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sexta-feira, setembro 25, 2015

Rumo à calmaria


Em uma palestra sobre a ferrovia bioceânica nesta sexta-feira (25 de setembro), o senador Valdir Raupp, que, ao que consta, é um político bem informado, disse que as coisas, agora, tendem a se acalmar mais.  Não tenho a mínima condição de discordar do parlamentar que, além das vantagens informacionais, se encontra, por assim dizer, no meio do caldeirão da crise. Infelizmente, não tinha, nem tenho, condições práticas de lhe perguntar em que se baseia para ser tão otimista. É que, aqui debaixo, bem de debaixo mesmo, olhando da planície não consigo ver como esta calmaria virá. Sei que os políticos terão que, de uma forma ou de outra, de resolver a questão de ingovernabilidade de nossa economia, porém, não vejo nas últimas mexidas no tabuleiro senão o que, em linguagem clara, denominamos de “empurrar com a barriga”. Será que o senador acredita que com seis ministérios, entre eles o da Saúde, as coisas se resolvem entre o PMDB e o PT? Cunha diz que não. E o senador Jorge Viana, expoente do PT do Acre, a respeito da reforma afirmou que se é para o PT não ter nada seria melhor que Dilma tivesse perdido. Fora que outros partidos também não estão nada contentes com a reforma. Reforma, aliás, que é tida como uma jogada somente. Avaliam, segundo os cálculo internos do PT,  que Dilma tem cerca de três semanas para virar o jogo e se estabelecer como alternativa de poder no país até 2018. E isto passa pela Lava Jato, de vez que a salvação estaria no delator Fernando Baiano que arrastaria os principais líderes do PMDB, partido de Michel Temer, para o precipício. Neste caso, a possibilidade do vice assumir no lugar de Dilma seria afastada. Volto a dizer: é um olhar da planície.
No entanto, mesmo olhando de baixo para cima a situação de Dilma não é nada fácil. Por exemplo, se comenta que, na próxima semana, será divulgado pela Fundação Perseu Abramo, a sede acadêmica do pensamento do PT, um documento que, além de mexer nos calos de Levy, critica o ajuste e propõe coisas de arrepiar os cabelos, como a recompra de títulos com expansão da base monetária, para, hipoteticamente, derrubar os juros; redução do compulsório bancário com o crédito direcionado para a expansão do consumo e CPMF de 0,38% e, como cobertura do bolo, aceitar uma inflação anual de até 15%. Ou seja, o PT ainda não se convenceu que não há almoço grátis e não quer aceitar a visita da realidade. E esta bela cantilena será feita, justamente, quando a divulgação de nova pesquisa do Ibope sobre a popularidade de Dilma Rousseff sai do forno. Se no último levantamento, de julho, apenas 9% consideraram o governo “bom” ou “ótimo”. Imagine agora? Também o Congresso votará os seis vetos presidenciais restantes. Tudo indica que aí não teremos surpresas, mas, na segunda quinzena de outubro, está prevista a votação do relatório do TCU sobre as contas do governo Dilma de 2014. Nos dias 20 e 21 de outubro, nova reunião do Copom que pode, ou não, retomar o ciclo de alta dos juros. E, no fim do mês, a reunião do FED, o banco central norte-americano marcada para os dias 27 e 28 de outubro. São eventos, que, sem considerar os não previstos, podem fermentar a situação elevar o dólar a R$ 5,00 ou até mesmo a R$ 6,00. O certo é que os prazos estão se estreitando. O senador Raupp deve estar certo. As coisas irão se acalmar, porém, penso que teremos ainda, pelo menos, uns trinta dias para o desfecho e as emoções parecem destinadas a variar como o dólar tem variado nos últimos tempos. 

