Que
nós vivemos uma época confusa ninguém, de sã consciência, duvida. A questão é
que os velhos valores, as instituições que existem, em grande parte, deixaram
de funcionar num mundo de imensas diversidades. Isto danificou, de forma
irreversível, o conceito de “audiência” que, no passado, era igualado a
consumidor. Aliás, tanto televisões abertas, quanto rádios, revistas e jornais
eram feitos para a grande massa e dispensavam a necessidade de um conhecimento
mais profundo de cada um dos leitores, espectadores, e, atualmente, dos internautas.
Assim não havia a necessidade de atingir demandas segmentadas ou individuais.
Se vivia em torno de um leitor médio, uma abstração. Sem outras alternativas o
leitor consumia o que estava disponível, embora insatisfeito.
A
internet produziu uma transformação impensável antes no modelo de negócio da
mídia que, agora, precisa, necessariamente, de uma adaptação radical, para a
qual, até agora, não se mostrou preparada, de vez que o poder do consumidor foi
acrescido com informações alternativas que qualquer um fornece via mídias
sociais. E, embora exista, o consumidor, em geral, não vê grandes diferenças
entre o jornalismo e as informações, por exemplo, do Facebook ou do Whatsapp.
Claro que não é tudo igual. Normalmente, a informação jornalística é confiável.
É checada antes de ir à público. O jornalista, via de regra, tem muito mais
consciência de que tem responsabilidades e obrigações com o que notícia. Já
quem posta alguma coisa não pensa nos efeitos, nem tem a mínima noção dos
efeitos ou da responsabilidade pelo que faz. Haja vista o imenso
compartilhamento dos fakes e notícias mais toscas, sem pé nem cabeça que fazem.
Agora mesmo na Copa reproduziram, somente mudando o nome de personagens, a
mesma notícia de que o Brasil havia vendido a Copa por um acordo com a Fifa, sem
tirar nem pôr o texto da copa que a França venceu no passado! Santo Deus!
A
grande verdade é que o consumidor é quem decide o que consome, onde consome, quando
consome, mas, por outro lado, muitos que são consumidores também escrevem,
programam e editam na mídia social. Ora, é lógico que, como são muitos, eles
atingem melhor individualmente a interesses diversos, mas, estão melhor
preparados para fazer isto do que, por exemplo, sites, portais, jornais e
revistas de notícias? É claro que não. Estes possuem um foco nas notícias,
vivem de procurá-las e verificar seu grau de confiança. Por isto, de fato, é
muito difícil veicularem notícias falsas. Até tem muitas que, por reprodução,
podem ser distorcidas. No entanto, nem dá para comparar com o nível de notícias
sem base, sem sentido, falaciosas, mentirosas mesmo, que transitam nas redes
sociais, onde, é preciso dizer, rola um clima de torcedor de futebol, que
somente veicula o que favorece o seu time. A importância que se dá, no momento,
ao que se escreve, ou edita, nas redes sociais provém, em boa medida, do desconhecimento
que as grandes empresas de mídia continuam a ter dos seus consumidores. Na
medida em que se assenhorearem melhor do mercado, criarem uma forma de receber e
pagar bem pelos conteúdos que o público deseja, com certeza, será muito menos
influente o papel das mídias sociais. É a falta de informação que torna a rede
social importante para muita gente que, por ironia, não confia nos meios de
comunicação e valoriza fontes ainda muito menos confiáveis.
Ilustração: Lagoinha.
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