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terça-feira, maio 23, 2006

É PRECISO SER MODERNO

Os problemas oriundos da crise do “Mensalão”, fatos como as das operações “Sanguessuga” e os ataques de São Paulo são sinais efetivos que em face do país não ter feito o seu dever de casa, de não criar instituições capazes de equacionar as demandas públicas, o sistema político começa a apresentar sintomas preocupantes de ruptura, de incapacidade de assimilar as questões levantadas o que não só cria um fosso entre povo e classe política como é o ambiente ideal para as soluções de força e o surgimento de “salvadores da pátria”, apesar do atual, de plantão, ter prometido a esperança e estar nos ofertando o medo.
Não há como não lembrar que o país tem no cerne de seus problemas a falta de crescimento econômico, no último decênio, que se sabe oriunda da ausência de uma série de reformas modernizantes que não foram implantadas, daí que voltem sempre, em todo e qualquer, governo exigindo a ação que tem faltado. O pior é que há um consenso absoluto sobre a necessidade das reformas política, tributária, trabalhista e sindical e a do Estado. Por que não se faz? Por que nenhuma delas tem a mínima chance de ser resolvida em curto prazo? A resposta reside em que o Brasil, por muito tempo, foi um país de privilégios, de cidadãos de classes diferenciadas, de desrespeito aos princípios basilares da ética e da moralidade, daí conseguir compor um arcabouço jurídico no qual não é o mérito que acaba por prevalecer e sim o patrimonialismo, o compadrio. O fato real é que o Brasil não alcançou a modernidade. Nunca, efetivamente, fomos nem liberais quanto mais modernos. Sempre fomos governados por dirigentes que se regem por suas igrejinhas e jamais pelo bem comum, embora hajam existidos alguns avanços.
È, por conseguinte, da forma mais radical que se coloca, urgentemente, a necessidade inadiável da reforma das reformas que é a reforma política. A violência criminal de São Paulo é um aviso duro, cruel, um chamado inadiável à realidade: até os criminosos clamam por justiça. E não pode haver justiça num país que permite que o crime se incruste nos poderes, que governe sob o manto da impunidade e no quais as elites não dêem o exemplo. Ao contrário proclamem que os amigos do rei, por serem amigos do rei, têm direito à impunidade. Que demonstre, em exemplos claros, que por ter dinheiro e acesso ao poder pode se transformar tudo em pizza. Não é possível. Não é aceitável. Não é admissível. Ou, como se fez na Itália, se faz uma operação na qual se restaura o mínimo possível de credibilidade nas instituições ou caminhamos para o desgoverno, para o caos. No quadro atual o sistema político brasileiro já deu o que tinha de dar. Ou ingressamos na modernidade ou a barbárie pode se instalar cobrando um alto preço, em vidas, no nosso país.

sábado, maio 06, 2006

A LIÇÃO DO GÁS

O presidente Lulla da Silva, que paga uma pequena fortuna, para ter um acompanhamento sistemático dos efeitos que suas palavras produzem, poderia gastar um pouco mais para contratar uma assessoria melhor. Não há comunicação que dê jeito, depois que saiu da reunião dos presidentes aceitando a tungada que Evo Morales lhe deu e ao Brasil, que convença qualquer pensador sério que não ficou com o mico. Não adianta negar que o gás vai aumentar. É claro, evidente que vai. A Petrobrás pode até inventar tecnologias, porém ainda não faz milagres. Custos são custos e, pode até, num primeiro momento, suportá-los em nome da imagem presidencial, porém, com o passar do tempo, o fardo insuportável da pressão econômica levará ao inevitável: a tungada vai doer no bolso do consumidor.
A crise do gás não é o fim do mundo. É só o assunto do momento e a prova da fragilidade da política externa “ideologizada” atual. O fato concreto é o de que não adianta confeitar o bolo, enfeitar por cima, no fim, o gosto vai estar na massa. E a política externa do governo Lulla, como em todos os setores, pretendia inventar a roda e que, para espanto de todos, a roda tivesse quadratura, daí nada rodar direito, apesar da necessidade ter obrigado a arredondar os cantos.
O erro flagrante da diplomacia brasileira, a barrigada do gás, é fruto menos da própria diplomacia do que de um projeto consistente de país que o PT nunca teve, daí a improvisação, a falta de planejamento e divulgação de meias verdades como a de que o Brasil alcançou a auto-suficiência energética quando apenas a produção de petróleo se igualou ao consumo. A crise do gás só teve o efeito de repor a verdade e, mesmo assim, de forma parcial. A grande vantagem do presidente é que não possui o menor problema em atropelar a lógica nem as próprias declarações, se necessário, politicamente. Basta ver, na crise atual, como disse e desdisse com uma naturalidade de quem não se lembra de suas palavras anteriores. No entanto-isto elle sabe-as “palavras carinhosas” com que se referiu em particular ao presidente boliviano demonstram claramente que sua estratégia latino-americana foi para o espaço como já havia ido nosso astronauta.
Fundamentalmente dar prioridade ao espaço regional não difere em muito da estratégia de política externa adotada por Fernando Henrique. A verdadeira essência, porém de tal objetivo era muito mais ambiciosa (e irrealista). Havia a vontade de criar uma nova conjuntura mundial pela união de países mais fracos como, efetivamente, foi tentado. Não deu certo. Não poderia dar. É ignorar até a própria lição e a história do Mercosul, pois sua desintegração não é fruto do acaso e sim de uma política pensada e executada com competência pelos Estados Unidos. Lulla da Silva poderia aprender, com Condollezza Rice, que “O poder conta” e usá-lo com a Bolívia. Ao aceitar passivamente o jogo adversário só fragiliza seu papel, sua liderança e a própria posição do país.