Total de visualizações de página

sexta-feira, janeiro 25, 2013

Um adeus a Sued Pinheiro



Escrevo ainda transtornado pelo impacto da notícia de que Sued Pinheiro morreu, ontem, do coração. Sued, mal chegado a casa dos cinqüenta anos, foi um indiscutível amigo e parceiro, nos últimos doze anos, de bons e maus momentos. Uma inteligência notável, inclusive com uma memória prodigiosa, mesmo sendo extremamente polêmico, era, ao fim, uma pessoa de grande coração e sentido de justiça que, muitas vezes, procurou contra seus próprios interesses. Foi, sem dúvida, nos últimos dez anos, uma figura central do jornal Alto Madeira que, sem ele, talvez, não tivesse tido alguns dos seus momentos memoráveis e até travado combates inglórios, porém, de extremo sentido social.
Como muitas pessoas criativas Sued era um inconformado que, na maior parte das vezes, chegava a ser inconveniente ao dizer verdades (e, muitas vezes, elucubrações de meias verdades) que ninguém desejava ouvir. Negava ser jornalista e se dizia publicitário, porém, tinha uma alma de repórter investigativo na medida em que, não só desejava saber tudo, como explicar. Não cuidava de si mesmo, pois, sofria de uma diverticulite que sabia ser necessário operar e estava muito além do seu peso ideal. Ainda assim comia e bebia muito, inclusive refrigerantes e salgados, o que, obviamente, não devia lhe fazer bem. Ultimamente insistia comigo para fazermos uma sociedade e criar um pequeno bistrô tendo como especialidade bacalhau. Antes já tentará me seduzir com a proposta de criar um bar. Não nego que me atraíam suas propostas, porém, uma coisa que Sued nunca teve foi paciência e apego a detalhes que são necessários a um plano de negócio. Seus planos eram realizados a partir de sua cabeça privilegiada, mas, como economista, tenho obrigação de resistir à falta de previsibilidade e de planejamento. Por causa de tais objeções, concordamos em conversar em fevereiro sobre o bistrô. A ceifadora antecipou-se aos nossos planos e levou-o inesperadamente.
Como estou fora de Rondônia não sei se chegarei a tempo de lhe dar o último adeus. Já sinto o vazio que deixa e a falta que fará à sua família e amigos, que cultivava com uma tenacidade diária. Claro que não era uma pessoa fácil nem perfeita, mas, sempre foi amigo dos amigos, um lutador que, infelizmente, se vai sem ter alcançado as glórias que merecia. E há um traço dele que será inesquecível para quem compartilhou de sua amizade: o seu humor. Sued oscilava entre um humor ingênuo, satírico e, algumas vezes, fino e difícil nas suas abstrações demasiado humanas. Com ele morre a coluna o “Candiru do Madeira” que, em certo sentido, ironicamente, tem muito de sua personalidade e de sua alma insatisfeita de ser humano e de artista que, agora, repousa em paz. Com a morte de Sued, Rondônia, Porto Velho, fica, sem dúvida, muito mais pobre de humor, de cultura e de humanidade. E, diante da impotência que nos assoma, só é possível mesmo recordar e chorar. 

