compreender quando vamos ver, num concurso normal, que só 46% dos recursos arrecadados vão para o prêmio. Segundo a Caixa, o valor arrecadado com o concurso da Megasena não é totalmente revertido em prêmio para o ganhador. Parte do montante é repassada ao governo federal para investimentos em áreas como saúde, educação, segurança, cultura e esporte. Além disto, outra parte são destinados às  despesas de custeio do concurso, imposto de renda e outros, que fazem com que o prêmio bruto da Megasena da Virada corresponda a 43% da arrecadação.  Desta parcela, 62% vai para quem acertar os 6 números sorteados (sena), 19%, para quem fizer cinco acertos (quina) e outros 19%, para aqueles que acertarem a quadra. Aqui está o cerne da confusão: quem faz 6 pontos, mesmo se for ganhador único, não tem a menor chance de receber R$ 570 milhões. Vai, de fato, receber R$ 353,4 milhões! Ou seja, a frustração dos que recebem deve ser, daí deriva daí, pois, se, por exemplo, 10 pessoas ganham sozinhas num bolão, a expectativa seria a de receber R$ 57 milhões , porém receberão, de fato, R$ 35,3 milhões cada, ou seja, 62% do que pensavam que iria receber. São 38% abaixo das expectativas e as pessoas atribuem ao imposto de renda porque recebem um comprovante onde o valor do imposto recolhido é declarado, O imposto, no entanto é de 27,5% sobre o valor recebido. O certo é que, para sua desilusão, não é possível ganhar R$ 570 milhões neste fim de ano e o procedimento da CEF é correto e legal, inclusive em levar algum tempo para pagar o prêmio por uma questão de conferência.