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terça-feira, agosto 25, 2020

O BODE EXPIATÓRIO TÁ OFF

 

Neymar perdeu para o Bayern de Munique? Não. Quem perdeu foi o PSG. Futebol é um esporte coletivo. E, apesar de ser um dos melhores jogadores do mundo, se há uma coisa comprovada, nos tempos atuais, é que quem ganha o jogo é a equipe. E, convenhamos, o Bayern ganhou porque mereceu ganhar. Ganhou nos detalhes da equipe que, apesar de ter menos qualidade coletiva, foi a que mais lhe deu trabalho. Um time que, em média, faz quatro gols por partida conseguiu fazer apenas duas jogadas em toda a partida e um gol chorado, mas, perfeito. Vamos buscar culpados pelo gol? Não. Foi efeito da busca constante, do indiscutível predomínio do Bayern que teve 62% de domínio de bola contra 38% do PSG. Domínio de bola não é tudo. É verdade, porém, é preciso ver que, em poucos momentos, o PSG pode jogar e seus destaques foram dois defensores: Thiago Silva e Herrera. A surpresa é que, no Bayern, não foi muito diferente. Seus melhores jogadores em campo, apesar de Colman ter feito o gol decisivo, foram Neuer, que fez uma partida soberba, Kimmich e Thiago Alcântara. Neymar não jogou bem. O mesmo pode se dizer de Mbappé, de Di Maria, de Marquinhos, de Paredes, de Verrati. Também não jogaram bem Lewandowski, Muller e Gnabry. Não que não tivessem se esforçado. Foram leões dentro de campo, mas, foi um jogo truncado, pegado, de pouquíssimas oportunidades reais. O Bayern levou a melhor porque foi melhor. Mas, poderia ter perdido. Neymar, Mbappé, Di Maria e Marquinhos tiveram, todos uma oportunidade, de marcar e, sejamos justos, Neuer esteve impecável, inclusive antes da bola chegar na sua área, se antecipando, antevendo as jogadas. Com outro goleiro, talvez, o Bayern não tivesse chegado lá. Mas, o Bayern foi, nesta Champions, uma máquina. Entrou, em todas as partidas, com gana, com a disposição de vencer, voltado para dominar e ganhar a partida. E a final foi uma final emocionante, disputada até o último minuto. Não há como procurar culpados depois de um grande espetáculo. Há sim, opções. Como técnico, esta é uma opinião minha, jamais deixaria de usar Icardi num jogo como este. Poderia não dar certo, todavia, não se descarta um jogador como ele numa final- é o que penso. Enfim, em todo jogo um time ganha e o outro perde. Venceu, com certeza, o melhor. Embora tenham tecido imensas loas à Neymar nesta temporada, sinceramente, não vejo assim. Ele, procurando jogar mais para o time, saiu de perto da área. E, não sei a emoção ou o desejo exagerado, fizeram com que perdesse a frieza, que sempre demonstrou na hora de fazer gol. Faltaram sim, os gols de Neymar, nas partidas finais. Ele errou muito nas finalizações. E, no futebol moderno, com quase todo jogador sendo um atleta, Neymar, raramente, conseguiria passar por três, quatro, como o time alemão marca quando está sem a bola. Neymar está longe de ser Garrincha, que, se jogasse, hoje teria muito mais dificuldades de fazer o que fez. Mas, façamos justiça, Neymar é o jogador mais caçado do mundo dentro de campo. Toda hora fazem faltas nele. Todos se preocupam com seu posicionamento ou quando pega a bola. E ele não é o super-homem. É um craque que gosta de jogar e vencer sempre- até nas peladas. A derrota para o Bayern mostrou seus limites. E o seu choro, no final, não foi coisa de menino. Foi frustração, o sentimento de perda de um momento que poderia ser maravilhoso. Ao chorar se mostrou apenas humano. E, despido da vaidade, ele, um homem que tem tudo que se possa querer materialmente, chorou, repudiando o capuz de bode expiatório da derrota do PSG. Podem dizer o que quiserem, mas, enfim, Neymar amadureceu. Na derrota mostrou que também sabe perder.

 

