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quarta-feira, abril 16, 2008

NEM TUDO QUE PARECE É

A Carência é de Análise
O sociólogo suíço Jean Ziegler, de repente, aparece na mídia mundial classificando de um crime contra a humanidade a produção de biocombustíveis. Vai um pouco mais além quando acusa o FMI de haver obrigado países do Terceiro Mundo a produzir para exportação, desviando esforços da agricultura de subsistência. Duas afirmações que só demonstram que quem não entende nada de economia não deve se dispor a falar do que não entende, principalmente, quando, como Ziegler ocupa um posto numa organização multilateral, que transforma sua fala num poderoso microfone com amplificador mundial.
Em primeiro lugar há o fato de que não é a falta de produção que impede a fome de parte da população, em especial dos países muito pobres e importadores líquidos de alimentos e sim a renda. Tanto que muitos deles são dependentes, tipicamente, de doações e de programas especiais de auxílio. São países da África, das zonas atrasadas da Ásia e, em menor proporção, do Caribe e da América Latina que vive na miséria e, a menos que mudem suas variáveis internas, continuarão assim independente do encarecimento, ou não, das commodities. Estes povos pobres deixados no atraso e na miséria pelas velhas potências coloniais européias não tem poder aquisitivo, logo não influem na demanda mundial. A crise dos alimentos é oriunda mesmo é do alto crescimento da China e da Àsia que, com poder aquisitivo, pressionam por mais alimentos.
Em segundo lugar somente parte da alta dos preços pode ser atríbuida a questão da produção dos biocombustíveis circunscrita aos Estados Unidos, onde o etanol é produzido no lugar do milho, e à tentativa européia de produzir biocombustíveis. Ocorre que tanto nos Estados Unidos e como na Europa estas atividades só são possíveis com pesados subsídios. A verdade é que aí repousa o busílis da questão. O subdesenvolvimento da agricultura nos países pobres se deve muito às distorções criadas pelos subsídios e pelo protecionismo do mundo rico. Numa perspectiva de longo prazo as commodities teriam estimulado o desenvolvimento agrícola nos países não fosse estas políticas. Aliás, foram os preços deprimidos pelas políticas dos países desenvolvidos que causaram parte significativa da pobreza persistente.. Este foi um dos temas centrais da Rodada Doha de negociações comerciais sem que se conseguisse avançar um passo. Sobre isto Jean Ziegler nunca disse nada.
É preciso, portanto diferenciar a produção de biocombustíveis no Brasil da produção nos Estados Unidos e na Europa. Inclusive porque no nosso país foi a capacidade dos produtores e o investimento em tecnologia para competir no mercado internacional que causou o barateamento da comida no mercado interno. Assim a acusação de Jean Ziegler ao FMI, de ter forçado os pobres a produzir para exportação, não se sustenta nos fatos. Se, por exemplo, os países pobres tivessem feitos como nós e desenvolvido o agronegócio, não estariam sujeitos à miséria e à fome. Produção de subsistência não garante alimentação farta para a população de nenhum país. Como representante da ONU o sociólogo Jean Ziegler está agindo mais como provocador de polêmica do que analista.

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