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quinta-feira, março 06, 2025

O SUCESSO DO DIA DO CONSUMIDOR

 


Criado pelo então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, para ressaltar que os consumidores tinham direito à segurança, informação e liberdade de expressão, como Dia Mundial dos Direitos do Consumidor comemorado, pela primeira vez, em 15 de março de 1962, a data provocou debates e estudos tornando-se um marco na defesa dos direitos dos consumidores. No Brasil, porém, isto aconteceu muito tempo depois e a comemoração se centrou mais em ações promocionais com foco nos clientes e se consolidou somente em 2014, muito por conta da iniciativa do comparador de preços Buscapé. Esta consolidação ocorreu em virtude da campanha que instituiu a data em parceria com mais de 500 empresas de e-commerce que atuavam nacionalmente, como Walmart, Americanas, Netshoes, Centauro, Dell e outras varejistas digitais que se engajaram na celebração no país.

O Dia do Consumidor, todavia no nosso país tem suas peculiaridades, pois além de ser voltado para celebrar os direitos dos clientes, também é uma ocasião para as empresas empregarem boas práticas no relacionamento com os clientes, bem como realizar campanhas com o objetivo de melhorar o engajamento do seu público buscando idealizá-los. Também, o que muitas empresas estão fazendo, é não se restringir apenas ao dia e sim dedicar uma semana inteira a oferecer ações e ofertas que podem contribuir para movimentar os seus negócios. No bom sentido, assim como aconteceu com a Black Friday, o que procuram é aproveitar uma data para criar uma estratégia de relacionamento e vendas. Muitas prepararam sob a denominação de “Semana do Consumidor” eventos, promoções e preços especiais para fidelizar os seus clientes e capturar novos clientes.  

Cada empresa tem suas características, seus planos de marketing e formas de relacionamento com seu público, mas é crescente o interesse que está despertando o Dia do Consumidor, que acontece no dia 15 de março, e está se tornando uma data tão relevante para o varejo que o Google já o considera uma das grandes datas do primeiro trimestre. E são tantas as ações promovidas, em termos de Brasil pelas empresas, que, com certeza, o Dia do Consumidor já se tornou parte do calendário de compras, e, cada vez mais,  os consumidores  estão tomando conhecimento da data e  se preparando para  as promoções e as oportunidades. Neste sentido o varejista que, atualmente, não se preparar para o Dia do Consumidor perde as chances de surfar numa nova brecha que pode ser um excelente momento para aumentar sua clientela e o faturamento. Quem tem utilizado muito bem a data são as empresas de e-commerce que andam aderindo e investindo forte na sua celebração. E isto tem se refletido claramente num aumento de mais de 90% nas buscas, no mês de março, do termo “Dia do Consumidor”, em relação à 2024, segundo o Google Trends, o que demonstra que a data vai se consolidar, efetivamente, como uma das melhores datas do comércio no primeiro trimestre do ano.

segunda-feira, fevereiro 24, 2025

ALÉM DA SUPERFÍCIE DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS

 


