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segunda-feira, abril 27, 2009

O PILAR BÁSICO DA DEMOCRACIA



Em defesa do Congresso
A política, é verdade, não é feita por santos. È feita por homens com suas virtudes e seus defeitos e sua conhecida falibilidade. É claro que, por tal causa, nunca será o ideal de pureza com que se sonha. Não poderá ser nunca isenta dos problemas humanos, de suas fraquezas e seus erros. Isto não significa que não se lute por uma política com maior seriedade, com maior moralidade. No entanto, em certos momentos, parece haver uma escolha visível de uma Geni para se jogar pedra. A Geni atual é o Congresso Nacional.
É fato que existem motivos. Afinal a opinião pública acompanha com justificada revolta o fato de que, a partir de brigas internas de poder, já nos aproximamos da metade do ano com as duas Casas chafurdando na lama dos escândalos que se revelam, continuamente, num festival de baixarias que impede o exame de matérias do que, de fato, seria importante para o país. È uma crise política séria, porém, não nova. O cerne real é antigo: a forma como os parlamentares são escolhidos. As denúncias que envolvem os deputados e senadores possuem sua raiz na forma de eleição, pois, num país onde as pessoas mais escolarizadas e culturalmente mais capazes, a elite, são execradas e afastadas da disputa seja por questões financeiras ou morais, onde, praticamente, só conseguem se eleger quem compra votos ou pratica o clientelismo; no qual são gastas fortunas para se eleger, nada tem de espantoso que os parlamentares considerem o mandato como “seu”, o que é um passo para os privilégios impensáveis como passagens aéreas utilizadas para viagens de passeio, telefones celulares franqueados, auxílio-moradia, serviços médicos de primeira classe pagos por conta do Estado e por aí vai....
Sendo uma crise política também é moral e ética. Tanto que não há diferenças expressivas político-partidárias, ideológicas ou de visão administrativa. O próprio presidente publicamente confessa, assinando um pacto com outros poderes, que, entre eles, “não há santos nem freiras” e, justificou práticas de seu partido, afirmando que “todos fazem igual”. O ruim, o péssimo, no entanto, é que o Congresso é o mais frágil dos poderes e, o que, efetivamente, representa o povo. Ao se enxovalhar, como está se enxovalhando, cria a falsa impressão de que é uma instituição desnecessária, na medida em que parece apenas um local para o exercício de bandalheiras. E, como se verifica, seja por medidas provisórias ou por interpretações das leis, os demais poderes da República, distorcendo os princípios constitucionais, as cláusulas pétreas da autonomia e da harmonia dos poderes, tem invadido a seara legislativa. Esta situação anômala é que induz à equívocos, como o do senador Cristovam Buarque, que, num haraquiri político, chegou a propor um plebiscito para que o povo decida se o Parlamento deve ser fechado. Só o fato de um ex-ministro da Educação, ex-governador e senador propor um absurdo deste já demonstra a falta de preparo e de representatividade de nossos políticos. É a completa falta de compreensão de que o Congresso é um pilar básico da democracia e que, só nas ditaduras, os parlamentos são fechados. O que se precisa de fato é restaurar a representatividade por um processo eleitoral mais transparente e menos sujeito aos vícios que todos nós tão bem conhecemos da manipulação das classes mais pobres do país. A rigor, o Congresso, em si mesmo, é o menos corrupto dos poderes por ser muito mais transparente, mesmo com todos os pecados que lhe são apontados.