segunda-feira, janeiro 21, 2013

Reforma de faz de conta




Reforma, o nome já está dizendo, é algo que se faz quando o que existe tem problemas. Em geral se reforma algo que não está dando certo seja uma casa, uma política ou um governo, no fundo, se precisa consertar algo que não funciona direito. O sentido seria o de melhorar, buscar a solução de alguma coisa ou de mais espaço ou conforto. Ocorre que, em política, como se sabe, reforma vira redistribuição de cargos. E, na grande maioria das vezes, não se melhora, nem se conquista espaço, mas, se faz trocas pela pressão dos problemas políticos, ou seja, quem faz cede às circunstâncias e faz trocas cedendo poder. Não deve ser muito diferente com a reforma que anuncia a presidente Dilma Rousseff que, tem como fito apenas acalmar o PMDB e PSD. Não é uma questão gerencial. É uma questão de tentar rearrumar o tabuleiro do xadrez eleitoral de 2014.
Começa pela cessão ao PSD do recém-criado Ministério da Pequena Empresa. Fruto de pressão das entidades dos micros e pequenos que desejavam mais espaço e, mais uma vez, são frustrados. Como em todas as iniciativas deste segmento o poder federal sempre atende sem nada dar de fato. Nem precisa lembrar do Estatuto da Micro Empresa ou o Simples que, são melhoras pontuais que somem na burocracia, no exercício efetivo. A operação se repete: conseguiram um ministério para, ironia maior, premiar Kassab, um administrador que, por descuido, ajudou o PT!Também se fala, com outros ministérios, em se premiar o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, e o peemedebista Gabriel Chalita, ex-PSDB, que ajudou a eleger Haddad. E, se comenta, o PMDB vai ganhar o Ministério da Ciência e Tecnologia. Não serão, pelo jeito, alterações significativas. Só mesmo um cala boca, uns afagos pontuais. Ainda assim Dilma, por menos alterações que faça, até agora, só nos dois primeiros anos do mandato, trocou 15 ministros!
O ponto nevrálgico da questão é de que este tipo de reforma, como tantos outros similares, peca por não ter efeito prático nenhum. Não muda a forma de governar, não aprimora o governo, não se faz em busca de melhor execução e eficiência. Nem mesmo, em termos políticos, faz sentido. Os partidos somente topam entrar neste jogo pelos cargos ou na tentativa de criar feudos, sem preocupação outra que não a de buscar formas de empregar aliados ou gerar fundos, ou seja, plantar as sementes de escândalos futuros. É a partilha de um botim imaginário que pode, ou não, ser concreto. Mas, nada significa, em termos de coalização ou apoio ao governo. É, de ambos os lados, um faz de contas. É só a propaganda de que se muda, mas, somente dançam os nomes em torno das cadeiras. A política real está longe de passar por tais reformas e, se não houver uma mudança real, a fama de “gerentona” de Dilma irá se desgastar com a continuidade da falta de execução e o aumento contínuo dos restos a pagar, que tem sido marca de seu governo. Não será esta reforma que irá alterar os pífios números da economia. É preciso que se mudem os rumos da política econômica. 

segunda-feira, janeiro 14, 2013

Porto Velho está perdendo sua alma?



Sem embarcar no famoso (e inconseqüente movimento “A culpa é das Usinas”) nota-se, nos últimos tempos, um grande desencanto com nossa capital. Em parte isto se explica porque, no passado, havia uma interação muito rica entre as pessoas, uma diversidade cultural e uma melhor qualidade de vida, até de vida noturna, que era palpável e centrada numa série de locais diferentes. Hoje, seja pelo crescimento de igrejas, pela falta de segurança e de transportes públicos confiáveis, houve uma sensível queda dos “terceiros lugares”, locais que não são a casa nem a empresa, como cafés, bares, livrarias, em que é possível estabelecer relacionamentos menos formais. É uma contradição que a modernidade tenha nos dotado do shopping, porém, nos retirou locais tradicionais de encontro e de troca de informações. É uma ironia que o progresso, que nos faz crescer, diminua a qualidade de vida que tínhamos, o que desperta nas pessoas mais antigas de Porto Velho uma certa nostalgia.
Impressionante é que se afirma que, ao contrário de Rio Branco, não temos identidade. Não sou adepto desta tese. Penso que o que parece ser falta de identidade se identifica com o cosmopolitismo que sempre nos caracterizou: fruto de um projeto multinacional, a Madeira Mamoré, sempre fomos voltados para o espaço exterior, para o novo e cultivamos um traço de tolerância e de diversidade que, no meio da selva, sempre nos tornou pós-modernos. Sem que se planejasse, e muitas vezes, de forma planejada, nos constituímos num laboratório de novas experiências, seja a da borracha, da cassiterita, da corrida do ouro, da colonização ou, mais recentemente, da energia. Projetos como planejamento participativo, zoneamento ecológico ou Saída para o Pacífico não brotam aqui, por acaso. De uma forma ou de outra, Porto Velho, ao longo do tempo, tem sido um imã de pessoas criativas de todo o Brasil, e, em certos momentos, do mundo.
O estranho é que, quando nos tornamos um centro universitário, aqui vicejam três cursos de Medicina, e pululam muitos outros cursos universitários, a cidade parece ter se tornado menos atrativa, pior mesmo. Um fator todos sabem que pesa: a péssima governança. O que denominamos de Economia Criativa, as artes, a música, o conhecimento e até mesmo o artesanato e os esportes, se encontra abandonado pelas autoridades. É um sintoma significativo que o Teatro Estadual tenha atravessado diversas gestões governamentais sem ser concluído. Hoje, as pessoas de talento, de cultura, que são a fonte do desenvolvimento, cada vez mais, exigem qualidade de vida e preferem lugares que sejam diversificados, tolerantes e abertos a novas idéias, inclusive sob o ponto de vista do financiamento econômico. É preciso discutir o que se pretende para Porto Velho e que se tome medidas para que volte a ser um pólo de cultura, de criatividade artística, cultural e tecnológica. Se as coisas continuarem como estão, o desencanto, mediado pela violência, o trânsito horroroso, a má educação e a falta de infraestrutura, inclusive de energia, nos deixará, efetivamente, sem alma na medida em que as pessoas de educação elevada e de cultura, que são o nosso principal recurso, desistam da nossa cidade cansados pela falta de oportunidades e de apoio.