Segundo o Sebrae, em 2024, no Brasil foram abertos 4.141.455 novos negócios, o que representa 9,9% de crescimento em relação ao ano anterior. Este resultado, sem uma análise, parece ser excepcional e indicar que a economia brasileira passa por um momento ímpar e que as políticas governamentais estimulam o empreendedorismo. Ledo engano. Se formos examinar atentamente o primeiro sinal que desmancha este olhar superficial é a constatação de que, nada mais, nada menos, que 2.100.000 negócios fecharam suas portas, o que representa 50,5% dos novos negócios. No setor varejista é pior ainda: para cada 10 novos negócios 6 fecharam suas portas, o que mostra que o ambiente de negócios está longe de ser favorável e em expansão. E, é preciso assinalar, que dos novos negócios 3,1 milhões foram Microempreendedores Individuais (MEIs, 74,4%) e 874,1 mil (21%), microempresas, ou seja, os novos negócios que surgem são predominantes pequenos, de uma faixa com pouco capital e alta mortalidade. Ainda mais o saldo líquido anual das empresas revela uma tendência preocupante quando examinado no atual governo Lula da Silva, pois, em 2022, foi de 778.749 empresas, caindo para 642.184 em 2023, e, em 2024, declinando para 628.554. Esta progressão, no governo atual, torna muito discutível as políticas atuais de estímulo ao comércio e ao empreendedorismo pelo resultado ser inferior ao último ano do governo Bolsonaro, principalmente levando em conta que este enfrentou uma pandemia. É difícil, portanto, defender a eficácia das políticas atuais em relação ao setor empresarial. Isto, aliás, se reflete nas queixas do empresariado que alegam que os problemas aumentaram no atual governo por conta de impostos, de alterações na legislação, aumento dos combustíveis, juros mais altos, problemas de câmbio e de inflação. Em suma: o ambiente de negócios ficou mais hostil do que era. Por conta, principalmente de uma carga tributária mais alta, de aumento da burocracia, da insegurança jurídica, que aumentou muito, embora o governo alegue que facilitou mais a abertura de empresas, efetivamente, no conjunto pioraram muito as condições estruturais para que as empresas passem da fase de abertura e sobrevivam ao longo do tempo. Pelo menos no que tange aos negócios a grande realidade que o problema não é de comunicação. Os publicitários oficiais têm se esforçado em promover fatos e números positivos, a imprensa também ajuda (e até esconde os negativos), porém a economia é uma ciência triste porque, no final, sempre o que importam são os índices, os números e, em particular, para as empresas e pessoas o impacto que sentem no bolso. É isto que separa a visão otimista que o governo tenta vender, via publicidade oficial, de quem tem ou abre um negócio e tenta sobreviver e progredir: não há um caminho onde não esbarre com o estado impondo dificuldades e ônus para os que produzem e desejam criar um negócio sustentável. Até mesmo quem mais ganha com os juros altos, o mercado financeiro, reclama do governo por sentir que o ambiente de negócios não é nada favorável para a economia real.

sexta-feira, fevereiro 14, 2025

GENTE DE OPINIÃO: UMA TRAJETÓRIA DE SUCESSO

 


De repente são 20 anos. De repente? Não, pois a história de sucesso do Gente de Opinião é uma trajetória que envolve muitas pessoas, muitas notícias, muito trabalho. Gente de Opinião, aliás, começou de uma forma singular: reuniu alguns jornalistas que participaram de um programa de TV, que teve curta duração com o mesmo nome. O que ficou alimentado por reuniões entre amigos na casa de Paulo Corrêa, redator por anos do Alto Madeira, entre outras atividades, foi a ideia muito democrática de dar voz as vozes dissonantes. Ao contrário de querer moldar a opinião das pessoas o Gente de Opinião surgiu da ideia de permitir o debate, as opiniões diferentes para que o leitor forme sua opinião. Esta base forte é o que gerou sua credibilidade e persistência. É claro que isto não seria possível sem o respeito irrestrito aos que escrevem, ou seja, o site, em momento algum, tolheu ou interferiu no que seus colunistas escrevem assim como procura divulgar as notícias sem pretender impor um ponto de vista. O ponto de vista quem deve ter é o leitor ou o colunista. Por esta posição é que conseguiu reunir em torno de si tantos e tão diversas personalidades de nossa imprensa e de nossa intelectualidade.

Nomes como os de Abnael Machado, Antônio Candido, Antônio Fonseca, Ciro Pinheiro, Carlos Henrique Angelo, Dante Fonseca, Francisco Matias, Leo Ladeia, Lucio Albuquerque, Marli Gonçalves, Orlando Jr., Osmar Silva, Paulo Saldanha, Robson Oliveira, Sandra e Samuel Castiel, Vinicius Carrilho, Silvio Santos, Viriato Moura e Yêdda Borzacov são exemplos, entre tantos outros, da diversidade, do ecletismo de temas e de opiniões que desfilaram pelo site Gente de Opinião nos seus anos de existência. Mas, há muito mais a ser dito e muito mais foi visto. Basta verificar que o canal de Youtube do site possui mais de 32 mil seguidores, afora o fato de que tem sido mantida durante todo este tempo uma parceria que assegura muito maior difusão e reconhecimento com o grupo SIC do jornalista Everton Leoni. É preciso também dizer que, além de tudo, o site tem sido um repositório de nossa história ao mante, e de tempos em tempos, recuperar palavras e fatos do passado seja por remeter a um vídeo ou notícia antiga, seja por manter a coluna de personalidades que participaram da construção do nosso Estado ou registraram suas opiniões em colunas. Neste sentido o Gente de Opinião possui um rico acervo que é fruto de um trabalho constante de acompanhar a vida e o cotidiano de nossa cidade e de nosso Estado, daí ser uma das principais fontes de pesquisa sobre a história de Rondônia. O maior legado, porém dos 20 anos do Gente de Opinião é o de informar sem fronteiras. Assim possui colunistas de todas as partes do país e abre seu espaço seja para leigos, seja para a comunidade acadêmica com a mesma generosidade e o objetivo único de informar. O que importa para o Gente de Opinião é dar informações a quem procura. É mostrar que a notícia importa e a grande protagonista de quem procura formar sua opinião. Viva os 20 anos do Gente de Opinião. Trazendo notícias e fazendo história.