sábado, abril 18, 2009

UM VIDENTE ANARQUISTA



Bakunin conhecia a alma de Lula

O que não perdôo em Lula da Silva é a desfaçatez com que faz hoje o que, ontem, criticou. Lembro que, quando ainda sindicalista, sem a menor cerimônia chamou de “ladrão” os senadores Sarney e Collor com os quais, no momento, se abraça. Mas, o pior de tudo, é que quem, no passado, foi o maior crítico da corrupção pode se orgulhar do recorde de escândalos que “nunca antes houve neste país”. É um fato indiscutível que antes não se havia visto nada igual aos vídeos que mostraram integrantes do governo recebendo propina e gerando o famoso “Mensalão”que, depois, foi transformado, por obras de artes marqueteiras, em caixa 2 para a arrecadação de recursos ilícitos para o financiamento de campanha.
É até fastidioso enumerar a série de escândalos impunes que chega agora ao fundo do poço (é o que se espera, mas, nunca se sabe) com a série infindável de denúncias que enxovalham o Congresso e salpicam os demais poderes. É um contraste, que somente se explica pela necessidade de criar factóides, que o mesmo governo que “espetacularizou” as ações da Polícia Federal assine um acordo com os outros Poderes para fazer, o que seria feito, se apenas se respeitassem as regras e, para tornar o espetáculo ainda mais dantesco, com o presidente dizendo que “Ninguém aqui é freira ou santo, e não me consta que no convento também não haja briga”.
Ou seja, daqui a o pouco vai considerar natural os desvios das cotas das passagens aéreas das mordomias parlamentares, para financiar viagens ao exterior ou para a folia do carnaval dos convidados do deputado Fábio Faria (PMN-RN). Para quem entende que é elastecer demais o raciocínio basta lembrar que o presidente disse que "Fazer a minha sucessão é uma tarefa gigantesca. Todo mundo sabe que tenho intenção de fazer com que a companheira Dilma seja a candidata do PT e dos partidos”. E, para tal, não tem poupado esforços seja reunindo prefeitos, distribuindo recursos para Estados e Municípios, prometendo investimentos, aumentando salário mínimo, não contendo gastos, desonerando impostos e, por último, prometendo fazer um milhão de casas e aumentando o Bolsa Família.
É claro que a alegação em defesa de suas atitudes pode ser sempre a de que todo mundo faz do mesmo jeito, mas, o que se esperava de quem pregou que não tem brasileiro capaz de julgá-lo em termos de ética e de moral seria bem mais do que este triste espetáculo de tentar eleger alguém a qualquer preço. Infelizmente, como tantos outros, o Lula dos palanques dá toda razão a Bakunin que, numa discussão contra Marx, disse sabiamente que: “O governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana. "

quinta-feira, abril 16, 2009

O MUNDO GIRA



O PESO DA ECONOMIA
Há quase já estabelecido um ritual, pelo governo Lula da Silva, que tem dado certo: segurar as contas públicas no início do mandato e, nos dois últimos anos, praticar políticas eleitoreiras para buscar a adesão social de camadas que influenciam o voto. Com Lula como candidato isto tem dado certo, daí a formula estar sendo reeditada quando ele não mais pode ser. Só isto para explicar a abertura das porteiras do gasto público com o objetivo de manter o PIB crescendo ou a liberação da Petrobras de contribuir para o superávit primário. Também a marcha-ré no “aperto dos cintos” das prefeituras, com a liberação por MP de um bilhão de reais, a negociação de "ajuda" a Estados e as bondades fiscais que estão baixando o preço dos bens de consumo se regem pela mesma lógica. Porém, entre essas, nenhuma supera em apelo emocional à antecipação do aumento do salário mínimo que vai subir de R$ 465,00 para R$ 506,50, ou seja, está dando, logo em janeiro de um ano eleitoral, um aumento de 9% para uma significativa faixa da população, bem maior que a inflação prevista de 4% e, num ano em que o PIB, se não diminuir, deve ser igual ou próximo de zero.
É verdade que isto vem coberto pelo glacê de medidas "anticíclicas", mas, são iniciativas que tem uma vertente eleitoral visível como é o caso do agrado aos prefeitos, aos governadores e a diminuição do superávit público que se explica muito mais pela necessidade de manter quietos segmentos do funcionalismo público e os militares do que, de fato, aumentar investimentos. Basta ver que um exame superficial dos gastos de investimentos do Plano de Aceleração do Crescimento-PAC demonstra que a execução dos gastos de investimentos pelo governo é pífia, quase nula. A rigor bastaria efetivar, de fato, os investimentos previstos para que houvesse um maior aquecimento da economia.
È claro que se trata do jogo político. Ninguém ignora a força dos votos dos prefeitos ou dos governadores nem de muitos senadores e deputados que tem seus pleitos atendidos, inclusive negociações de dívidas de setores específicos, que são feitas sob a ótica do futuro eleitoral. Nem se pode subestimar o fato de que Dilma Roussef apareça no jogo como tendo um papel importante na decisão sobre liberação de dinheiro para as cidades. Pode-se dizer que não se trata de uma concorrência justa, porém, na política, o Partido dos Trabalhadores-PT pode alegar, o mesmo que alegou sobre o Caixa 2, que nunca foi. A questão real é de que, apesar disto, as possibilidades de que, mesmo com tais medidas, seja possível ganhar o jogo depende cada vez mais de fatores que estão fora de controle: a intensidade da crise. Quanto mais os indicadores forem negativos, quanto menos consumo, renda e emprego houver menos possibilidades tem o governo de ter êxito no apoio à sua candidata. A eleição de 2010, mais do que as anteriores, será decidida pela situação econômica. E a queda da arrecadação federal, pelo quinto mês consecutivo, dá sinais de que os ventos estão soprando a favor da oposição.