quinta-feira, setembro 10, 2015

Manifesto contra a morte da antropofagia


O Brasil, no passado, sempre produziu ideias interessantes. Mesmo nos seus primórdios havia o pensamento de um Antônio Vieira, de um Gregório de Matos, um Joaquim Nabuco, houve um Machado de Assis, um Santiago Dantas, os Mários e Oswalds, um Nelson Rodrigues, um Dorival Caymmi, um Jobim, um Gilberto Freyre, e, mais recente, um Vinícius, um originalíssimo canibal como foi Millôr Fernandes, enfim, pessoas que se apropriavam de ideias alheias para reelaborá-las. Vá lá é aceitável até incluir nisto a loucura de Glauber Rocha ou o tropicalismo já mumificado de Caetano Veloso. Havia neles a mesma e saborosa ideia indígena de comer a carne do inimigo para adquirir suas qualidades, habilidades, ou seja, o Brasil já teve, até algumas décadas, ideias próprias ainda que enraizadas numa matriz universal. Nós, como previa Darcy Ribeiro, prometíamos ser a nova Roma derivada da miscigenação das raças.
Não somos. Estamos no limbo da falta de reflexão. Num ponto onde se trocou o esforço pelo chavão, a realidade pelo marketing, a imagem de se ser uma coisa que não se é pela vitória da política dos improdutivos, o sindicalismo de resultados gerou a falsa ascensão social, pelo aumento do consumo, se vendendo a ideia de que é possível se chegar ao primeiro mundo sem educação, sem reflexão, por meio de pessoas que não valorizam nem buscam o saber, pela pregação do ódio aos melhores, pela adoção de ideias alheias sem nenhum senso crítico e até mesmo pela segregação da elite do pensamento, como se fosse possível construir um país sem ideias. Nunca o professor foi tão desprestigiado e ignorado como agora. A maioria das grandes universidades públicas estão em greve, os institutos técnicos também, nem o governo liga nem a imprensa tem a menor consideração. Ideias não fazem falta. Vale muito mais a fala vazia de um ministro ou o esvaziamento de um pixuleco  por um grupo de militantes pagos.
O Brasil está de costas para o futuro. Como se pode construir uma nação sem um projeto? Como se pode aceitar como normal ser dirigido por alguém que não consegue ler dezoito linhas ou não consegue alinhar três minutos de uma fala coerente? O Brasil que seria o país do futuro se encontra, como sempre, na fila do atraso. Aceitando, como uma avestruz enfiada na terra, que podemos continuar a ignorar as melhores práticas de outros lugares, que podemos crescer, desenvolver sem educação e sem conhecimento. Vivemos, infelizmente, uma época obscura de hegemonia dos que nunca trabalharam, dos que nunca pensaram, dos que pregam que é possível construir uma sociedade mais justa fazendo caridade com o chapéu alheio; que é possível se construir uma nação privilegiando os que não trabalham e aumentando os impostos de quem produz. Por isto estamos num desses momentos da história em que o país não produz nada de interessante. O país precisa de uma grande revolução cultural. O Brasil precisa resgatar a antropofagia, que sempre foi sua fonte de uma renovação total.
A grande realidade é que esta coisa da estatização, da venda desmedida da ideologia dos coitadinhos, gerou uma cultura da banalização, da mediocridade, de pessoas que se expressam pelo Facebook, ou Whatsapps, por gostar mesmo é da espetacularização, porém, é incapaz de escrever seriamente, de pensar com profundidade. Não há mais ideias novas, não há vanguarda, embora o mundo tenha mudado completamente. Qual a razão? Pessoas sem cultura, sem educação, são incapazes de refletir sobre o mundo. Elas dissertam sobre tudo, mas, não criam formas novas. Cadê o pensamento sobre como mudar o Brasil? Como mudar a escola? Só sabem repetir Paulo Freire ou Marx, Maiakovsky, Foucault ou até mesmo Lacan, mas, onde algo original? Não é com cotas, com novos impostos, com aumento de juros que faremos uma nação melhor. É com a educação das pessoas, com a criação de regras estáveis, com segurança e crença no que os governantes falam. Com menos governo e mais mercado, mais competitividade e ideias. O Brasil precisa fazer sua revolução cultural. Precisa revigorar o pensamento antropofágico.


Ilustração: Tela de Theodor de Bry

quarta-feira, setembro 09, 2015

Aumento de impostos é aumento da agonia


São inúmeros os exemplos, mas, não há um mais evidente do que a promessa feita, num encontro com empresários em Campinas, há um ano, em que a presidente Dilma Rousseff (PT), então candidata à reeleição, prometeu que não mexeria nos direitos trabalhistas afirmando, taxativamente, com  uma frase de efeito: “Nem que a vaca tussa”. Nem precisou terminar o ano, porém, anunciou um pacote de ajustes nas regras para acesso a abono salarial, seguro-desemprego, seguro-desemprego do pescador artesanal, pensão por morte e auxílio-doença. Esta foi apenas uma, das muitas práticas da presidente, depois da  reeleição que destoam do que foi prometido na campanha. Há, porém, muito mais, todo um “pacote de maldades” da presidente, que incluem o veto ao reajuste de 6,5% na tabela do Imposto de Renda. Se a lei tivesse sido aprovada, pessoas que ganham até R$ 1.903,98 não precisariam prestar contas ao Leão. Atualmente, o teto de isenção é de R$ 1.787,77. Se mais fosse preciso, para mostrar que não entregou o que prometeu, basta lembrar que, num encontro com taxistas em São Paulo, a presidente prometeu que não haveria “tarifaço”. Ninguém de sã consciência tem como defendê-la, quando adotou medidas como a da elevação de R$ 0,22 na gasolina, R$ 0,15 no álcool. O Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), incidente sobre o crédito para a pessoa física, dobrou: passou de 1,5% ao ano para 3%. Importar ficou mais caro. Por meio da elevação de 9,25% para 11,75% do PIS/Cofins sobre os produtos oriundos dos outros países. Por fim, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na cadeia produtiva de cosméticos foi padronizado, equiparando a incidência do imposto no atacadista a na indústria. As bebidas também foram afetadas.  E, agora, ainda falam em aumentar o imposto de renda para 35%.

Agora, também a imprensa dá conta que a presidente nem sequer conversou com Michel Temer, o vice, durante o desfile de 7 de setembro. Estiveram juntos fisicamente, mas, tão distantes quanto o sol da lua. Afirmam que teria sido por causa de Temer ter dito que Dilma não se sustenta até o fim do seu mandato com 7% de aprovação. Não é a questão dos números. É, principalmente, que, como o próprio vice-presidente afirmou, é preciso se ter uma forma de criar um entendimento nacional e este, por mais que se negue, precisa do mínimo de credibilidade, de se ser confiável. A maior prova de que Dilma perdeu esta capacidade é o fato de que até mesmo quem lhe apoia, como o empresário Abílio Diniz, recomenda que outros personagens, inclusive hoje, de pijamas, como FHC e Lula se reúnam com Temer para achar uma solução. Solução haverá, por bem ou por mal, mas, enquanto não se tiver confiabilidade será impossível sair do atoleiro econômico em que estamos. E aumentar impostos e juros é só aumenta a agonia. O governo precisa fazer o seu dever de casa e não apenas repassar as contas para a sociedade.