quinta-feira, janeiro 23, 2025

REVOGAR AS NORMAS FOI UMA DECISÃO ESTRATÉGICA

 


Embora grande parte do próprio governo trate a revogação das novas normas da Receita Federal como uma derrota, de fato, não é. A revogação foi a minimização de um grave erro político e econômico. Não se justifica nem mesmo pela necessidade de caixa na medida em que não houve nenhuma avaliação dos efeitos econômicos terrivelmente fortes da medida. Não se trata, como tentaram dizer, de fakes em relação à taxação do Pix, mas sim que a medida, além de invadir fortemente a privacidade das pessoas, somente se justifica como uma forma de fiscalização quase total dos atos econômicos. Claro que é uma tentativa de minimizar a sonegação, mas num ambiente de diminuição da atividade econômica e de aumento da carga tributária com inflação, se trata, na prática, de uma forma de, no presente, dificultar a vida das pessoas e, no futuro, aumentar receita, pois a movimentação financeira de qualquer empresa ou cidadão sempre será muito acima de seus rendimentos. No mínimo, se teria que explicar o que, hoje, não é necessário, ou seja, de qualquer forma é o governo obrigando o cidadão a fazer o que não quer e, pior, não em virtude de lei, mas por força de normas feitas por burocratas, o que, aliás, acontece demais no nosso país. A alegação de que a medida permitiria a identificação de movimentações suspeitas e o combate a fraudes, embora verdadeira, com os valores baixos com que foi editada, porém iria permitir à Receita Federal cruzar dados e fiscalizar pessoas físicas ou jurídicas de empresas e famílias com rendas muito pequenas. Assim seria um novo instrumento fiscal potencialmente prejudicial à população de baixa renda, especialmente à grande parcela de trabalhadores que vivem na informalidade. Por mais esforços que o Governo e a Receita Federal tenham feito de comunicação os trabalhadores sentiram que seriam prejudicados, daí a grande pressão popular. Os informais de áreas como cabeleireiros, manicures, pipoqueiros, vendedores ambulantes, garçons, motoristas de aplicativos, diaristas e até flanelinhas entre tantos outros, perceberam que se o monitoramento fosse adiante, a solução era abandonar o Pix, que facilitou a vida deles, e voltar a solicitar pagamento em dinheiro. Um imenso retrocesso. Nenhum argumento seria capaz de justificar ou tornar palatável uma medida tão impopular. O governo teve que voltar atrás ainda que, para salvaguardar a pele, argumentando que irá fazer uma medida provisória. Se fizer irá desencadear outro tsunami. Não é uma questão de política. É uma questão econômica que, seguramente, não cria impostos, mas cria dificuldades e a possibilidade de cobrança posterior de multas e impostos. O governo, acredito até que orientado pelo novo gestor da comunicação, de olho em 2026, tomou uma decisão estratégica. O desgaste de um tipo de medida desta seria, e será se retomada, muito grande, especialmente porque, efetivamente, atinge os pequenos empreendedores e os mais pobres. Não há comunicação possível capaz de esconder o que dói no bolso.

