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terça-feira, abril 07, 2009

A COMUNICAÇÃO EM FOCO



Wolton, um pensador inquietante

Sem dúvida uma das mais brilhantes reflexões sobre a atualidade, em especial sobre as relações entre comunicação e sociedade, é a de Dominique Wolton, pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa), que, no seu último livro, McLuhan “Ne Répond Plus. Communiquer C’est Cohabiter (McLuhan não Responde Mais. Comunicar é Conviver) dispara suas idéias sobre assuntos que causam polêmica e despertam provocações e reflexões como afirmar que os jornalistas e políticos “Não escutam os homens de ciência...”. Nascido em 1947, em Duala, Camarões, é um dos pioneiros na França a se debruçar sobre a “comunicação”. Como afirma também “Comunicar é dirigir-se a um outro que não nos compreende porque não é nós mesmos. É construir uma relação com o outro sabendo que ele é um outro. Comunicar, no fundo, é aprender a conviver”.
Dominique Wolton tem um pensamento inquietante e permanente sobre a comunicação cujas raízes, confessa, remontam à sua infância africana. “No Camarões, quando menino, fiz a experiência, sem o saber, da alteridade. E com ela, da dificuldade de se compreender”. Tornou-se famoso graças aos livros Le Spectateur Engagé, um livro de entrevistas com Raymond Aron, e La Folle du Logis, um ensaio sobre a televisão que rapidamente se transformou na bíblia de todos os estudantes em comunicação e jornalismo por afirmações ousadas como “Quanto mais as tecnologias se aperfeiçoam, mais lenta se torna a comunicação humana”. Para ele: “Os cientistas criaram as ciências humanas, as ciências naturais... mas ainda não as ciências da comunicação. Ora, esse terreno de estudo é fundamental em nossa sociedade”. O que comunicar? Como podemos nos compreender? O que sabemos do “receptor”? São questões urgentes e candentes em tempos de meios de comunicação de massa. “Quanto mais as tecnologias se aperfeiçoam, tanto mais a circulação da informação é rápida e tanto mais lenta é a comunicação humana.”
Para Wolton o progresso (coisa que não acredito que exista) não vai mudar esta situação. Diz ele. “Os progressos da técnica, longe de gerar uma aldeia global, como pensava McLuhan, nos mergulham na torre de Babel. A multiplicação dos canais de informação, como o mostra a internet, favorece comunidades e redes. Permanecemos entre nós”. Por esta razão, Dominique Wolton é um advogado incansável das grandes mídias generalistas: “Elas exercem um papel capital em nossa sociedade. Seu desafio, que é o desafio da comunicação, é colossal: como se dirigir a todos quando cada um é diferente?”. Neste sentido é que, longe de desprezar a televisão, ele foi um dos primeiros a definir seu papel na cidade: criadora de vínculo social. “Como a imprensa generalista, ela permite ao cidadão sair de seus interesses pessoais e ir ao encontro da coletividade.” Interessante também, tem uma visão com a qual concordo, acredita que o leitor, o ouvinte, o telespectador tem um papel central. Trata-se de um dos poucos pensadores que crê que os telespectadores são mais inteligentes e menos influenciáveis do que se acredita. “O telespectador não é ingênuo. Ele não adere incondicionalmente e sem distância ao que lhe é mostrado: não é porque ele assiste que ele adere! Como em todas as indústrias da cultura, não é a demanda que cria a oferta, mas a oferta que cria a demanda.” Também acredito, e tenho insistido nisto, que as pessoas são muito menos guiadas por suas situações concretas do que por influência de idéias dos outros. Neste sentido acredito, como parece ser o caso de Wolton, na lógica das pessoas, mas, adaptadas a seus desejos e contingências.

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