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sábado, dezembro 31, 2011

O muito que se torna nada


Bem, meus amigos, muitos de vocês dirão que não tenho jeito. Que, por detrás da fama de ser, digamos, brincalhão, para não ser mais duro comigo mesmo, não consigo ficar quieto, nem deixar de apontar certas coisas. É verdade. Parece que o menino travesso, que vive dentro de mim, não se conforma em ser o homem maduro e resignado. Quando menos espero me dá uma revolta com certas coisas e não dá mais para segurar. Não explode o coração, porém, explodem as palavras. E não há nada que me faça ficar mais impaciente do que a forma como a educação é tratada no país. Agora mesmo, por exemplo, o Censo de Educação Superior 2010 me faz, mais uma vez, gritar contra o que denomino “discurso da educação”, que é a farsa de que se investe e se melhora a educação.
Pode-se pensar, e até dizer que se trata de uma cruzada minha contra Lula. Que Deus o conserve com saúde desde que longe do governo. Não é. Antes de Lula também o discurso da educação, invés de se cuidar da educação, já existia e depois dele continua. A questão é que o discurso de Lula sempre foi o do triunfalismo, de festejar, por exemplo, que nesta década, o crescimento do setor mais do que duplicou, chegando a 6,4 milhões de estudantes, sepultando os vergonhosos índices de outrora, de 8% da população com terceiro grau. Agora, apontam, que estaria por volta dos 13%, mas, os números mostrados carecem de respeito, pois, se sabe que, muitos, são manipulados. A educação nossa continua uma tragédia. Numa comparação, por exemplo, com a Europa, se formos verificar os jovens que frequentam cursos superiores, certamente, estaremos na idade média. A expansão que fizeram, para quem é professor e acompanha o ensino, sabe que, na base do “vamos de qualquer jeito”, perseguindo mais os efeitos político do que fazer, de fato, uma revolução educacional, nós afundamos no pântano. Aumento de cursos de forma acelerada, vagas a granel, pouco treinamento, professores pegos à laço, só podiam dar no que deu: a baixa qualidade.
Aponta-se que 73% dos alunos do ensino superior são da rede privada, uma rede beneficiada, lambuzada de favores nos anos Lula. Encheram-se as salas, porém, sem cursos de gabarito Hoje, o Ministério de Educação tenta organizar a bagunça classificando e, como a diarista que não fez o trabalho, dando uma arrumada para enganar que fez a limpeza. Como solução miraculosa anuncia-se o corte de 50 mil vagas ociosas e só na área da saúde foram 148 cursos penalizados pelas más condições que apresentavam. Para o discurso que denomino de “democratismo”, aquele que prega que todo mundo pode ser universitário, se trata de uma crítica até mesmo fascista. Há, contra toda a lógica e os custos, quem acredite que o importante é aumentar o número de diplomados, ainda que sem condições e sem qualidade. A prática está provando que a tese é falsa. Além da mercantilização do ensino superior a assombrosa verificação de que há pessoas com diplomas que não sabem escrever revela, cristalinamente, que há propaganda demais para pouca qualidade. E que pessoas despreparadas fingindo saber podem ocasionar grandes tragédias.
A triste realidade que vejo todo dia é que os alunos tem cada vez menos interesse na vida acadêmica. Não apenas porque o diploma já não lhes garante empregos e bons salários, de imediato, porém, porque as nossas escolas, as nossas faculdades e universidades, em especial, ainda vivem no século XIXX. Ou mudam seus métodos, ou se tornam instâncias reais de aprendizagem, com o uso de meios e tecnologias modernas, ou tendem a se tornar, na sua quase totalidade, feudos de falsa ciência, assembleias em que burocratas discutem se o governo irá dar 4 ou 5% de aumento, enquanto os alunos zombam de velhos e novos professores que fingem que ensinam, mas, ganham menos do que os policiais que, pelo menos, brigam por aumentos de 44%. E, mesmo quando perdem, conseguem ganhar mais de 20% o que mostra que são mais competentes ou mais armados em seus pleitos. De qualquer forma não há como melhorar sem educar. E não se faz isto sem passar do discurso da educação para sua prática. De discurso, de números e de falas que provam que melhoramos estamos cansados. É preciso melhorar de verdade.

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