 

NOVAS REGRAS SUFOCAM O SETOR INFORMAL

 


As novas regras da Receita Federal, por mais que tentem dizer o contrário, se destinam a arrecadar mais. Nenhum analista que se preze dirá o contrário. É um aperto- é dos grandes- sobre o setor informal, em especial os micro negócios e profissionais liberais. O maior problema é que, além de mexer com os setores mais pobres da sociedade, incomoda todo mundo e, no limite, invade a vida particular das pessoas. Quem, por exemplo, dividir despesas, jogar em conjunto, tiver atividades sociais em que recebe dinheiro alheio ou até tiver uma amante está sujeito a ter sua vida devassada. Por mais que se tente, com publicidade ou declarações de autoridade, imputar as Fake News as repercussões negativas, há o fato incontestável que o estado aumenta sua lupa sobre os recursos privados de uma forma quase total. Ao, praticamente, invadir todos os espaços econômicos, o governo passa a ter um controle sobre a vida das pessoas que jamais teve. Acompanhar toda a movimentação financeira das pessoas não é a mesma coisa que taxar apenas a renda, pois há relações sociais, inclusive de quem já pagou imposto de renda, que são informais e não se justifica o governo, a partir do montante que a pessoa movimenta, exigir explicações que ninguém quer dar. Quem não se sente ruim em todo movimento que fizer ter que explicar? Muitas vezes divórcios acontecem por causa similar.  Além do mais, em especial nos negócios informais, grande parte do que se movimenta não é renda e sim insumos ou algum tipo de necessidade que o informal possui para ganhar dinheiro. A verdade que, em geral, esta renda de grande parte deles, não é renda e também, mesmo o que é, não é taxada. Mas, convenhamos, taxar pipoqueiros ou moto boys, embora vá acrescentar recursos ao governo, implica em tornar uma vida que já é difícil mais difícil ainda. Há sim clandestinidade nestes ganhos e somada é significativa, porém, convenhamos, se taxados o custo de seus trabalhos será muito maior, com impactos significativos, na inflação e com um problema adicional: os mais pobres não possuem, na sua quase totalidade, um acompanhamento de seus negócios. Muitos nem sabem quanto movimentam e serão a essas pessoas que, no fim do ano, serão apresentadas contas que não terão como explicar nem saber como enfrentar a questão. O que sempre se espera de um governo, ainda mais de um que, supostamente, é voltado para o social, é que não dificulte a vida das pessoas e é isto que o governo está fazendo com sua voracidade fiscal. Não há estratégia de comunicação capaz de esconder o que dói no bolso e vai doer em especial sobre os informais que serão detectados e cobrados por recursos que não terão: a grande maioria se vira para sobreviver. Afora outros impactos colaterais como gastos com contadores ou perda de ajudas sociais. A vida de grande parte da população mais pobre não ficará apenas mais complexa e sim muito mais difícil. O estado, de fato, não somente atrapalha a vida do microempreendedor somente. Com as novas medidas o irá impedir de ter a possibilidade de se capitalizar, de ascender socialmente. É uma medida que, se não for revogada, irá corroer, com certeza, o que ainda resta de credibilidade do governo federal.

domingo, dezembro 22, 2024

POR UM NOVO OLHAR PARA 2025

 


Quando chega o fim do ano, por mais difícil que a vida esteja, as esperanças são renovadas. Até quando se pretende negar sempre colocamos uma boa carga de expectativas positivas em relação a um ano que se inicia. No mínimo idealizamos uma mudança que pode incluir novos projetos, planos nunca realizados, sonhos que serão somente sonhos. Por isto sempre celebramos o fim do ano por meio de festas que, esperamos e torcemos, seja um marco para um novo (e feliz) tempo. A verdade é que sempre deixamos para trás o ano que termina com a esperança de que ingressamos numa nova etapa da vida inevitavelmente- desejamos ou acreditamos mais brilhante e de maior prosperidade. Bem isto não nos deixa, porém isento da oportunidade de verificar que, no começo do ano, os “especialistas” apostavam num futuro previsível e projetavam, por exemplo, o dólar a R$4,90, a Selic a 11,75%, o Ibovespa a 132 mil pontos, e o S&P 500, em reais, alcançando 4.700 pontos. Que otimismo, hein! A realidade de dezembro, porém é outra: o dólar disparou para mais de R$6,00, a Selic flutuou para baixo, mas apenas levemente (11,25%), o Ibovespa fechou em 125 mil pontos, abaixo das expectativas e a inflação subiu. E, se formos nos basear na realidade brasileira as nuvens no horizonte não nos deixariam sonhar com um ano novo muito melhor. Aqui, porém vamos nos valer de um pensador brasileiro excêntrico já falecido, o nosso inesquecível Paulo Francis que escreveu, com muita propriedade, que “A vida é muito mais variada, anárquica e imprevisível do que sonham os ideólogos”. Porém, nossa ideia não é a de descartar nem a realidade nem as previsões, sejam otimistas ou não. Afinal elas podem nos fornecer, sim, pistas sobre o futuro, sobre os cenários possíveis e nos prevenir sobre os problemas que sempre existirão. Nós, no mundo moderno, temos é que nos acostumar a conviver com as incertezas e buscar formas de ter um portfólio diversificado de projetos e investimentos que reduzam nossas dependências do imprevisível. Difícil é, mas não impossível. A grande verdade é a de que vivemos tempos de mudanças tão rápidas que nem dá tempo de sentir que o futuro chegou e, muitas vezes, continuamos a olhar para o presente com os olhos do passado, de modo que nos sentimos completamente despreparados para o que acontece. Então o que me move é convidá-los para a aventura de olhar 2025 com um olhar diferente. Pensar no que é possível mudar nas nossas práticas diárias para nos sentirmos mais leves, ter uma forma menos difícil de viver. Olhar as coisas sobre uma nova perspectiva, com certeza, fará uma enorme diferença. Talvez se aventurar tendo em vista às tendências tecnológicas como mudar nossos processos, como inovar o que fazemos. Até mesmo procurar realizar uma integração sobre as novas tecnologias e o nosso cotidiano. Sei que não se trata de uma tarefa simples, mas pode ser altamente recompensadora. As mudanças começam por perguntas novas, por buscar parcerias, novas possibilidades, em olhar o que fazemos de outra forma. Não há mudanças rápidas. Elas começam com pequenos gestos, por mudar o que se faz no dia a dia. Olhar as coisas com um novo olhar é o caminho para um 2025 melhor.