domingo, agosto 23, 2020

AS LOJAS AUTÔNOMAS ESTÃO CHEGANDO

A tendência dos empregos formais desaparecerem é antiga. E, hoje, com o fenômeno da “uberização” do trabalho, ou seja, com um novo formato de fazer negócios, por meio de tecnologias móveis, que conectam o consumidor, de modo mais direto, ao fornecedor dos produtos e serviços, agregando mais valor, menor custo e personalização, esta tendência tende a se acentuar, daí, o elevado aumento da informalidade nas novas ocupações. Este fenômeno deve se intensificar, a partir de que, a grande maioria das pessoas preferem não interagir com atendentes, o que originou um novo modelo de varejo e auto-atendimento, a loja autônoma. O maior exemplo delas vem dos supermercados que estão desenvolvendo novos modelos, como o Self Check-Out, onde o consumidor faz todas as tarefas por meio de um aplicativo no celular, sem funcionários e caixas. É um modelo que favorece extremamente os clientes, que passam, apenas com o uso de tecnologia, a fazer suas compras, mas, produzem uma enorme redução da utilização da mão de obra. Na loja autônoma, o cliente entra na loja, escolhe os produtos que deseja levar e os valores são cobrados no seu cartão de crédito virtualmente, sem filas no caixa ou se vendedor. Nem se pense que se trata de coisa do futuro. Não. Este tipo de loja de autoatendimento já é uma realidade e deve se espalhar mais rapidamente do que se pensa, por todos os lugares, inclusive no Brasil. Parece estar distante o tempo do consumidor entrar, comprar e pagar sem contato com colaboradores, apenas com a tecnologia como suporte, mas, isto não é verdade. Em muitos lugares já está se tornando parte da vida cotidiana das pessoas usar seu smartphone para entrar na loja, pegar os itens que precisa, conferir os produtos, confirmar o pagamento e ter o valor é cobrado no cartão de crédito, sem nenhuma intervenção humana. A loja só precisa, para sua operação, de um repositor, para fazer a reposição dos itens necessários, do aplicativo para compras e um software de gestão de quantidade e preços. No Brasil e na América Latina, a empresa Zaitt inaugurou a primeira loja autônoma, em 2017, em Vitória no Espírito Santo, e sua segunda, no ano passado,  no Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo, que funciona 24 horas, sem atendentes, filas e caixas. A Onii implantou um modelo de loja autônoma que funciona dentro de condomínios residenciais inspirado nas lojas de conveniência Amazon Go, gigante varejista norte-americana. A única diferença é que, aqui, o cliente escaneia  ítem por ítem no celular para que a compra seja creditada no cartão cadastrado. Tudo é feito pelo próprio cliente. No começo de março, e estimulado pela pandemia, a empresa fechou 80 contratos para a instalação de lojas similares, mas, a previsão é de ter 200 lojas instaladas no país até o fim do ano. A empresa Carrinho Cheio, conhecida no norte do Paraná pelo seu delivery super rápido, agora, se lançou no mercado de lojas autônomas com sua primeira loja autônoma, em Londrina, denominada Carrinho Cheio Experience, localizada no Carbamall Palhano, shopping na Rodovia Mabio Gonçalves Palhano. Ainda é motivo de curiosidade e de atração. Mas, não por muito tempo. Este tipo de modelo é o futuro. Claro que as lojas com atendentes não desaparecerão, mas, irão conviver com a proliferação deste novo modelo.

segunda-feira, agosto 17, 2020

NÃO SE PODE FAZER REFORMA TRIBUTÁRIA DE FORMA APRESSADA

 

O ministro Paulo Guedes, apesar de seus inegáveis conhecimentos, em especial do setor financeiro, quando se trata da condução da política econômica tem se mostrado imensamente competente, em muitas coisas, é verdade, porém, em outras, talvez por falta de ter trabalhado no setor público antes ou por não ser um economista com conhecimento do lado da demanda, acerta no atacado, contudo, tem tido uma visão, para ser suave, míope quando se trata do varejo. Ninguém pode afirmar que não esteja certo ao se mostrar, como tem se mostrado, um liberal, quando pretende diminuir o tamanho do aparelho estatal. Não é, como o acusam, por querer vender e conceder tudo que vê pela frente, mas, por ter uma visão, correta, de que é a iniciativa privada que cria renda, empregos e crescimento. No entanto, como muito bem aprendeu, com a pandemia, viu que, ao criar o auxílio emergencial, estimulou o consumo e, grande parte do dispêndio com ele, acabou por voltar em forma de impostos. Pena que, influenciado por ver o funcionalismo público apenas como entrave, não perceba que, de fato, apesar dos evidentes problemas e distorções que existem, os servidores possuem o lado, muito positivo, de serem os guardiões da memória e da sabedoria da administração pública, bem como o que se gasta com eles dá um retorno ainda maior que o auxílio emergencial, de vez que são taxados (fortemente taxados, aliás) na fonte.  O contraditório é que o liberal Paulo Guedes, quando apresenta uma proposta de reforma tributária, parece ser tão estatista, quanto qualquer outro anterior, ao querer recriar um imposto sobre transações financeiras, ou seja, apenas sobre a movimentação do dinheiro, que, por mais que se tergiverse, tem na facilidade da cobrança sua eficácia, porém, é, claramente, uma cobrança tributária acumulativa. O ministro, infelizmente, se equivoca, pelo menos no seu discurso, ao dizer que pretende fazer justiça social diminuindo os impostos sobre a folha de pagamento. Qualquer especialista em tributos sabe que este é um caminho que pode melhorar o emprego, mas, não tem efeitos práticos sobre a desigualdade. Para melhorar a desigualdade o caminho seria diminuir os impostos sobre as pessoas físicas, sobre os trabalhadores. A proposta do governo, cujo fatiamento já é um erro, na medida em que não permite que se tenha uma visão da lógica que se pretende ter no novo sistema, pelo menos até agora, somente busca simplificar a forma do governo arrecadar e, talvez, até mais com um aumento significativo da alíquota, que dizem pode diminuir. É fácil ajustar as contas em cima do dinheiro alheio, mas, a realidade é que, da forma acelerada e somente redistribuindo internamente o peso dos tributos, a proposta governamental, da forma como se pretende, é pior do que a PEC nº 45/2019, que tem uma lógica interna e unifica mais impostos. O que é mais grave é que o pedido de urgência, numa reforma fatiada, tende a criar não uma reforma e sim um arremedo de reforma tributária. Uma boa reforma tributária tem que ser, obrigatoriamente, fruto de discussões técnicas e de convencimento político. Não pode ser feita de forma apressada sob pena de tornar o sistema ainda pior do que já é. Foram as sucessivas emendas feitas ao sistema tributário brasileiro que o tornaram tão complexo e ruim. A reforma tributária para ser boa e melhorar deve ser feita de uma forma abrangente e de uma vez só.