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domingo, setembro 25, 2011

Sobre as ideias de Roger Scruton


Na Veja desta semana, mais precisamente nas páginas amarelas, a entrevista do filósofo inglês Roger Scruton é um facho de luz sobre o pensamento moderno. Em especial sua observação de que o pensamento utópico sobrevive por ser uma forma que, ao se embeber do otimismo mal-intencionado, é fácil de digerir e permite que se fuja dos problemas reais de construção de qualquer alternativa real, o que sempre exige determinação e trabalho. É fértil sua afirmação de que a esquerda possui, e adora, ter uma tradição de culto à vitima. Como bem acentua Scruton sua origem vem de Karl Marx, no século XIX, que criou o método de julgar toda forma de sucesso humano a partir do fracasso dos outros, como se o sucesso de alguém dependesse menos de seus esforços que de usufruir dos outros (a idéia de um capitalismo que se sobrepõe à consciência e à vontade humana).
Marx, com base neste método, e contra sua própria capacidade lógica, inventou um plano para salvação dos mais fracos e, com uma causa muito justificável, criou a fórmula de seu sucesso da esquerda: ter uma causa justificável e uma vítima a ser resgatada para pousar de justiceira do mundo. No século XIX, lembra o filósofo, eram os proletários, depois, nos anos 60, foram a juventude, as mulheres, os pobres e, atualmente, com o ambientalismo, se propõem a salvar o planeta. Ocorre que a esquerda jamais trata do mundo e dos problemas reais, mas, radicaliza a questão que passa a ser uma espécie de fé e os que a ela não aderem são estigmatizados como o “mal”. Scruton acentua que isto é um jogo de “soma zero” com um vencedor e um perdedor, quando as relações humanas não precisam ser um jogo de perde-e-ganha, quando podem ser um jogo de ganha-ganha.
É muito lúcida sua análise de que “quando uma pessoa começa a pensar sobre as grandes questões que afligem o homem e a sociedade, tende a aceitar as posições de esquerda, pois, elas parecem oferecer soluções. Ao pensar além, ao se aprofundar, a pessoa aprende a duvidar e rejeita o argumento esquerdista. Na universidade muita gente pensa, mas, poucas refletem profundamente”. Sem dúvida é preciso levar em conta o valor objetivo da liberdade, o qual as sociedades coletivas impedem que exista, e, sobre este tema, é muito arguta a observação do filósofo inglês de que “O conservador reflete sobre coisas reais e sabe que a liberdade verdadeira é obtida sob leis e regras”. Não pode ser, como muitos pretensos iluminados desejam, monopólio de um grupo ou de um partido e sim devem ser uma construção social em que as pessoas possam exercer seu direito democrático de serem diferentes e discordarem ainda que a maioria prevaleça. Isto, porém, jamais poderá ser uma realidade privilegiando a cultura do “coitadinho”, de que as elites sociais invés de serem os guias da sociedade passem a ter que regredir para se adequar ao pensamento comungado pelos menos cultos. Não se pode, como muitos hoje desejam, aceitar o anti-iluminismo como forma de progresso social ou, o nosso futuro, estará no passado. Só alguns indivíduos fazem o pensamento avançar e, estas águias solitárias, não fazem parte da massa. Efetivamente se destacam por discordar delas e ter um pensamento que faz a sociedade avançar.

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