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quarta-feira, março 13, 2024

OS ORIXÁS EM CORDEL DE BULE-BULE

 

Quando conheci Antônio Ribeiro da Conceição, o grande mestre baiano Bule-Bule, ainda estávamos no século passado e ele fazia dupla com um outro nome, também famoso, Antônio Queiroz, que fizeram em conjunto o disco “A Fome e a Vontade de Comer”. Em Rondônia, fiz contato com eles em Porto Velho, trazidos por Luiz Malheiros Tourinho. E tive o prazer de vê-los cantando juntos, fazendo repentes e até compuseram uma música sobre o candiru, este peixinho capaz das maiores proezas em busca de um buraco. Este ano, depois de longo tempo, graças a existência do celular, Bule-Bule me liga e renovamos a saudade dos tempos em que, a meu pedido, cantou uma de suas mais românticas canções. Se reatar a amizade com esta lenda baiana já foi uma benção de Deus, então para melhorar muito mais o ano, ele me enviou suas produções. A maior parte delas são literatura de cordel, caminho pelo qual enveredou- e como tudo que faz-com enorme sucesso. Seus livros “Um Punhado de Cultura Popular”, “Rodolfo Coelho Cavalcante, Castro Alves e Outros Temas” são bons exemplos de sua lavra. Porém, sua produção é vasta e compreende muitos temas como “O violento Combate de Samuel Badulaque e José Cafussu contra o Tirano Memeu de Cazu” ou “A bem-Aventurada Santa Dulce dos Pobres: Irmã Dulce da Bahia” ou “Quatro Almas e Um Destino”.  Não há como citar todas, mas por aí se tem uma ideia de sua obra. O grande presente que me foi ofertado, entre outros, é a obra “Orixás em Cordel-Edição Ampliada”, uma edição primorosa da Tupynanquim Editora, com gravuras de Klévisson Viana. Trata-se, como afirma Marco Haurélio, um professor poeta pesquisador de cordel, da “mitologia dos orixás vertida em uma grande e coesa antologia para o cordel”. A literatura de cordel é uma arte muito popular no Nordeste e, sem dúvida, ainda há de ser muito mais valorizada do que é, porém o grande mérito do filho do sambador “Manoel Jararaca” é unir as lendas e os mitos, com muita graça e talento, em poemas de cordel que resgatam as raízes da vida dos terreiros. Um exemplo são os versos:

“Primeiro nasceu Xangô,

Oiá, Ogum, Ossaim,

Obaluaê depois,

Os Ibejis pra dar fim

À solidão de Iemanjá

Olodumaré quis assim.”

Ou neste outro:

“Mas, com a benção de Oxalá,

Exu teve amparo e fama,

Fortuna, prestígio e glória,

Bom projeto, ótimo programa,

É comandante de estrada,

Manda na encruzilhada

E um grande público o ama”.

Sem dúvida também um grande público deve amar as obras de Bule-Bule. Ler sua obra sobre os orixás me levou a recordar de Baden Powell com seus afro-sambas. A correlação tem sentido: para a literatura de cordel este livro sobre os orixás cria, como os afrosambas, uma vertente especial. Ave! Bule-Bule! Que os orixás te deem mais ainda inspiração para novos voos tão belos!

A INADIÁVEL NECESSIDADE DE INCENTIVAR A INDÚSTRIA NAVAL E A MARINHA MERCANTE

 


O Brasil é um país muito rico e, mais que rico, generoso, muito generoso com os outros países. Não falo apenas pelos investimentos do BNDES na Venezuela ou em Cuba, mas também com sua generosa relação com a China, em especial, e também com a Coréia do Sul, onde a Petrobras desenvolve projetos que beneficiam aqueles países. Um exemplo recente vem de Yantai, na China, onde foi construído o FPSO (Floating Production, Storage and Offloading, plataformas de processamento e produção de petróleo e gás) Marechal Duque de Caxias. O nome é de um herói nacional e a plataforma foi encomendada pela Petrobras para ser usada no pré-sal na Bacia de Santos. É preciso ver que de cada FPSO construída no exterior significa a perda de cerca de 6 mil empregos diretos e indiretos internos. E para um governo que diz apoiar a indústria naval brasileira pode-se ver a contradição, quando neste tipo de indústria especializada, um salário médio é de R$ 5 mil/mês, ou R$ 65 mil/ano. Isto significa a perda de R$ 390 milhões por ano apenas em salários. Encargos e benefícios representam uma perda adicional de R$ 425 milhões anuais. No total R$ 815 milhões por ano, fora gastos com seguro-desemprego, auxílio-doença etc. Em 3 anos, o prazo da construção, pode-se estimar que foram perdidos quase R$ 3 bilhões. E isto, de uma FPSO somente. Sem contar que não são apenas as perdas de postos de trabalho. Há outros, tão grandes quanto, como materiais e serviços não comprados no Brasil. E ainda os que são difíceis mensurar, como perda tecnológica. E, pasmem, que a plataforma Duque de Caxias utilizará uma tecnologia de separação em alta pressão (HISEP) desenvolvida e patenteada pela Petrobras. Na divulgação do FPSO, o grupo malaio MISC fala da tecnologia sem mencionar que esta foi desenvolvida pela estatal brasileira. Para um governo tão estatista, que defende tanto a nacionalização de empresas, o fato se reveste ainda de uma questão mais grave que é a de não se puder alegar a questão da competitividade ou rapidez na construção local. Inclusive, hoje em dia, países da Europa e da Ásia também não conseguem competir com a China, porém criaram mecanismos que garantem que a construção de determinados tipos de embarcações seja feita localmente, mesmo a um custo mais alto, garantindo para sua indústria encomendas, emprego e renda para a população. Até mesmo os  EUA pode ser apontado como um exemplo, pois qualquer navio, para operar nos portos e na costa norte-americana, deve ser construído nos EUA e ter bandeira americana, devido ao Jones Act, um mecanismo de proteção centenário. Isto tem uma razão lógica: a indústria naval e offshore é considerada de importância estratégica e é apoiada e incentivada pelos governos, inclusive por sua importância econômica. E o Brasil, na contramão da história, prossegue sem ter uma indústria naval e uma marinha mercante desenvolvida. É preciso estimular, por meio de políticas de Estado, a construção naval e a marinha mercante, de vez que as políticas nacionais precisam estimular tanto a indústria naval quanto  a navegação de longo curso e incentivo ao crescimento da bandeira própria, na cabotagem e na navegação interior, para não dependermos apenas das megatransportadoras globais que dominam o transporte marítimo internacional.