Quem mora em Rondônia sente os sinais da
crise seja no seu comércio, seja na maior dificuldade de arranjar trabalho ou
até mesmo na venda de serviços, ainda que temporários. Principalmente os micros
e pequenos são os que mais se queixam com a sensível queda da demanda de bens e
serviços. A questão não é apenas rondoniense. É um problema nacional. E não se
pode nem dizer que não tenha sido anunciada, denunciada e que faltassem avisos.
A questão foi que, em especial, no ano passado, com o período eleitoral, o
governo se negava a ver os sinais da crise e tomar as providências necessárias
e amargas que, agora, vem pretendendo tomar.
Economistas, e estudiosos de
desenvolvimento, porém, sabiam, e sabem, que desenvolvimento não é um problema
quantitativo, nem de aumento da demanda. Porém, o governo sempre se negou a
reconhecer, mesmo quando os adota, os
indiscutíveis méritos do passado, em especial de Itamar Franco e FHC, que
controlaram a inflação e permitiram que o país tivesse segurança econômica e
previsibilidade. Lula, não teria tido as condições que teve para governar,
razoavelmente bem, se não fosse o fato da inflação ter sido controlada, o
déficit público administrado e tivessem lhe dado um país com condições de
crescer. Mérito seu foi o de manter a política econômica herdada introduzindo
mudanças microeconômicas e estimulando a demanda via crédito. O que fez com que
houvesse uma grande sensação de melhoria, para a população brasileira, no seu governo foi o crescimento do crédito que, historicamente, sempre
foi de 24% e subiu para 48% no final. O crédito, e ainda mais de longo prazo, a
melhoria introduzida pela ampliação da bolsa família aliado a aumentos
salariais acima da inflação, por algum tempo, criaram a sensação errada de ser
possível desenvolvimento sem aumento de empreendedorismo, dos investimentos e
da educação. Criou-se a jaboticada brasileira de crescimento via demanda, o que
nenhum economista que se preze consegue conceber como nem sequer razoável. Acrescente-se
a isto, os erros de política econômica, que não foram poucos, e a crise seria
inevitável, de vez que é a cobrança da demanda excessiva, sem base no
incremento da produção, uma hora teria que acontecer.
A grande verdade é que a crise tem sua
raiz na ideologia de que é possível criar crescimento via o estado e que o
estado tudo pode. Esta ideia errada, que levou o governo a manter políticas
irreais dos preços da energia e dos combustíveis, além da intervenção
desastrada das desonerações, para manter uma situação insustentável, agravaram
os problemas das contas públicas e desembocaram nos aumentos da inflação e do
dólar. Não há, agora, como esconder que tivemos, nos últimos tempos, uma
sensível queda dos investimentos e do Produto Interno Bruto-PIB, por erros de
condução da política econômica, nem existem formulas mágicas para sair da
crise. O governo, no entanto, continua a não fazer o seu dever de casa quando
não diminui a máquina administrativa, não melhora os gastos públicos e é
incapaz de conseguir a confiança pública para criar um programa capaz de
retomar o desenvolvimento. Por tal razão estamos num momento difícil onde a
insatisfação é geral por se cobrar uma conta que, para a grande maioria da
população, é indevida e contraria suas expectativas de uma vida melhor.
Infelizmente, a crise está aí, e ainda teremos que conviver muito tempo com ela,
se não houver um consenso sobre os rumos que o país deve tomar. Sob o ponto de
vista econômico há até um consenso sobre as medidas que devem ser tomadas,
porém, a economia é, acima de tudo, política e não se avança quando não se tem
quem aponte os caminhos e tenha credibilidade para negociar os impasses. Os
ajustes propostos pelo ministro Levy tem seus méritos, mas, não bastam para
mudar o quadro de estagnação econômica em que estamos e, pelo jeito, sem
mudanças políticas, ainda teremos dificuldade para sair do ponto morto por
muito tempo. A crise, embora econômica, revela o que as ruas têm denunciado:
falta representatividade e capacidade política para atender as demandas
públicas que a população exige. Em suma: a crise, apesar de econômica, é, acima
de tudo, profundamente política.
Ilustração: www.jj.com.br
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