Ilustração: Vida Simples.

sábado, dezembro 07, 2024

ACORDO MERCOSUL-EU E SEUS EFEITOS

 


Nesta última sexta-feira (6) foi anunciado o acordo comercial firmado entre o Mercosul e a União Europeia. O governo brasileiro comemorou o fato como um caminho para a ampliar a relação comercial com o segundo principal parceiro comercial do Brasil, e prevê um efeito positivo de R$ 37 bilhões até 2044. Há motivos afinal isto representa a maior parceria de comércio e investimento do mundo, beneficiando ambas as regiões e atingindo 718 milhões de pessoas e economias que representam um total de 22 trilhões. Mas, mesmo sendo um acordo ganha-ganha no geral, todavia há diferenças na forma como atinge os países e os setores. Basta ver a reação de agricultores franceses que dizem que o acordo é o fim da agricultura local e a ministra de Comércio Exterior da França, Sophie Primas, afirmou que lutará contra a aprovação do acordo, quando houver a votação interna. É preciso ver que para que o tratado seja assinado, e entre em vigor, são necessárias ainda a aprovação por duas instâncias dos países da União Europeia: o Conselho de Ministros e o Parlamento Europeu, sediados em Bruxelas, capital da Bélgica. O grande objetivo do acordo, além de outros temas que contempla, é a redução das tarifas de importação entre os blocos que pode ser imediata ou gradual (em até 15 anos), dependendo dos setores. Esta liberação deve atingir 91% dos bens que o Brasil importa da União Europeia e, do outro lado, 95% dos bens que o bloco europeu importa do Brasil. Um dos efeitos será o aumento das exportações do agronegócio, que um estudo do IPEA prevê ganhos acumulados de produção da ordem de US$ 11 bilhões, até 2040, enquanto o saldo da indústria da transformação seria mais modesto, com ganho de somente US$ 500 milhões no mesmo período. Aliás, segundo o estudo, vamos ter ganhos de produção em quase todos os setores do agronegócio e perdas concentradas em alguns setores industriais. Há a possibilidade do consumidor ser beneficiado com o barateamento de produtos importados, como azeites, queijos, vinhos e frutas de clima temperado (frutas secas, peras, maçãs, pêssegos, cerejas e kiwis), bebidas e laticínios, porém isto depende também da taxa de câmbio e de outros fatores que afetam os produtos. Também o consumidor pode ter benefícios indiretos graças à modernização da produção brasileira que poderá fazer a importação de máquinas e insumos a preços menores.  A indústria brasileira terá que se reinventar na medida em que deve ter quedas em setores como veículos e peças, têxteis, farmacêuticos e equipamentos eletrônicos, embora a perspectiva seja de crescimento de outros setores, como calçados e artefatos de couro, celulose e papel, e outros equipamentos de transporte (o que não é automotivo, como aviões e navios). Esta preocupação com os setores mais vulneráveis esteve presente na negociação, pois foram feitas salvaguardas no acordo para evitar uma enxurrada de importações no setor automotivo e estimular investimentos para a produção no Brasil. A Europa aceitou essas condições por causa da crescente presença chinesa no mercado automotivo brasileiro, setor que historicamente tem forte atuação de multinacionais europeias, como Fiat e Volkswagen. Neste sentido o acordo deve afetar o setor automobilístico chinês, de vez que a suspensão de tarifas para carros da Europa altera a competitividade das marcas chinesas. Mas, resumindo o acordo é muito positivo para o Brasil por, ainda segundo o IPEA, as trocas comerciais com a UE provocarem um crescimento de 0,46% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro até 2040. E, embora aumente a exportação de produtos agrícolas e a importação de bens industriais pode, na prática, representar a modernização das fábricas brasileiras e uma maior integração do país às redes de produção dos países europeus.

