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quarta-feira, julho 03, 2013

A imprensa que todo governo deseja


Inevitável é tratar das manifestações nas ruas brasileiras, mas, a verdade é que, como qualquer outro fato, num mundo de rápidas transformações e excesso de notícias, até mesmo as manifestações, depois de uma semana, parecem repetitivas e tão velhas quanto às respostas que o governo dá ao movimento. Por isto, procuro aspectos que fujam das visões tradicionais sobre esta onda que percorre as ruas. E, para mim, um deles diz respeito à questão da imprensa e sua atuação inclusive nas manifestações.
Na Veja, desta semana, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, numa análise lúcida, afirma que não é possível, como desejam inúmeras alas governistas, controlar a informação ou, como dizem, num eufemismo pouco esclarecedor, regular a mídia. É evidente que a mídia, impressa, ou não, tem que formar e informar e, neste sentido, não pode nem deve estar atrelada a nenhum governo. A realidade brasileira é que, por uma questão econômica, e até política, na medida em que a proibição de muitos tipos de publicidade, como de bebidas e cigarros, tornou a sobrevivência delas extremamente dependente de verbas ou benesses governamentais. E, ao contrário do que afirmam os militantes partidários do governo, a mídia é extremamente benevolente com o governo e a Rede Globo, mais ainda, apesar de estigmatizada como protótipo da mídia elitista, concentrada e manipuladora, espécie de oposição sistemática ao governo e representação por excelência dos interesses capitalistas mais empedernidos.
Esta mistificação, a mesma dos discursos de Lula contra elite quando ele é a encarnação da própria elite, foi desmistificada pela atuação da TV Globo nas manifestações de rua. A verdade é que, seguindo à risca seu papel de mantenedora do status quo, a rede omitiu, como sempre fez, os movimentos o quanto pode. Afinal é uma beneficiária direta do governo petista tendo, somente nele, saído de sua situação deficitária, inclusive no exterior, e obtido empréstimos do BNDES, que o governo FHC nunca lhe concedeu. E, observe-se que sou imparcial em relação à Globo, é uma empresa de padrão de qualidade internacional e que se mantém, mesmo com inúmeros projetos contrários, que procuraram desbancá-la através dos tempos, graças à sua incontestável competência. Ocorre que, como é normal, qualquer empresa de mídia, ou não, cuida de seus interesses. E quando é o governo, como acontece no país, o seu maior cliente, sempre irá  preservar os interesses dele. É claro até que a situação afete a sobrevivência da empresa. Foi o que aconteceu: pressionada pelos fatos, pelo clamor das ruas, a Globo cedeu aos ditames da audiência, mas, à contragosto. E, quando passou a cobrir os fatos, deu o show de competência que sempre dá, porém, teve que esconder sua marca pela insatisfação que gerou e por manifestações pouco felizes de alguns de seus contratados.

Acontece que a TV Globo aparece mais como fonte de manipulação da mídia por ser a líder de audiência da televisão, o meio que mais pesa na opinião pública. Mas, a grande realidade é que as outras emissoras não se comportam de modo diferente, com evidentes gradações e maior atrelamento ao governo, ou não. Ao contrário do que desejam os governantes a questão não é de concentração da mídia, nem que haja uma oposição consistente da grande mídia. A questão real é de que as formas de sobrevivência da mídia estão reduzidas ao governo e alguns poucos e grande anunciantes que, em geral, também dependem dele. Como não existe uma oposição real ao governo entre os partidos, a oposição da mídia é também inexistente. A grande realidade é que a mídia, fantasiando um país que não existe, contribuiu para a explosão de descontentamento que tomou as ruas. Mais por colaborar com o governo e difundir sua ideologia do que, efetivamente, por ser contra ele. Agora, o que os governantes gostariam é que nada do que fazem de malfeito seja publicado. Isto somente existe quando não há imprensa ou está é controlada numa ditadura. É o ideal de todo governo ter uma imprensa que só noticie o que interessa. Aí não se tem imprensa, mas, diário oficial. 

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