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domingo, dezembro 29, 2013

Uma opção pela esperança


Fim de ano é sempre tempo de balanços, de memórias, de planos, de retrospectivas e de previsões. O ano de 2013 não foi um ano fácil. Foi um ano surpreendente, em especial, por causa das grandes manifestações públicas de junho pelo Brasil afora, porém, mais ainda inquietador por ter deixado a descoberto os grandes problemas nacionais, como o da crescente violência, da baixa qualidade da educação, dos hospitais e universidades sucateadas, pela desindustrialização crescente do país com o aumento explosivo das exportações e, para encerrar as coisas negativas, o fato de que as ações do governo tem sido burocráticas, meras panaceias, que não atacam as raízes dos problemas nacionais.
É, por um lado, muito desalentador, principalmente, porque este parece ser um padrão mundial. Sem dúvida parece existir uma estagnação dos pensamentos, de propostas e de renovação de lideranças que torna os debates sem atração, torna todos, como se diz no Nordeste “farinha do mesmo saco”, num momento em que se pede soluções novas, inovações na forma de agir e de pensar. São muitos os que apontam o fato de que nossa sociedade não é sustentável; que, ou mudamos o sistema econômico vigente, ou caminhamos para uma catástrofe que hoje nem se consegue imaginar. Porém, a triste realidade é que não surge nada novo. Só temos mais do mesmo.
Neste fim de ano me anima, porém, um dado novo e interessante que foi mostrado por John Parker, jornalista e editor da revista britânica “The Economist”, num artigo em que ressalta que, nos últimos 50 anos, aconteceu um declínio no tamanho das famílias.  Segundo ele, no próximo ano teremos um marco desta mudança quando na Ásia, a taxa de fecundidade total cairá para 2,1.  Em 1960, a fertilidade média da Ásia era de 5,8. Isto graças a que se prevê que, na China, em 2014, será o ano em que as mulheres passarão a ter, em média, dois ou mesmo um filho apenas. É claro que isto é uma decorrência dos problemas econômicos. Não é nada fácil criar filhos, daí a queda de fecundidade ser um fenômeno mundial, mas, é mais significativa na Ásia por concentrar metade da população mundial.
Cito este tipo de dado novo como um sinal, porém, existem muitos outros, como, por exemplo, o avanço de novas técnicas de ensino à distância e a quebra de paradigmas de que a sala de aula tende a se confundir com o mundo. Estes tipos de sinais me dão a esperança de estejam acontecendo mudanças imperceptíveis,  que a hipótese da própria natureza ser mais sábia que o homem e criar sua própria homeostase, seu equilíbrio interno, me parece cada vez mais encantadora. Talvez seja só mesmo uma forma de criar esperança, de ser otimista. Mas, talvez, seja o cansaço de tantas previsões de que, em 2014, teremos mais do mesmo. E, convenhamos, no fim do ano é preciso renovar, pelo menos, a esperança.   



segunda-feira, dezembro 16, 2013

O sinal de alerta ao País do faz de conta


Na semana passada foi notícia em toda a imprensa o resultado do Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que se trata de um ranking organizado pela  Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é aplicado a 470 mil alunos de 15 anos, oriundos de 65 países industrializados, incluindo países emergentes, que é, sistematicamente, feito de três em três anos para comparar os níveis e os investimentos em educação nos diversos países. Infelizmente, como é do conhecimento geral, o Brasil, neste século XXI, tem se notabilizado por não sair das últimas posições. Por mais que se tente despistar o vexame, a realidade é que estamos em 55.º lugar em leitura e compreensão de texto; em 58.º na matemática e 59.º em ciências, e, no cômputo geral, em 55º lugar.
Não é surpresa para ninguém este resultado. Efetivamente a educação somente tem sido prioridade no discurso político e está longe de ser na prática, no dia à dia. Em relação à educação, em todos os campos, há muita retórica e pouca mudança. A grande realidade é que os professores, além de mal pagos, estão completamente desamparados em escolas normalmente em nada (e muitas vezes em condições muito piores) do que as  do século passado. Cobra-se do professor que resolva os problemas da educação quando ele, como os alunos, acabam sendo as maiores vítimas de um sistema que os condena a serem olhados como coitadinhos, como mera massa de manobra, e de pancada, para a inércia que torna o sistema educacional o setor mais atrasado de nossa realidade.
Há uma completa pasmaceira, que é coberta por planos e promessas falaciosas, como a de investir 10% do PIB na educação. Investir mais dinheiro na educação do jeito que está é o mesmo que insistir em tratar o doente dando mais de um remédio que não funciona. A questão real não é dinheiro, embora o dinheiro possa ajudar, mas, sim de instrumentos, de gestão, de determinação de mudar, de fato, a educação no País. Um exemplo fantástico disto é o de que, enquanto as universidades federais e seus cursos aumentam o número de alunos em condições precárias, se gastam milhões na criação de novas universidade e escolas técnicas, em geral em edificações, por razões bastante plausíveis politicamente, mas, que não resolvem nada em termos educacionais.
Somos um país no qual se cobra dos professores a produtividade dos professores norte-americanos, que ganham 20% a mais do que a média de todos os salários do país, enquanto os pobres professores brasileiros ganham 20% a menos. Como a carreira não é atraente será que os melhores a procurarão? E, muitos, sem o menor preparo, desprestigiados e desanimados, ainda enfrentam na sala de aulas jovens que vivem no tempo da internet, dos vídeos, dos audiovisuais e dos games, com cuspe e giz. Como resultado será que é de estranhar que 5,3 milhões de brasileiros, entre 18 e 25 anos, não estudam nem trabalham? Será que espanta saber que 23% dos jovens da faixa etária avaliados pelo Pisa não estão sequer na escola e que 70% deles são mulheres, pessoas que, em tempos passados, seriam as sementes de grandes professoras? É tempo de  olhar os resultados do Pisa como o que eles são: o fracasso do modelo político brasileiro. Um sinal de alerta de que é preciso acabar com o País de faz de contas e construir o Brasil real e começar por cuidar, de fato, da educação.



