O agronegócio brasileiro é, sem a
menor sombra de dúvida, um dos setores mais modernos e competitivos do país. E
não é o mais, como todos sabem, pelos problemas derivados dos gargalos do transporte.
Em especial é o agronegócio localizado no Centro-Oeste e no Norte do Brasil,
com ênfase na Amazônia, quem mais paga pela falta de investimentos no setor. Em Rondônia há, por exemplo, o caso mais
emblemático de descaso com os transportes na medida em que todas as formas de
transporte sofrem com a falta de atenção do Governo Federal. Se olharmos para o
transporte aéreo, o Aeroporto Internacional Jorge Teixeira de Oliveira espera a
quase uma década por deixar de ser internacional só nome e ser de fato local de
voos para outros países. Em termos de transporte rodoviário é a BR-364, único
elo de ligação entre a Amazônia Ocidental e o Sudeste, é palco de inúmeros
acidentes por culpa das más condições de seu asfalto e, por fim, há o completo
descaso que experimenta a Hidrovia do Madeira.
Recentemente, em reunião em que
se discutia no Distrito Federal, num encontro promovido pela Agência Nacional
de Águas (ANA) os problemas que o rio Madeira experimenta em consequencia das
mudanças advindas das hidroelétricas do Complexo do Madeira, o presidente do
Sindicato dos Empresários de Transporte Fluvial-Sindfluvial, Raimundo Holanda,
um dos maiores conhecedores dos problemas do setor, disse com todas as letras
que "não existe hidrovia" e que o "Madeira é um rio
abandonado" justificando que faltam todos os requisitos que se exige de
uma hidrovia ao Madeira na medida em que "uma hidrovia tem que ser
balizada, sinalizada, dragada, para que se possa navegar diuturnamente".
Segundo Holanda, no Madeira só é possível navegar "empiricamente" com
a ajuda do caboclo que conhece a região. E esclareceu que a situação, hoje em
dia, é muito pior, o risco muito maior, em face de que o Consórcio da UHE Santo
Antônio "não informa o que vai acontecer, qual a previsão de enchimento ou
esvaziamento do reservatório" aumentando dramaticamente os riscos da
navegação. Há, por parte do pessoal da usina, segundo o próprio Holanda e todos
os que se sentem prejudicados com a barragem, um distanciamento que se
consolida pela imposição de um discurso técnico em que explicam que foram
feitos todos os estudos e tomadas todas as providências. É tudo muito impessoal
e bonito, mas, isto não impede que, na pratica, existam os desbarrancamentos
que infernizam a vida de Porto Velho, Calama, Nazaré e outras margens dos rio
nem os fortes banzeiros que arrastam arvores, modificam a topografia e colocam
as embarcações em risco.
É impressionante o descaso das
autoridades com um rio que, já há mais de dois séculos atrás, O Marquês de
Pombal identificou como um elo de ligação entre o Atlântico e o Pacífico, mas,
que, agora, mesmo já é responsável pelo transporte de 4 milhões de toneladas de
soja e mais 3 bilhões de litros de combustíveis. São transportados pelo
Madeira, estima-se, 400 mil carretas/ano. Aliás, o próprio Holanda explica que
os derivados de petróleo provenientes de Manaus para Porto Velho custam, em
média, R$ 60,00 o m3. Caso tivessem que vir de São Paulo teriam um custo de
frete equivalente à R$ 380,00. Ou seja, apenas a diferença de frente, em torno
de R$ 1 bilhão de reais/ano, já seria suficiente para justificar os
investimentos na Hidrovia do Madeira. No entanto, apesar de sua grandeza e
importância a Hidrovia do Madeira é uma prova do enorme descaso do governo com
os problemas da Amazônia e do setor de transportes.
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