terça-feira, abril 07, 2009

A COMUNICAÇÃO EM FOCO



Wolton, um pensador inquietante

Sem dúvida uma das mais brilhantes reflexões sobre a atualidade, em especial sobre as relações entre comunicação e sociedade, é a de Dominique Wolton, pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa), que, no seu último livro, McLuhan “Ne Répond Plus. Communiquer C’est Cohabiter (McLuhan não Responde Mais. Comunicar é Conviver) dispara suas idéias sobre assuntos que causam polêmica e despertam provocações e reflexões como afirmar que os jornalistas e políticos “Não escutam os homens de ciência...”. Nascido em 1947, em Duala, Camarões, é um dos pioneiros na França a se debruçar sobre a “comunicação”. Como afirma também “Comunicar é dirigir-se a um outro que não nos compreende porque não é nós mesmos. É construir uma relação com o outro sabendo que ele é um outro. Comunicar, no fundo, é aprender a conviver”.
Dominique Wolton tem um pensamento inquietante e permanente sobre a comunicação cujas raízes, confessa, remontam à sua infância africana. “No Camarões, quando menino, fiz a experiência, sem o saber, da alteridade. E com ela, da dificuldade de se compreender”. Tornou-se famoso graças aos livros Le Spectateur Engagé, um livro de entrevistas com Raymond Aron, e La Folle du Logis, um ensaio sobre a televisão que rapidamente se transformou na bíblia de todos os estudantes em comunicação e jornalismo por afirmações ousadas como “Quanto mais as tecnologias se aperfeiçoam, mais lenta se torna a comunicação humana”. Para ele: “Os cientistas criaram as ciências humanas, as ciências naturais... mas ainda não as ciências da comunicação. Ora, esse terreno de estudo é fundamental em nossa sociedade”. O que comunicar? Como podemos nos compreender? O que sabemos do “receptor”? São questões urgentes e candentes em tempos de meios de comunicação de massa. “Quanto mais as tecnologias se aperfeiçoam, tanto mais a circulação da informação é rápida e tanto mais lenta é a comunicação humana.”
Para Wolton o progresso (coisa que não acredito que exista) não vai mudar esta situação. Diz ele. “Os progressos da técnica, longe de gerar uma aldeia global, como pensava McLuhan, nos mergulham na torre de Babel. A multiplicação dos canais de informação, como o mostra a internet, favorece comunidades e redes. Permanecemos entre nós”. Por esta razão, Dominique Wolton é um advogado incansável das grandes mídias generalistas: “Elas exercem um papel capital em nossa sociedade. Seu desafio, que é o desafio da comunicação, é colossal: como se dirigir a todos quando cada um é diferente?”. Neste sentido é que, longe de desprezar a televisão, ele foi um dos primeiros a definir seu papel na cidade: criadora de vínculo social. “Como a imprensa generalista, ela permite ao cidadão sair de seus interesses pessoais e ir ao encontro da coletividade.” Interessante também, tem uma visão com a qual concordo, acredita que o leitor, o ouvinte, o telespectador tem um papel central. Trata-se de um dos poucos pensadores que crê que os telespectadores são mais inteligentes e menos influenciáveis do que se acredita. “O telespectador não é ingênuo. Ele não adere incondicionalmente e sem distância ao que lhe é mostrado: não é porque ele assiste que ele adere! Como em todas as indústrias da cultura, não é a demanda que cria a oferta, mas a oferta que cria a demanda.” Também acredito, e tenho insistido nisto, que as pessoas são muito menos guiadas por suas situações concretas do que por influência de idéias dos outros. Neste sentido acredito, como parece ser o caso de Wolton, na lógica das pessoas, mas, adaptadas a seus desejos e contingências.

