Eu também sou
Rodrigues, mas, não sou Nelson. Se fosse escreveria que já estava escrito nas
palimpsestos gregos, nas pedras ancestrais, nos primórdios da criação do mundo,
nas línguas dos primeiros profetas que o Flamengo seria campeão da Libertadores
este ano. Este time do Flamengo é um grande time? É, inexplicavelmente é. Feito
mais por obra do acaso, embora também fruto de trabalho de excelentes técnicos,
é uma obra das mais improváveis. É que nele estão juntos velhos talentos,
talvez, movidos também por antigas paixões reavivadas, com promessas, agora,
cumpridas e até com desconhecidos talentos, como Pablo Marí. Trouxeram Diego, Diego
Alves, Rafinha e Filipe Luís, veteranos consagrados, para juntar com nomes
conhecidos, todavia, que ainda não tinham marcado seus nomes nos campos, como
Bruno Henrique, De Arrascaeta, Gerson, Everton Ribeiro, Rodrigo Caio e, até
mesmo, Gabigol, que, mesmo tendo sido artilheiro do brasileiro, não tinha ainda
títulos que sedimentassem sua carreira. Com a mão do português, Jorge Jesus,
arranjando as peças, fizeram história e se tornaram campeões da Libertadores de
2019. É verdade também que sobraram no campeonato brasileiro. Tudo indica que alcançarão
a maior quantidade de pontos que um time ganhador já conseguiu, desde que o
campeonato de pontos corridos foi estabelecido. Sua campanha, com vitórias
memoráveis, o seu bom futebol rápido e demolidor, credenciavam o Flamengo como favorito contra
o River Plate. Ainda que Gallardo, que ignorava o destino, tivesse razão em
dizer que se o Flamengo era superior que provasse nos gramados. Que foi
provado, foi. Mas, convenhamos, da forma mais cruel possível. Sejamos justos.
Não há como negar que o River foi melhor durante exatamente 93 minutos da
partida. Jogou uma partida impecável durante todo este tempo. Dominou o campo,
impediu que o Flamengo jogasse. O Flamengo foi irreconhecível, ao ponto, de
permitir um gol inacreditável, que foi uma falha coletiva, porém, quase
espírita. Era uma jogada que teve tudo para não acontecer. Não pensavam assim
os deuses do futebol que permitiram ao River o sabor de pensar que poderiam vencer.
Depois de uma hora e meia sem conseguir fazer uma única jogada, adormecido em
campo, dominado, submetido, o Flamengo despertou. Do triste Flamengo, que não
acertava passes, que não fazia uma jogada certa, que não ganhava um rebote, que
desanimava o torcedor, reapareceu o time vencedor e, em três minutos, em apenas
três rápidos minutos, fulminou o River Plate. Acertando uma jogada! Só uma! E,
com ela, desmontou tudo o que o River havia feito. O golpe foi tão mortal, tão
fatal, tão perfeito, tão monumental que nem precisou de uma segunda. De um
lance improvável, de uma bola lançada mais para a defesa do que para um provável
ataque, de um lançamento sem futuro, o faro de goleador de Gabigol, a vocação
de artilheiro, brilhou. E ele, que só havia tido o fácil trabalho de empurrar a
bola nas redes no primeiro gol, como um tanque, se impôs aos zagueiros, que
atrapalhados, assistiram o seu chute implacável, certeiro, matador. Não havia o
que fazer mais. Era só levantar a taça. Foi sorte? Foi. Porém, quem disse que
os grandes times não precisam de sorte para vencer? A sorte foi tanta que, no
domingo, foi campeão brasileiro sem entrar em campo. Agora, sejamos cirúrgicos,
precisos no exame: ninguém é um grande campeão apenas com sorte. O Flamengo fez
história jogando muito. E foi premiado ganhando a Libertadores quando fez sua
pior partida dos últimos tempos. Porém, não é todo time que só precisa de três
minutos jogando bem para ganhar do River Plate. A verdade é que estava escrito!
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