Não
deixa de ser folclórico que, muitas das pessoas que se dizem de esquerda,
fiquem babando e rejubilando-se pelo fato de terem divulgado que Vaccari, o
tesoureiro petista, possui um patrimônio pequeno, como se isto fosse uma prova
de honestidade. Convenhamos que, como em outros casos, é muito provável que os
bens e valores adquiridos estejam em nome de outras pessoas ou até mesmo em
contas no exterior. Afinal, devemos lembrar que, não é por acaso que a justiça
o acusa: inúmeros os delatores que citam sua participação e/ou recebimento de
parte das propinas da Petrobras.
Aliás,
não é de meu feitio, nem me cabe ficar discutindo culpas. Continuo a dizer que,
para mim, a culpa real é a de quem comanda seja a família, a casa, a empresa ou
o país. E, neste sentido, é preciso lembrar que o principal acusado de tudo se
diz um homem honesto, acima de todas as suspeitas, pelo menos, 90% melhor que
todos os jornalistas das principais revistas do país “enfiados uns nos outros”.
É claro que tal inocência somente pode ser entendida à luz da ideologia. Como
se sabe, no passado, homens como Lenin, Stalin ou Trotsky, utilizaram a versão
de que ao revolucionário, ou seja, para quem se diz de esquerda, a mentira, a
distorção e até mesmo o assassinato possuem uma conotação diferente, qual seja
a de que, como é feito em nome do futuro, do socialismo que, naturalmente,
viria, tudo seria válido. Assim, por uma dicotomia bastante conveniente, para
uma nova elite, há uma ética para os que atuam em nome do povo e a ética dos
burgueses. Assim, quem rouba para o partido e para o suposto futuro, é inocente,
por ajudar o curso da história e por construir a utopia socialista. De forma
que se, qualquer um de direita, roubar por qualquer motivo será um ladrão
mesmo, mas, quem rouba em favor da gloriosa revolução se preso, será, sem
dúvida, um preso político. Ou seja, na cabeça de muitos os ideologizados
valores como honestidade, respeito aos direitos do próximo, à vida, à liberdade
etc., somente se justificariam em função dos propósitos revolucionários. De
forma que tudo é relativo e a ética e a política se transformaram em valores
instrumentais.
Seria
de se esperar que tal relativismo ficasse no passado com a queda do Muro de
Berlim e o fim melancólico do socialismo real que deixou suas viúvas
inconsoláveis. Mas, não, apesar da evidência histórica, muitos persistem em
viver a velha dicotomia entre esquerda e direita e, sob o pretexto de serem os
defensores dos pobres, avançam sobre a riqueza de todos brandindo o velho
pragmatismo revolucionário. E, mesmo quando se transformaram na elite, e usam
(e abusam) do poder durante mais de uma década, se sentem e pregam serem os
mais inocentes dos homens por tomar o que não é seu, desde que seja em favor do
partido e da revolução, mas, sem abrir mão dos privilégios e das benesses (e
muitas vezes alargando-os) que tanto criticavam na velha elite, a quem costumam
atribuir tudo que é de ruim inclusive seus próprios erros. É fruto desta
distorção mental e do desdobramento de uma lógica infeliz que qualquer um que
não concorda com suas teses é perseguido e vira inimigo. Os monopolistas da
verdade, e do bem comum, usam o poder que tomaram, graças às liberdades
democráticas, para solapá-las e não medem os meios para facilitar a instauração de uma “ditadura do proletariado”, inclusive
usando recursos públicos e tentando manietar a imprensa por meio de dinheiro ou
até mesmo de supressão das vozes discordantes. O problema é que, num país
complexo como o Brasil, é preciso, pelo menos, ter uma gestão eficiente da
economia e, neste sentido, o velho hábito socialista de viver somente do
trabalho alheio parece que se esgotou. Não é a política quem está enterrando as
velhas ideias, mas, sim a economia. O governo vive da iniciativa privada e não
pode, como tem sido feito sistematicamente, apenas sugar das classes produtivas
sem afetar, drasticamente, os níveis de bem-estar e de crescimento econômico. O
fim do ciclo do PT não será alcançado via política e sim pela economia. Pelo
fato inconteste de que não há almoço grátis.
Ilustração:
coisasamenosbr.blogspot.com
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