segunda-feira, novembro 25, 2024

TEMPOS DIFÍCEIS

 


Que tempos não são difíceis? Há tempos que não o são? Sei lá. Sei que é difícil viver em qualquer época e, como não vivemos as outras, a nossa sempre nos parece a pior de todos os tempos. A questão de medir as dificuldades não pode, porém ser separada do tempo que nos foi dado viver. E, mesmo neste tempo, as dificuldades, como aquele sábio senhor disse, como todas as outras coisas são relativas. Inteligências geniais como as de Balzac, Shakespeare, Dostoievski, Proust e Fernando Pessoa escreveram o necessário sobre a natureza humana e os tempos difíceis. Recordo, por ser inesquecível a passagem de Falstaff reclamando de sua época (“Que tempos são esses?”). Nem vou citar o clássico em que se afirma que o mundo está fora do eixo. Não sei se sempre esteve ou se está sempre se desviando lentamente, mas falar de tempos difíceis no Brasil é como chover no molhado. Basta pensar que, por aqui, os tempos difíceis são propagados musicalmente. Quem não lembra do Legião Urbana “Nas favelas, no senado/Sujeira pra todo lado/Ninguém respeita a constituição/Mas todos acreditam no futuro da nação/Que país é esse?/Que país é esse?/Que país é esse?”. É um país sui generis que suporta, sambando, jogando futebol e fazendo piada, a repressão, a censura, a vida em permanente temor, a angústia cotidiana e compulsória, sem jamais constituir uma sociedade verdadeira, de vez que o individualismo e uma espécie de “pragmatismo canibal”, nos anima a transformar em memes mesmo as coisas mais dolorosas. E quando não se pensa que se possa piorar mais as coisas sempre se arranja um meio, um modo, um jeitinho brasileiro de torná-las pior. Até que chegamos a uns tempos em que a desconexão, as leis e o poder se tornaram quase irreais e, ao mesmo tempo, muito mais poderosas. Imersos numa aldeia global, num envoltório hiperconectado por celulares e redes sociais, assistimos impotentes serem impostos, sem pensar no bem comum, as pautas mais loucas. Por exemplo, agora discutimos a ideia de reduzir a jornada de trabalho, segundo dizem para proporcionar mais o tempo livre, mas será possível fazer isto por decreto? Será que esta medida não irá trazer uma queda da renda? Da produtividade e competitividade do país? A ideia tentadora, e fácil, não pode, por exemplo, afora quebrar empresas e desempregar,  atrair os de menor renda, com mais horas livres, para o mundo das apostas, do dinheiro fácil e rápido, para buscar saídas financeiras imediatas?  A combinação também desconexa do que se legisla com a realidade brasileira parece se acentuar cada vez mais. É como se os poderes públicos marchassem contra a modernidade ao querer agir como se pudessem nos trazer o futuro, iluminados que são, apesar de nós, pobres brucutus, não desejarmos o que nos é imposto. Enquanto reclamamos da inflação, do descontrole das contas públicas, dos impostos altos e da burocracia as respostas que recebemos não criam nem falsas esperanças de que seremos atendidos. Neste passo, como o desenvolvimento só é possível pela construção de um projeto de país e é impossível fazê-lo sem que as pessoas possam ter liberdade de opinião e se sintam representadas, os tempos ficam ainda mais difíceis. E todas as esperanças se esvaem no vazio brasileiro da falta de representação.