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quarta-feira, maio 13, 2015

A crise é, acima de tudo, política


Quem mora em Rondônia sente os sinais da crise seja no seu comércio, seja na maior dificuldade de arranjar trabalho ou até mesmo na venda de serviços, ainda que temporários. Principalmente os micros e pequenos são os que mais se queixam com a sensível queda da demanda de bens e serviços. A questão não é apenas rondoniense. É um problema nacional. E não se pode nem dizer que não tenha sido anunciada, denunciada e que faltassem avisos. A questão foi que, em especial, no ano passado, com o período eleitoral, o governo se negava a ver os sinais da crise e tomar as providências necessárias e amargas que, agora, vem pretendendo tomar.
Economistas, e estudiosos de desenvolvimento, porém, sabiam, e sabem, que desenvolvimento não é um problema quantitativo, nem de aumento da demanda. Porém, o governo sempre se negou a reconhecer, mesmo quando os adota,  os indiscutíveis méritos do passado, em especial de Itamar Franco e FHC, que controlaram a inflação e permitiram que o país tivesse segurança econômica e previsibilidade. Lula, não teria tido as condições que teve para governar, razoavelmente bem, se não fosse o fato da inflação ter sido controlada, o déficit público administrado e tivessem lhe dado um país com condições de crescer. Mérito seu foi o de manter a política econômica herdada introduzindo mudanças microeconômicas e estimulando a demanda via crédito. O que fez com que houvesse uma grande sensação de melhoria, para a população brasileira, no seu governo foi o crescimento do crédito que, historicamente, sempre foi de 24% e subiu para 48% no final. O crédito, e ainda mais de longo prazo, a melhoria introduzida pela ampliação da bolsa família aliado a aumentos salariais acima da inflação, por algum tempo, criaram a sensação errada de ser possível desenvolvimento sem aumento de empreendedorismo, dos investimentos e da educação. Criou-se a jaboticada brasileira de crescimento via demanda, o que nenhum economista que se preze consegue conceber como nem sequer razoável. Acrescente-se a isto, os erros de política econômica, que não foram poucos, e a crise seria inevitável, de vez que é a cobrança da demanda excessiva, sem base no incremento da produção, uma hora teria que acontecer.

A grande verdade é que a crise tem sua raiz na ideologia de que é possível criar crescimento via o estado e que o estado tudo pode. Esta ideia errada, que levou o governo a manter políticas irreais dos preços da energia e dos combustíveis, além da intervenção desastrada das desonerações, para manter uma situação insustentável, agravaram os problemas das contas públicas e desembocaram nos aumentos da inflação e do dólar. Não há, agora, como esconder que tivemos, nos últimos tempos, uma sensível queda dos investimentos e do Produto Interno Bruto-PIB, por erros de condução da política econômica, nem existem formulas mágicas para sair da crise. O governo, no entanto, continua a não fazer o seu dever de casa quando não diminui a máquina administrativa, não melhora os gastos públicos e é incapaz de conseguir a confiança pública para criar um programa capaz de retomar o desenvolvimento. Por tal razão estamos num momento difícil onde a insatisfação é geral por se cobrar uma conta que, para a grande maioria da população, é indevida e contraria suas expectativas de uma vida melhor. Infelizmente, a crise está aí, e ainda teremos que conviver muito tempo com ela, se não houver um consenso sobre os rumos que o país deve tomar. Sob o ponto de vista econômico há até um consenso sobre as medidas que devem ser tomadas, porém, a economia é, acima de tudo, política e não se avança quando não se tem quem aponte os caminhos e tenha credibilidade para negociar os impasses. Os ajustes propostos pelo ministro Levy tem seus méritos, mas, não bastam para mudar o quadro de estagnação econômica em que estamos e, pelo jeito, sem mudanças políticas, ainda teremos dificuldade para sair do ponto morto por muito tempo. A crise, embora econômica, revela o que as ruas têm denunciado: falta representatividade e capacidade política para atender as demandas públicas que a população exige. Em suma: a crise, apesar de econômica, é, acima de tudo, profundamente política. 

Ilustração: www.jj.com.br

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