sexta-feira, dezembro 06, 2013

6ª CBAPL foi uma exposição da diversidade brasileira


Em geral conferências nacionais tem sido ou uma mera convalidação de políticas antes já decididas, com a arregimentação de grupos de apoio para bater palmas, ou, quando muito, uma ocasião para fazer política eleitoreira com promessas de melhorias que terminam nas proposições. Não foi o caso da 6ª CBAPL-Conferência Brasileira de Arranjos Produtivos Locais, que teve como tema “Sustentabilidade dos APLs: Governança, Conhecimento e Inovação”, realizada entre os dias 03 e 05 dezembro, em Brasília. Quem participou teve condição de verificar que foi uma conferência múltipla, rica e com diversos desafios estimulantes tanto sob o ponto de vista do fazer, como da elaboração de políticas públicas e de debates acadêmicos.
O sucesso do evento começou pelo fato de que, entre os patrocinadores, aparecia, para surpresa de muitos, no meio de tradicionais promotores deste tipo de evento, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Banco da Amazônia e o BNDES, um patrocinador privado, o Bradesco. E não é por acaso que o maior banco privado do país estava lá, de vez que seus representantes informaram que apóiam mais de três centenas de arranjos produtivos em todo o Brasil. Porém, o interessante, e os méritos vão, sem dúvida, para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior-MDIC, que conseguiu a proeza de reunir técnicos governamentais, empresários e acadêmicos para um debate que se caracterizou por ser variado e estimulante e, melhor ainda, sem viés político, para discutir os problemas reais da produção, da comercialização e dos entraves que fazem o país permanecer abaixo de suas potencialidades.
Ressalte-se que isto foi feito com o talento também de apresentar uma gama de casos de sucesso que merecem ser ressaltados como foi o caso da diretora do Centro Brasileiro de Rochas Ornamentais, Olívia Tirello, do que foi feito, por exemplo, para desenvolver Passo Fundo, apresentado pelo professor Marcos Alexandre Cittollin, de Polocentro, um pólo de tecnologia da Serra Gaúcha, apresentado pelo seu presidente, Antônio Augusto Tessari ou, para irmos até o Nordeste, buscar o caso do Núcleo de Produção Engenho Digital-NPED apresentado por Caio Vinicius Dornelas-só para citar alguns. Mas, houve uma exposição de produtos originados dos APLs que trouxe redes de Jaguarana, por meio do Marcos Abreu e do Alex, jóias de Cristalina e do próprio DF, Cachaça de Góias, mel, laranja e casca de laranja defumadas, enfim de tudo um pouco.
Também, é difícil até citar pela qualidade das palestras, mas, para citar algumas entre as que assisti, valeu a aula do José Eduardo Cassolato que ressaltou terem os arranjos produtivos ocupado seu espaço recuperando a noção de que a produção se dá no território, é coletiva e se dá por meio do aprendizado interativo e enfatizando que a “a governança de fora para dentro não funciona”; embora discordando de alguns pontos, em especial a falta de acentuar que a inflação é uma inflação dos preços administrados e não de mercado, também foi muito boa a do economista do Bradesco, Robson Rodrigues Pereira, sob o cenário econômico; a inspiradora palestra de Susan Andrews do Parque Ecológico Visão Futuro sobre o FIB-Felicidade Interna Bruta, a do secretário de Inovação do MDIC, Nelson Akio Fujimoto, com a exposição do Inovativa Brasil, que apóia novos empreendimentos voltados para a inovação, bem como as também muito interessantes palestras sobre audiovisual de João Guilherme Barone Reis e Silva, de Cesar Piva, Fabio Cândido e Luiz Andrade, mais ressaltando as vantagens competitivas de Nitéroi. Com certeza estarei sendo injusto com muitos outros que precisariam ser lembrados, mas, a intenção foi ressaltar a riqueza e a abrangência do tema que incluiu até a necessidade de integração cultural e produtiva com os outros países do Mercosul.

Em especial me tocou de perto a percepção de Marcus Franchi, discutindo os APLs de audiovisual, por acentuar o enorme fosso que existe entre, digamos assim, o Brasil real e o Brasil visto de Brasília, que aparece nas exigências que se faz de um tecnicismo que está longe da realidade brasileira. Franchi mostrou que a política do Ministério da Cultura, e pelo que vi ele ainda mais, tenta se aproximar criando meios para facilitar o acesso a recursos do que chamamos de Economia Criativa, porém, o governo é uma caixa preta difícil, cheia de siglas e quadrados onde as demandas públicas se emaranham e morrem. O certo é que o Brasil está complicado, apesar de suas imensas possibilidades, e a 6ª CBAPL nos trouxe situações inusitadas como a de que, e é uma política correta, o Sebrae tratar de grandes empresas. É uma inovação e uma demonstração de que é preciso ter coragem de assumir os riscos e mudar as formas de agir e perceber o País. A Conferência também teve o mérito de ser um choque de realidade que nos informou sobre os problemas sem deixar de ter uma visão otimista sobre o futuro.