Ilustração: fotos.noticias.bol.uol.com.br

terça-feira, janeiro 08, 2013

O Brasil e a sustentabilidade do futuro


O Brasil começa 2013 imerso em grandes problemas em relação ao seu futuro. É evidente que, qualquer que seja ele, o país sempre irá pesar no contexto mundial por seu tamanho, porém, sua maior influência depende muito mais do que será capaz de realizar internamente do que se pensa. Efetivamente, o país não poderá continuar posando de grande nação se não obtiver, como acontece com a China e com a Índia, expressivos índices de crescimento e, como se sabe, nossos resultados têm sido, para não ser muito crítico, raquíticos. Crescer 1%, em 2012, significa, de fato, um retrocesso que não pode ser explicado, como teimam em nos querer impingir, por causa de fatores externos. Afinal, atrelados como temos estado, ao império chinês, nós acabamos por nos beneficiar de sua ascensão.
Os problemas de crescimento brasileiro repousam nos seus próprios empecilhos internos. A grande realidade é que ainda vivemos do modelo de ajustamento das contas proposto para o Plano Real, que não era um plano de crescimento, mas, de estabilização. Se o governo FHC, com todos os problemas que tentam lhe creditar, teve um grande mérito foi o de modernizar o país, ao começar e fazer com sucesso,a estabilidade da economia, definindo o tamanho das dívidas públicas, equacionando-as, criar a responsabilidade fiscal e fazer o dever de casa da privatização. Não fazia sentido, e hoje faz muito menos, termos, como temos, uma porção de estatais esvaindo recursos públicos, mal dirigidas, como sempre são e serão, por questões políticas. Se levantados os tapetes que escondem os ralos de recursos públicos que somem via estatais e fundos públicos, se terá um verdadeiro retrato da má administração que as estatais praticam. Soma-se a isto a má administração também da administração direta que empurra ano após anos, projetos em execução, via restos a pagar, aumentando o déficit de infraestrutura e os custos de execução. O superfaturamento, e as obras inacabadas país afora, são uma evidência forte da falta do dever da casa do governo. Nada mudou em relação ao gasto público. O governo continua a ser um desperdiçador de recursos e um péssimo executor, apesar dos discursos inflamados e dos números inflados de execução dos PACs emperrados.
Para fazer frente a isto a solução encontrada não foi o melhor caminho. Executam-se medidas pontuais, como a queda da taxa de juros e a desoneração de setores, sem um ataque global aos problemas da competitividade. A intervenção governamental abrupta e autoritária assusta os investidores e o resultado é o previsível: os investimentos somem. E isto numa hora em que o consumo, expandido via crédito, esbarra no endividamento. É preciso retomar o caminho adequado. O governo precisa deixar de querer dizer ao setor privado o que deve fazer. Precisa é fazer sua função, melhorar seu desempenho, cuidar de gastar bem seus recursos e de dar segurança jurídica e facilitar os negócios, fazer as reformas necessárias, como a tributária e a das relações trabalhistas. Se continuarmos a empurrar os estrangulamentos nacionais com a barriga somente estaremos contribuindo para um futuro insustentável.