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terça-feira, novembro 01, 2011

Você é sério? Ou esconde sua tolice?

Tem certos livros e ideias que nos agradam à primeira vista, mesmo quando dizem que os livros e as ideias não significam muita coisa nos tempos atuais. De qualquer forma, como sou mesmo um dinossauro, ainda me toca ler um escritor como o de Lee Siegel, que escreveu “Are You Serious? How To Be True and Get Real in The Age of Silly” (Harper Collins), numa tradução livre -“Você Fala Sério? Como Ser Verdadeiro e Cair na Real na Era da Bobagem”, que é um estudo de como a nossa cultura perdeu a capacidade de distinguir entre a seriedade, a bobeira e a falta de sentido que, muitas vezes, é um niilismo revestido de intelectualidade. Siegel põe o dedo na ferida quando mostra que qualquer um opina sobre tudo, ainda que seja um comediante ou um âncora do telejornal, embora o comediante só saiba ser engraçado e o âncora repetir noticias e, aqui, me lembro de Caetano Veloso que, por mais brilhante que seja, não deveria ter pedida sua opinião em coisas que sabe tanto quanto eu de física quântica. Em suma, Siegel nos mostra que não se sabe, hoje, em dia distinguir a seriedade da tolice.
Interessante é que, apesar de reconhecer as dificuldades da tarefa, o livro pretende guiar o leitor pelo caminho da seriedade na política, na cultura e tenta recomendar, no melhor estilo dos bons livros de auto-ajuda, com uma receita simples de que maneira se pode ser sério. Não pensem, porém, que se trata de um livro de humor, embora a ideia não esteja longe de ter um humor sofisticado, no fim se trata mesmo de uma autópsia de nossos tempos e a constatação perfeita para o nosso país, mas, não apenas para ele, de que existe um enorme hiato entre seriedade da nossa vida privada e a bobagem que se enxerga, e somos obrigados a tolerar na vida pública. Siegel cunha um termo, um neologismo, o "whateverism", algo como o “qualquercoisismo”, que seria um sintoma existente entre os adolescentes norte-americanos de impotência diante disto, diante do fato de que a tecnologia da bobagem na nossa época é estrutural, uma espécie de efeito colateral das engrenagens da qual não escapamos, daí, a conformação dos jovens.
Também é interessante o receituário de Siegel contra isto. Para ele para se ser, realmente, sério é preciso ter atenção, propósito e continuidade. Ou seja, prestar mesmo atenção às coisas, estar situado, saber onde se encontra e a partir deste ponto saber, ou pelo menos, buscar chegar a algum lugar. E dá um exemplo de sua receita: o piloto Chesley Sullenberger, o capitão da US Airways, que aterrissou no gelo fino, com os motores do avião em pane, em janeiro de 2009. Um homem sério que estava cumprindo sua obrigação profissional. Se bem que a seriedade, para ele, se revista até mesmo de um burocratismo, de um formalismo e de nuances que misturam seriedade e bobagem, como exemplifica com Oprah Winfrey, que é um híbrido de seriedade e bobagem, tanto que toma posições fortes como a de apoiar Obama quase com a mesma velocidade com que fica à vontade com Tom Cruise dizendo besteiras e saltando no sofá.
De qualquer forma o que nos prende, e polemiza, é o fato de que Siegel nos mostra que, no mundo moderno, parece que as figuras sérias, ou a maioria delas, praticamente desapareceram nos deixando órfãos e nas mãos de amadores, bufões e palhaços profissionais (sem nenhuma alusão a Tiririca, por favor). Interessante é que ele tem um olhar atemporal ao declarar que tem sido, mais ou menos assim, em todas as épocas, e cada tempo teve seus próprios obstáculos para se viver a sério. Creio que o grande mérito do livro é o de combinar ficção, história, crítica social, sátira, e reflexão para iluminar nossa paisagem e como o lucro, a popularidade, e o prazer imediato influenciam na cultura, na política e no cotidiano da vida. É, por isto mesmo, uma reflexão inteligente e esclarecedora da seriedade em todas as dimensões. E pode ser um bom antídoto para a nossa própria tolice. Até mesmo um caminho para se forjar a própria seriedade. Que dê a primeira risada quem não se acha, muitas vezes, um pouco tolo.

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