Na
história e na política não é incomum que governos e políticos adotem medidas
contrárias aos seus próprios interesses. Há uma obra que se tornou clássica de
Barbara W. Tuchman denominada de “A Marcha da Insensatez”, que examina fatos em
que isto aconteceu, de forma que Barbara acaba por considerar ser este um dos
maiores paradoxos humanos: a insistência dos governos em adotarem políticas
contrárias a seus próprios interesses. Porém, nenhum exemplo pode ser mais
emblemático que, o que ocorre, hoje em dia, no Brasil. A trajetória do governo
Dilma, neste segundo mandato, é uma bela comprovação da tese da marcha da
insensatez.
A
começar do fato de que, no primeiro momento depois de eleita, aliás, em uma
eleição em que “fizeram o diabo”, como havia sido prometido, a presidente disse
que estendia a mão à oposição. Se, efetivamente, fora as palavras, tivesse
feito algo neste sentido, talvez, seu governo tivesse alguma viabilidade. Não o
fez e, para piorar as coisas, adotou o programa do adversário, o programa que
havia demonizado e hostilizado em toda a campanha eleitoral, pela metade, na
medida em que vai contra tudo que o PT prega. Fez o que devia fazer, o que era
pragmático. O aumento de consumo ancorado no crédito- motor da aprovação que
Lula havia obtido-havia se esgotado no endividamento e o governo se afogava com
o aumento da dívida e a queda de receitas externas das commodities. Não havia
alternativa e se sabia disto bem antes das eleições. O problema real é que um
governo, que prega o controle do mercado, somente tem programa quando o caixa
está cheio. Sem recursos, e sem horizontes, a única preocupação, em dois anos
de governo, foi a de continuar no poder. E continuou a fazer mais do mesmo, enquanto
as condições se deterioravam com o aumento da inflação e dos gastos públicos. A investigação dos "malfeitos" da Petrobras, a Operação Lava Jato, fez o resto: acrescentou o carimbo da corrupção a uma administração desastrosa.
Nesta
semana o Ibope aponta que 82% da população é contra sua forma de governar.
Mesmo assim tentou trazer Lula para ver se termina seu mandato. Lula, com a
imagem desfeita pelas acusações que o cercam, está fazendo o possível, e o
impossível, para mantê-la. Reuniu as tropas e conseguiu até mesmo mobilizar os
sindicalistas e alguns movimentos sociais movidos a verbas públicas para as
ruas. Tenta oferecer os cargos que o PMDB entregou como moeda de troca para
manter o mandato de Dilma. É insensatez em cima de insensatez. Ainda que Dilma
escapasse do atual pedido de impeachment viriam outros. Mas, o impeachment será
inevitável. A prisão de Silvinho Pereira e de Ronan Maria Pinto, na Operação
Carbono, é um fechamento de cerco sobre Bumlai e Lula. Embora os cargos
oferecidos sejam atraentes, políticos são animais sociais. Alimentam-se de um
ego alto e de votos. O risco é muito grande. E, ao tentar ganhar na votação do
Congresso, Lula e o governo apenas deixam claro que o impeachment é legítimo e,
chega a ser irônico, que a presidente, no seu discurso de defesa, no Planalto,
afirme que não cometeu crime de responsabilidade justificando as pedaladas com
o pagamento de bolsa família e outros programas sociais. Igual a Lula, que
depois de ser conduzido à força para depor, diz que não cometeu crime
explicando que vive às custas “dos amigos” e levou 11 contêineres, quando saiu
do Planalto, mas, não tem recursos para guardar “seus presentes”. E assim
caminha a desumanidade.
Ilustração: Cartoon por J
Stélio
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