segunda-feira, abril 06, 2009

A IMPRENSA PINTADA DE MARRON



É muito comum que, quando uma notícia não agrade a um político ou a um dirigente sua primeira reação seja desqualificar a imprensa. Uns mais tendentes a ter desejos ditatoriais nem precisam ter tantas noticias assim, pois, vive pensando em meios de cooptar, domesticar ou enquadrar a imprensa por meio seja de leis, seja de regulamentos ou até mesmo mandando, quando o jornalista é estrangeiro, para fora do país.
O engraçado é que se raciocina sempre como se a imprensa fosse capaz de manipular o público ou que os jornais só publicam aquilo que interessa aos agentes econômicos e políticos dominantes (se bem que no Brasil com a fortuna que o governo gasta em propaganda isto não está muito longe da verdade) ou que nada se publica sem que o dono, ou os diretores, tenham aprovado ou que a imprensa é “marronzista”, ou seja, se guia apenas pelo dinheiro.
Ora, apesar dos últimos resultados eleitorais terem derrubado a tese dos “formadores de opinião” o que se depreende deste tipo de pensamento é uma tese difícil de defender: o público dos meios de comunicação seriam uma tabula rasa com o qual, por exemplo, a Rede Globo faria o que bem desejasse. Nem parece que nós, humanos, raciocinamos por padrões lógicos, por suposições que consideram os nossos interesses procurando as opções mais prováveis ou exeqüíveis, chegando a conclusões prováveis, que podem nos conduzir à aceitação ou rejeição, simpatia ou antipatia, engajamento ou indiferença. Neste processo, muitas vezes, pesam muito mais as situações, as amizades, os compromissos financeiros, a situação econômica do que qualquer tipo de argumentos ou juízos de valor até mesmo dos nossos ídolos quanto mais de jornalistas ou intelectuais que se ouve ou lê, na maioria das vezes, esporadicamente. Em suma, a informação ganha sentido num contexto onde pesam os valores, a experiência ou o grau de informação. Por mais que meu conhecimento, por exemplo, de economia seja grande, nenhum leitor vai aceitá-lo simplesmente porque sou professor e exponho minhas idéias. Dentro do seu grau de conhecimento, é claro, que vai, em geral com o mínimo de esforço, analisar a mensagem, contextualizar o que pode aproveitar, e, o que não se bate com as informações já disponíveis na memória é simplesmente ignorado.
O que é mais interessante é que, na maioria das vezes, quem defende estas teses absurdas são pessoas que se dizem de esquerda, contrariando o pensamento das massas revolucionárias de Marx e adotando, ingenuamente, a visão das “massas passivas”, que é um conceito muito do agrado das teses fascistas de Le Bom e de Goebbels que sobreviveram a Hitler e se incorporaram, com alguma maquiagem, ao centro conservador ou liberal e, agora, são consideradas "de esquerda". A questão da informação não passa somente pela qualidade do jornal e do jornalista, mas, principalmente, pela educação do povo. Todos sabem que se há uma verdade é a de que os discursos do poder são unânimes na louvação dos feitos dos governos e governantes e, na sua essência, hipócritas. Todavia, as pessoas dependem, cada vez mais, do fluxo de informação. Hoje muito mais do que em qualquer outra época da História. Sem informação jornalística, o homem não consegue orientar-se bem, mas, o jornalista, como o político, é fruto de seu meio. Não se espera que no milharal nasçam rosas.

Ilustração: A foto é do ilustrador e caricaturista Richard Fenton Oucault que criou o Yellom Kid, um menino criador de confusões, que deu origem ao termo imprensa marron ( por lá é yellow, amarela).