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sábado, agosto 19, 2006

EM BUSCA DOS JUROS PERDIDOS

Noam Chomsky, um filósofo do comportamento moderno, diz que a sociedade de consumo transforma todas as disputas "em competição destrutiva", de tal modo que se arrasam os valores da cultura, da sabedoria da tradição ou das ciências e das artes. O que importa mesmo é competir e ganhar, seja em que campo for, num fundamentalismo consumista de roupa nova. O problema sério é que em sociedades cada vez mais numerosas (e que tendem a multiplicar suas populações) não há como todo mundo ganhar. Em geral, é a regra do capitalismo, ganham os que têm mais capital.
É o que acontece nos tempos áureos dos bancos brasileiros com Lulla da Silva. Basta ver que soltaram foguetes, em primeiro lugar, os dois maiores bancos privados do país, Itaú e Bradesco, cada qual glorificando seu maior lucro. Porém o canto de vitória não ficou restrito ao setor privado. Logo, o Banco do Brasil, o de “todos”, deve ser uma referência ao fato de que o governo faz o que quer, bradou que seu lucro anual foi superior ao de todos os outros, os privados inclusive. As cifras são impressionantes. Mencionam-se 11 bilhões de reais com a boca cheia. Para quem servem esses lucros aí está um dos busílis da questão o outro, como dinheiro não é “fêmea”, não se reproduz por si mesmo, é o de como foi obtido e a que custo. Aí o bicho pega.
O banco, em geral, não tem dinheiro próprio e sua função maior é a de intermediação financeira. Deveria ganhar dinheiro na medida em que cumprisse sua função de tirar dinheiro de quem tem, e não vai aplicar, para as pessoas que não tem e vão aplicá-lo em investimentos, em aumento da produção da sociedade. Deveriam utilizar para estimular o setor produtivo e ser mais e melhor remunerado na medida em que este tivesse sucesso. O setor financeiro, como o governo, não cria nada. Quem cria é o setor produtivo. No governo atual o desestímulo ao setor produtivo vem dos juros elevados, da própria concorrência do governo pelo crédito interno. Bancos não possuem escrúpulos. Bancos desejam lucros maiores. E isto eles tem conseguido no atual governo com as elevadas taxas de juros que permitem um “spread”, a diferença entre a captação e o empréstimo, bem acima do normal. E, mesmo quando o governo baixa a taxa, não se move, quase nada, do custo do dinheiro no varejo. O ministro Guido Mantega diz que vai fazer medidas para baixar os juros. Nenhuma é nova ou vai ter o menor efeito. Mantega afirma que os bancos devem “lucrar menos”. É um grande apelo à “bondade” do setor financeiro. Como o Brasil já acredita, no plano externo, que as nações são boazinhas, não defendem seus interesses, é normal que o pensamento se internalize e os banqueiros venham a ficar bonzinhos também. O problema é o passado recente. A CPI do Banestados, os escândalos que envolveram o Banco Rural e o BMG nas negociatas do publicitário Marcos Valério. Animais ferozes não viram cordeiros da noite para o dia. E um governo que não tomou atitudes antes não vai tomar no fim do mandato. Acredite em Papai Noel, saci, pesquisas e que os juros vão baixar.

domingo, agosto 06, 2006

AGOSTO AINDA NÃO ACABOU

Uma pergunta que não me sai da cabeça é: quais os interesses por trás das espetaculares prisões da Operação Dominó em Rondônia? Não me venham falar que estão fazendo justiça num país em que a injustiça é a norma. Não me venham, por favor, dizer que o tempo, a hora, o local, a cobertura da imprensa, a época pré-eleitoral é um acaso. Nada é por acaso. Tudo foi premeditado, tramado e calculado. As prisões espetaculares, o aparato desproporcional (350 homens para prender 23 dos quais, como se comprovou, nenhum resistiria à prisão), aviões, câmeras, o passeio dos presos algemados, o linchamento moral sem defesa dos envolvidos. Não estou defendendo ninguém. Os culpados devem ser punidos. A questão é o modo, a forma, a espetacularização.
Se foi uma operação modelo, um castigo exemplar, então cabe perguntar: por que Rondônia? Em que Rondônia é pior, ou melhor, do que qualquer outro Estado em ética e corrupção? Será que por aqui nós somos mais corruptos? A resposta que posso dar é uma só: não! Se efetuada uma operação, como a que aqui foi feita, em qualquer outro Estado, talvez o resultado seja muito mais surpreendente. Não quero espalhar mais lama do que a espalhada, mas duvido que mais do que, com otimismo, dois ou três Estados passem no teste. E, talvez, olha que escrevo só talvez, escapem algumas instâncias federais.
A Operação Dominó foi excelente. Que a Polícia Federal merece parabéns ninguém duvida. A questão está além, muito além, dela, que é um instrumento. Aqui vale lembrar que algo semelhante e menos espetacular, foi feito, na eleição passada, quando prenderam o ex-senador Ernandes Amorim. O processo, depois de todas as prisões espetaculares, foi anulado. Amorim é candidato e deve ser eleito deputado. A Rede Globo, impiedosamente, passou semanas dedicando o “Fantástico” às fitas do governador Cassol com cenas dos deputados que o estariam extorquindo. Usou e abusou. Rondônia virou exemplo de corrupção nacional. Não foi por acaso e não adiantou. A podridão do “Mensalão” explodiu e sufocou o foco em Rondônia. Fim da manobra de despistamento. Não vai adiantar de novo. As luzes na periferia são para esconder a grandeza da corrupção nacional. Não vai dar certo de novo.
Se desejarem, de fato, passar o país a limpo é bom começar por cima. Pelo centro. Não será aqui que irão encontrar os pais e as mães dos G-Techs, dos sanguessugas, dos contratos superfaturados dos Correios, as fontes do “Mensalão”, o mau uso dos recursos dos fundos de pensões, a evasão dos dólares do Banestados, o nascedouro dos bilhões dos paraísos fiscais, os rombos pendentes de investigação no Banco do Brasil, na Petrobrás, em Furnas e outros que é fastidioso enumerar. Prenderam as piabinhas de Rondônia, em termos nacionais, pegaram os três P’s de novo. Que tal repetir a experiência em Brasília? E nem vai precisar de avião. Agosto ainda não terminou.